A Força
Inteligente
Caruso Samel
Deve
existir um mundo invisível do espírito que faz com que ocorram mudanças no
mundo da matéria; e a evolução deste planeta deve receber orientação e auxílio
externo de inteligências superiores e invisíveis, às quais o homem é
susceptível enquanto ser espiritual. Além disso, essas inteligências muito
provavelmente existem em seres de grau superior a nós. World of Life – Alfred Russel Wallace
(contemporâneo de Charles Darwin)
Ciência baseada unicamente na matéria organizada, não é Ciência.
A matéria é efeito e não causa. A causa, o principal objeto, o principal fim, é o Espírito, a Força que incita e movimenta a Matéria. Os homens procuram estudar minuciosamente aquilo que os olhos veem, as mãos apalpam, mas não o que o espírito sente e precisa saber.
Estude-se o que se vê, estudando também o que se sente. Procurar estudar e compreender a vida fora da matéria organizada é dever de todo homem estudioso, inteligente e sagaz.
Trecho de uma manifestação do espírito de Carlos Chagas – médico e cientista, no Racionalismo Cristão. clique em "Mais informações"
1. Traços Gerais
Neste trabalho, vamos tratar da ação da Força em cada um dos reinos da natureza, bem como, enfatizarmos os atributos dessa Força, responsável pela difusão da vida em todos os reinos da natureza, inclusive nas primitivas estruturas atômicas e moleculares do reino mineral. Trata-se da Força Inteligente, que é autogovernável, autoexpressante e automanifestante em todas as formas de vida observável. Vamos nos aprofundar um pouco mais sobre a natureza e a evolução da Força Inteligente.
Quando mencionamos que há uma causa inteligente, não estamos nos referindo ao Deus das religiões, nem às idéias dos religiosos de todas as religiões sobre Deus, muito menos de um Deus supra matemático (o acaso da teoria das probabilidades), ou do infinito do cálculo infinitesimal ou do Infinito Universal. Nós estamos nos referindo a uma outra forma de compreender essa causa inteligente. Estamos falando de causas ou agentes ainda não conhecidos pela ciência oficial, causas que são supra galáticas ou entre galáticas, não sobrenaturais, porque o natural não é só o que se vê com os nossos pobres olhos aqui na Terra.
Estes veem os objetos e as coisas que refletem apenas a luz visível, uma ínfima fração de todo o amplo espectro eletromagnético. Os cientistas falam muito de realidade e endeusam este conceito como se ele se aplicasse apenas ao mundo material. Como seria essa realidade, por exemplo, se nossos olhos físicos enxergassem uma porção maior do espectro eletromagnético, por exemplo, se tivéssemos olhos penetrantes como os raios-X? O que queremos dizer é que toda realidade, seja ela objetiva ou subjetiva, é sempre relativa. O que estamos querendo dizer é que a evolução não se limita apenas às formas materiais e materializadas, mas também, à Força, à Essência, ao Espírito.
A Força (gênero), que abrange o Espírito (espécie superior da Força), evolui sempre e essa evolução começa nos átomos, desde o mais simples (hidrogênio) até ao mais complexo elemento químico natural (o urânio) tanto no reino mineral, como no vegetal e animal, porque afinal todos os corpos são átomos que vão se estruturando em formas cada vez mais complexas, sob a ação da Força, ao longo dessa evolução. Afinal, o Universo e tudo o que nele existe tem uma história e essa história está longe muito longe de ser completamente conhecida pelo Homem. Talvez, nós, como seres humanos, estejamos passando por uma super evolução, sem que nos possamos dar conta, pois a evolução é um processo demasiadamente lento e seus efeitos, apesar da aceleração da evolução hominal, só serão observados a longo prazo. Daí, não sermos visionários ao pensar numa evolução para uma "superespécie" humana, capaz de usar, por exemplo, a telepatia como elemento biológico de recepção e transmissão do pensamento, mas o uso da telepatia neste atual estágio da evolução humana traria implicações sociais enormes e, por isso mesmo, não deverá acontecer da noite para o dia.
O Homem, como espírito e corpo (Força e Matéria), é um eterno viajante cósmico e tem uma trajetória evolutiva a cumprir aqui na Terra, participando da evolução de todo o conjunto cósmico. Força e Matéria são os componentes básicos de tudo quanto no Universo existe. Estes componentes estão presentes em toda a parte, no Universo inteiro, em seus componentes primordiais ou sob a forma organizada. É a Força Inteligente que plasma a Matéria, em um processo incessante e complexo de agregação e desagregação. Através desses processos, a Força organiza e transforma o meio ambiente para proporcionar a evolução de suas partículas inteligentes que, em suas numerosas formas aparentes, estão constantemente agindo sobre os seres vivos, particularmente no Homem. A partir de 1910, Luiz de Mattos, já proclamava em sua obra Pela Verdade – a ação do espírito sobre a matéria, às páginas 231-233, como se processa a ação da Força sobre a Matéria:
"A Força, a Inteligência Universal, é o elemento vital criador de tudo quanto existe. Essa Força, parcelada, facilmente se observa:
a) nos corpos sólidos, como no cristal, que se refaz, quando fragmentado, obedecendo às linhas geométricas da sua espécie, o que denota a ação de um elemento inteligente e diretor;
b) nos vegetais, na sua variadíssima e delicada constituição, desde as gramíneas, às flores, às portentosas árvores, [...]. c) no reino animal, irracional, desde o animal doméstico mais meigo, mais dócil, aos ferozes;
d) no movimentar, agir, pensar, falar, rir e chorar do ser humano [...].
Cada corpo vivo contém uma partícula da Força em evolução, em ascensão, e daí o princípio de que não existem duas coisas ou seres iguais na natureza [...].
Não é preciso recorrer ao milagre, ao sobrenatural, ao bizarro, ou às várias doutrinas, fontes de teorias absurdas e inteiramente contrárias à verdade e às leis comuns e naturais que tudo regem, para se ter a certeza da existência real da Força, da inteligência e da matéria; é bastante cada ser dominar-se a si próprio, colocar-se em condições de bem raciocinar, para assim tudo observar, ver, sentir e convencer-se [...].
Os diversos estados, ou categorias da força, estão sempre em evolução, em ascensão, embora lentamente, porque tudo progride e nada retrograda nem estaciona. Mas este progresso é somente em relação à Força, à inteligência, porque a matéria já existe, tal qual deve ser e é necessária, nos seus diversos estados [...] ".
E, mais adiante, na mesma obra, afirma que:
"A Força é também denominada Inteligência Universal, Luz, fonte da vida de todos os seres, e que, parcelada no mundo físico, organiza, incita e movimenta todos os corpos dos reinos da natureza.
Essa Força, essa Inteligência Universal que também se denomina Grande Foco, pode ser observada nos diferentes reinos da natureza, e sentida pelo ser humano em si próprio, a todos os momentos, como adiante se verá; ela não é da Terra, aqui vem, em partículas de diversos graus, e fica sujeita às leis do progresso de todos os seres.
Em virtude dessas leis comuns, naturais e imutáveis, é que essa Força parcelada incita e movimenta os corpos visíveis e mesmo os que os olhos armados não veem, mas que existem, em volta de nós [...]".
Ao longo e durante toda essa interminável trajetória evolutiva, a Força percorre todos os reinos da natureza – o mineral, o vegetal e o animal. Durante todo esse longo percurso, acumula sempre e sempre mais Força e mais Inteligência, passando por experiências e vivências múltiplas e diferenciadas, até alcançar um grau suficiente de "informação". A partir daí, a Força habilita-se a evoluir na forma humana, circunstância em que já dispõe de uma inteligência básica, desenvolvida em todos os estágios anteriores, e pela primeira vez, capaz de poder usar o atributo do livre-arbítrio, que nada mais é do que a vontade própria. Com este atributo ou faculdade, a Força Inteligente passa a ter a denominação de Espírito, que é a Força individualizada no homem, podendo, então, entre tantas e tantas opções, fazer escolhas inteligentes e assumir a responsabilidade de suas ações, o que não acontece no mundo animal.
Do que foi exposto, é intuitivo que o Espírito é, na criatura humana, a Força Inteligente individualizada e autodeterminada, isto é, que possui o atributo do livre-arbítrio. Desse fato marcante, a evolução realiza-se a um ritmo mais rápido, podemos até dizer acelerado, o que está comprovado quando se compara a presença dos ancestrais do homem na Terra há apenas cerca de dois milhões de anos contra uma história evolucionária de três e meio bilhões de anos. Na linha do tempo evolucionário, isso representa apenas 0,06% de todo o tempo. O que teria influído tão decisivamente na velocidade de seu progresso? Fica claro que foi o uso do seu livre-arbítrio, aliado a três outros importantíssimos atributos do espírito – a inteligência, o raciocínio e a criatividade. Mais surpreendente, ainda, fica essa comparação quando observamos que ao segmentarmos a linha do tempo da evolução humana, nos últimos trezentos anos, a evolução do conhecimento humano tornou-se centenas ou até milhares de vezes mais rápida, enquanto que a evolução biológica no homem nem de perto acompanhou esse ritmo! Essa é uma constatação para se refletir sobre a preponderância do espírito sobre a matéria.
Mas, é bom ter sempre presente que o livre-arbítrio é uma arma de dois gumes, podendo ser usado para o bem ou para o mal, conforme o aproveitamento que o ser humano fizer das lições da vida. É isso que deu e continuará dando ao ser humano condições de avançar mais rapidamente ou não em direção à perfeição máxima que pode ser conseguida neste plano da existência. É óbvio que, usando o seu livre-arbítrio para o mal, vai atrasar a sua evolução, perdendo um tempo precioso absorvido nas sensações da matéria. Fica, também, fácil de entender porque a evolução da inteligência emocional, que em última análise consiste na eliminação dos instintos animalescos e depuração dos sentimentos não pode ser conseguida em uma única vida ou encarnação, levando centenas e até milhares delas, sob as mais diversas circunstâncias e até penosas condições para aprender, compreender e entender o que poderia ter sido feito em poucas dezenas de vidas.
De outro lado, o ser humano evolui também em grupos, sociedades e culturas das mais diversas. É também intuitivo perceber que, na evolução dos seres humanos feita em grandes grupos, muitos indivíduos se tornam retardatários recalcitrantes, pelo mau uso que fizeram de seu livre-arbítrio ou pelo esmorecimento no esforço próprio que devia aplicar. Assim, ao longo de muitas vidas, tais indivíduos começam a perder contato com aqueles com quem iniciaram suas escaladas evolutivas rumo à perfeição plena. Podemos fazer uma analogia bem racional, observando que, por exemplo, quando um aluno é reprovado numa determinada série escolar e vê seus demais colegas tomando-lhe a dianteira, ele sente uma sensação de frustração, permanecendo estacionado. E, como todos estão ligados por laços afetivos devidos às experiências comuns pelas quais passaram ao longo de suas muitas vidas, sente uma dor enorme nessa separação ou afastamento. Seu desejo seria acelerar mais ainda o seu aprendizado para alcançar o grupo a que pertence.
É desse estímulo e impulso oculto que resulta a grande força que temos no sentido de preservar a vida, esforçando-se o indivíduo para ultrapassar as barreiras e obstáculos, aplicando uma vontade muito grande no sentido de superar seu próprio atraso. A fim de reiniciar um novo curso, pois a Terra é um mundo-escola, participa de novas experiências que o habilitam a superar seu atraso e alcançar maior evolução, de preferência junto ao seu grupo evolutivo. Aqueles que, ao reingressar em uma nova vida, desviam-se das condições e disposições por si mesmo estabelecidas e continuam criando novos atrasos, perdem tempo e, não se recuperando, vão ficando para trás, porque a evolução não pára e todo o grupo necessita continuar. É por isso que muitos levam mais tempo para chegarem à perfeição plena.
Esta visão evolutiva global é o oposto da visão corrente adotada pelos cientistas. Estes estabeleceram que tudo que existe é feito de matéria e tudo pode ser reduzido às partículas elementares da matéria – os assim chamados impropriamente de blocos ou tijolos de construção do universo. E, em função das interações, os átomos são formados e, a partir destes, formam-se as moléculas e nesta causação ascendente, forma-se o DNA, o ácido desoxirribonucléico (a dupla hélice) componente dos genes, que por sua vez estão contidos nas células. Tudo bem que assim seja, e materialmente falando, assim é, mas onde está a força vital, a força inteligente? Chegam ao ponto de re-examinarem os conceitos de geração espontânea, derrubada no século XIX pelo eminente médico e pesquisador francês, Louis Pasteur. Onde ficam o livre-arbítrio, a inteligência, a consciência, os pensamentos, os sentimentos, etc., que são elementos imateriais e todos atributos próprios do espírito? O que pretendem achar no cérebro, que é matéria, além de neurônios, sinapses e neurotransmissores? A que fica relegado o livre-arbítrio, mola-mestra da evolução hominal?
Essas e outras numerosas questões serão examinadas ao longo deste trabalho, adotando-se um ponto de vista oposto ao da ciência oficial. Por esse enfoque aqui explanado, estabelece-se que foi a Força Inteligente que deu "os primeiros passos" na Terra através da evolução nos reinos da natureza e, finalmente o Espírito, que deu continuidade à evolução no reino hominal. Nós gostaríamos de fazer, desde já, uma distinção básica: a evolução da Força nos reinos da natureza se fez e continua sendo feita através das formas, isto é, a Força evoluiu e continua evoluindo para aperfeiçoar os corpos que ela animou e anima; já no reino hominal, a evolução da forma quase cessou e deu lugar para a evolução do espírito através do conhecimento acumulado durante muitas vidas e guardado no perispírito – o subconsciente dos psicólogos. O que nós estamos querendo deixar claro é que a Força Inteligente precede à Matéria e a anima em uma incalculável variedade de formas em tudo quanto existe no Universo. E aí está um campo muito grande para a pesquisa dos cientistas, mormente físicos, biólogos, médicos, neurocientistas, psicólogos, parapsicólogos, e, porque não dizer também, os filósofos, qualquer que seja a religião que professam.
2. A Inteligência Universal
De todos os numerosos sentimentos negativos e positivos herdados do instinto animal e que constituem a inteligência emocional do homem moderno, destacamos o egoísmo que gera a prepotência. Na luta pela sobrevivência, o homem continua carregando essa nociva herança. Por isso mesmo que o egoísmo, fruto direto dos instintos, dos maus hábitos e das imperfeições, leva o homem a assumir uma falsa ideia de poder que está contaminado de orgulho e prepotência. Trata-se de um poder presunçoso, onde não cabe a humildade dos verdadeiros sábios.
Além desse sentimento de poder, derivado do instinto animal e da má compreensão de si mesmo como Força e Matéria, o homem primitivo, era também cercado de medo por todos os lados, uma vez que não compreendia as forças da natureza e seus efeitos, muitas vezes catastróficos, o que ainda hoje é observado. Assim, foi natural que sentisse a necessidade de imaginar ou criar um ser supremo, superior a todos os homens, feito à sua semelhança, conforme o seu intelecto e a sua vontade, ao qual pudesse se dirigir nos seus momentos de fraqueza, de medo, de aflição e de sofrimentos físicos e a quem pudesse entregar os seus destinos. Daí à idolatria, invenção de ídolos pelos povos selvagens e dos deuses do paganismo, foi um passo. Até mesmo, decorridos muitos milênios, no Egito e na Grécia, e até mesmo na Roma antiga, muitos eram os deuses cultuados e adorados.
Apesar de quase todas as seitas e religiões (são cerca de 8.500 em todo mundo) serem atualmente monoteístas, os religiosos continuam venerando e adorando os seus ídolos ou santos, mantendo assim uma tradição herdada do politeísmo. É fácil, portanto, entender porque a fé e a adoração ficaram arraigadas no culto de quase todas as religiões, que adotam a ideia de "um ser supremo materializado, que, depois de muitas denominações, passou a firmar-se mais em uma só: na do "Deus todo-poderoso", mas, ainda assim, à imagem de cada povo". E, ainda hoje, é assim que acontece em muitas religiões, cada povo tendo o seu Deus, variando o nome e os cultos. Seria difícil imaginar que, por exemplo, um povo da raça negra, pudesse ter o seu Deus com feições da raça branca ou que o povo chinês apresentasse seu Deus ou deuses com feições da raça negra.
Mas, de outro lado, há aqueles que, em muito menor proporção, religiosos ou não, sentem a necessidade de se ligarem ao Todo imaterial e imponderável que o ser humano não vê e não pode apalpar, mas pode sentir em toda a sua suprema grandeza, como Força Criadora ou Inteligência Universal, que permeia todas as coisas e seres em todo o Universo e lhes dá Vida. Isso é exatamente o contrário da "ideia de adorá-lo, tomando, como tal, o que foi inventado pelo instinto, pelo hábito e pelos desejos desordenados de todos os seres ignorantes, limitando tudo à sua imagem, ao seu "Eu", já que Deus devia ser uma figura de homem ou outra que tivesse forma física terrena, superior ao homem, surgindo, por essa errada ideia, a materialização da Força".
Diante da visão espiritualista proposta por Luiz de Mattos de que no Universo só existe Força e Matéria, é na Força que se encontra a explicação de todos os fenômenos transcendentes e que ainda não foram explicados pela ciência. Visto sob este enfoque, é fácil entender e compreender intuitivamente o que seja a Inteligência Universal, Força Criadora ou Grande Foco tal como é, não o Deus inventado pelas religiões, porque tal não existe. A Força Criadora, como o próprio nome está dizendo é o Primeiro Princípio, a Alma Mater de tudo quanto existe e vida tem no Universo inteiro.
3. Visão Científica da Inteligência Universal
Com o advento da Física Quântica, muitos fenômenos trouxeram grandes embaraços aos seus descobridores. Estes, acostumados a tudo explicarem com base na Matéria e seus fundamentos, passaram a dispor de um vasto campo para estudo, advindo do conhecimento do núcleo atômico e suas partículas. Apesar disso, nem sempre tiveram êxito e muitos paradoxos ainda existem desafiando as inteligências dos melhores cientistas. Nós vamos examinar aqui as principais ideias que foram propostas por alguns deles sobre a Inteligência Universal ou Inteligência Cósmica, sem nos preocuparmos em criticá-las. Como as principais teorias para explicar o Universo e como surgiu a Vida na Terra e sua interrelação com o Universo derivam da Física Quântica, nós vamos começar com o paradoxo levantado pela experiência de Alain Aspect.
• Alain Aspect e sua fantástica experiência quântica
As primeiras ideias que levaram ao conhecimento da Física Quântica tiveram início por volta de 1900. A partir de 1925, quando foram descobertas as equações da Mecânica Quântica, a Física Quântica tornou-se aceita como fonte da verdade para os cientistas. Daí em diante, o conhecimento da intimidade da matéria e das forças físicas que atuam no interior do núcleo atômico têm sido o principal objeto da atuação dos físicos. Muitas teorias foram confirmadas experimentalmente em laboratórios sofisticados e caríssimos, enquanto outras permanecem insolúveis ou mesmo representam verdadeiros paradoxos inexplicáveis. Em 1982, Alain Aspect e seus colaboradores, na Universidade de Paris – França, executaram experimentos que verdadeiramente indicavam a noção do intangível e, particularmente, a noção de transcendência no mundo subatômico. Em anos anteriores a essa data, a física quântica vinha dando indicações de que devia haver níveis de realidade além do nível material. Inicialmente, partículas como o elétron, por exemplo, pareciam ora se comportar como onda e ora como partícula (matéria), isto é, pareciam ter dupla "personalidade", ou fisicamente dizendo, possuíam um duplo caráter. Dessas observações, Heisenberg inferiu a sua "teoria da incerteza", que nos diz que não se pode estabelecer ao mesmo tempo a posição e a velocidade do elétron num dado momento. Não se trata de uma onda ordinária, mas de uma onda em potencial. Foi quando Einstein ridicularizou essa teoria dizendo que "Deus não joga dados". O potencial dessas ondas quânticas passou a ser considerado como extrapolando a matéria, ou seja, tinham um caráter transcendente.
