FAMÍLIA: É a união de pessoas
por vínculos de casamento, parentesco e afinidade, criando histórica e
sociologicamente a primeira comunidade - a do lar, campo onde o Homem põe em
prática ações nascidas de seus anseios e instintos mais profundos, proporcionando
a cada componente familiar a vivência das diversas faces do amor - conjugal,
fraternal, condicional e incondicional - através de afeições, racionalidade,
instintos, hábitos, solidariedade, gratidão, respeito e responsabilidade. Jesus
teve uma família, tendo como pais José e Maria, e como irmãos Tiago, José,
Simão e Judas, sendo Jesus o primogênito, como citado nos Evangelhos (Mateus,
XIII, 55 a 57).
Ainda em Mateus (XII, 46 a 50) nos é relatado que alguém disse
a Jesus: “Olha que tua Mãe e teus irmãos
estão ali fora e te buscam. E Ele, respondendo ao que lhe falava, disse: Quem é
minha Mãe e quem são meus irmãos? E estendendo a mão para seus discípulos,
disse: Eis minha Mãe e meus irmãos; porque todo aquele que fizer a vontade de
meu Pai que está nos Céus, esse é meu irmão, e irmã, e Mãe!” A família tem,
como início, o casal. Geralmente, buscamos a perfeição em outra pessoa, criando
uma imagem ideal que se distancia da realidade, uma vez que somos todos humanos
e, por conseguinte, temos nossos defeitos e limitações que precisam ser clara e
humildemente reconhecidos, não só por nós mesmos como por aqueles que nos amam.
Uma grande parte das separações dos casais e, por consequência, dissolução das
famílias, se deve a essa fantasia que é feita em relação àqueles que se tornam
objeto de uma utopia, por parte de seu companheiro ou de sua companheira, e não
suportam a visão realista daquelas personalidades e individualidades.
Tolerância, humildade e, sobretudo, amor são as bases sólidas para qualquer
convivência. Como a instituição mais antiga da vida humana, a família vem se
modificando, atualizando-se pelos modos de pensar, sentir e viver do Homem.
Essa marcha se faz na medida da evolução daqueles que compõem uma família, que
pode ter duas naturezas:
FAMÍLIA CÁRMICA ou
FAMÍLIA BIOLÓGICA:
Forma o núcleo de escolaridade da Terra e nenhum espírito pode fugir de suas
lições, fonte de reajustes e oportunidades evolutivas das pessoas unidas pela
força de fatores transcendentais, espíritos que, pela Lei de Causa e Efeito
imperando sobre ações praticadas em encarnações anteriores, se propuseram a
evoluir, uns às custas dos outros, cobrando ou resgatando dívidas em jornadas
paralelas e muito próximas. Marcadas por conflitos, ingratidões, traições,
inveja e cobiça, as jornadas das famílias cármicas são um contínuo processo de
evolução. Quando um membro sai e se desliga é porque, na maioria dos casos,
resgatou suas dívidas com aquele grupo. Há também aquele que se liga ao membro
de outra família, pela união de um casal, dando origem a uma nova família, que
também prosseguirá com sua marcha evolutiva, pois os laços físicos do sangue
não garantem afinidade, harmonia ou amor. Dentro da Lei de Causa e Efeito, um
filho vem para se reajustar com seus pais, e pode se tornar um criminoso,
assassinar o pai ou a mãe, enveredar pelos negros caminhos do vício e das
drogas. Somado ao possível reajuste do casal, vemos que não podemos nos
surpreender com tantas famílias desajustadas, onde o ódio entre o casal, entre
pais e filhos, entre irmãos, deve ser olhado de modo abrangente, sem julgamento
das ações cometidas. As dores, lutas e doenças, a desarmonia e o desequilíbrio
fazem parte do processo evolutivo. Cada espírito tem que enfrentar e passar por
tudo de acordo com sua consciência, sua sensibilidade e seu amor. Aquele que
abandona a família biológica de forma impensada e impulsiva só estará
aumentando seus débitos com aquele grupo, e sofrerá as dores e angústias por
não ter sabido superar suas provações que ele mesmo pediu em seu plano
reencarnatório. Os comuns casos de abandono de idosos por seus familiares, as
separações de casais e a indiferença de pais por seus filhos, abandonando
crianças mal preparadas para a vida, tudo são frutos da incompreensão e da
falta de esclarecimento e consciência desses espíritos fracassados. Dentro da
sabedoria divina, quando uma família está com seu carma muito pesado e
ameaçando ruir pela fraqueza ou cansaço de seus membros, sempre é colocada a
ajuda de um missionário, que encarna no grupo para dar apoio àqueles espíritos.
