Jesus falando em parábolas disse: O
Reino dos Céus é semelhante a um rei, que desejando fazer as bodas a seu filho,
mandou os seus servos a chamar os convidados para a bodas, mas eles recusaram
ir. Enviou de novo outros servos, com este recado aos convidados: Eis aqui
tenho preparado o meu banquete, os meus touros e os animais cevados estão já
mortos, e tudo está pronto; vinde às bodas. Mas eles desprezaram o convite, e
se foram, um para a sua casa de campo, outro para o seu tráfico. Outros
porém, lançaram mão dos servos que ele enviara, e depois de os haverem
ultrajado, os mataram. Mas o rei, tendo ouvido isto, se irou; e tendo feito
marchar seus exércitos, acabou com aqueles homicidas, e pôs fogo à sua cidade.
Então disse aos seus servos: As bodas com efeito estão aparelhadas, mas
os que foram convidados não foram dignos de se acharem no banquete. Ide, pois,
às saídas das ruas, e a quantos achardes, convidai-os para as bodas. E tenho os
seus servos pelas ruas, congregaram todos os que acharam maus e bons; e ficou
cheia de convidados a sala do banquete de bodas. Entrou depois o rei para ver
os que estavam à Mesa, e viu ali um homem que não estava vestido com veste
nupcial. E disse-lhe: Amigo, como entraste aqui, não tendo veste nupcial? Mas
ele emudeceu. Então disse o rei aos seus ministros: Atai-o de pés e mãos e
lançai-o nas trevas exteriores: aí haverá choro e ranger de dentes. Porque são
muitos os chamados e poucos os escolhidos. (Mateus, XXII: 1-4)
O incrédulo ri desta parábola, que lhe parece
de uma pueril ingenuidade, pois não admite que haja tantas dificuldades para
realização de um banquete, e ainda mais quando os convidados chegam a ponto de
massacrar os enviados do dono da casa. “As parábolas – diz ele – são
naturalmente alegorias, mas não devem passar os limites do possível”.
O mesmo se pode
dizer de todas as alegorias, das fábulas mais engenhosas, se não lhes descobrimos
o sentido oculto. Jesus se inspirava nas usanças mais comuns da vida, e
adaptava as suas parábolas aos costumes e ao caráter do povo a que se dirigia.
A maioria delas tinha por fim fazer penetrar nas massas populares a ideia da
vida espiritual; e seu sentido só parece incompreensível para os que não se
colocam nesse ponto de vista.
Nesta parábola,
por exemplo, Jesus compara o Reino dos Céus, onde tudo é felicidade e alegria,
a uma festa nupcial. Os primeiros convidados são os judeus, que Deus havia
chamado em primeiro lugar para o conhecimento da sua lei. Os enviados do rei
são os profetas, que convidaram os judeus a seguir o caminho da verdadeira
felicidade, mas cujas palavras foram pouco ouvidas, cujas advertências foram
desprezadas, e muitos deles foram mesmo massacrados, como os servos da
parábola. Os convidados que deixam de comparecer, alegando que tinham de cuidar
de seus campos e de seus negócios, representam as pessoas mundanas, que,
absorvidas pelas coisas terrenas, mostram-se indiferentes para as coisas
celestes.
Acreditavam os
judeus de então que a sua nação devia conquistar a supremacia sobre todas as
outras. Pois não havia Deus prometido a Abraão que a sua posterioridade
cobriria a Terra inteira? Tomando sempre a forma pelo fundo, eles se julgavam
destinados a uma dominação efetiva, no plano material.
Antes da vinda do
Cristo, com exceção dos hebreus, todos os povos eram politeístas e idólatras.
Se alguns homens superiores haviam atingido a ideia da unidade divina, essa ideia,
entretanto, permanecia como sistema pessoal, pois em nenhuma parte foi aceita
como verdade fundamental, a não ser por alguns iniciados, que ocultavam os seus
conhecimentos sob formas misteriosas, impenetráveis à compreensão do povo. Os
judeus foram os primeiros que praticaram publicamente o monoteísmo. Foi a eles
que Deus transmitiu a sua lei; primeiro através de Moisés, depois através de
Jesus. Desse pequeno foco partiu a luz que devia expandir-se pelo mundo
inteiro, triunfar do paganismo e dar a Abraão uma posterioridade espiritual “tão
numerosa como as estrelas do firmamento”.
Mas os judeus,
embora repelindo a idolatria, haviam negligenciado a lei moral, para se dedicar
à prática mais fácil do culto exterior. O mal chegara ao cúmulo: a nação,
dominada pelos romanos, estava esfacelada pelas facções, dividida pelas seitas;
a própria incredulidade havia atingido até mesmo o santuário. Foi então que
Jesus apareceu enviado para chamá-los à observação da lei e para abrir-lhes os
novos horizontes da vida futura. Primeiros convidados ao banquete da fé
universal, eles repeliram, porém, as palavras do celeste Messias, e o
sacrificaram. Foi assim que perderam o fruto que deviam colher da sua própria
iniciativa.
Seria injusto,
entretanto, acusar o povo inteiro por essa situação. A responsabilidade coube
principalmente aos fariseus e aos saduceus, que puseram a nação a perder, os
primeiros pelo seu orgulho e fanatismo, e os segundos pela sua incredulidade.
São eles, sobretudo, que Jesus compara aos convidados que se negaram a
comparecer ao banquete de núpcias, e acrescenta que o rei, vendo isso, mandou
convidar a todos os que fossem encontrados nas ruas, bons e maus. Fazia
entender assim que a palavra seria pregada a todos os outros povos, pagãos e
idólatras, e que estes, aceitando-a, seriam admitidos à festa de núpcias em
lugar dos primeiros convidados.
Mas não basta ser
convidado; não basta dizer-se cristão, nem tampouco sentar-se à mesa para
participar do banquete celeste. E necessário, antes de tudo, e como condição
expressa, vestir a túnica nupcial, ou seja, purificar o coração e praticar a
lei segundo o espírito, pois essa lei se encontra inteira nestas palavras: Fora
da caridade não há salvação. Mas entre todos os que ouvem a palavra divina,
quão poucos são os que guardam e a aproveitam! Quão poucos se tornam dignos de
entrar no Reino dos Céus! Foi por isso que Jesus disse: Muitos serão os
chamados e poucos os escolhidos.
fonte: evangelho segundo espiritismo
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