Até a experiência de Aspect, este conceito não ficou muito claro e era até renegado por muitos. Então, o experimento de Aspect veio confirmar que tal fato não é apenas uma teoria, pois realmente existe este caráter de transcendentalidade em potencial, ou seja, as partículas realmente têm conexões com o espaço e tempo exterior. O que essa experiência demonstrou é que quando um átomo emite dois quanta de luz, chamados fótons, disparados em direções inversas, de alguma forma estes fótons afetam instantaneamente o comportamento de um ao outro à distância, sem trocarem qualquer sinal através do espaço.
Ora, nós sabemos, conforme Einstein havia demonstrado no início do século XX, com a sua teoria da relatividade restrita, que dois objetos não podem afetar um ao outro instantaneamente no espaço-tempo, porque isso levaria um certo tempo para um alcançar o outro, ainda que o espaço que os separasse fosse percorrido à velocidade máxima da luz, que é constante e igual a aproximadamente trezentos mil quilômetros por segundo. Esta é a ideia de "localidade" que deriva do fato de que qualquer sinal é local no sentido que ele deve levar um certo tempo para se deslocar no espaço até outro ponto qualquer. E, apesar disso, se os fótons emitidos pelo átomo na experiência de Aspect influenciam um ao outro, à distância, aparentemente sem trocar sinais, é porque esse fenômeno está acontecendo instantaneamente e, portanto, a uma velocidade maior que a da luz. Então, devemos reconhecer que esta influência deve pertencer ao "domínio transcendente da realidade". Esta marcante experiência mostrou aos físicos que algo muito importante está subjacente às partículas subatômicas e nada tem a ver com a realidade material, de que tanto se vangloriavam, indicando novos rumos para a pesquisa física, além de estabelecer o conceito de não-localidade para tudo que pode ser considerado instantâneo, conforme veremos abaixo nas ideias de Amit Goswami.
A essa altura, cabe citar trecho da entrevista que Amit Goswami deu, conforme a referência:
"Henry Stapp, que é um físico da Universidade de Berkeley, na Califórnia, afirma, em um de seus trabalhos, escrito em 1977, que as coisas "fora do espaço-tempo afetam as coisas dentro do espaço-tempo". Não há nenhuma dúvida que isso ocorre no substrato da física quântica, em que você está tratando com objetos quânticos. Agora, naturalmente o X da questão é que nós estamos sempre tratando com objetos quânticos porque está fora de dúvida que a física quântica é a física de cada objeto. Seja ele submicroscópico ou macroscópico, a física quântica é uma só e se aplica. Assim, embora seja mais aparente para os fótons, para os elétrons, para objetos submicroscópicos, acreditamos que tudo isso é realidade e, que toda realidade manifestada e todo o mundo da matéria é governado pelas mesmas leis. E, se assim é, então o experimento de Aspect está nos dizendo que nós devemos mudar nosso ponto de vista, porque nós também somos objetos quânticos".
• David Bohm e sua Teoria da Ordem Implícita
Falecido em 1992, David Bohm foi um dos principais físicos americanos com profundos conhecimentos da Teoria Quântica no século XX. Atuou na Universidade da Califórnia (Berkeley), no Instituto Princeton de Estudos Avançados e como professor de Física Teórica na Faculdade de Birkbeck, da Universidade de Londres. Durante seus primeiros anos de estudo adquiriu, também, conhecimentos de História da Filosofia e da Ciência.
Para David Bohm, o Universo se encontra em um processo de evolução contínua, ponderando que a aceitação de sua teoria levaria a implicações muito grandes para a humanidade. Bohm escreveu vários livros, mas o principal é Wholeness and the implicate order (O Todo e a ordem implícita). Outros livros foram escritos com a colaboração de B. J. Hiley, J. Krishnamurti e F. David Peat. Além disso, publicou numerosos artigos de divulgação em revistas científicas.
Desenvolvida na década de 80, sua teoria do Universo é conhecida como teoria da Ordem Implícita. Ela tem por objetivo explicar o comportamento bizarro de partículas subatômicas, que os físicos da teoria quântica não conseguiam explicar. Basicamente, duas partículas subatômicas que tenham reagido entre si "respondem instantaneamente aos movimentos de uma em relação à outra, qualquer que seja distância e o tempo que as separem", fato esse comprovado pela experiência de Alain Aspect, que foi posterior à sua teoria.
Bohm sugeriu que forças subquânticas e partículas ainda não observadas pela ciência parecem estar agindo no limiar da matéria. Esta força subjacente podia ser o reflexo de uma dimensão mais profunda da realidade. Sua crença era de que o espaço-tempo podia, realmente, fazer parte de uma realidade objetiva mais profunda ainda, que ele denominou de Ordem Implícita. Dentro da Ordem Implícita tudo está interligado. Então, segundo essa teoria, as partículas subatômicas estariam agindo como se fossem amplificadores da "informação" contida em uma onda quântica. A partir dessas observações, construiu uma teoria nova e controversa do Universo, um modelo novo de realidade.
Bohm fundamentou sua teoria nos conhecimentos científicos da holografia, que se baseia na interferência de ondas: se duas fontes de luz são de frequências diferentes elas interferirão uma na outra criando um padrão de interferência. Basicamente, um holograma é o registro detalhado do comprimento de onda da própria luz, isto é, um repositório denso de "informação". Assim, em um holograma, cada pedacinho do filme holográfico revela a forma representativa de um objeto tridimensional inteiro. Por analogia, Bohm concluiu que a Ordem Implícita se comporta de modo semelhante a um holograma.
Com esse entendimento, Bohm estendeu a sua teoria a uma visão cósmica ultra-holística, na qual todas as coisas estão conectadas entre si. De acordo com esse princípio, qualquer elemento individual pode revelar ou conter "informações detalhadas sobre qualquer outro elemento no universo." O tema subjacente central da teoria de Bohm é que "o todo indivisível da totalidade da existência faz parte de um movimento indivisível sem fronteiras." Sua teoria nos diz, portanto, que tudo está envolvido com tudo. Assim se expressa Bohm:
"A ordem real (Ordem Implícita) foi gravada no movimento complexo dos campos eletromagnéticos, na forma de ondas de luz. Tal movimento de ondas de luz está presente em toda a parte e em princípio envolve o Universo inteiro de espaço e tempo, em cada região. O envolvimento e o desenvolvimento tomam lugar não somente no movimento do campo eletromagnético, mas também, nos outros campos (eletrônico, protônico, etc.). Esses campos obedecem às leis da Mecânica Quântica dando origem às propriedades de descontinuidade e não-localidade. A totalidade do movimento de envolvimento e desenvolvimento pode se estender imensamente além do que se revela às nossas observações. Nós chamamos esta totalidade pelo nome de "holomovimento"".
Segundo sua teoria, o holomovimento atua dentro de uma "realidade multidimensional", que se desdobra em sub-totalidades independentes (tais como, os elementos físicos e as entidades humanas), com relativa autonomia. Para ele, o holomovimento representa essa "totalidade indescritível e desconhecida", sendo a "base fundamental de toda a matéria".
De outro lado, o mundo manifestado é parte do que Bohm chamou de a "ordem explícita.", em contraposição à ordem implícita, dela derivando ou fluindo e, portanto, ela é secundária. Dentro da Ordem Implícita, há "uma totalidade de formas, as quais possuem uma espécie aproximada de recorrência (mudança), estabilidade e separatividade." São estas formas que se apresentam como nosso mundo físico.
Bohm sugere que, em vez de se pensar em partículas como realidade fundamental, o foco deve ser posto em discretos quanta de energia, semelhantes às partículas num campo contínuo. Com base neste campo quântico, Bohm, partindo do microcosmo para o macrocosmo, desdobra a Ordem Implícita em três níveis e os explica usando os conceitos de campo quântico e campo contínuo. Dentro desses campos e em suas interfaces se faz a transferência de "informação" do mais simples para o mais complexo e, vice versa, do Todo para o mais simples, para animar, guiar e organizar o campo quântico original, ou seja, é este holomovimento que dá condições energéticas para as partículas atuarem no mundo tridimensional da matéria.
A Ordem Implícita permeia tudo. Tudo que é e será neste universo está envolvido dentro da Ordem Implícita. Há um movimento cósmico especial que movimenta o processo de envolvimento (enfolding) e de desenvolvimento (unfolding), na forma da ordem explícita. Este processo do movimento cósmico, em ciclos de realimentação, cria uma variedade infinita de formas e mentalidade. Bohm é de opinião que a Inteligência Cósmica fundamental está envolvida neste processo de experimentação e criação infindável. Este Ente, a Mente Cósmica, está se movendo ciclicamente sempre e sempre para frente, resultando uma infinidade de seres experientes (evoluídos).
O modelo cósmico estrutural esboçado por Bohm inclui um exame detalhado dos seguintes temas: a Base de Toda Existência, a Matéria, a Consciência e o Ápice Cósmico. Vamos resumir, nos parágrafos seguintes, o seu pensamento sobre os referidos temas, centro do seu modelo da Ordem Implícita.
Para Bohm, a base de toda a existência é uma energia especial que ele chama de "plenitude", uma "imensa fonte original de energia." A energia dessa fonte concentra-se em um movimento total e absoluto que é o "holomovimento". A Ordem Implícita decorre do holomovimento. Por sua vez, é da Ordem Implícita que emana a ordem em cada aspecto perceptível do mundo (harmonia universal) e, ao final, todos os aspectos se integram no holomovimento indefinível e incomensurável e, também, dele estão emergindo todos os novos conjuntos. É o fluxo da matéria manifestada e interdependente em direção à consciência.
Com relação à matéria animada e inanimada, Bohm considera a partícula como sendo o mais essencial bloco de construção da matéria. Para ele, a partícula é, fundamentalmente, uma "abstração que se manifesta aos nossos sentidos." O Universo inteiro é feito de matéria, manifestada através de uma totalidade de conjuntos. Estes conjuntos "agem e interagem segundo uma série ordenada de estágios de envolvimento e desenvolvimento que, em princípio, permeiam e interpenetram um ao outro através de todo o espaço", mas enfatiza sempre que a ordem explícita é sempre derivada e secundária. Exemplifica a realidade dimensional, mostrando a relação de duas imagens televisadas de um aquário em que um peixe é visto de frente numa das imagens e de lado na outra. O que é visto é uma "relação entre as imagens que aparecem nas duas telas". Nós sabemos, assinala Bohm, que as duas imagens do aquário são atualidades que interagem, mas elas não são duas realidades que atuam independentemente. "Ao contrário, elas se referem a uma única atualidade, que é a base comum de ambas." Para Bohm, esta única atualidade é de uma dimensionalidade mais elevada, porque as imagens da televisão são meras projeções em duas dimensões de uma realidade que existe em três dimensões, e que "contém estas duas projeções dimensionais dentro dela." Estas projeções são apenas abstrações, mas a "realidade tri-dimensional não "é" nenhuma destas, ao contrário, é alguma coisa diferente de ambas as imagens, algo como uma natureza real que existe além de ambas".
Com relação à evolução no Universo, a teoria de Bohm afirma que ela existe "porque as diferentes escalas de dimensões da realidade já estão implícitas em sua estrutura". Bohm utiliza a analogia da semente sendo "informada" para produzir uma planta viva. O mesmo pode ser dito de toda matéria viva. "A vida está envolvida na totalidade e, mesmo quando ela não se manifesta, de alguma forma ela está implícita." O holomovimento é a base tanto da vida como da matéria. Não há dicotomia.
Com relação à consciência, Bohm conceitua que consciência é mais que informação e cérebro; ao contrário, ela é a informação que entra no cérebro. Para Bohm, a consciência "envolve ciência, atenção, percepção, o ato do entendimento, e talvez até mais." Continuando, diz: a consciência pode ser "descrita em termos de uma série de movimentos." Basicamente, "um movimento dá lugar ao próximo, em cujo contexto ele estava implícito e agora se explicita, enquanto que o conteúdo do (movimento) anterior se tornou implícito." A consciência é um intercâmbio: ela é um processo de retroalimentação (feedback) que resulta em uma acumulação crescente do conhecimento. Bohm trata também da consciência coletiva, denominando-a de consciência coletiva da humanidade e dá a ela maior significação do que à consciência individual.
Valorizando a consciência coletiva, a humanidade, na medida em que realiza com sucesso sua espiritualidade, caminhará íntegra em direção a uma maior dimensão da realidade – a Plenitude Cósmica. Afirma que o Homem tem um destaque especial no Universo e que este seria incompleto se não houvesse o Homem para validá-lo (antropocentrismo).
Com relação à Plenitude Cósmica, o nível mais elevado no Universo, Bohm refere-se a ela como sendo a fonte do não-manifestado, do Sutil Não-Manifestado, alguma coisa semelhante a espírito, um movente, mas ainda matéria no sentido em que ela é uma parte da Ordem Implícita. Para Bohm, o Sutil Não-Manifestado é uma "inteligência ativa" superior a qualquer "energia definida pelo pensamento". Bohm afirma diretamente: "há uma verdade, uma atualidade, um ser superior que pode ser alcançado pelo pensamento, e isso é inteligência, o sagrado, o santo".
Há certos atributos que podem ser discernidos do modelo cósmico de Bohm. São eles: a Ordem, a Inteligência, a Individualização, a Criatividade, e o senso de Perfeição. Em sua obra Wholeness and the implicate order (O Todo e a ordem implícita), já citada anteriormente. Bohm estuda pormenorizadamente esses atributos. Nós os apresentamos, a seguir, resumidamente:
A ordem é a lei universal que mantém tudo interligado. É a própria energia cósmica que ele, também, denomina de lei do holomovimento. Seu ponto de vista é a do Todo que propicia novos "todos" ou sistemas interdependentes.
A inteligência é "puramente ativa", nada mais sendo que a consciência filtrada, através da qual se obtém o discernimento. Bohm considera o pensamento como sendo basicamente uma operação mecânica. É a inteligência que torna relevante o processo mecânico do pensamento. Ele acredita que, se a inteligência é um "ato de percepção não condicionado", então a inteligência não pode ser encontrada em "estruturas tais como células, moléculas, átomos e partículas elementares". Segundo Bohm, a operação da inteligência deve estar além de quaisquer fatores que podem ser incluídos em qualquer lei conhecida. A "base da inteligência deve estar no fluxo indeterminado e desconhecido, que também é a base de todas as formas não definidas da matéria." Para Bohm, a inteligência sempre esteve no âmago da Ordem Implícita.
A individualização não recebe muita atenção de Bohm, sendo a este respeito um tanto reservado. Para ele, supor que cada ser humano é uma realidade independente que interage com outros seres humanos e com a natureza é uma simples projeção, mas dá ênfase na coletividade, isto é, valoriza a ação coletiva da sociedade como um todo.
Com relação à criatividade, ele a chama de o "Ente do Processo Cósmico", sendo pura energia. Este "ente" é inteligente, consciente, criativo e é, também, uma pessoa! Isso nos parece uma definição mais apropriada ao conceito de espírito.
Sobre a perfeição, Bohm a define como um "ser além do que o nosso pensamento possa imaginar", nomeando o Sutil Não-Manifestado de "perfeito" no sentido de que ele é o Todo. É uma presença com energia cósmica. O modelo cósmico de Bohm sugere também que esta "perfeição" existe desde a criação do cosmos. Ela está presente no processo cíclico do universo. Ela é pura inteligência ativa, a partir da qual tudo que é manifesto, do cosmo provém. Ela age através de uma intromissão na consciência. Ela absorve informação em muitos níveis da consciência, em todas as formas de vida. É a Ordem Implícita que é a Base de Toda a Existência.
Bohm trata, também, do conceito de peregrino cósmico, título dado à Humanidade em geral. A Humanidade é a peregrina de um processo cósmico. Sobre a condição humana e sobre os males resultantes da desordem (que causam sofrimento) e morte, Bohm acredita que não existe desordem ao nível da universalidade não-humana; ao contrário, ela reside no nível da humanidade, principalmente por causa da ignorância. A Natureza deu à humanidade o poder da luxúria para fazer erros, porque a humanidade deve ter a "possibilidade de ser criativa". É o nosso poder de escape nesse processo cósmico que nos coloca nestas circunstâncias de escolha e possível caos. A desordem e o conseqüente sofrimento prevalecerão enquanto todos os diferentes elementos (de qualquer sistema dado, seja o de um ser humano ou da sociedade humana) "crescerem caótica e independentemente um do outro, não trabalharem em conjunto".
Bohm considera o mal da Ignorância um problema de mente fechada. Ele a considera "a escuridão do cérebro humano". É o problema do "ego" humano fechado à Mente Universal, à suprema inteligência que se comunica na forma de intuição, que é a percepção pura. Por causa do baixo nível de desenvolvimento de nosso ego (manifestado pela nossa vaidade, nossos medos e pressões emocionais, nossos pontos de vista ignorantes e nossa super extroversão), a intuição é freqüentemente desviada por uma mente fechada. O oposto de uma mente fechada é a abertura para a interioridade. Os seres humanos precisam olhar para si mesmos para serem receptivos à intuição.
A visão global de Bohm sobre o destino humano é simples e direta, pois para o cientista, "a consciência da humanidade é única e não verdadeiramente divisível." Cada pessoa tem a responsabilidade para alcançar isso e nada mais, uma vez que "não há outra saída. É absolutamente isso que tem que ser feito e nada mais pode funcionar".
Bohm acredita que apenas através de uma cooperação coletiva pode o homem atingir o alto grau de energia necessária para "alcançar o todo da consciência da humanidade – a Plenitude".
• Teoria holográfica aplicável ao cérebro – Karl Pribam
David Bohm não foi único a adotar as ideias de um universo holográfico. Karl Pribam, neurofisiologista e pesquisador na Universidade Stanford (USA), também se convenceu da natureza holográfica da realidade e aplicou esse modelo para examinar como e onde as memórias são armazenadas pelo cérebro. Principalmente durante a segunda metade do século XX, muitos pesquisadores de renome convenceram-se de que não havia um lugar específico no cérebro para armazenar memórias. Já na década de 1920, o neurocientista Karl Lashley, realizou trabalhos com cérebros de ratos e concluiu pela não-localidade da memória, mas não chegou a apresentar explicações teóricas sobre os resultados obtidos. Somente a partir da década de 1960, Karl Pribam trouxe à luz suas explicações baseadas na teoria holográfica, e, a partir de então, vem recebendo apoio dos homens de ciência que pesquisam o cérebro.
Pribam acredita que as memórias acham-se codificadas não em neurônios ou pequenos grupos de neurônios, como muitos pesquisadores ainda acreditam, mas sim em padrões decorrentes de impulsos nervosos que se entrecruzam em todo o cérebro, da mesma maneira que os padrões de interferência de luz laser entrecruzam uma área inteira de um filme contendo uma imagem holográfica. Em outras palavras, Pribam acredita que o próprio cérebro é um holograma. A teoria de Pribam explica também como o cérebro humano pode armazenar tantas memórias em um espaço tão pequeno. As melhores estimativas referem-se a uma capacidade de armazenamento da ordem de 10 bilhões de bits de informação durante a vida média do homem atual, o que corresponde ao armazenamento de seis coleções da Enciclopédia Britânica.
Curioso é que, nos experimentos holográficos, esta formidável capacidade de armazenagem da informação varia em função do ângulo com que os dois raios de laser incidem sobre um filme fotográfico, nos indicando que muitas diferentes imagens podem ser armazenadas na mesma superfície. De outro lado, usando-se o conceito holográfico, torna-se mais simples entender a fantástica velocidade, praticamente instantânea, com que a informação é recuperada de nossas memórias, bem como, entender as numerosas associações de ideias e imagens que têm lugar nas nossas operações mentais. Segundo Pribam, uma das coisas mais significativas do processo do pensamento humano é que cada parte da informação parece cruzar instantaneamente com qualquer outra parte da informação, característica esta que é extrínseca e comum a um holograma. Trata-se, talvez, de um exemplo supremo da natureza, que utiliza um sistema cruzado correlacionado, pois, cada porção de um holograma é infinitamente interconectado com qualquer outra porção de todo o holograma.