Nos casais, embora raros, existem casos de almas gêmeas que se unem para o
resgate de uma dívida comum com seus familiares.
FAMÍLIA ESPIRITUAL: É a que se forma pela
sintonia de espíritos, reunidos numa mesma onda vibratória, e que, quando
encarnados, se encontram espalhados pela Terra, algumas vezes com dois compondo
um núcleo da família biológica, no trabalho de apoio e evolução daqueles
espíritos que juntam. Em missões diferentes, há muitos membros de uma família
espiritual que não se encontram com outros na Terra. Podemos ter um irmão ou um
filho espiritual que está encarnado em outro país, ao qual não encontraremos
senão após o desencarne de ambos. A união da família espiritual é tão intensa
que ela só parte para suas origens depois que todos os seus membros estiverem
reunidos, isto é, não tenham mais débitos a resgatar. Encarnados ou
desencarnados, formam pelas vibrações de amor uma poderosa fonte de forças que
agem e interagem em seus componentes que, embora em lugares desconhecidos e
distantes, são assistidos por elas. Há muitos casos de membros de uma mesma
família espiritual que estão juntos numa família biológica, ocasionando as
grandes afinidades entre si que podemos ver no relacionamento de pais e filhos,
irmãos e primos, que chamam a atenção pela harmonia e compreensão.
“Pai Seta Branca sempre fala
na família com amor, desejando que a família seja, realmente, o ponto de
partida do Homem. Vou explicar: duas pessoas se amam após se verem muitas, ou
até na primeira vez, e sem procurar realmente dar conta de seus sentimentos,
sem considerar seus erros, muitas vezes com sentimentos ruins, com falta de
esclarecimento de tudo, se conquistam e se casam. Depois, sempre há erros! E
isso faz com que muitos tenham necessidade da separação. Podem ter sentimentos,
mas, quando se separam, separam também os filhos. O que Mãe Tildes e Pai Seta
Branca falam é sobre as separações por real necessidade. O Homem é consciente
dos filhos, e muitas vezes, na maioria, procuram reparar essa separação com
coisas materiais, ajudas aos filhos, deles não se esquecendo. Há casos
diversos, em que o Homem, muitas vezes, só depois do casamento é que descobre
seus verdadeiros sentimentos. Isto é muito natural e muito certo! Mas, na
maioria dos casos... Eu perguntei a Mãe Tildes o que acontece nestes casos, em
que o Homem, nestes desquites, dá um desgosto tão grande a Deus, qual seria a
responsabilidade desse Homem e qual seria a responsabilidade de Deus para com
esse Homem. E ela me disse: É, minha filha, a lei que chama o Homem à razão é a
mesma que o conduz a Deus. As leis estão obrigando o Homem a dar a metade dos
seus honorários para cuidar materialmente dos filhos. Quer dizer: onde o
sentimento do Homem não vai, a Lei vai! E, da mesma maneira, conduz ele a Deus,
dentro desta Doutrina que nós temos. E, na nossa Doutrina, o Homem tem que
ser... As pessoas têm uma doutrina, têm uma religião, têm sentimentos no
coração! Sei que nós vamos conseguir tudo. Como já disse a vocês, eu, sozinha,
consegui chegar até aqui. Imaginem todos nós juntos! Já podemos contar com um
Doutrinador preparado e vamos lhe levar todo o conhecimento e, principalmente,
o conhecimento da família, que é o princípio do Homem na Terra. Este é o
sentimento mais profundo. A vocês, jovens, vou contar uma conquista, uma coisa
que aconteceu comigo um dia. É uma das muitas obras de todo este mestrado. Veio
um casal do Rio de Janeiro, que havia visto, pela televisão, nossa consagração
do Primeiro de Maio, e que estava se desquitando. Era um casal jovem (vocês,
jovens, ouçam bem!). Um rapaz de boa aparência e uma moça bonita, com dois
filhos, e começaram a se odiar a ponto dele não poder mais ficar em casa. Desde
o nascimento do último filho não mais se toleravam, parecendo que queriam um
matar o outro. Ele arranjou uma outra moça, que é uma das coisas mais fáceis
para desencaminhar um casamento, e vez por outra vinha ver os filhos. Mas o
casal era apaixonado por seus dois filhos. Como ele saíra de casa, os pais da
moça foram morar com ela, e aquele casal de velhos também adorava seus
netinhos. As duas crianças, uma de cinco anos e outra de três, com quem os pais