Pribam afirma, ainda, que as semelhanças não param por aí. A armazenagem de memória não é o único quebra-cabeça neurofisiológico a ter uma explicação mais aceitável à luz de sua teoria do modelo do cérebro. A outra questão é como o cérebro decodifica a avalanche de frequências que ele recebe via sentidos físicos (frequências luminosas, sonoras, olfativas ou ósmicas, etc.) em um mundo concreto de percepções. Codificar e decodificar frequências é precisamente o que um holograma faz melhor. Ele funciona como uma espécie de lente, um mecanismo de tradução capaz de converter borrões de frequências aparentemente sem significado em uma imagem coerente. Pribam afirma que o cérebro, também, se comporta como se fosse uma lente e usa os princípios holográficos para converter matematicamente as frequências que ele recebe através dos sentidos no mundo interior de nossas percepções. Muitos pesquisadores que lhe seguiram estão convencidos dessa interpretação, entre os quais o pesquisador italiano-argentino Hugo Zucarelli, o psicólogo Stanislav Grof e o psicólogo Keith Floyd. Várias descobertas foram feitas, provando, por exemplo, que nossos sistemas visuais são sensíveis às frequências sonoras, que parte do nosso sentido olfativo é dependente das chamadas frequências ósmicas e, que mesmo as células do nosso corpo, são sensíveis a uma ampla faixa de frequências. Tais descobertas sugerem que é apenas no domínio holográfico da consciência que tais frequências são classificadas em percepções convencionais.
Mas, o mais perturbador aspecto do modelo holográfico do cérebro acontece quando ele é colocado face à teoria de Bohm, pois, se a concretude do mundo é apenas uma realidade secundária e o que "existe" é realmente um borrão holográfico de frequências e, se o cérebro é, também, um holograma e seleciona apenas algumas das frequências deste borrão e matematicamente as transforma em percepções sensoriais, o que acontece com a realidade objetiva? Respondendo de uma maneira simples, ela deixa de existir, é uma ilusão. Embora pensemos que sejamos seres físicos movendo-nos através de um mundo físico, isto também é uma ilusão.
Dessa forma, "nós somos simples "receptores" flutuando através de um oceano de frequências e o que extraímos desse oceano e transmudamos em realidade física é apenas um canal dentre muitos, extraídos do superholograma".
Combinadamente, e teoria de Bohm e Pribam passou a ser chamada de paradigma holográfico, conceito que tem atraído a atenção de muitos físicos. Um pequeno, mas crescente, grupo de pesquisadores acredita que este paradigma é o modelo de realidade mais perfeito que a ciência já apresentou até o momento; mais do que isso, alguns acreditam que ele poderá resolver alguns mistérios que nunca antes foram explanados pela ciência e, até mesmo, estabelecer o fenômeno paranormal como parte da Natureza. Numerosos pesquisadores, inclusive Bohm e Pribam notaram que muitos fenômenos paranormais tornam-se muito mais compreensíveis à luz do paradigma holográfico.
Um dos mistérios é a telepatia, fenômeno que existe, mas não de forma generalizada. Num universo em que os cérebros individuais são realmente porções indivisíveis de um holograma maior e tudo está infinitamente interligado, a telepatia é explicada pela teoria de Pribam como sendo meramente o acesso de níveis holográficos semelhantes. Torna-se muito mais fácil entender como o pensamento pode viajar instantaneamente do indivíduo "A" para o indivíduo "B" em qualquer distância e ajudar a entender alguns quebra-cabeças ainda não explicados pela psicologia. Segundo Grof, que faz experiências com psicologia transpessoal, relacionadas com os diversos estados da consciência, desde 1960, "se a mente é realmente parte de um continuum, de um labirinto que está conectado não apenas a cada mente que existe ou existiu, mas também, a cada átomo, organismo e a regiões da imensidão do espaço e tempo, o fato de que é capaz, ocasionalmente, de fazer incursões no interior deste labirinto e ter experiências transpessoais, não parece mais tão estranho assim".
O paradigma holográfico tem, também, implicações na biologia. Keith Floyd, um psicólogo do Virginia Intermont College, ponderou que, se a concretude da realidade é apenas uma ilusão holográfica, não é mais verdade dizer que o cérebro produz a consciência. Ao contrário, é a consciência que cria a aparência do cérebro – assim como o corpo e tudo o mais em torno de nós que interpretamos como sendo físico. Tal reviravolta no modo de vermos as estruturas biológicas está levando os pesquisadores a indicar que a medicina e nosso entendimento do processo de cura poderia, também, ser transformada pelo paradigma holográfico. Se a estrutura física aparente do corpo não é mais que uma projeção da consciência, torna-se claro que cada um de nós é muito mais responsável pela nossa saúde do que a sabedoria médica admite. O que agora vemos como curas miraculosas de certas doenças podem realmente provir de mudanças na consciência que, por sua vez, efetua mudanças no holograma do corpo. Similarmente, novas técnicas controversas de cura, tais como visualização, podem responder tão bem porque, no domínio holográfico do pensamento, as imagens são, afinal, tão reais como a "realidade".
• Amit Goswami e o seu Universo Autoconsciente ou Teoria do Idealismo Monístico
Amit Goswami é um físico natural da Índia e radicado nos Estados Unidos. É professor de Física na Universidade do Oregon e Doutor pelo Instituto de Ciências Abstratas de Sausalito, Califórnia. O que vamos apresentar está contido no seu livro O universo autoconsciente – como a consciência cria o mundo material e também na referência, uma de suas entrevistas designada por O que é o esclarecimento, dada a Craig Hamilton de WMT.
Amit Goswami, estudando o comportamento das partículas subatômicas dentro do domínio da Física Quântica, afirma que é nesse contexto que a realidade não-material se revela aos olhos dos cientistas. Ele sustenta que a força criadora de toda a realidade física é consciência, isto é, ela é a base de todo o ser e a partir dela retirou a idéia da causação descendente, em contraposição à teoria materialista e reducionista da causação ascendente. Segundo ele, ambas ocorrem, mas a causação descendente é a base do seu idealismo monístico, diferente do dualismo Força e Matéria. Na visão de Goswami, o livre-arbítrio tem um papel de destaque na explicação dos fenômenos e do mundo.
Embora reconhecendo o pioneirismo da obra do físico Fritjof Capra, intitulada O Tao da Física, que admite o aspecto espiritual dos seres humanos, Goswami chega ao ponto de enfatizar que tudo nela ainda se baseia exclusivamente no aspecto material da realidade. Assim, ele se considera pioneiro por sugerir, no seu entender baseado em uma explicação rigorosamente científica, que a consciência é a base do ser, excetuando apenas as ideias da psicologia transpessoal. Assim, ele insiste que a aplicação de suas ideias e conceitos sobre a consciência como base fundamental do ser resolveria todos os paradoxos da física quântica. Admite, ainda, que se forem aceitas suas ideias, haverá uma mudança radical de paradigma na integração da ciência com a espiritualidade. Acentua, também, que suas ideias são diferentes das ideias de Capra e Zukov, pois por trás das ideias destes físicos permanece a causalidade derivada da matéria. Apesar destes pesquisadores reconhecerem a importância da consciência e da espiritualidade, consideram a consciência apenas como um epifenômeno ou fenômeno secundário, resultante de interações químicas e hormonais no cérebro. Mas, esta não é a espiritualidade pregada por Jesus, nem admitida pelos espíritas e espiritualistas sérios e místicos de tantas religiões ocidentais, como o budismo, o taoísmo, etc. Assim, este conhecimento não levará a nenhuma mudança de paradigma no pensamento científico por não estimular a ciência ao estudo sério da consciência.
Segundo Goswami, outros autores vêm trazendo luz sobre o assunto e pondo mais lenha na fogueira, afirmando que:
"[...] a ciência atual revelou os paradoxos quânticos, mas também, tem mostrado sua real incompetência em explicar fenômenos paradoxais e anômalos, tais como, os fenômenos paranormais estudados pela parapsicologia e até mesmo a criatividade. Mesmo assuntos tradicionais, como a percepção e a evolução biológica, ainda não foram devidamente explicadas pelas teorias materialistas. Para dar um exemplo, em biologia há o que chamamos de "equilíbrio pontuado". O significado disso é que a evolução não é apenas lenta, como Darwin reconheceu, mas também há períodos de evolução rápida, que são conhecidos como "marcas pontuais". Mas, a biologia tradicional não tem explicações adequadas para isso".
"Contudo, se fizermos ciência com base na consciência, sob o primado da consciência, então, poderemos ver criatividade neste fenômeno, criatividade real, derivada da consciência. Em outras palavras, podemos verdadeiramente ver que a consciência está atuando criativamente tanto na biologia como na evolução das espécies. E, assim, podemos preencher estas falhas que a biologia convencional não pode explicar, por derivarem essencialmente de ideias de ordem espiritual, tais como a consciência como criadora do mundo".
Colocar a consciência, dizemos nós – o espírito, como força criadora do mundo material é uma realidade que os físicos não desejam e não querem ouvir por ser radical demais, mas através dessa realidade torna-se fácil explicar porque na física quântica as partículas não são vistas como coisas definidas, como estamos acostumados a ver na vida real, isto é, na forma como nos ensinou a física clássica de Newton, objetos que podem se mover em todas as direções e com trajetórias bem definidas. A física quântica não vê os objetos (partículas) dessa maneira, ela os vê como possibilidades, ondas de possibilidade. Então, resulta a pergunta: o que converte possibilidade em realidade, já que, quando vemos, nós vemos eventos e coisas reais? Quando você vê uma mesa, você vê uma mesa real, não uma possibilidade de mesa. Na física quântica, este é o "paradoxo da medição quântica". Segundo Goswami, o que está por trás desse paradoxo da matéria é a força criadora da consciência.
Segundo os materialistas, o corpo humano e com ele o nosso cérebro, tudo é, na sua essência, constituído de átomos e partículas elementares. Então, segundo a teoria quântica, como pode esse cérebro converter as ondas de possibilidade que residem nele mesmo (o cérebro real), se falta aí a eficácia da causalidade? Ele próprio (o cérebro) é feito de ondas de possibilidade e partículas elementares, portanto, teoricamente, ele pode converter suas ondas de possibilidade em ondas de realidade, mas não o faz. Então, o que converte onda de possibilidade em realidade? É a consciência, responde Goswami, porque ela não obedece à física quântica: por não ser constituída de matéria e ser de natureza transcendental, o mundo material é manifestado através dela. Essa mesma discordância, mudando-se consciência por espírito, é a mesma que existe entre ciência e espiritualismo.
Tanto no seu livro, como na entrevista em referência, Goswami se estende em explicações sobre o Universo e também sobre o "princípio antrópico", adotado por astrônomos e cosmologistas, que afirmam que o universo tem um propósito. Essa crença decorre do fato de que existem tantas coincidências, há tantos ajustes finos, que os levam a crer que o Universo tem um propósito – o de servir aos seres vivos, principalmente ao homem. Não deixa de mencionar, também, as chamadas curas quânticas, nas quais o pensamento tem papel relevante.
Finalmente, devemos destacar a importância do "princípio da não-localidade", a fim de podermos entender as idéias de Goswami. Segundo ele, é a consciência não-local que tudo penetra e permeia e, não estando contida em lugar algum, está contida em todos os lugares. É através dessa consciência não-local que se pode entender e perceber a conexão que existe entre todas as coisas do Universo. Ele passa-nos a ideia de que, por trás da realidade do mundo material que vemos e observamos, existe algo como uma matriz, um molde de tudo que é criado. É esse molde ou teia que permeia tudo que existe, e que conecta tudo com tudo.
• Sheldrake e o campo morfogenético
Rupert Sheldrake (1942 – atual) é filho de uma tradicional família inglesa. Estudou fisiologia vegetal e filosofia, em Cambridge e Harvard. Como membro pesquisador da renomada Sociedade Real (Royal Society), desenvolveu um projeto científico sobre o envelhecimento de células. Foi também docente convidado na Alemanha, nos EUA e na Malásia. Viveu vários anos na Índia, onde dirigiu uma equipe que pesquisou a evolução das plantas úteis tropicais e, nesse período, absorveu conhecimentos da filosofia indiana.
Seu primeiro livro, A new science of life (Uma nova ciência da vida), foi publicado em 1981. Neste livro, que caiu como uma bomba sobre o mundo científico, Sheldrake apresentou o fundamento teórico para uma visão nova e revolucionária da gênese morfológica – o surgimento das formas no mundo orgânico e inorgânico. Das publicações científicas, os comentários e reações extravasaram para os jornais e para a mídia radiofônica e televisiva. O establishment científico o baniu, queimando simbolicamente o seu livro e obstou o mais que pôde o acesso de Sheldrake às revistas científicas importantes, como a Nature, que chamou o seu livro de um "tratado aborrecedor" e as suas teorias de "esdrúxulas aberrações científicas". Mas, à época, teve os seus seguidores, como Arthur Koestler, que classificou as suas teorias de "incrivelmente estimulantes e desafiadoras". De outro lado, a revista Sunday Times, apesar de elogiar a sua linguagem como sóbria e clara, afirmou que ele não apresentava provas científicas de suas teses.
Dez anos depois, as disputas sobre suas teorias não perderam o calor das primeiras horas. Sua nova e abrangente obra, lançada em 2001, The presence of the past (A presença do passado), suscitou e vem suscitando novas controvérsias.
Sua tese principal trata da capacidade de aprendizagem da "criação" e a interação entre o espírito e a matéria. É uma tese que ele mesmo sabe ser difícil comprovar definitivamente. Apesar disso, é tão inacreditável quanto simples. Segundo ele, além dos campos energéticos conhecidos pela ciência, como o gravitacional e o eletromagnético, a natureza possui campos morfogenéticos. Esses campos são definidos por Sheldrake como "estruturas invisíveis e organizadoras, capazes de formar e organizar cristais, plantas e animais, determinando até o seu comportamento". Como biólogo, ele afirma que estes campos morfogenéticos contêm a soma de toda a história e de toda a evolução, como se fosse algo semelhante ao inconsciente coletivo de C.G. Jung.
Ainda, pela hipótese de Sheldrake, "tudo que vier acontecer, num determinado momento, terá sua consequência no futuro, em processos similares. No processo de aprendizagem, por exemplo, o fato de alguma coisa ser aprendida por alguém implica no fato de ela vir a ser aprendida por outrem mais facilmente, onde quer que ele esteja". Várias experiências levadas a efeito com relação ao processo de aprendizagem e memorização apresentaram evidência e conclusões a favor da hipótese de Sheldrake.
Sheldrake estende o seu conceito da ressonância mórfica a todo o Universo, ao supor que "estruturas similares podem estar em comunicação, no espaço e no tempo", através de seus campos morfogenéticos. Verifica-se, assim, que "o que está em jogo na "bomba" lançada por Sheldrake é, nada mais nada menos, do que uma hipótese científica, que, caso fosse comprovada, derrubaria toda a concepção materialista do Universo." É essa cosmovisão, que parece surrealista, que pretende colocar uma pá de cal no materialismo científico.
No seu segundo livro, The presence of the past (A presença do passado), citado anteriormente, ele avança mais um pouco e conjectura a hipótese de a natureza possuir uma memória, com caráter cumulativo. Em virtude disso, essa memória se amplia em cada repetição, a tal ponto que, podemos dizer, as características das coisas provêm de um processo de habituação. Os hábitos não só seriam capazes de construir a natureza de todos os seres vivos, mas também dos cristais, dos átomos das moléculas e, enfim, de todo o cosmo.
A provocação singular desse novo livro, que causou uma verdadeira "tormenta", poderia ser expressa da seguinte forma: "nossos hábitos pessoais poderiam ser derivados da influência acumulada de nosso comportamento passado, com o qual mantemos uma comunicação por ressonância. Se isto for verdade, nossas experiências passadas não teriam que estar armazenadas de uma forma física em nosso sistema neuro-sensorial. Isto será válido quando lembrarmos de uma canção, ou de algo que tenha acontecido no ano passado. Seria viável termos acesso ao passado por via direta. Talvez nossa memória nem esteja gravada no cérebro, como pressupomos tão naturalmente". Nesse sentido, Sheldrake fala de sugestões plausíveis, de possibilidades que ainda estão por ser comprovadas, em termos científicos.
Para comprovar sua hipótese de que a memória não se encontra no cérebro, Sheldrake usa o exemplo da televisão, dizendo que os biólogos e geneticistas que defendem a memória materialista agem como se pretendessem explicar o funcionamento do televisor exclusivamente através de conceitos mecânicos e restritos à caixa do aparelho receptor. Todo mundo sabe que as informações que reproduzem as imagens são provenientes de determinados circuitos, localizados dentro do aparelho. Porém, cada televisor recebe suas imagens de uma fonte distante e central, ou seja, dos estúdios de uma emissora de televisão, que as emite através de sua estação de transmissão, através de um campo invisível capaz de gerar o som e as imagens. Por conseguinte, ainda segundo Sheldrake, "nosso cérebro funciona como um aparelho de televisão e os campos morfogenéticos nos transmitem informações de maneira semelhante, não-espacial e não-mecânica. Nosso cérebro, então, seria mais comparável ao aparelho de televisão do que ao programa transmitido. Em outras palavras, aquilo que lembramos não se encontra no nosso cérebro, assim como o comentarista não se encontra dentro da TV."
Não é, pois, de se admirar que Sheldrake tenha sido declarado um inimigo da ciência, especialmente do materialismo, e teve sua teoria intitulada de "Cavalo de Tróia", pois "tentava reintroduzir, sorrateiramente, a metafísica no mundo de hoje, depois que a ciência natural a tinha banido definitivamente."
Talvez a mais radical e séria questão refira-se aos conceitos e leis naturais. Para os cientistas são as leis naturais e imutáveis que fundamentam a ciência; mas, apesar de não discordar desta verdade, para Sheldrake, o cosmo acha-se em constante transformação e evolução, não considerando conceitos e leis como atemporais e imutáveis, afirmando que o que chamamos costumeiramente de "leis naturais", talvez não passe de costumes da criação. Este parece ser o cerne da questão.
Podem chamar Sheldrake de metafísico, místico hermético ou agnóstico, mas ele é, sobretudo, empírico. O experimento é decisivo, esforça-se em esclarecer. Embora suas hipóteses surjam da intuição, ele se submete ao experimento científico. A ele, Sheldrake se submete.
• O Projeto Inteligente (Intelligent Design)
O Projeto Inteligente (Intelligent Design) é uma teoria proposta por Michael Behe, professor associado de bioquímica da Universidade de Lehigh e autor do livro A caixa preta de Darwin (Darwin´s black box) – The Free Press, 1996. Segundo o Projeto Inteligente, causas inteligentes seriam responsáveis pela origem do universo e da vida, em toda a sua diversidade. Os seguidores dessa teoria, entre os quais se encontra William Dembski, autor de Intelligent design: the bridge between science and theology (O projeto inteligente: a ponte entre a ciência e a teologia) – Cambridge University Press, 1998, sustentam que ela é científica e que oferece provas empíricas da existência de Deus. Ambos são fundadores e diretores do Discovery Institute de Seattle (USA), patrocinado e sustentado por fundações cristãs. Estes autores e seus seguidores acreditam que a Natureza é um livro aberto que demonstra a ação do projeto inteligente nos sistemas vivos, mas, estes autores, em vez de oferecerem indícios positivos para seus pontos de vista, tentam principalmente encontrar fraquezas na teoria da seleção natural de Darwin. No entanto, mesmo que encontrassem fortes e bem sucedidos argumentos contra a seleção natural, não tornaria o Projeto Inteligente mais provável. Atuam fortemente nos Estados Unidos e já conseguiram, em alguns estados americanos, por força de mudanças nas leis estaduais, o ensino dessa teoria nas aulas de ciências para ser uma alternativa à teoria científica da seleção natural de Darwin.
Um grande número de oponentes, cientistas e céticos, alegam que o ID (Intelligent Design) visa criar argumentos que seriam usados pelos criacionistas defensores da Bíblia, resistindo frontalmente aos preceitos da evolução de Darwin, através do confronto público Evolução versus Criacionismo. Eles rejeitam a teoria da evolução ferrenhamente e até mesmo a veem como um empecilho muito grande à religiosidade, como, por exemplo, alega o Professor Johnson, Professor de Direito da Universidade de Berkeley.