tinham dívidas a resgatar, passaram a ficar mais com seus avós. Um dia, os
velhos foram fazer uma longa viagem e levaram as crianças, com o consentimento
do pai. Na hora das despedidas, o pai e a mãe se encontraram, mas nem se
olharam de tanta mágoa. Sem as crianças, os dois entraram em desespero e o
sofrimento deles os juntou, principalmente o sofrimento do pai, porque ele
começara a odiar a esposa primeiro do que ela a ele. Quando viram a reportagem
sobre nosso mestrado tiveram a certeza de que nós poderíamos tirar tudo aquilo
de seus corações. Vieram e receberam toda a graça aqui! Receberam tanto que já
escreveram, contando que estão como se nunca tivessem brigado, como se tivessem
casado naquele dia. Eu comecei a me perguntar sobre isto em meus papinhos com
Mãe Tildes. Vimos que aqueles dois nunca haviam deixado de se amar, apenas não
conheciam seus sentimentos. É bem mais fácil você deixar uma pessoa, deixar de
dar uma Doutrina a quem você não gosta, ou pensa que não gosta, e sair, do que
dialogar e procurar ver seus sentimentos. Pense nisto, principalmente quem está
na Doutrina. Nós estamos aqui para unir, para fazer o Homem ter consciência de
seus sentimentos, sentir o que tem em seu coração. Não estamos aqui para
adivinhar nem fazer previsões. Mesmo que eu fosse um anjo, se eu adivinhasse
todas as coisas, mas não tivesse os sentimentos de amor, de caridade, de Mãe,
eu não saberia nada! Quero que vocês procurem seus sentimentos em seus lares,
vejam o que está certo, vejam o amor que têm no coração e que procurem
assimilar, junto de seus companheiros ou companheiras, os nossos princípios.
Digo a vocês, com todo o amor, com toda a honestidade, pelos olhos que
entreguei a Jesus, que os vejo como meus filhos, como se fossem nascidos de
mim. E lhes digo que o sentimento é o primeiro caminho para Deus, é a primeira
missão que vocês têm na Terra. Então, vamos começar, nesses planos, a não querer
corrigir, mas sim, a levar o sentimento de religião, de amor, o sentimento
verdadeiro deste espírito que nos cerca. Não nos preocupemos tanto com as
mensagens, mas sim, em primeiro lugar, com nossas famílias, com nosso lar, com
o que temos dentro de nós! Depois, então, vamos servir a Deus sobre todas as
coisas. Meus filhos, temos tantas maravilhas! Jesus está esperando somente que
o Homem se certifique de seus sentimentos...” (Tia Neiva, 27-6-76)
“Estava na minha frente, para ser consultada, uma bela senhora de cerca de 40
anos, recentemente viúva de um suicida. Junto com ela estavam sua sogra, um
jovem aparentando 18 anos - um belo rapaz com um futuro prometedor - e uma
jovenzinha me parecendo leviana, porém de bom aspecto. Vi que se tratava de uma
família. “Veja o que pode fazer pela minha sogra, Tia Neiva. Vim para
consolá-la, porque Lúcio se suicidou e ela está sofrendo muito (Lúcio era filho
da anciã). Ela está me dando muito trabalho. Vê se a faz esquecer, faça
qualquer coisa que me dê sossego!” “Sim, - disse a anciã - a minha maior dor é
saber que meu filho não tem salvação. Foi tão bom!... Não sei como pode fazer
isso!” A viúva arrematou depressa e com desprezo pelo marido: “Deixou-nos na
pior situação. Enfim, traumatizou todo mundo!” Disse o rapaz: “Sim, Tia Neiva,
pelo amor que meu pai tinha por nós não é fácil entender o que ele fez e nem
tampouco para mim e minha pobre mãe viver sem ele. Foi horrível o que passei,
pois, no fim, ele mostrou que não gostava mesmo era da gente, Tia Neiva. Minha
avó, coitada, pensa no quanto ele irá penar. Nisso eu não acredito muito, pois
sei que Deus não irá deixar, porque ele era bacana mesmo, compreendia a mim
mais do que todo o mundo. Quando eu não estava satisfeito com as coisas da mãe,
ele sempre me dizia que o filho que não gosta da mãe nunca se realiza. Era
bacana mesmo... Não sei como foi tão fraco!” Depois, ficamos calados, só
ouvindo os soluços da vovozinha. São os restos do carma, logo a senhora estará
com ele - disse eu com tranquilidade e falando com carinho à pobre sogra. A
viúva começou a tagarelar sem parar e sem qualquer sentimento de amor: “Como,
Tia Neiva? - falou a anciã - A senhora não entendeu que ele se suicidou? Deu um
tiro nos miolos, e agora só Deus sabe por onde anda meu filho!... Meu pobre Lúcio!