Para o Professor Phillip E. Johnson, a teoria da seleção natural de Darwin estabelece três posicionamentos, a saber: primeiro, que Deus não existe; segundo, que a seleção natural somente poderia ter acontecido aleatoriamente e por acaso e, terceiro e último posicionamento, seja o que for que tenha ocorrido por acaso ou aleatoriamente, não poderia ter sido projetado por Deus. Acreditamos que Johnson não entendeu ou parece não querer entender completamente a teoria da seleção natural de Darwin.
Mas não vamos comentar ou rebater uma corrente ou outra aqui, apenas constatar que ambas se engalfinham em uma luta de morte, em vez do entendimento. Tudo gira em torno da polêmica religião versus ciência em torno da existência ou não de Deus, na origem da vida e na duração do processo de evolução na Terra. Os religiosos e os pseudocientistas desprezam a teoria da evolução pela seleção natural, à qual Darwin dedicou 27 cuidadosos e disciplinados anos de sua vida para gerar o seu tão controvertido livro, publicado com o título simplificado de Origem das Espécies.
Comentamos apenas que qualquer livre-pensador, cientista ou não, poderá conjecturar algumas hipóteses sobre a evolução da vida na Terra. Por exemplo, Deus poderia ter criado vidas superinteligentes que fazem experiências com seleção natural em outros planetas ou planos existenciais do Universo e transferido o resultado de tais experiências para a Terra, ou mesmo qualquer hipótese que nossa fértil imaginação pudesse sonhar. O que não se pode negar é que a seleção natural existe!
Michael Behe, o autor da teoria do Projeto Inteligente, argumenta que "sistemas irredutivelmente complexos," como o olho e seus componentes, não poderiam funcionar caso faltasse apenas uma de suas várias partes. Ele afirma que "sistemas irredutivelmente complexos não podem evoluir de uma maneira Darwiniana", e que o Projeto Inteligente deve ser responsável por esses sistemas irredutivelmente complexos. Atualmente, este assunto vem merecendo muitos debates de cientistas e biologistas independentes com aqueles comprometidos com o Projeto Inteligente de Behe. O principal contra-argumento dos biologistas é que sistemas biológicos complexos e interdependentes não evoluem como peças individuais, mas sim no seu conjunto e através de modificações gradativas ao longo de milênios de evolução. Sempre que Behe se vê encurralado ele se refugia na teologia, dizendo (6): "Deus pode fazer qualquer coisa que quiser", ou "Nós somos incompetentes para julgar a inteligência segundo os padrões de Deus".
Apesar de todo esse debate, o próprio Darwin escreveu: "Caso pudesse ser demonstrado que exista qualquer órgão complexo que não possa ter se formado através de ligeiras modificações, numerosas e sucessivas, minha teoria [da seleção natural] certamente cairia por terra." Charles Darwin, The Origin of Species. E isso ainda não foi demonstrado!
O próprio DNA é uma estrutura macromolecular complexa. Esta complexidade cresce nas organizações celulares desde as mais simples às mais complexas, gradativamente, ao longo de bilhões de anos de evolução, submetida às leis naturais e imutáveis, das quais as leis da física derivam. Segundo Victor J. Stenger:
"[...] a probabilidade de que o DNA se organize por acaso é de 1.040.000 para uma [segundo Fred Hoyle, Evolution from Space [Evolução vinda do espaço], 1981]. Isso é verdadeiro, mas altamente enganoso. O DNA não se organizou puramente por acaso. Agrupou-se devido a uma combinação do acaso com as leis da física. Sem as leis da física, como as conhecemos, a vida na Terra como a conhecemos não teria evoluído no curto prazo de seis bilhões de anos. Foi necessária a força nuclear para ligar os prótons e elétrons ao núcleo dos átomos, o eletromagnetismo para manter átomos e moléculas juntos e a gravidade para manter os ingredientes da vida resultantes presos à superfície da Terra".
Possam estas fascinantes idéias inspirar muitos físicos a reexaminarem seus pontos de vista no sentido de voltarem, também, seus estudos para a transcendentalidade, ampliando assim o escopo da ciência e colocando suas brilhantes inteligências a serviço da humanidade.
4. O mundo invisível
Quando dizemos que o mundo invisível é muito maior do que se pensa, tal afirmação vale não apenas em relação à diversidade apresentada pela matéria nas suas diversas formas, inclusive as plasmáticas e plasmáveis, mas também, em relação às forças de todo tipo e de todas as espécies, sejam elas puramente físicas ou transcendentes, isto é, de natureza espiritual.
Com relação à matéria, toda ela é invisível quando considerada na sua essência estrutural como moléculas individuais, quer sejam formadas pela junção de dois ou mais átomos idênticos (substâncias puras) ou pela combinação dos diversos átomos entre si para formar as mais diversas substâncias compostas da Natureza. O que de fato dá visibilidade à matéria é a sua aglomeração em volume e massa superior ao comprimento das radiações luminosas nela refletidas.
Ainda como matéria, salvo pouquíssimas exceções, todos os gases (forças de coesão menores que as forças de repulsão), mesmo aglomerados em grandes massas, são invisíveis. Assim, o hidrogênio, o oxigênio, o nitrogênio, todos os gases nobres (argônio, neônio, xenônio, criptônio e radônio), misturas de gases (como o ar), gases combinados, como o monóxido de carbono, o dióxido de carbono, etc., são todos eles, quando puros, completamente invisíveis, nas condições normais de temperatura e pressão. Já as substâncias no estado líquido (força de coesão igual à força de repulsão) ou no estado sólido (força de coesão maior que a força de repulsão) são todas visíveis: um exemplo clássico de uma substância que pode existir no três estados mencionados é a água – ela tanto pode se apresentar no estado sólido (gelo ou neve), quanto no líquido (água comum) ou no vapor (vapor d´água, umidade).
Resta-nos mencionar, ainda, o chamado quarto estado da matéria, o plasma, que é constituído por gases ionizados existentes a altíssimas temperaturas. O estado plásmico ou plasmático apresenta-se na forma de um movimento térmico muito grande, envolvendo os seus íons positivos e negativos, tendo propriedades diferentes da matéria básica da qual proveio, seja ela sólida, líquida ou gasosa. Por exemplo, a água acima de 2000ºC a qualquer pressão passa ao estado plasmático, cessando toda e qualquer possibilidade de reação química e a 5000ºC se decompõe totalmente em seus elementos – o hidrogênio e oxigênio, ambos então, no estado plasmático. Encontramos exemplos de gases no estado plasmático na atmosfera incandescente do sol e nas estrelas, em geral. No seu conjunto, o plasma é neutro, já que contém uma quantidade igual de partículas carregadas positiva e negativamente, mas a interação destas cargas dá ao plasma uma grande variedade de propriedades diferentes das dos gases e, embora neutro, suas partículas são suscetíveis aos campos eletromagnéticos, reorientando-se as suas cargas de acordo com a lei da atração física. A física do plasma é um dos ramos mais adiantados do progresso científico. Quanto à visibilidade, o quarto estado da matéria é invisível, ou visível apenas em condições especiais.
Há ainda uma nova matéria, a matéria escura, que se admite existir por toda a parte, representando 90% ou mais da massa total do Universo. Esta matéria se interpõe no espaço sideral e intergalático, sem a qual seria difícil explicar as forças gravitacionais que mantêm a ordem no Universo e contrabalança a sua expansão. Este é um assunto do mais alto interesse dos físicos em nosso tempo.
Finalmente, há um tipo de matéria, o fluido cósmico, que a Física não cogita ou não estudou ainda, mas que é intuitivo e cujo conceito é facilmente admitido pelos espíritas e espiritualistas. Trata-se da matéria plasmável pela Força Inteligente, em que a coesão entre as moléculas é baixíssima, tornando-a uma espécie de matéria sutil, de baixíssima densidade. Trata-se, evidentemente, de matéria invisível e impalpável, quase imponderável tão tênue ela é. Assim como o vapor d´água pode se rarefazer e tornar-se invisível (vapor seco) ou condensar, formando água que com ele fica em equilíbrio e se torna visível, o fluido cósmico é, também, dotado de expansibilidade e condensação. Sua natureza e composição é própria do mundo ou da região do espaço de onde provém, e dela nada sabemos. Esse tipo de matéria não possui as propriedades da matéria tangível, tal como é conhecida pela ciência oficial e, ainda, não foi submetida à análise química. Um exemplo material que se assemelha à existência desse fluido seria a cabeleira ou a cauda dos cometas, visível apenas porque se acha carregado de poeira cósmica. Seria a matéria escura dos cientistas o fluido cósmico dos espíritas e espiritualistas?
Admite-se que o fluido cósmico possa existir em dois estados distintos: o de tenuidade ou imponderabilidade, que pode ser considerado o estado normal ou primitivo, e o de condensação, em que sua materialidade se torna perceptível. Isso equivale a dizer que o fluido cósmico pode passar de matéria intangível ao estado de matéria tangível, da mesma forma que o vapor d´água invisível pode condensar-se em água, visível.
É fácil de compreender que cada um desses dois estados (tenuidade e condensação) necessariamente dá lugar a fenômenos diferenciados. No estado de condensação, ele seria responsável pelos fenômenos do mundo visível, enquanto que no estado de tenuidade ele daria lugar aos fenômenos do mundo invisível. Os primeiros, chamados fenômenos materiais, são do campo da Ciência propriamente dita; os outros, invisíveis são qualificados de fenômenos paranormais ou espirituais, porque se ligam à existência do espírito. É óbvio que o estudo de um dos estados não seria completo, sem o estudo do outro, inclusive para se saber como um interage com o outro.
5. A parapsicologia e os fenômenos inexplicáveis
O termo parapsicologia surgiu pela primeira vez em 1889 e é atribuído ao estudioso alemão, de Stuttgart, Max Dessoir e veio para englobar o estudo de fenômenos inexplicáveis – os chamados fenômenos ocultos, que não eram tratados nem pela psicologia clássica nem por qualquer das ciências naturais existentes, pretendendo imprimir-lhe foro de ciência. Segundo Robert Amadou: "A parapsicologia não se confunde com uma teologia; não se confunde com uma religião, como o espiritismo, nem com uma filosofia, como o ocultismo; a parapsicologia aspira a ser uma ciência". Contudo, decorridos mais de 100 anos, só recentemente foi reconhecida como ciência e a maior parte dos fenômenos que engloba continua sem explicação e poucos foram aceitos pela ciência. A esses fenômenos, a Parapsicologia aplica, atualmente, a denominação genérica de fenômenos paranormais.
Embora não sendo objetivo de nossa obra fazer um ensaio crítico dos conhecimentos da Parapsicologia, vale a pena notar que, durante o século XX, três correntes subsistiram: a primeira das três, a corrente francesa, conservadora, representada por Robert Amadou, manteve a dicotomia natural-sobrenatural; a segunda, a corrente russa, sob o comando de L. L. Vasiliev, se interessou pelos aspectos práticos da telepatia; e por último, a corrente americana da escola de Joseph Banks Rhine, da Universidade de Duke, postulando que era necessário "o avanço dessa ciência na área do sobrenatural, para reduzi-lo ao natural", isto é, procurou dar um tratamento segundo uma perspectiva histórico-científica. Houve progressos também na Inglaterra (Soal, Price e Watheley Carington), que desenvolveram teorias sobre a sobrevivência mental ou psíquica do homem, e na Alemanha (Rudolphe Tischner), que fez o mesmo que os pesquisadores ingleses. É de se notar que a escola de Rhine atingiu os mais amplos resultados, mas a partir de 1965, suas pesquisas foram interrompidas, sob a alegação da direção da Universidade Duke que "suas pesquisas não atingiram objetivos práticos". Daí, em seguida, Rhine ter criado a sua Foundation for Research of the Nature of Man.
Com a realização do Primeiro Congresso Internacional de Parapsicologia – Utrecht, em 1953, Robert Thouless e B. P. Wiesner (10) propuseram a troca da denominação de tais ocorrências paranormais para fenômenos PSI, provocados pela função PSI (do grego, psykhê = alma). Esta função foi subdividida em duas classes: a primeira delas é chamada de função psi-gamma, responsável pelos fenômenos de natureza subjetiva como a telepatia, clarividência, precognição e pós-cognição, etc. e, a segunda, de função psi-kappa, responsável pelos fenômenos de natureza objetiva, nos quais se observam movimento, alteração, modificação ou quaisquer outras operações sobre os objetos materiais, como a psicocinesia, fantasmas, ectoplasmias, mesas giratórias, etc.
Thouless e Wiesner formularam uma hipótese de trabalho acerca da origem da "função PSI". Admitiram a existência de uma entidade psíquica que opera não só nas atividades cognitivas, normais e paranormais, como também é capaz de interagir tanto com os objetos e cérebros externos como com o cérebro e o sistema nervoso do indivíduo em cujo corpo ela se situa. Deram a essa curiosa entidade o nome de shin, o qual corresponde à vigésima primeira letra do alfabeto hebraico. Segundo eles, "shin" seria a causa de todas as funções psíquicas normais e paranormais, enquanto que, como efeito, teríamos a "função PSI" para designar o conjunto das funções paranormais, na qual psi-gamma é a função subjetiva (ESP, segundo Rhine) e psi-kappa é a função objetiva (PK, segundo Rhine). Afinal de contas, tudo isso como artifício para "contornar o velho problema do espírito, cuja conotação religiosa e metafísica constitui o maior percalço para a sua aceitação na ciência oficial".
Atualmente, de modo geral, usa-se a nomenclatura de J. B. Rhine: ESP (extrasensorial perception) ou em português, PES (percepção extra-sensorial) e para designar os fenômenos objetivos, usa-se a denominação PK (psychokinesis = psicocinésia).
Um grande número de fenômenos, como sonhos premonitórios, os casos de avisos de morte, os de transmissão de pensamento (telepatia), de influências à distância e de percepção extra-sensorial de alguns fatos que ocorrem a pequenas e grandes distâncias foram cautelosamente estudados pela Parapsicologia, que já admite a realidade de tais fatos, classificando-os como "fenômenos paranormais". Mas a ciência, embora se mostre aparentemente aberta aos fatos novos, mantém rigorosa cautela a respeito de questões que parecem envolver problemas ligados à natureza espiritual do homem.
Estaria uma "mente" exterior agindo sobre tais objetos? Ou seja, seria a ESP uma resposta a um estímulo exterior, sem o concurso dos cinco sentidos físicos normais? É válido imaginar-se, como hipótese, uma "mente" imaterial capaz de agir direta e mecanicamente sobre os objetos materiais, para explicitar os fenômenos objetivos do tipo PK – psicocinésia? São questões ainda não resolvidas pela ciência.
Todos os fenômenos que ocorrem no mundo invisível, sob a ação de uma Força Inteligente, são e continuarão sendo inexplicáveis pela ciência oficial, enquanto ela não tiver um melhor conhecimento do que seja a Força Inteligente. Para os espíritas e espiritualistas, tais fenômenos têm o nome genérico de fenômenos anímicos ou fenômenos psíquicos e têm a ver com a variação dos campos biopsíquicos do homem, por ação da Força Inteligente.
Segundo esse enfoque, podemos classificar tais fenômenos em dois tipos: fenômenos mediânicos e fenômenos mediúnicos. Nos primeiros, a Força Inteligente atua sobre objetos materiais, dando-lhes movimento ou, então, materializa, de alguma forma, os fluidos (matéria tênue e invisível ao nosso sentido da visão). Já nos fenômenos mediúnicos, a Força Inteligente interage de alguma forma diretamente com pessoas ou entre pessoas.
Entre os primeiros fenômenos podemos citar a psicografia, as materializações, as fotografias mediânicas, as mesas giratórias, o caimento de pedras, aparições, etc.
Entre os segundos podemos incluir a mediunidade em suas diversas formas e graus, como a mediunidade intuitiva ou intuição, a mediunidade olfativa, a mediunidade auditiva, a mediunidade de vidência, a telepatia. Como fenômeno misto ou global, encontramos a incorporação mediúnica.
A admissão dessa Força Inteligente explicaria, também, os fenômenos anímicos desenvolvidos por Mesmer – daí o nome de mesmerismo a esses fenômenos, do qual o sonambulismo é uma modalidade, bem como o hipnotismo ou transe hipnótico, cujo conhecimento, também deriva do mesmerismo, originalmente tido como magnetismo humano ou força vital. Mesmer, Charcot e outros seguidores deram os primeiros passos.
6. Visão espiritualista da Força Inteligente
Na visão espiritualista, todo o Universo se constitui de Força e Matéria, sendo esta última a formar todas as substâncias e corpos e a primeira a animá-los. Mas aqui o conceito de Força vai muito além do conceito ensinado pela Física, atuando a Força sobre a Matéria em todas as manifestações da vida.
A Força Inteligente está presente em todo o Universo e permeia todo e qualquer tipo de matéria, seja ela inorgânica, orgânica ou organizada, bem como todas as células vivas individualmente e, no seu conjunto, em cada ser vivo. Ela é o agente ativo que, atuando sobre a matéria, que é o agente passivo, subjaz à estrutura atômica da matéria e, nos seres vivos (plantas e animais), subjaz às células, dando-lhes vida. Aqui, precisaríamos estender o conceito de vida também aos minerais, que sofrem transformações similares às que ocorrem com os seres vivos. Assim, segundo Luiz de Mattos, teríamos:
" 1) no reino mineral – força inteligente incipiente, resultante da vibração atômica e molecular na matéria amorfa e dos arranjos cristalinos nos cristais;
2) no reino vegetal – força inteligente e vida incipiente, fixa, sem mobilidade apreciável;
3) no reino animal – força inteligente, vida plena e inteligência, com mobilidade;"
No homem, temos: a força inteligente, a vida plena e inteligência plena, com livre-arbítrio e demais atributos da força, que, a partir daqui, recebe o nome de espírito.
Ainda, segundo Luiz de Mattos, "Não se deve inferir, daí, a inexistência de vida no reino mineral nem a de inteligência no reino vegetal. Apenas se menciona a predominância dos atributos fundamentais apontados, para facilitar a compreensão do leitor, dada a transcendentalidade do assunto". E mais adiante: "[...] Força e Matéria são o princípio e o fim, são unidades que se tocam nos seus extremos, que correm paralelas e que, na sua incomensurabilidade, abrangem o infinito e envolvem o Universo".
Referências bibliográficas:
1) MATTOS, Luiz de. Pela Verdade – a Ação do espírito sobre a matéria. - 9ªed., 1983. p. 216 e seguintes.
2) MATTOS, Luiz de. Racionalismo Cristão. 43ªed. Rio de Janeiro: Lidador, 2004. p.50 e 51.
3) BOHM, David. The Implicate Order. Artigo de autoria desconhecida. Disponível em http://www.bizcharts.com/stoa_del_sol/plenum/plenum_3.html Acesso em 25 out. 2005. Tradução e adaptação de Caruso Samel.
4) GOSWAMI, Amit. The self-aware universe. Entrevista dada a Craig Hamilton, em WMT. Veja, também, o seu livro de mesmo nome escrito em co-autoria com outros colaboradores. Acesso em 28 nov. 2005 no site ????
5) TALBOT, Michael. The universe as an hologram. Disponível em: http://twm.co.nz/hologram.html . Acesso em 28 nov. 2005.
6) BOHM, David. The holographic universe. Disponível em: http://twm.co.nz/holoUni.html Acesso em 28 nov. 2005.
7) Intelligente Design Network. Intelligent Design. Disponível em http://www.intelligentdesignnetwork.org Acesso em 28 nov. 2005.
8) STENGER, Victor J. Intelligent Design. Disponível em http://www.talkorigin.org/faqs/sosmo.html . Acesso em 28 nov. 2005.
9) AMADOU, R. Parapsicologia – um ensaio histórico e crítico. São Paulo: Mestre Jou, 1966, p. 29.
10) ANDRADE, Hernani Guimarães. O que é psi? . Revista de Espiritismo, São Paulo, nº 27, 2º trim. 1995. Disponível em http://www.espirito.org.br/portal/artigos/fep/o-que-eh-psi.html Acesso em 26 nov. 2005.
11) CAPRA, Fritjof. O Tao da Física. 2ª ed. São Paulo: Cultrix, 1983.
12) SHEELDRAKE, Rupert. Sheldrake e os campos mormogenéticos. Ver site http://www.pfilosofia.pop.com.br/03_filosofia/03_07_leia_tambem/leia_tambem_09.htm . Acesso em 18 dez. 2005.
Ciência baseada unicamente na matéria organizada, não é Ciência.
A matéria é efeito e não causa. A causa, o principal objeto, o principal fim, é o Espírito, a Força que incita e movimenta a Matéria. Os homens procuram estudar minuciosamente aquilo que os olhos veem, as mãos apalpam, mas não o que o espírito sente e precisa saber.
Estude-se o que se vê, estudando também o que se sente. Procurar estudar e compreender a vida fora da matéria organizada é dever de todo homem estudioso, inteligente e sagaz.
Trecho de uma manifestação do espírito de Carlos Chagas – médico e cientista, no Racionalismo Cristão. clique em "Mais informações"
1. Traços Gerais
Neste trabalho, vamos tratar da ação da Força em cada um dos reinos da natureza, bem como, enfatizarmos os atributos dessa Força, responsável pela difusão da vida em todos os reinos da natureza, inclusive nas primitivas estruturas atômicas e moleculares do reino mineral. Trata-se da Força Inteligente, que é autogovernável, autoexpressante e automanifestante em todas as formas de vida observável. Vamos nos aprofundar um pouco mais sobre a natureza e a evolução da Força Inteligente.
Quando mencionamos que há uma causa inteligente, não estamos nos referindo ao Deus das religiões, nem às idéias dos religiosos de todas as religiões sobre Deus, muito menos de um Deus supra matemático (o acaso da teoria das probabilidades), ou do infinito do cálculo infinitesimal ou do Infinito Universal. Nós estamos nos referindo a uma outra forma de compreender essa causa inteligente. Estamos falando de causas ou agentes ainda não conhecidos pela ciência oficial, causas que são supra galáticas ou entre galáticas, não sobrenaturais, porque o natural não é só o que se vê com os nossos pobres olhos aqui na Terra.
Estes veem os objetos e as coisas que refletem apenas a luz visível, uma ínfima fração de todo o amplo espectro eletromagnético. Os cientistas falam muito de realidade e endeusam este conceito como se ele se aplicasse apenas ao mundo material. Como seria essa realidade, por exemplo, se nossos olhos físicos enxergassem uma porção maior do espectro eletromagnético, por exemplo, se tivéssemos olhos penetrantes como os raios-X? O que queremos dizer é que toda realidade, seja ela objetiva ou subjetiva, é sempre relativa. O que estamos querendo dizer é que a evolução não se limita apenas às formas materiais e materializadas, mas também, à Força, à Essência, ao Espírito.
A Força (gênero), que abrange o Espírito (espécie superior da Força), evolui sempre e essa evolução começa nos átomos, desde o mais simples (hidrogênio) até ao mais complexo elemento químico natural (o urânio) tanto no reino mineral, como no vegetal e animal, porque afinal todos os corpos são átomos que vão se estruturando em formas cada vez mais complexas, sob a ação da Força, ao longo dessa evolução. Afinal, o Universo e tudo o que nele existe tem uma história e essa história está longe muito longe de ser completamente conhecida pelo Homem. Talvez, nós, como seres humanos, estejamos passando por uma super evolução, sem que nos possamos dar conta, pois a evolução é um processo demasiadamente lento e seus efeitos, apesar da aceleração da evolução hominal, só serão observados a longo prazo. Daí, não sermos visionários ao pensar numa evolução para uma "superespécie" humana, capaz de usar, por exemplo, a telepatia como elemento biológico de recepção e transmissão do pensamento, mas o uso da telepatia neste atual estágio da evolução humana traria implicações sociais enormes e, por isso mesmo, não deverá acontecer da noite para o dia.
O Homem, como espírito e corpo (Força e Matéria), é um eterno viajante cósmico e tem uma trajetória evolutiva a cumprir aqui na Terra, participando da evolução de todo o conjunto cósmico. Força e Matéria são os componentes básicos de tudo quanto no Universo existe. Estes componentes estão presentes em toda a parte, no Universo inteiro, em seus componentes primordiais ou sob a forma organizada. É a Força Inteligente que plasma a Matéria, em um processo incessante e complexo de agregação e desagregação. Através desses processos, a Força organiza e transforma o meio ambiente para proporcionar a evolução de suas partículas inteligentes que, em suas numerosas formas aparentes, estão constantemente agindo sobre os seres vivos, particularmente no Homem. A partir de 1910, Luiz de Mattos, já proclamava em sua obra Pela Verdade – a ação do espírito sobre a matéria, às páginas 231-233, como se processa a ação da Força sobre a Matéria:
"A Força, a Inteligência Universal, é o elemento vital criador de tudo quanto existe. Essa Força, parcelada, facilmente se observa:
a) nos corpos sólidos, como no cristal, que se refaz, quando fragmentado, obedecendo às linhas geométricas da sua espécie, o que denota a ação de um elemento inteligente e diretor;
b) nos vegetais, na sua variadíssima e delicada constituição, desde as gramíneas, às flores, às portentosas árvores, [...]. c) no reino animal, irracional, desde o animal doméstico mais meigo, mais dócil, aos ferozes;
d) no movimentar, agir, pensar, falar, rir e chorar do ser humano [...].
Cada corpo vivo contém uma partícula da Força em evolução, em ascensão, e daí o princípio de que não existem duas coisas ou seres iguais na natureza [...].
Não é preciso recorrer ao milagre, ao sobrenatural, ao bizarro, ou às várias doutrinas, fontes de teorias absurdas e inteiramente contrárias à verdade e às leis comuns e naturais que tudo regem, para se ter a certeza da existência real da Força, da inteligência e da matéria; é bastante cada ser dominar-se a si próprio, colocar-se em condições de bem raciocinar, para assim tudo observar, ver, sentir e convencer-se [...].
Os diversos estados, ou categorias da força, estão sempre em evolução, em ascensão, embora lentamente, porque tudo progride e nada retrograda nem estaciona. Mas este progresso é somente em relação à Força, à inteligência, porque a matéria já existe, tal qual deve ser e é necessária, nos seus diversos estados [...] ".
E, mais adiante, na mesma obra, afirma que:
"A Força é também denominada Inteligência Universal, Luz, fonte da vida de todos os seres, e que, parcelada no mundo físico, organiza, incita e movimenta todos os corpos dos reinos da natureza.
Essa Força, essa Inteligência Universal que também se denomina Grande Foco, pode ser observada nos diferentes reinos da natureza, e sentida pelo ser humano em si próprio, a todos os momentos, como adiante se verá; ela não é da Terra, aqui vem, em partículas de diversos graus, e fica sujeita às leis do progresso de todos os seres.
Em virtude dessas leis comuns, naturais e imutáveis, é que essa Força parcelada incita e movimenta os corpos visíveis e mesmo os que os olhos armados não veem, mas que existem, em volta de nós [...]".
Ao longo e durante toda essa interminável trajetória evolutiva, a Força percorre todos os reinos da natureza – o mineral, o vegetal e o animal. Durante todo esse longo percurso, acumula sempre e sempre mais Força e mais Inteligência, passando por experiências e vivências múltiplas e diferenciadas, até alcançar um grau suficiente de "informação". A partir daí, a Força habilita-se a evoluir na forma humana, circunstância em que já dispõe de uma inteligência básica, desenvolvida em todos os estágios anteriores, e pela primeira vez, capaz de poder usar o atributo do livre-arbítrio, que nada mais é do que a vontade própria. Com este atributo ou faculdade, a Força Inteligente passa a ter a denominação de Espírito, que é a Força individualizada no homem, podendo, então, entre tantas e tantas opções, fazer escolhas inteligentes e assumir a responsabilidade de suas ações, o que não acontece no mundo animal.
Do que foi exposto, é intuitivo que o Espírito é, na criatura humana, a Força Inteligente individualizada e autodeterminada, isto é, que possui o atributo do livre-arbítrio. Desse fato marcante, a evolução realiza-se a um ritmo mais rápido, podemos até dizer acelerado, o que está comprovado quando se compara a presença dos ancestrais do homem na Terra há apenas cerca de dois milhões de anos contra uma história evolucionária de três e meio bilhões de anos. Na linha do tempo evolucionário, isso representa apenas 0,06% de todo o tempo. O que teria influído tão decisivamente na velocidade de seu progresso? Fica claro que foi o uso do seu livre-arbítrio, aliado a três outros importantíssimos atributos do espírito – a inteligência, o raciocínio e a criatividade. Mais surpreendente, ainda, fica essa comparação quando observamos que ao segmentarmos a linha do tempo da evolução humana, nos últimos trezentos anos, a evolução do conhecimento humano tornou-se centenas ou até milhares de vezes mais rápida, enquanto que a evolução biológica no homem nem de perto acompanhou esse ritmo! Essa é uma constatação para se refletir sobre a preponderância do espírito sobre a matéria.
Mas, é bom ter sempre presente que o livre-arbítrio é uma arma de dois gumes, podendo ser usado para o bem ou para o mal, conforme o aproveitamento que o ser humano fizer das lições da vida. É isso que deu e continuará dando ao ser humano condições de avançar mais rapidamente ou não em direção à perfeição máxima que pode ser conseguida neste plano da existência. É óbvio que, usando o seu livre-arbítrio para o mal, vai atrasar a sua evolução, perdendo um tempo precioso absorvido nas sensações da matéria. Fica, também, fácil de entender porque a evolução da inteligência emocional, que em última análise consiste na eliminação dos instintos animalescos e depuração dos sentimentos não pode ser conseguida em uma única vida ou encarnação, levando centenas e até milhares delas, sob as mais diversas circunstâncias e até penosas condições para aprender, compreender e entender o que poderia ter sido feito em poucas dezenas de vidas.
De outro lado, o ser humano evolui também em grupos, sociedades e culturas das mais diversas. É também intuitivo perceber que, na evolução dos seres humanos feita em grandes grupos, muitos indivíduos se tornam retardatários recalcitrantes, pelo mau uso que fizeram de seu livre-arbítrio ou pelo esmorecimento no esforço próprio que devia aplicar. Assim, ao longo de muitas vidas, tais indivíduos começam a perder contato com aqueles com quem iniciaram suas escaladas evolutivas rumo à perfeição plena. Podemos fazer uma analogia bem racional, observando que, por exemplo, quando um aluno é reprovado numa determinada série escolar e vê seus demais colegas tomando-lhe a dianteira, ele sente uma sensação de frustração, permanecendo estacionado. E, como todos estão ligados por laços afetivos devidos às experiências comuns pelas quais passaram ao longo de suas muitas vidas, sente uma dor enorme nessa separação ou afastamento. Seu desejo seria acelerar mais ainda o seu aprendizado para alcançar o grupo a que pertence.
É desse estímulo e impulso oculto que resulta a grande força que temos no sentido de preservar a vida, esforçando-se o indivíduo para ultrapassar as barreiras e obstáculos, aplicando uma vontade muito grande no sentido de superar seu próprio atraso. A fim de reiniciar um novo curso, pois a Terra é um mundo-escola, participa de novas experiências que o habilitam a superar seu atraso e alcançar maior evolução, de preferência junto ao seu grupo evolutivo. Aqueles que, ao reingressar em uma nova vida, desviam-se das condições e disposições por si mesmo estabelecidas e continuam criando novos atrasos, perdem tempo e, não se recuperando, vão ficando para trás, porque a evolução não pára e todo o grupo necessita continuar. É por isso que muitos levam mais tempo para chegarem à perfeição plena.
Esta visão evolutiva global é o oposto da visão corrente adotada pelos cientistas. Estes estabeleceram que tudo que existe é feito de matéria e tudo pode ser reduzido às partículas elementares da matéria – os assim chamados impropriamente de blocos ou tijolos de construção do universo. E, em função das interações, os átomos são formados e, a partir destes, formam-se as moléculas e nesta causação ascendente, forma-se o DNA, o ácido desoxirribonucléico (a dupla hélice) componente dos genes, que por sua vez estão contidos nas células. Tudo bem que assim seja, e materialmente falando, assim é, mas onde está a força vital, a força inteligente? Chegam ao ponto de re-examinarem os conceitos de geração espontânea, derrubada no século XIX pelo eminente médico e pesquisador francês, Louis Pasteur. Onde ficam o livre-arbítrio, a inteligência, a consciência, os pensamentos, os sentimentos, etc., que são elementos imateriais e todos atributos próprios do espírito? O que pretendem achar no cérebro, que é matéria, além de neurônios, sinapses e neurotransmissores? A que fica relegado o livre-arbítrio, mola-mestra da evolução hominal?
Essas e outras numerosas questões serão examinadas ao longo deste trabalho, adotando-se um ponto de vista oposto ao da ciência oficial. Por esse enfoque aqui explanado, estabelece-se que foi a Força Inteligente que deu "os primeiros passos" na Terra através da evolução nos reinos da natureza e, finalmente o Espírito, que deu continuidade à evolução no reino hominal. Nós gostaríamos de fazer, desde já, uma distinção básica: a evolução da Força nos reinos da natureza se fez e continua sendo feita através das formas, isto é, a Força evoluiu e continua evoluindo para aperfeiçoar os corpos que ela animou e anima; já no reino hominal, a evolução da forma quase cessou e deu lugar para a evolução do espírito através do conhecimento acumulado durante muitas vidas e guardado no perispírito – o subconsciente dos psicólogos. O que nós estamos querendo deixar claro é que a Força Inteligente precede à Matéria e a anima em uma incalculável variedade de formas em tudo quanto existe no Universo. E aí está um campo muito grande para a pesquisa dos cientistas, mormente físicos, biólogos, médicos, neurocientistas, psicólogos, parapsicólogos, e, porque não dizer também, os filósofos, qualquer que seja a religião que professam.
2. A Inteligência Universal
De todos os numerosos sentimentos negativos e positivos herdados do instinto animal e que constituem a inteligência emocional do homem moderno, destacamos o egoísmo que gera a prepotência. Na luta pela sobrevivência, o homem continua carregando essa nociva herança. Por isso mesmo que o egoísmo, fruto direto dos instintos, dos maus hábitos e das imperfeições, leva o homem a assumir uma falsa ideia de poder que está contaminado de orgulho e prepotência. Trata-se de um poder presunçoso, onde não cabe a humildade dos verdadeiros sábios.
Além desse sentimento de poder, derivado do instinto animal e da má compreensão de si mesmo como Força e Matéria, o homem primitivo, era também cercado de medo por todos os lados, uma vez que não compreendia as forças da natureza e seus efeitos, muitas vezes catastróficos, o que ainda hoje é observado. Assim, foi natural que sentisse a necessidade de imaginar ou criar um ser supremo, superior a todos os homens, feito à sua semelhança, conforme o seu intelecto e a sua vontade, ao qual pudesse se dirigir nos seus momentos de fraqueza, de medo, de aflição e de sofrimentos físicos e a quem pudesse entregar os seus destinos. Daí à idolatria, invenção de ídolos pelos povos selvagens e dos deuses do paganismo, foi um passo. Até mesmo, decorridos muitos milênios, no Egito e na Grécia, e até mesmo na Roma antiga, muitos eram os deuses cultuados e adorados.
Apesar de quase todas as seitas e religiões (são cerca de 8.500 em todo mundo) serem atualmente monoteístas, os religiosos continuam venerando e adorando os seus ídolos ou santos, mantendo assim uma tradição herdada do politeísmo. É fácil, portanto, entender porque a fé e a adoração ficaram arraigadas no culto de quase todas as religiões, que adotam a ideia de "um ser supremo materializado, que, depois de muitas denominações, passou a firmar-se mais em uma só: na do "Deus todo-poderoso", mas, ainda assim, à imagem de cada povo". E, ainda hoje, é assim que acontece em muitas religiões, cada povo tendo o seu Deus, variando o nome e os cultos. Seria difícil imaginar que, por exemplo, um povo da raça negra, pudesse ter o seu Deus com feições da raça branca ou que o povo chinês apresentasse seu Deus ou deuses com feições da raça negra.
Mas, de outro lado, há aqueles que, em muito menor proporção, religiosos ou não, sentem a necessidade de se ligarem ao Todo imaterial e imponderável que o ser humano não vê e não pode apalpar, mas pode sentir em toda a sua suprema grandeza, como Força Criadora ou Inteligência Universal, que permeia todas as coisas e seres em todo o Universo e lhes dá Vida. Isso é exatamente o contrário da "ideia de adorá-lo, tomando, como tal, o que foi inventado pelo instinto, pelo hábito e pelos desejos desordenados de todos os seres ignorantes, limitando tudo à sua imagem, ao seu "Eu", já que Deus devia ser uma figura de homem ou outra que tivesse forma física terrena, superior ao homem, surgindo, por essa errada ideia, a materialização da Força".
Diante da visão espiritualista proposta por Luiz de Mattos de que no Universo só existe Força e Matéria, é na Força que se encontra a explicação de todos os fenômenos transcendentes e que ainda não foram explicados pela ciência. Visto sob este enfoque, é fácil entender e compreender intuitivamente o que seja a Inteligência Universal, Força Criadora ou Grande Foco tal como é, não o Deus inventado pelas religiões, porque tal não existe. A Força Criadora, como o próprio nome está dizendo é o Primeiro Princípio, a Alma Mater de tudo quanto existe e vida tem no Universo inteiro.
3. Visão Científica da Inteligência Universal
Com o advento da Física Quântica, muitos fenômenos trouxeram grandes embaraços aos seus descobridores. Estes, acostumados a tudo explicarem com base na Matéria e seus fundamentos, passaram a dispor de um vasto campo para estudo, advindo do conhecimento do núcleo atômico e suas partículas. Apesar disso, nem sempre tiveram êxito e muitos paradoxos ainda existem desafiando as inteligências dos melhores cientistas. Nós vamos examinar aqui as principais ideias que foram propostas por alguns deles sobre a Inteligência Universal ou Inteligência Cósmica, sem nos preocuparmos em criticá-las. Como as principais teorias para explicar o Universo e como surgiu a Vida na Terra e sua interrelação com o Universo derivam da Física Quântica, nós vamos começar com o paradoxo levantado pela experiência de Alain Aspect.
• Alain Aspect e sua fantástica experiência quântica
As primeiras ideias que levaram ao conhecimento da Física Quântica tiveram início por volta de 1900. A partir de 1925, quando foram descobertas as equações da Mecânica Quântica, a Física Quântica tornou-se aceita como fonte da verdade para os cientistas. Daí em diante, o conhecimento da intimidade da matéria e das forças físicas que atuam no interior do núcleo atômico têm sido o principal objeto da atuação dos físicos. Muitas teorias foram confirmadas experimentalmente em laboratórios sofisticados e caríssimos, enquanto outras permanecem insolúveis ou mesmo representam verdadeiros paradoxos inexplicáveis. Em 1982, Alain Aspect e seus colaboradores, na Universidade de Paris – França, executaram experimentos que verdadeiramente indicavam a noção do intangível e, particularmente, a noção de transcendência no mundo subatômico. Em anos anteriores a essa data, a física quântica vinha dando indicações de que devia haver níveis de realidade além do nível material. Inicialmente, partículas como o elétron, por exemplo, pareciam ora se comportar como onda e ora como partícula (matéria), isto é, pareciam ter dupla "personalidade", ou fisicamente dizendo, possuíam um duplo caráter. Dessas observações, Heisenberg inferiu a sua "teoria da incerteza", que nos diz que não se pode estabelecer ao mesmo tempo a posição e a velocidade do elétron num dado momento. Não se trata de uma onda ordinária, mas de uma onda em potencial. Foi quando Einstein ridicularizou essa teoria dizendo que "Deus não joga dados". O potencial dessas ondas quânticas passou a ser considerado como extrapolando a matéria, ou seja, tinham um caráter transcendente.
Até a experiência de Aspect, este conceito não ficou muito claro e era até renegado por muitos. Então, o experimento de Aspect veio confirmar que tal fato não é apenas uma teoria, pois realmente existe este caráter de transcendentalidade em potencial, ou seja, as partículas realmente têm conexões com o espaço e tempo exterior. O que essa experiência demonstrou é que quando um átomo emite dois quanta de luz, chamados fótons, disparados em direções inversas, de alguma forma estes fótons afetam instantaneamente o comportamento de um ao outro à distância, sem trocarem qualquer sinal através do espaço.