Não sei. Um homem tão culto... Quis ser médico, e foi. Quis seguir a mesma
profissão do pai, pobre pai, pobre marido meu, que Deus o tenha também em bom
lugar. Era como Lúcio, seu filho, um homem bom. Morreu do coração. Foi um golpe
duro para mim, porém não tão duro como este do meu filho. Sim, Tia Neiva, o meu
mal foi ter me casado com outro. Não dei satisfações ao meu Lúcio e este atual
marido não combinava com ele. Por causa deste infeliz, Lúcio estava afastado de
mim. Lúcio saiu de casa e só voltou quando ele foi embora. Será, Tia Neiva, que
foi por isso que ele se suicidou? Guardou toda a vida esta mágoa?” Será que não
foi pelos atritos com Lúcio Júnior? - perguntei. “Não, - respondeu a anciã -
ele até queria a grande herança de meu marido. Lúcio, coitado, ficou
decepcionado comigo. Sempre que podia, me falava: o Homem nunca pode pensar nos
defeitos da mãe. Mas ele sempre me beijava, ria e ficava por isso mesmo.
Acredito que era só da boca para fora.” Terminado o diálogo, vi que o pobre
suicida se fora para evitar desgraça maior, pois o quadro daquela gente era o
pior possível! Somente o jovem sofria, pois perdera o pai para se salvar.
Chamei o Tiago e recomendei um trabalho. Fiquei observando se Lúcio se
manifestava por ali, porém ele não veio. Obsessor? pensei. Fui, então,
encontrá-lo no Canal Vermelho. Aproximei-me dele e disse: Estive com sua
família, seu filho e sua filha, seus dois filhos. “Só tenho Fernando e
Fernanda. O que Fernando pensa de mim? A senhora sabe?” Sei - respondi - bem
como também sei o que o levou ao suicídio. “Falou com ele?” perguntou-me
desesperado. Não, tenho um juramento na Terra que me obriga a respeitar os
sentimentos dos outros e seria incapaz de denunciar alguém. “Fui suicida e, no
entanto, aqui, ninguém me condenou por isso.” Sim - disse eu - foi aquilo que
eu aprendi: a respeitar os outros. “E minha mãe?” Sua mãe, Lúcio, sentiu e
sente a maior dor! “Meu Deus!” gemeu Lúcio. Lúcio, sua mãe optou pelo homem que
amou, quando você partiu pela primeira vez, e a mãe não tem porque optar senão
pelo próprio filho. “Sim, Tia Neiva, foi horrível no dia que meu padrasto me
esbofeteou, na frente de minha mãe, dizendo que ele ou eu ficaria naquela casa,
e minha mãe disse que ia me levar para a casa de minha avó, mãe do meu falecido
pai. Tive uma decepção tão triste que nunca mais me recuperei, apesar de todo o
carinho de minha avó. Minha mãe não me quis, preferiu ficar ao lado do homem a
quem amava. Mesmo traumatizado e cheio de tristeza, casei-me. Minha esposa
parecia me amar muito. Tivemos dois filhos maravilhosos, Fernando e Fernanda.
Tudo corria aparentemente bem. Foi então que entrando na casa de Marcelo, meu
maior amigo, ouvi a voz de Edna, minha esposa. Marcelo veio ao meu encontro e
perguntei de quem era aquela voz. Ele gaguejou e disse que não era ninguém.