Ora, nós sabemos, conforme Einstein havia demonstrado no início do século XX, com a sua teoria da relatividade restrita, que dois objetos não podem afetar um ao outro instantaneamente no espaço-tempo, porque isso levaria um certo tempo para um alcançar o outro, ainda que o espaço que os separasse fosse percorrido à velocidade máxima da luz, que é constante e igual a aproximadamente trezentos mil quilômetros por segundo. Esta é a ideia de "localidade" que deriva do fato de que qualquer sinal é local no sentido que ele deve levar um certo tempo para se deslocar no espaço até outro ponto qualquer. E, apesar disso, se os fótons emitidos pelo átomo na experiência de Aspect influenciam um ao outro, à distância, aparentemente sem trocar sinais, é porque esse fenômeno está acontecendo instantaneamente e, portanto, a uma velocidade maior que a da luz. Então, devemos reconhecer que esta influência deve pertencer ao "domínio transcendente da realidade". Esta marcante experiência mostrou aos físicos que algo muito importante está subjacente às partículas subatômicas e nada tem a ver com a realidade material, de que tanto se vangloriavam, indicando novos rumos para a pesquisa física, além de estabelecer o conceito de não-localidade para tudo que pode ser considerado instantâneo, conforme veremos abaixo nas ideias de Amit Goswami.
A essa altura, cabe citar trecho da entrevista que Amit Goswami deu, conforme a referência:
"Henry Stapp, que é um físico da Universidade de Berkeley, na Califórnia, afirma, em um de seus trabalhos, escrito em 1977, que as coisas "fora do espaço-tempo afetam as coisas dentro do espaço-tempo". Não há nenhuma dúvida que isso ocorre no substrato da física quântica, em que você está tratando com objetos quânticos. Agora, naturalmente o X da questão é que nós estamos sempre tratando com objetos quânticos porque está fora de dúvida que a física quântica é a física de cada objeto. Seja ele submicroscópico ou macroscópico, a física quântica é uma só e se aplica. Assim, embora seja mais aparente para os fótons, para os elétrons, para objetos submicroscópicos, acreditamos que tudo isso é realidade e, que toda realidade manifestada e todo o mundo da matéria é governado pelas mesmas leis. E, se assim é, então o experimento de Aspect está nos dizendo que nós devemos mudar nosso ponto de vista, porque nós também somos objetos quânticos".
• David Bohm e sua Teoria da Ordem Implícita
Falecido em 1992, David Bohm foi um dos principais físicos americanos com profundos conhecimentos da Teoria Quântica no século XX. Atuou na Universidade da Califórnia (Berkeley), no Instituto Princeton de Estudos Avançados e como professor de Física Teórica na Faculdade de Birkbeck, da Universidade de Londres. Durante seus primeiros anos de estudo adquiriu, também, conhecimentos de História da Filosofia e da Ciência.
Para David Bohm, o Universo se encontra em um processo de evolução contínua, ponderando que a aceitação de sua teoria levaria a implicações muito grandes para a humanidade. Bohm escreveu vários livros, mas o principal é Wholeness and the implicate order (O Todo e a ordem implícita). Outros livros foram escritos com a colaboração de B. J. Hiley, J. Krishnamurti e F. David Peat. Além disso, publicou numerosos artigos de divulgação em revistas científicas.
Desenvolvida na década de 80, sua teoria do Universo é conhecida como teoria da Ordem Implícita. Ela tem por objetivo explicar o comportamento bizarro de partículas subatômicas, que os físicos da teoria quântica não conseguiam explicar. Basicamente, duas partículas subatômicas que tenham reagido entre si "respondem instantaneamente aos movimentos de uma em relação à outra, qualquer que seja distância e o tempo que as separem", fato esse comprovado pela experiência de Alain Aspect, que foi posterior à sua teoria.
Bohm sugeriu que forças subquânticas e partículas ainda não observadas pela ciência parecem estar agindo no limiar da matéria. Esta força subjacente podia ser o reflexo de uma dimensão mais profunda da realidade. Sua crença era de que o espaço-tempo podia, realmente, fazer parte de uma realidade objetiva mais profunda ainda, que ele denominou de Ordem Implícita. Dentro da Ordem Implícita tudo está interligado. Então, segundo essa teoria, as partículas subatômicas estariam agindo como se fossem amplificadores da "informação" contida em uma onda quântica. A partir dessas observações, construiu uma teoria nova e controversa do Universo, um modelo novo de realidade.
Bohm fundamentou sua teoria nos conhecimentos científicos da holografia, que se baseia na interferência de ondas: se duas fontes de luz são de frequências diferentes elas interferirão uma na outra criando um padrão de interferência. Basicamente, um holograma é o registro detalhado do comprimento de onda da própria luz, isto é, um repositório denso de "informação". Assim, em um holograma, cada pedacinho do filme holográfico revela a forma representativa de um objeto tridimensional inteiro. Por analogia, Bohm concluiu que a Ordem Implícita se comporta de modo semelhante a um holograma.
Com esse entendimento, Bohm estendeu a sua teoria a uma visão cósmica ultra-holística, na qual todas as coisas estão conectadas entre si. De acordo com esse princípio, qualquer elemento individual pode revelar ou conter "informações detalhadas sobre qualquer outro elemento no universo." O tema subjacente central da teoria de Bohm é que "o todo indivisível da totalidade da existência faz parte de um movimento indivisível sem fronteiras." Sua teoria nos diz, portanto, que tudo está envolvido com tudo. Assim se expressa Bohm:
"A ordem real (Ordem Implícita) foi gravada no movimento complexo dos campos eletromagnéticos, na forma de ondas de luz. Tal movimento de ondas de luz está presente em toda a parte e em princípio envolve o Universo inteiro de espaço e tempo, em cada região. O envolvimento e o desenvolvimento tomam lugar não somente no movimento do campo eletromagnético, mas também, nos outros campos (eletrônico, protônico, etc.). Esses campos obedecem às leis da Mecânica Quântica dando origem às propriedades de descontinuidade e não-localidade. A totalidade do movimento de envolvimento e desenvolvimento pode se estender imensamente além do que se revela às nossas observações. Nós chamamos esta totalidade pelo nome de "holomovimento"".
Segundo sua teoria, o holomovimento atua dentro de uma "realidade multidimensional", que se desdobra em sub-totalidades independentes (tais como, os elementos físicos e as entidades humanas), com relativa autonomia. Para ele, o holomovimento representa essa "totalidade indescritível e desconhecida", sendo a "base fundamental de toda a matéria".
De outro lado, o mundo manifestado é parte do que Bohm chamou de a "ordem explícita.", em contraposição à ordem implícita, dela derivando ou fluindo e, portanto, ela é secundária. Dentro da Ordem Implícita, há "uma totalidade de formas, as quais possuem uma espécie aproximada de recorrência (mudança), estabilidade e separatividade." São estas formas que se apresentam como nosso mundo físico.
Bohm sugere que, em vez de se pensar em partículas como realidade fundamental, o foco deve ser posto em discretos quanta de energia, semelhantes às partículas num campo contínuo. Com base neste campo quântico, Bohm, partindo do microcosmo para o macrocosmo, desdobra a Ordem Implícita em três níveis e os explica usando os conceitos de campo quântico e campo contínuo. Dentro desses campos e em suas interfaces se faz a transferência de "informação" do mais simples para o mais complexo e, vice versa, do Todo para o mais simples, para animar, guiar e organizar o campo quântico original, ou seja, é este holomovimento que dá condições energéticas para as partículas atuarem no mundo tridimensional da matéria.
A Ordem Implícita permeia tudo. Tudo que é e será neste universo está envolvido dentro da Ordem Implícita. Há um movimento cósmico especial que movimenta o processo de envolvimento (enfolding) e de desenvolvimento (unfolding), na forma da ordem explícita. Este processo do movimento cósmico, em ciclos de realimentação, cria uma variedade infinita de formas e mentalidade. Bohm é de opinião que a Inteligência Cósmica fundamental está envolvida neste processo de experimentação e criação infindável. Este Ente, a Mente Cósmica, está se movendo ciclicamente sempre e sempre para frente, resultando uma infinidade de seres experientes (evoluídos).
O modelo cósmico estrutural esboçado por Bohm inclui um exame detalhado dos seguintes temas: a Base de Toda Existência, a Matéria, a Consciência e o Ápice Cósmico. Vamos resumir, nos parágrafos seguintes, o seu pensamento sobre os referidos temas, centro do seu modelo da Ordem Implícita.
Para Bohm, a base de toda a existência é uma energia especial que ele chama de "plenitude", uma "imensa fonte original de energia." A energia dessa fonte concentra-se em um movimento total e absoluto que é o "holomovimento". A Ordem Implícita decorre do holomovimento. Por sua vez, é da Ordem Implícita que emana a ordem em cada aspecto perceptível do mundo (harmonia universal) e, ao final, todos os aspectos se integram no holomovimento indefinível e incomensurável e, também, dele estão emergindo todos os novos conjuntos. É o fluxo da matéria manifestada e interdependente em direção à consciência.
Com relação à matéria animada e inanimada, Bohm considera a partícula como sendo o mais essencial bloco de construção da matéria. Para ele, a partícula é, fundamentalmente, uma "abstração que se manifesta aos nossos sentidos." O Universo inteiro é feito de matéria, manifestada através de uma totalidade de conjuntos. Estes conjuntos "agem e interagem segundo uma série ordenada de estágios de envolvimento e desenvolvimento que, em princípio, permeiam e interpenetram um ao outro através de todo o espaço", mas enfatiza sempre que a ordem explícita é sempre derivada e secundária. Exemplifica a realidade dimensional, mostrando a relação de duas imagens televisadas de um aquário em que um peixe é visto de frente numa das imagens e de lado na outra. O que é visto é uma "relação entre as imagens que aparecem nas duas telas". Nós sabemos, assinala Bohm, que as duas imagens do aquário são atualidades que interagem, mas elas não são duas realidades que atuam independentemente. "Ao contrário, elas se referem a uma única atualidade, que é a base comum de ambas." Para Bohm, esta única atualidade é de uma dimensionalidade mais elevada, porque as imagens da televisão são meras projeções em duas dimensões de uma realidade que existe em três dimensões, e que "contém estas duas projeções dimensionais dentro dela." Estas projeções são apenas abstrações, mas a "realidade tri-dimensional não "é" nenhuma destas, ao contrário, é alguma coisa diferente de ambas as imagens, algo como uma natureza real que existe além de ambas".
Com relação à evolução no Universo, a teoria de Bohm afirma que ela existe "porque as diferentes escalas de dimensões da realidade já estão implícitas em sua estrutura". Bohm utiliza a analogia da semente sendo "informada" para produzir uma planta viva. O mesmo pode ser dito de toda matéria viva. "A vida está envolvida na totalidade e, mesmo quando ela não se manifesta, de alguma forma ela está implícita." O holomovimento é a base tanto da vida como da matéria. Não há dicotomia.
Com relação à consciência, Bohm conceitua que consciência é mais que informação e cérebro; ao contrário, ela é a informação que entra no cérebro. Para Bohm, a consciência "envolve ciência, atenção, percepção, o ato do entendimento, e talvez até mais." Continuando, diz: a consciência pode ser "descrita em termos de uma série de movimentos." Basicamente, "um movimento dá lugar ao próximo, em cujo contexto ele estava implícito e agora se explicita, enquanto que o conteúdo do (movimento) anterior se tornou implícito." A consciência é um intercâmbio: ela é um processo de retroalimentação (feedback) que resulta em uma acumulação crescente do conhecimento. Bohm trata também da consciência coletiva, denominando-a de consciência coletiva da humanidade e dá a ela maior significação do que à consciência individual.
Valorizando a consciência coletiva, a humanidade, na medida em que realiza com sucesso sua espiritualidade, caminhará íntegra em direção a uma maior dimensão da realidade – a Plenitude Cósmica. Afirma que o Homem tem um destaque especial no Universo e que este seria incompleto se não houvesse o Homem para validá-lo (antropocentrismo).
Com relação à Plenitude Cósmica, o nível mais elevado no Universo, Bohm refere-se a ela como sendo a fonte do não-manifestado, do Sutil Não-Manifestado, alguma coisa semelhante a espírito, um movente, mas ainda matéria no sentido em que ela é uma parte da Ordem Implícita. Para Bohm, o Sutil Não-Manifestado é uma "inteligência ativa" superior a qualquer "energia definida pelo pensamento". Bohm afirma diretamente: "há uma verdade, uma atualidade, um ser superior que pode ser alcançado pelo pensamento, e isso é inteligência, o sagrado, o santo".
Há certos atributos que podem ser discernidos do modelo cósmico de Bohm. São eles: a Ordem, a Inteligência, a Individualização, a Criatividade, e o senso de Perfeição. Em sua obra Wholeness and the implicate order (O Todo e a ordem implícita), já citada anteriormente. Bohm estuda pormenorizadamente esses atributos. Nós os apresentamos, a seguir, resumidamente:
A ordem é a lei universal que mantém tudo interligado. É a própria energia cósmica que ele, também, denomina de lei do holomovimento. Seu ponto de vista é a do Todo que propicia novos "todos" ou sistemas interdependentes.
A inteligência é "puramente ativa", nada mais sendo que a consciência filtrada, através da qual se obtém o discernimento. Bohm considera o pensamento como sendo basicamente uma operação mecânica. É a inteligência que torna relevante o processo mecânico do pensamento. Ele acredita que, se a inteligência é um "ato de percepção não condicionado", então a inteligência não pode ser encontrada em "estruturas tais como células, moléculas, átomos e partículas elementares". Segundo Bohm, a operação da inteligência deve estar além de quaisquer fatores que podem ser incluídos em qualquer lei conhecida. A "base da inteligência deve estar no fluxo indeterminado e desconhecido, que também é a base de todas as formas não definidas da matéria." Para Bohm, a inteligência sempre esteve no âmago da Ordem Implícita.
A individualização não recebe muita atenção de Bohm, sendo a este respeito um tanto reservado. Para ele, supor que cada ser humano é uma realidade independente que interage com outros seres humanos e com a natureza é uma simples projeção, mas dá ênfase na coletividade, isto é, valoriza a ação coletiva da sociedade como um todo.
Com relação à criatividade, ele a chama de o "Ente do Processo Cósmico", sendo pura energia. Este "ente" é inteligente, consciente, criativo e é, também, uma pessoa! Isso nos parece uma definição mais apropriada ao conceito de espírito.
Sobre a perfeição, Bohm a define como um "ser além do que o nosso pensamento possa imaginar", nomeando o Sutil Não-Manifestado de "perfeito" no sentido de que ele é o Todo. É uma presença com energia cósmica. O modelo cósmico de Bohm sugere também que esta "perfeição" existe desde a criação do cosmos. Ela está presente no processo cíclico do universo. Ela é pura inteligência ativa, a partir da qual tudo que é manifesto, do cosmo provém. Ela age através de uma intromissão na consciência. Ela absorve informação em muitos níveis da consciência, em todas as formas de vida. É a Ordem Implícita que é a Base de Toda a Existência.
Bohm trata, também, do conceito de peregrino cósmico, título dado à Humanidade em geral. A Humanidade é a peregrina de um processo cósmico. Sobre a condição humana e sobre os males resultantes da desordem (que causam sofrimento) e morte, Bohm acredita que não existe desordem ao nível da universalidade não-humana; ao contrário, ela reside no nível da humanidade, principalmente por causa da ignorância. A Natureza deu à humanidade o poder da luxúria para fazer erros, porque a humanidade deve ter a "possibilidade de ser criativa". É o nosso poder de escape nesse processo cósmico que nos coloca nestas circunstâncias de escolha e possível caos. A desordem e o conseqüente sofrimento prevalecerão enquanto todos os diferentes elementos (de qualquer sistema dado, seja o de um ser humano ou da sociedade humana) "crescerem caótica e independentemente um do outro, não trabalharem em conjunto".
Bohm considera o mal da Ignorância um problema de mente fechada. Ele a considera "a escuridão do cérebro humano". É o problema do "ego" humano fechado à Mente Universal, à suprema inteligência que se comunica na forma de intuição, que é a percepção pura. Por causa do baixo nível de desenvolvimento de nosso ego (manifestado pela nossa vaidade, nossos medos e pressões emocionais, nossos pontos de vista ignorantes e nossa super extroversão), a intuição é freqüentemente desviada por uma mente fechada. O oposto de uma mente fechada é a abertura para a interioridade. Os seres humanos precisam olhar para si mesmos para serem receptivos à intuição.
A visão global de Bohm sobre o destino humano é simples e direta, pois para o cientista, "a consciência da humanidade é única e não verdadeiramente divisível." Cada pessoa tem a responsabilidade para alcançar isso e nada mais, uma vez que "não há outra saída. É absolutamente isso que tem que ser feito e nada mais pode funcionar".
Bohm acredita que apenas através de uma cooperação coletiva pode o homem atingir o alto grau de energia necessária para "alcançar o todo da consciência da humanidade – a Plenitude".
• Teoria holográfica aplicável ao cérebro – Karl Pribam
David Bohm não foi único a adotar as ideias de um universo holográfico. Karl Pribam, neurofisiologista e pesquisador na Universidade Stanford (USA), também se convenceu da natureza holográfica da realidade e aplicou esse modelo para examinar como e onde as memórias são armazenadas pelo cérebro. Principalmente durante a segunda metade do século XX, muitos pesquisadores de renome convenceram-se de que não havia um lugar específico no cérebro para armazenar memórias. Já na década de 1920, o neurocientista Karl Lashley, realizou trabalhos com cérebros de ratos e concluiu pela não-localidade da memória, mas não chegou a apresentar explicações teóricas sobre os resultados obtidos. Somente a partir da década de 1960, Karl Pribam trouxe à luz suas explicações baseadas na teoria holográfica, e, a partir de então, vem recebendo apoio dos homens de ciência que pesquisam o cérebro.
Pribam acredita que as memórias acham-se codificadas não em neurônios ou pequenos grupos de neurônios, como muitos pesquisadores ainda acreditam, mas sim em padrões decorrentes de impulsos nervosos que se entrecruzam em todo o cérebro, da mesma maneira que os padrões de interferência de luz laser entrecruzam uma área inteira de um filme contendo uma imagem holográfica. Em outras palavras, Pribam acredita que o próprio cérebro é um holograma. A teoria de Pribam explica também como o cérebro humano pode armazenar tantas memórias em um espaço tão pequeno. As melhores estimativas referem-se a uma capacidade de armazenamento da ordem de 10 bilhões de bits de informação durante a vida média do homem atual, o que corresponde ao armazenamento de seis coleções da Enciclopédia Britânica.
Curioso é que, nos experimentos holográficos, esta formidável capacidade de armazenagem da informação varia em função do ângulo com que os dois raios de laser incidem sobre um filme fotográfico, nos indicando que muitas diferentes imagens podem ser armazenadas na mesma superfície. De outro lado, usando-se o conceito holográfico, torna-se mais simples entender a fantástica velocidade, praticamente instantânea, com que a informação é recuperada de nossas memórias, bem como, entender as numerosas associações de ideias e imagens que têm lugar nas nossas operações mentais. Segundo Pribam, uma das coisas mais significativas do processo do pensamento humano é que cada parte da informação parece cruzar instantaneamente com qualquer outra parte da informação, característica esta que é extrínseca e comum a um holograma. Trata-se, talvez, de um exemplo supremo da natureza, que utiliza um sistema cruzado correlacionado, pois, cada porção de um holograma é infinitamente interconectado com qualquer outra porção de todo o holograma.