Desci e fiquei em frente à casa, até que saíssem. E quem saiu foi ela, a
própria Edna! Fiz uma viagem, porém aquilo não saía de minha cabeça, pensando
em tudo que um homem traído em seu casamento pode pensar. Ela não se modificou
e Marcelo também persistiu no erro. Eu não quis mais ver o que estava
acontecendo. Tive vontade de matar os dois, porém decepcionar Fernando com sua
própria mãe não era possível. Se eu morresse, ele nunca ficaria sabendo da sua
traição. Pensei comigo: se tudo estiver bem para Fernando, espero aqui o que
Deus quiser. Deus há de me perdoar por minha pobre incompreensão. Tenho certeza
de que, um dia, Deus me perdoará!” É verdade, pensei. Fernando estava sem
complexos, vivendo sua vida e amando ainda mais sua mãe. Estávamos bem, quando
ouvimos a campainha da chamada. “Está vendo para onde irei?” perguntou-me
Lúcio. Você vai para o outro lado deste Canal - respondi. Ele partiu, e soube
que tinha ido para reencarnar e pagar na carne o seu erro de se suicidar. E
qual a sua pena? Voltará com uma forma de disritmia. Perguntei quem seria sua
mãe. Sua mãe será novamente a mesma velhinha, porque rejeitou o direito de
criá-lo, fazendo assim seu primeiro trauma, por ter preferido o homem que
amava, deixando que ele fosse para a casa de sua avó. O desequilíbrio de uma
mãe desajusta uma família. No outro sábado, aquela família voltou para falar
comigo e, vendo-os sentados à minha frente, tive vontade de dizer tudo: que
tinha me encontrado com Lúcio no Canal Vermelho e que era ela a única
responsável pela sua morte. Como sempre me limito, apenas, a proteger, porque
entreguei meus olhos a Jesus para nunca escravizar ninguém com palavras ou por
insinuações, e muito menos por julgamento. Fico frustrada pensando nas palavras
de Pai Seta Branca: ajudar, comunicar sem participar, não dividir nem tomar
partido das pessoas!”
(Tia Neiva, dez/79)
“Lembro de algo que Humarran preparou para mim: naquele dia, ia para o sono
cultural um jovem que deixara, na Terra, uma complicada cobrança, envolvendo
sua enteada, uma jovem mulher, empenhada em dívidas. Era o quadro que eu via, e
Humarran me explicou: “A moça já está grávida e agora veremos se vai dar tempo.
Seu sono e sua cultura foram muito tristes. Ele teria que voltar quando tivesse
sete anos, mas, se tudo corresse bem, poderia voltar até depois de setenta ou
oitenta anos.” Por que a enteada? perguntei. “Porque o jovem se apaixonou por
ela, fez dívidas e estragou a vida dele, deixando a mulher ‘naquela’ situação.”
E que culpa teria a moça para perder seu filho, que é uma dor tão grande? “É
que ela alimentava o amor de seu padrasto, perdendo o sentimento pela mãe, não
havendo respeito. Já se passaram mais ou menos cinquenta anos da Terra, mas
Deus não tem pressa. Eles estão chorando porque aqui sofrem mais e são mais
conscientes.” Mas não era esta família que estava na Terra? “Não. Amaro, que é
este jovem, já estava endividado com Susana. É a segunda vez que ele volta. Seu
pecado é não respeitar sua família. Comporte-se em seu lugar, como Mestre
Instrutora.” Não é falta de respeito o comportamento. Estando na Terra, todos
podem se libertar uns dos outros sem precisar traumatizar ou cravar uma injúria
ou uma falsidade, que é o mesmo que matar fisicamente. E nosso amigo estava
devendo anteriormente. Vai e volta, e ninguém lhe ensina nada? “E o sono
cultural, filha? Lá é dito tudo o que o Homem precisa saber. Inclusive, vai
para um lar decente, com pais que ensinam a moral. Não há necessidade de
erros... Todos têm uma oportunidade! Em cada canto tem alguém ensinando alguma
coisa.” E em lágrimas e tristezas o nosso personagem se despediu, indo para o
sono cultural. Sabe Deus quando voltará. Se tudo der certo, faz sua cobrança e
volta. Pensei comigo: o que é bom para um não é bom para outro. E vendo aquele
mundo de gente, pensei em um por um deles. Humarran, vendo o meu pensamento,
foi logo dizendo: “Sim, as coisas de Deus são assim. Na Terra, todos têm seu
encaminhamento e, aqui, muito mais. Veja ali, na Ponta Negra! Olha o Vale
Negro, lá embaixo...” (Tia Neiva, 11.9.84)
fonte: observações Tumarã
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