Pribam afirma, ainda, que as semelhanças não param por aí. A armazenagem de memória não é o único quebra-cabeça neurofisiológico a ter uma explicação mais aceitável à luz de sua teoria do modelo do cérebro. A outra questão é como o cérebro decodifica a avalanche de frequências que ele recebe via sentidos físicos (frequências luminosas, sonoras, olfativas ou ósmicas, etc.) em um mundo concreto de percepções. Codificar e decodificar frequências é precisamente o que um holograma faz melhor. Ele funciona como uma espécie de lente, um mecanismo de tradução capaz de converter borrões de frequências aparentemente sem significado em uma imagem coerente. Pribam afirma que o cérebro, também, se comporta como se fosse uma lente e usa os princípios holográficos para converter matematicamente as frequências que ele recebe através dos sentidos no mundo interior de nossas percepções. Muitos pesquisadores que lhe seguiram estão convencidos dessa interpretação, entre os quais o pesquisador italiano-argentino Hugo Zucarelli, o psicólogo Stanislav Grof e o psicólogo Keith Floyd. Várias descobertas foram feitas, provando, por exemplo, que nossos sistemas visuais são sensíveis às frequências sonoras, que parte do nosso sentido olfativo é dependente das chamadas frequências ósmicas e, que mesmo as células do nosso corpo, são sensíveis a uma ampla faixa de frequências. Tais descobertas sugerem que é apenas no domínio holográfico da consciência que tais frequências são classificadas em percepções convencionais.
Mas, o mais perturbador aspecto do modelo holográfico do cérebro acontece quando ele é colocado face à teoria de Bohm, pois, se a concretude do mundo é apenas uma realidade secundária e o que "existe" é realmente um borrão holográfico de frequências e, se o cérebro é, também, um holograma e seleciona apenas algumas das frequências deste borrão e matematicamente as transforma em percepções sensoriais, o que acontece com a realidade objetiva? Respondendo de uma maneira simples, ela deixa de existir, é uma ilusão. Embora pensemos que sejamos seres físicos movendo-nos através de um mundo físico, isto também é uma ilusão.
Dessa forma, "nós somos simples "receptores" flutuando através de um oceano de frequências e o que extraímos desse oceano e transmudamos em realidade física é apenas um canal dentre muitos, extraídos do superholograma".
Combinadamente, e teoria de Bohm e Pribam passou a ser chamada de paradigma holográfico, conceito que tem atraído a atenção de muitos físicos. Um pequeno, mas crescente, grupo de pesquisadores acredita que este paradigma é o modelo de realidade mais perfeito que a ciência já apresentou até o momento; mais do que isso, alguns acreditam que ele poderá resolver alguns mistérios que nunca antes foram explanados pela ciência e, até mesmo, estabelecer o fenômeno paranormal como parte da Natureza. Numerosos pesquisadores, inclusive Bohm e Pribam notaram que muitos fenômenos paranormais tornam-se muito mais compreensíveis à luz do paradigma holográfico.
Um dos mistérios é a telepatia, fenômeno que existe, mas não de forma generalizada. Num universo em que os cérebros individuais são realmente porções indivisíveis de um holograma maior e tudo está infinitamente interligado, a telepatia é explicada pela teoria de Pribam como sendo meramente o acesso de níveis holográficos semelhantes. Torna-se muito mais fácil entender como o pensamento pode viajar instantaneamente do indivíduo "A" para o indivíduo "B" em qualquer distância e ajudar a entender alguns quebra-cabeças ainda não explicados pela psicologia. Segundo Grof, que faz experiências com psicologia transpessoal, relacionadas com os diversos estados da consciência, desde 1960, "se a mente é realmente parte de um continuum, de um labirinto que está conectado não apenas a cada mente que existe ou existiu, mas também, a cada átomo, organismo e a regiões da imensidão do espaço e tempo, o fato de que é capaz, ocasionalmente, de fazer incursões no interior deste labirinto e ter experiências transpessoais, não parece mais tão estranho assim".
O paradigma holográfico tem, também, implicações na biologia. Keith Floyd, um psicólogo do Virginia Intermont College, ponderou que, se a concretude da realidade é apenas uma ilusão holográfica, não é mais verdade dizer que o cérebro produz a consciência. Ao contrário, é a consciência que cria a aparência do cérebro – assim como o corpo e tudo o mais em torno de nós que interpretamos como sendo físico. Tal reviravolta no modo de vermos as estruturas biológicas está levando os pesquisadores a indicar que a medicina e nosso entendimento do processo de cura poderia, também, ser transformada pelo paradigma holográfico. Se a estrutura física aparente do corpo não é mais que uma projeção da consciência, torna-se claro que cada um de nós é muito mais responsável pela nossa saúde do que a sabedoria médica admite. O que agora vemos como curas miraculosas de certas doenças podem realmente provir de mudanças na consciência que, por sua vez, efetua mudanças no holograma do corpo. Similarmente, novas técnicas controversas de cura, tais como visualização, podem responder tão bem porque, no domínio holográfico do pensamento, as imagens são, afinal, tão reais como a "realidade".
• Amit Goswami e o seu Universo Autoconsciente ou Teoria do Idealismo Monístico
Amit Goswami é um físico natural da Índia e radicado nos Estados Unidos. É professor de Física na Universidade do Oregon e Doutor pelo Instituto de Ciências Abstratas de Sausalito, Califórnia. O que vamos apresentar está contido no seu livro O universo autoconsciente – como a consciência cria o mundo material e também na referência, uma de suas entrevistas designada por O que é o esclarecimento, dada a Craig Hamilton de WMT.
Amit Goswami, estudando o comportamento das partículas subatômicas dentro do domínio da Física Quântica, afirma que é nesse contexto que a realidade não-material se revela aos olhos dos cientistas. Ele sustenta que a força criadora de toda a realidade física é consciência, isto é, ela é a base de todo o ser e a partir dela retirou a idéia da causação descendente, em contraposição à teoria materialista e reducionista da causação ascendente. Segundo ele, ambas ocorrem, mas a causação descendente é a base do seu idealismo monístico, diferente do dualismo Força e Matéria. Na visão de Goswami, o livre-arbítrio tem um papel de destaque na explicação dos fenômenos e do mundo.
Embora reconhecendo o pioneirismo da obra do físico Fritjof Capra, intitulada O Tao da Física, que admite o aspecto espiritual dos seres humanos, Goswami chega ao ponto de enfatizar que tudo nela ainda se baseia exclusivamente no aspecto material da realidade. Assim, ele se considera pioneiro por sugerir, no seu entender baseado em uma explicação rigorosamente científica, que a consciência é a base do ser, excetuando apenas as ideias da psicologia transpessoal. Assim, ele insiste que a aplicação de suas ideias e conceitos sobre a consciência como base fundamental do ser resolveria todos os paradoxos da física quântica. Admite, ainda, que se forem aceitas suas ideias, haverá uma mudança radical de paradigma na integração da ciência com a espiritualidade. Acentua, também, que suas ideias são diferentes das ideias de Capra e Zukov, pois por trás das ideias destes físicos permanece a causalidade derivada da matéria. Apesar destes pesquisadores reconhecerem a importância da consciência e da espiritualidade, consideram a consciência apenas como um epifenômeno ou fenômeno secundário, resultante de interações químicas e hormonais no cérebro. Mas, esta não é a espiritualidade pregada por Jesus, nem admitida pelos espíritas e espiritualistas sérios e místicos de tantas religiões ocidentais, como o budismo, o taoísmo, etc. Assim, este conhecimento não levará a nenhuma mudança de paradigma no pensamento científico por não estimular a ciência ao estudo sério da consciência.
Segundo Goswami, outros autores vêm trazendo luz sobre o assunto e pondo mais lenha na fogueira, afirmando que:
"[...] a ciência atual revelou os paradoxos quânticos, mas também, tem mostrado sua real incompetência em explicar fenômenos paradoxais e anômalos, tais como, os fenômenos paranormais estudados pela parapsicologia e até mesmo a criatividade. Mesmo assuntos tradicionais, como a percepção e a evolução biológica, ainda não foram devidamente explicadas pelas teorias materialistas. Para dar um exemplo, em biologia há o que chamamos de "equilíbrio pontuado". O significado disso é que a evolução não é apenas lenta, como Darwin reconheceu, mas também há períodos de evolução rápida, que são conhecidos como "marcas pontuais". Mas, a biologia tradicional não tem explicações adequadas para isso".
"Contudo, se fizermos ciência com base na consciência, sob o primado da consciência, então, poderemos ver criatividade neste fenômeno, criatividade real, derivada da consciência. Em outras palavras, podemos verdadeiramente ver que a consciência está atuando criativamente tanto na biologia como na evolução das espécies. E, assim, podemos preencher estas falhas que a biologia convencional não pode explicar, por derivarem essencialmente de ideias de ordem espiritual, tais como a consciência como criadora do mundo".
Colocar a consciência, dizemos nós – o espírito, como força criadora do mundo material é uma realidade que os físicos não desejam e não querem ouvir por ser radical demais, mas através dessa realidade torna-se fácil explicar porque na física quântica as partículas não são vistas como coisas definidas, como estamos acostumados a ver na vida real, isto é, na forma como nos ensinou a física clássica de Newton, objetos que podem se mover em todas as direções e com trajetórias bem definidas. A física quântica não vê os objetos (partículas) dessa maneira, ela os vê como possibilidades, ondas de possibilidade. Então, resulta a pergunta: o que converte possibilidade em realidade, já que, quando vemos, nós vemos eventos e coisas reais? Quando você vê uma mesa, você vê uma mesa real, não uma possibilidade de mesa. Na física quântica, este é o "paradoxo da medição quântica". Segundo Goswami, o que está por trás desse paradoxo da matéria é a força criadora da consciência.
Segundo os materialistas, o corpo humano e com ele o nosso cérebro, tudo é, na sua essência, constituído de átomos e partículas elementares. Então, segundo a teoria quântica, como pode esse cérebro converter as ondas de possibilidade que residem nele mesmo (o cérebro real), se falta aí a eficácia da causalidade? Ele próprio (o cérebro) é feito de ondas de possibilidade e partículas elementares, portanto, teoricamente, ele pode converter suas ondas de possibilidade em ondas de realidade, mas não o faz. Então, o que converte onda de possibilidade em realidade? É a consciência, responde Goswami, porque ela não obedece à física quântica: por não ser constituída de matéria e ser de natureza transcendental, o mundo material é manifestado através dela. Essa mesma discordância, mudando-se consciência por espírito, é a mesma que existe entre ciência e espiritualismo.
Tanto no seu livro, como na entrevista em referência, Goswami se estende em explicações sobre o Universo e também sobre o "princípio antrópico", adotado por astrônomos e cosmologistas, que afirmam que o universo tem um propósito. Essa crença decorre do fato de que existem tantas coincidências, há tantos ajustes finos, que os levam a crer que o Universo tem um propósito – o de servir aos seres vivos, principalmente ao homem. Não deixa de mencionar, também, as chamadas curas quânticas, nas quais o pensamento tem papel relevante.
Finalmente, devemos destacar a importância do "princípio da não-localidade", a fim de podermos entender as idéias de Goswami. Segundo ele, é a consciência não-local que tudo penetra e permeia e, não estando contida em lugar algum, está contida em todos os lugares. É através dessa consciência não-local que se pode entender e perceber a conexão que existe entre todas as coisas do Universo. Ele passa-nos a ideia de que, por trás da realidade do mundo material que vemos e observamos, existe algo como uma matriz, um molde de tudo que é criado. É esse molde ou teia que permeia tudo que existe, e que conecta tudo com tudo.
• Sheldrake e o campo morfogenético
Rupert Sheldrake (1942 – atual) é filho de uma tradicional família inglesa. Estudou fisiologia vegetal e filosofia, em Cambridge e Harvard. Como membro pesquisador da renomada Sociedade Real (Royal Society), desenvolveu um projeto científico sobre o envelhecimento de células. Foi também docente convidado na Alemanha, nos EUA e na Malásia. Viveu vários anos na Índia, onde dirigiu uma equipe que pesquisou a evolução das plantas úteis tropicais e, nesse período, absorveu conhecimentos da filosofia indiana.
Seu primeiro livro, A new science of life (Uma nova ciência da vida), foi publicado em 1981. Neste livro, que caiu como uma bomba sobre o mundo científico, Sheldrake apresentou o fundamento teórico para uma visão nova e revolucionária da gênese morfológica – o surgimento das formas no mundo orgânico e inorgânico. Das publicações científicas, os comentários e reações extravasaram para os jornais e para a mídia radiofônica e televisiva. O establishment científico o baniu, queimando simbolicamente o seu livro e obstou o mais que pôde o acesso de Sheldrake às revistas científicas importantes, como a Nature, que chamou o seu livro de um "tratado aborrecedor" e as suas teorias de "esdrúxulas aberrações científicas". Mas, à época, teve os seus seguidores, como Arthur Koestler, que classificou as suas teorias de "incrivelmente estimulantes e desafiadoras". De outro lado, a revista Sunday Times, apesar de elogiar a sua linguagem como sóbria e clara, afirmou que ele não apresentava provas científicas de suas teses.
Dez anos depois, as disputas sobre suas teorias não perderam o calor das primeiras horas. Sua nova e abrangente obra, lançada em 2001, The presence of the past (A presença do passado), suscitou e vem suscitando novas controvérsias.
Sua tese principal trata da capacidade de aprendizagem da "criação" e a interação entre o espírito e a matéria. É uma tese que ele mesmo sabe ser difícil comprovar definitivamente. Apesar disso, é tão inacreditável quanto simples. Segundo ele, além dos campos energéticos conhecidos pela ciência, como o gravitacional e o eletromagnético, a natureza possui campos morfogenéticos. Esses campos são definidos por Sheldrake como "estruturas invisíveis e organizadoras, capazes de formar e organizar cristais, plantas e animais, determinando até o seu comportamento". Como biólogo, ele afirma que estes campos morfogenéticos contêm a soma de toda a história e de toda a evolução, como se fosse algo semelhante ao inconsciente coletivo de C.G. Jung.
Ainda, pela hipótese de Sheldrake, "tudo que vier acontecer, num determinado momento, terá sua consequência no futuro, em processos similares. No processo de aprendizagem, por exemplo, o fato de alguma coisa ser aprendida por alguém implica no fato de ela vir a ser aprendida por outrem mais facilmente, onde quer que ele esteja". Várias experiências levadas a efeito com relação ao processo de aprendizagem e memorização apresentaram evidência e conclusões a favor da hipótese de Sheldrake.
Sheldrake estende o seu conceito da ressonância mórfica a todo o Universo, ao supor que "estruturas similares podem estar em comunicação, no espaço e no tempo", através de seus campos morfogenéticos. Verifica-se, assim, que "o que está em jogo na "bomba" lançada por Sheldrake é, nada mais nada menos, do que uma hipótese científica, que, caso fosse comprovada, derrubaria toda a concepção materialista do Universo." É essa cosmovisão, que parece surrealista, que pretende colocar uma pá de cal no materialismo científico.
No seu segundo livro, The presence of the past (A presença do passado), citado anteriormente, ele avança mais um pouco e conjectura a hipótese de a natureza possuir uma memória, com caráter cumulativo. Em virtude disso, essa memória se amplia em cada repetição, a tal ponto que, podemos dizer, as características das coisas provêm de um processo de habituação. Os hábitos não só seriam capazes de construir a natureza de todos os seres vivos, mas também dos cristais, dos átomos das moléculas e, enfim, de todo o cosmo.
A provocação singular desse novo livro, que causou uma verdadeira "tormenta", poderia ser expressa da seguinte forma: "nossos hábitos pessoais poderiam ser derivados da influência acumulada de nosso comportamento passado, com o qual mantemos uma comunicação por ressonância. Se isto for verdade, nossas experiências passadas não teriam que estar armazenadas de uma forma física em nosso sistema neuro-sensorial. Isto será válido quando lembrarmos de uma canção, ou de algo que tenha acontecido no ano passado. Seria viável termos acesso ao passado por via direta. Talvez nossa memória nem esteja gravada no cérebro, como pressupomos tão naturalmente". Nesse sentido, Sheldrake fala de sugestões plausíveis, de possibilidades que ainda estão por ser comprovadas, em termos científicos.
Para comprovar sua hipótese de que a memória não se encontra no cérebro, Sheldrake usa o exemplo da televisão, dizendo que os biólogos e geneticistas que defendem a memória materialista agem como se pretendessem explicar o funcionamento do televisor exclusivamente através de conceitos mecânicos e restritos à caixa do aparelho receptor. Todo mundo sabe que as informações que reproduzem as imagens são provenientes de determinados circuitos, localizados dentro do aparelho. Porém, cada televisor recebe suas imagens de uma fonte distante e central, ou seja, dos estúdios de uma emissora de televisão, que as emite através de sua estação de transmissão, através de um campo invisível capaz de gerar o som e as imagens. Por conseguinte, ainda segundo Sheldrake, "nosso cérebro funciona como um aparelho de televisão e os campos morfogenéticos nos transmitem informações de maneira semelhante, não-espacial e não-mecânica. Nosso cérebro, então, seria mais comparável ao aparelho de televisão do que ao programa transmitido. Em outras palavras, aquilo que lembramos não se encontra no nosso cérebro, assim como o comentarista não se encontra dentro da TV."
Não é, pois, de se admirar que Sheldrake tenha sido declarado um inimigo da ciência, especialmente do materialismo, e teve sua teoria intitulada de "Cavalo de Tróia", pois "tentava reintroduzir, sorrateiramente, a metafísica no mundo de hoje, depois que a ciência natural a tinha banido definitivamente."
Talvez a mais radical e séria questão refira-se aos conceitos e leis naturais. Para os cientistas são as leis naturais e imutáveis que fundamentam a ciência; mas, apesar de não discordar desta verdade, para Sheldrake, o cosmo acha-se em constante transformação e evolução, não considerando conceitos e leis como atemporais e imutáveis, afirmando que o que chamamos costumeiramente de "leis naturais", talvez não passe de costumes da criação. Este parece ser o cerne da questão.
Podem chamar Sheldrake de metafísico, místico hermético ou agnóstico, mas ele é, sobretudo, empírico. O experimento é decisivo, esforça-se em esclarecer. Embora suas hipóteses surjam da intuição, ele se submete ao experimento científico. A ele, Sheldrake se submete.
• O Projeto Inteligente (Intelligent Design)
O Projeto Inteligente (Intelligent Design) é uma teoria proposta por Michael Behe, professor associado de bioquímica da Universidade de Lehigh e autor do livro A caixa preta de Darwin (Darwin´s black box) – The Free Press, 1996. Segundo o Projeto Inteligente, causas inteligentes seriam responsáveis pela origem do universo e da vida, em toda a sua diversidade. Os seguidores dessa teoria, entre os quais se encontra William Dembski, autor de Intelligent design: the bridge between science and theology (O projeto inteligente: a ponte entre a ciência e a teologia) – Cambridge University Press, 1998, sustentam que ela é científica e que oferece provas empíricas da existência de Deus. Ambos são fundadores e diretores do Discovery Institute de Seattle (USA), patrocinado e sustentado por fundações cristãs. Estes autores e seus seguidores acreditam que a Natureza é um livro aberto que demonstra a ação do projeto inteligente nos sistemas vivos, mas, estes autores, em vez de oferecerem indícios positivos para seus pontos de vista, tentam principalmente encontrar fraquezas na teoria da seleção natural de Darwin. No entanto, mesmo que encontrassem fortes e bem sucedidos argumentos contra a seleção natural, não tornaria o Projeto Inteligente mais provável. Atuam fortemente nos Estados Unidos e já conseguiram, em alguns estados americanos, por força de mudanças nas leis estaduais, o ensino dessa teoria nas aulas de ciências para ser uma alternativa à teoria científica da seleção natural de Darwin.
Um grande número de oponentes, cientistas e céticos, alegam que o ID (Intelligent Design) visa criar argumentos que seriam usados pelos criacionistas defensores da Bíblia, resistindo frontalmente aos preceitos da evolução de Darwin, através do confronto público Evolução versus Criacionismo. Eles rejeitam a teoria da evolução ferrenhamente e até mesmo a veem como um empecilho muito grande à religiosidade, como, por exemplo, alega o Professor Johnson, Professor de Direito da Universidade de Berkeley.
Para o Professor Phillip E. Johnson, a teoria da seleção natural de Darwin estabelece três posicionamentos, a saber: primeiro, que Deus não existe; segundo, que a seleção natural somente poderia ter acontecido aleatoriamente e por acaso e, terceiro e último posicionamento, seja o que for que tenha ocorrido por acaso ou aleatoriamente, não poderia ter sido projetado por Deus. Acreditamos que Johnson não entendeu ou parece não querer entender completamente a teoria da seleção natural de Darwin.
Mas não vamos comentar ou rebater uma corrente ou outra aqui, apenas constatar que ambas se engalfinham em uma luta de morte, em vez do entendimento. Tudo gira em torno da polêmica religião versus ciência em torno da existência ou não de Deus, na origem da vida e na duração do processo de evolução na Terra. Os religiosos e os pseudocientistas desprezam a teoria da evolução pela seleção natural, à qual Darwin dedicou 27 cuidadosos e disciplinados anos de sua vida para gerar o seu tão controvertido livro, publicado com o título simplificado de Origem das Espécies.
Comentamos apenas que qualquer livre-pensador, cientista ou não, poderá conjecturar algumas hipóteses sobre a evolução da vida na Terra. Por exemplo, Deus poderia ter criado vidas superinteligentes que fazem experiências com seleção natural em outros planetas ou planos existenciais do Universo e transferido o resultado de tais experiências para a Terra, ou mesmo qualquer hipótese que nossa fértil imaginação pudesse sonhar. O que não se pode negar é que a seleção natural existe!
Michael Behe, o autor da teoria do Projeto Inteligente, argumenta que "sistemas irredutivelmente complexos," como o olho e seus componentes, não poderiam funcionar caso faltasse apenas uma de suas várias partes. Ele afirma que "sistemas irredutivelmente complexos não podem evoluir de uma maneira Darwiniana", e que o Projeto Inteligente deve ser responsável por esses sistemas irredutivelmente complexos. Atualmente, este assunto vem merecendo muitos debates de cientistas e biologistas independentes com aqueles comprometidos com o Projeto Inteligente de Behe. O principal contra-argumento dos biologistas é que sistemas biológicos complexos e interdependentes não evoluem como peças individuais, mas sim no seu conjunto e através de modificações gradativas ao longo de milênios de evolução. Sempre que Behe se vê encurralado ele se refugia na teologia, dizendo (6): "Deus pode fazer qualquer coisa que quiser", ou "Nós somos incompetentes para julgar a inteligência segundo os padrões de Deus".
Apesar de todo esse debate, o próprio Darwin escreveu: "Caso pudesse ser demonstrado que exista qualquer órgão complexo que não possa ter se formado através de ligeiras modificações, numerosas e sucessivas, minha teoria [da seleção natural] certamente cairia por terra." Charles Darwin, The Origin of Species. E isso ainda não foi demonstrado!
O próprio DNA é uma estrutura macromolecular complexa. Esta complexidade cresce nas organizações celulares desde as mais simples às mais complexas, gradativamente, ao longo de bilhões de anos de evolução, submetida às leis naturais e imutáveis, das quais as leis da física derivam. Segundo Victor J. Stenger:
"[...] a probabilidade de que o DNA se organize por acaso é de 1.040.000 para uma [segundo Fred Hoyle, Evolution from Space [Evolução vinda do espaço], 1981]. Isso é verdadeiro, mas altamente enganoso. O DNA não se organizou puramente por acaso. Agrupou-se devido a uma combinação do acaso com as leis da física. Sem as leis da física, como as conhecemos, a vida na Terra como a conhecemos não teria evoluído no curto prazo de seis bilhões de anos. Foi necessária a força nuclear para ligar os prótons e elétrons ao núcleo dos átomos, o eletromagnetismo para manter átomos e moléculas juntos e a gravidade para manter os ingredientes da vida resultantes presos à superfície da Terra".
Possam estas fascinantes idéias inspirar muitos físicos a reexaminarem seus pontos de vista no sentido de voltarem, também, seus estudos para a transcendentalidade, ampliando assim o escopo da ciência e colocando suas brilhantes inteligências a serviço da humanidade.
4. O mundo invisível
Quando dizemos que o mundo invisível é muito maior do que se pensa, tal afirmação vale não apenas em relação à diversidade apresentada pela matéria nas suas diversas formas, inclusive as plasmáticas e plasmáveis, mas também, em relação às forças de todo tipo e de todas as espécies, sejam elas puramente físicas ou transcendentes, isto é, de natureza espiritual.
Com relação à matéria, toda ela é invisível quando considerada na sua essência estrutural como moléculas individuais, quer sejam formadas pela junção de dois ou mais átomos idênticos (substâncias puras) ou pela combinação dos diversos átomos entre si para formar as mais diversas substâncias compostas da Natureza. O que de fato dá visibilidade à matéria é a sua aglomeração em volume e massa superior ao comprimento das radiações luminosas nela refletidas.
Ainda como matéria, salvo pouquíssimas exceções, todos os gases (forças de coesão menores que as forças de repulsão), mesmo aglomerados em grandes massas, são invisíveis. Assim, o hidrogênio, o oxigênio, o nitrogênio, todos os gases nobres (argônio, neônio, xenônio, criptônio e radônio), misturas de gases (como o ar), gases combinados, como o monóxido de carbono, o dióxido de carbono, etc., são todos eles, quando puros, completamente invisíveis, nas condições normais de temperatura e pressão. Já as substâncias no estado líquido (força de coesão igual à força de repulsão) ou no estado sólido (força de coesão maior que a força de repulsão) são todas visíveis: um exemplo clássico de uma substância que pode existir no três estados mencionados é a água – ela tanto pode se apresentar no estado sólido (gelo ou neve), quanto no líquido (água comum) ou no vapor (vapor d´água, umidade).
Resta-nos mencionar, ainda, o chamado quarto estado da matéria, o plasma, que é constituído por gases ionizados existentes a altíssimas temperaturas. O estado plásmico ou plasmático apresenta-se na forma de um movimento térmico muito grande, envolvendo os seus íons positivos e negativos, tendo propriedades diferentes da matéria básica da qual proveio, seja ela sólida, líquida ou gasosa. Por exemplo, a água acima de 2000ºC a qualquer pressão passa ao estado plasmático, cessando toda e qualquer possibilidade de reação química e a 5000ºC se decompõe totalmente em seus elementos – o hidrogênio e oxigênio, ambos então, no estado plasmático. Encontramos exemplos de gases no estado plasmático na atmosfera incandescente do sol e nas estrelas, em geral. No seu conjunto, o plasma é neutro, já que contém uma quantidade igual de partículas carregadas positiva e negativamente, mas a interação destas cargas dá ao plasma uma grande variedade de propriedades diferentes das dos gases e, embora neutro, suas partículas são suscetíveis aos campos eletromagnéticos, reorientando-se as suas cargas de acordo com a lei da atração física. A física do plasma é um dos ramos mais adiantados do progresso científico. Quanto à visibilidade, o quarto estado da matéria é invisível, ou visível apenas em condições especiais.
Há ainda uma nova matéria, a matéria escura, que se admite existir por toda a parte, representando 90% ou mais da massa total do Universo. Esta matéria se interpõe no espaço sideral e intergalático, sem a qual seria difícil explicar as forças gravitacionais que mantêm a ordem no Universo e contrabalança a sua expansão. Este é um assunto do mais alto interesse dos físicos em nosso tempo.
Finalmente, há um tipo de matéria, o fluido cósmico, que a Física não cogita ou não estudou ainda, mas que é intuitivo e cujo conceito é facilmente admitido pelos espíritas e espiritualistas. Trata-se da matéria plasmável pela Força Inteligente, em que a coesão entre as moléculas é baixíssima, tornando-a uma espécie de matéria sutil, de baixíssima densidade. Trata-se, evidentemente, de matéria invisível e impalpável, quase imponderável tão tênue ela é. Assim como o vapor d´água pode se rarefazer e tornar-se invisível (vapor seco) ou condensar, formando água que com ele fica em equilíbrio e se torna visível, o fluido cósmico é, também, dotado de expansibilidade e condensação. Sua natureza e composição é própria do mundo ou da região do espaço de onde provém, e dela nada sabemos. Esse tipo de matéria não possui as propriedades da matéria tangível, tal como é conhecida pela ciência oficial e, ainda, não foi submetida à análise química. Um exemplo material que se assemelha à existência desse fluido seria a cabeleira ou a cauda dos cometas, visível apenas porque se acha carregado de poeira cósmica. Seria a matéria escura dos cientistas o fluido cósmico dos espíritas e espiritualistas?
Admite-se que o fluido cósmico possa existir em dois estados distintos: o de tenuidade ou imponderabilidade, que pode ser considerado o estado normal ou primitivo, e o de condensação, em que sua materialidade se torna perceptível. Isso equivale a dizer que o fluido cósmico pode passar de matéria intangível ao estado de matéria tangível, da mesma forma que o vapor d´água invisível pode condensar-se em água, visível.
É fácil de compreender que cada um desses dois estados (tenuidade e condensação) necessariamente dá lugar a fenômenos diferenciados. No estado de condensação, ele seria responsável pelos fenômenos do mundo visível, enquanto que no estado de tenuidade ele daria lugar aos fenômenos do mundo invisível. Os primeiros, chamados fenômenos materiais, são do campo da Ciência propriamente dita; os outros, invisíveis são qualificados de fenômenos paranormais ou espirituais, porque se ligam à existência do espírito. É óbvio que o estudo de um dos estados não seria completo, sem o estudo do outro, inclusive para se saber como um interage com o outro.
5. A parapsicologia e os fenômenos inexplicáveis
O termo parapsicologia surgiu pela primeira vez em 1889 e é atribuído ao estudioso alemão, de Stuttgart, Max Dessoir e veio para englobar o estudo de fenômenos inexplicáveis – os chamados fenômenos ocultos, que não eram tratados nem pela psicologia clássica nem por qualquer das ciências naturais existentes, pretendendo imprimir-lhe foro de ciência. Segundo Robert Amadou: "A parapsicologia não se confunde com uma teologia; não se confunde com uma religião, como o espiritismo, nem com uma filosofia, como o ocultismo; a parapsicologia aspira a ser uma ciência". Contudo, decorridos mais de 100 anos, só recentemente foi reconhecida como ciência e a maior parte dos fenômenos que engloba continua sem explicação e poucos foram aceitos pela ciência. A esses fenômenos, a Parapsicologia aplica, atualmente, a denominação genérica de fenômenos paranormais.
Embora não sendo objetivo de nossa obra fazer um ensaio crítico dos conhecimentos da Parapsicologia, vale a pena notar que, durante o século XX, três correntes subsistiram: a primeira das três, a corrente francesa, conservadora, representada por Robert Amadou, manteve a dicotomia natural-sobrenatural; a segunda, a corrente russa, sob o comando de L. L. Vasiliev, se interessou pelos aspectos práticos da telepatia; e por último, a corrente americana da escola de Joseph Banks Rhine, da Universidade de Duke, postulando que era necessário "o avanço dessa ciência na área do sobrenatural, para reduzi-lo ao natural", isto é, procurou dar um tratamento segundo uma perspectiva histórico-científica. Houve progressos também na Inglaterra (Soal, Price e Watheley Carington), que desenvolveram teorias sobre a sobrevivência mental ou psíquica do homem, e na Alemanha (Rudolphe Tischner), que fez o mesmo que os pesquisadores ingleses. É de se notar que a escola de Rhine atingiu os mais amplos resultados, mas a partir de 1965, suas pesquisas foram interrompidas, sob a alegação da direção da Universidade Duke que "suas pesquisas não atingiram objetivos práticos". Daí, em seguida, Rhine ter criado a sua Foundation for Research of the Nature of Man.
Com a realização do Primeiro Congresso Internacional de Parapsicologia – Utrecht, em 1953, Robert Thouless e B. P. Wiesner (10) propuseram a troca da denominação de tais ocorrências paranormais para fenômenos PSI, provocados pela função PSI (do grego, psykhê = alma). Esta função foi subdividida em duas classes: a primeira delas é chamada de função psi-gamma, responsável pelos fenômenos de natureza subjetiva como a telepatia, clarividência, precognição e pós-cognição, etc. e, a segunda, de função psi-kappa, responsável pelos fenômenos de natureza objetiva, nos quais se observam movimento, alteração, modificação ou quaisquer outras operações sobre os objetos materiais, como a psicocinesia, fantasmas, ectoplasmias, mesas giratórias, etc.
Thouless e Wiesner formularam uma hipótese de trabalho acerca da origem da "função PSI". Admitiram a existência de uma entidade psíquica que opera não só nas atividades cognitivas, normais e paranormais, como também é capaz de interagir tanto com os objetos e cérebros externos como com o cérebro e o sistema nervoso do indivíduo em cujo corpo ela se situa. Deram a essa curiosa entidade o nome de shin, o qual corresponde à vigésima primeira letra do alfabeto hebraico. Segundo eles, "shin" seria a causa de todas as funções psíquicas normais e paranormais, enquanto que, como efeito, teríamos a "função PSI" para designar o conjunto das funções paranormais, na qual psi-gamma é a função subjetiva (ESP, segundo Rhine) e psi-kappa é a função objetiva (PK, segundo Rhine). Afinal de contas, tudo isso como artifício para "contornar o velho problema do espírito, cuja conotação religiosa e metafísica constitui o maior percalço para a sua aceitação na ciência oficial".
Atualmente, de modo geral, usa-se a nomenclatura de J. B. Rhine: ESP (extrasensorial perception) ou em português, PES (percepção extra-sensorial) e para designar os fenômenos objetivos, usa-se a denominação PK (psychokinesis = psicocinésia).
Um grande número de fenômenos, como sonhos premonitórios, os casos de avisos de morte, os de transmissão de pensamento (telepatia), de influências à distância e de percepção extra-sensorial de alguns fatos que ocorrem a pequenas e grandes distâncias foram cautelosamente estudados pela Parapsicologia, que já admite a realidade de tais fatos, classificando-os como "fenômenos paranormais". Mas a ciência, embora se mostre aparentemente aberta aos fatos novos, mantém rigorosa cautela a respeito de questões que parecem envolver problemas ligados à natureza espiritual do homem.
Estaria uma "mente" exterior agindo sobre tais objetos? Ou seja, seria a ESP uma resposta a um estímulo exterior, sem o concurso dos cinco sentidos físicos normais? É válido imaginar-se, como hipótese, uma "mente" imaterial capaz de agir direta e mecanicamente sobre os objetos materiais, para explicitar os fenômenos objetivos do tipo PK – psicocinésia? São questões ainda não resolvidas pela ciência.
Todos os fenômenos que ocorrem no mundo invisível, sob a ação de uma Força Inteligente, são e continuarão sendo inexplicáveis pela ciência oficial, enquanto ela não tiver um melhor conhecimento do que seja a Força Inteligente. Para os espíritas e espiritualistas, tais fenômenos têm o nome genérico de fenômenos anímicos ou fenômenos psíquicos e têm a ver com a variação dos campos biopsíquicos do homem, por ação da Força Inteligente.
Segundo esse enfoque, podemos classificar tais fenômenos em dois tipos: fenômenos mediânicos e fenômenos mediúnicos. Nos primeiros, a Força Inteligente atua sobre objetos materiais, dando-lhes movimento ou, então, materializa, de alguma forma, os fluidos (matéria tênue e invisível ao nosso sentido da visão). Já nos fenômenos mediúnicos, a Força Inteligente interage de alguma forma diretamente com pessoas ou entre pessoas.
Entre os primeiros fenômenos podemos citar a psicografia, as materializações, as fotografias mediânicas, as mesas giratórias, o caimento de pedras, aparições, etc.
Entre os segundos podemos incluir a mediunidade em suas diversas formas e graus, como a mediunidade intuitiva ou intuição, a mediunidade olfativa, a mediunidade auditiva, a mediunidade de vidência, a telepatia. Como fenômeno misto ou global, encontramos a incorporação mediúnica.
A admissão dessa Força Inteligente explicaria, também, os fenômenos anímicos desenvolvidos por Mesmer – daí o nome de mesmerismo a esses fenômenos, do qual o sonambulismo é uma modalidade, bem como o hipnotismo ou transe hipnótico, cujo conhecimento, também deriva do mesmerismo, originalmente tido como magnetismo humano ou força vital. Mesmer, Charcot e outros seguidores deram os primeiros passos.
6. Visão espiritualista da Força Inteligente
Na visão espiritualista, todo o Universo se constitui de Força e Matéria, sendo esta última a formar todas as substâncias e corpos e a primeira a animá-los. Mas aqui o conceito de Força vai muito além do conceito ensinado pela Física, atuando a Força sobre a Matéria em todas as manifestações da vida.
A Força Inteligente está presente em todo o Universo e permeia todo e qualquer tipo de matéria, seja ela inorgânica, orgânica ou organizada, bem como todas as células vivas individualmente e, no seu conjunto, em cada ser vivo. Ela é o agente ativo que, atuando sobre a matéria, que é o agente passivo, subjaz à estrutura atômica da matéria e, nos seres vivos (plantas e animais), subjaz às células, dando-lhes vida. Aqui, precisaríamos estender o conceito de vida também aos minerais, que sofrem transformações similares às que ocorrem com os seres vivos. Assim, segundo Luiz de Mattos, teríamos:
" 1) no reino mineral – força inteligente incipiente, resultante da vibração atômica e molecular na matéria amorfa e dos arranjos cristalinos nos cristais;
2) no reino vegetal – força inteligente e vida incipiente, fixa, sem mobilidade apreciável;
3) no reino animal – força inteligente, vida plena e inteligência, com mobilidade;"
No homem, temos: a força inteligente, a vida plena e inteligência plena, com livre-arbítrio e demais atributos da força, que, a partir daqui, recebe o nome de espírito.
Ainda, segundo Luiz de Mattos, "Não se deve inferir, daí, a inexistência de vida no reino mineral nem a de inteligência no reino vegetal. Apenas se menciona a predominância dos atributos fundamentais apontados, para facilitar a compreensão do leitor, dada a transcendentalidade do assunto". E mais adiante: "[...] Força e Matéria são o princípio e o fim, são unidades que se tocam nos seus extremos, que correm paralelas e que, na sua incomensurabilidade, abrangem o infinito e envolvem o Universo".
Referências bibliográficas:
1) MATTOS, Luiz de. Pela Verdade – a Ação do espírito sobre a matéria. - 9ªed., 1983. p. 216 e seguintes.
2) MATTOS, Luiz de. Racionalismo Cristão. 43ªed. Rio de Janeiro: Lidador, 2004. p.50 e 51.
3) BOHM, David. The Implicate Order. Artigo de autoria desconhecida. Disponível em http://www.bizcharts.com/stoa_del_sol/plenum/plenum_3.html Acesso em 25 out. 2005. Tradução e adaptação de Caruso Samel.
4) GOSWAMI, Amit. The self-aware universe. Entrevista dada a Craig Hamilton, em WMT. Veja, também, o seu livro de mesmo nome escrito em co-autoria com outros colaboradores. Acesso em 28 nov. 2005 no site ????
5) TALBOT, Michael. The universe as an hologram. Disponível em: http://twm.co.nz/hologram.html . Acesso em 28 nov. 2005.
6) BOHM, David. The holographic universe. Disponível em: http://twm.co.nz/holoUni.html Acesso em 28 nov. 2005.
7) Intelligente Design Network. Intelligent Design. Disponível em http://www.intelligentdesignnetwork.org Acesso em 28 nov. 2005.
8) STENGER, Victor J. Intelligent Design. Disponível em http://www.talkorigin.org/faqs/sosmo.html . Acesso em 28 nov. 2005.
9) AMADOU, R. Parapsicologia – um ensaio histórico e crítico. São Paulo: Mestre Jou, 1966, p. 29.
10) ANDRADE, Hernani Guimarães. O que é psi? . Revista de Espiritismo, São Paulo, nº 27, 2º trim. 1995. Disponível em http://www.espirito.org.br/portal/artigos/fep/o-que-eh-psi.html Acesso em 26 nov. 2005.
11) CAPRA, Fritjof. O Tao da Física. 2ª ed. São Paulo: Cultrix, 1983.
12) SHEELDRAKE, Rupert. Sheldrake e os campos mormogenéticos. Ver site http://www.pfilosofia.pop.com.br/03_filosofia/03_07_leia_tambem/leia_tambem_09.htm . Acesso em 18 dez. 2005.
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