França, século XIX. Nos salões mais elegantes
do país, damas e cavalheiros reuniam-se para observar mesas que se
movimentavam, erguiam-se no ar e respondiam às mais variadas questões mediante
batidas no chão. As sessões de mesa girante, como ficaram conhecidas, viraram
moda em cidades como Paris e Lyon. A princípio inexplicável, o fenômeno
divertia alguns e inspirava desconfiança em outros, combinando a curiosidade
filosófico-científica com a experimentação quase religiosa dos mistérios do
espírito. Positivismo e misticismo combinavam-se.
Em 1855, o pedagogo francês, Léon Hyppolite Denizart
Rivail, depois conhecido pelo pseudônimo de Allan Kardec, lançou-se, assim como
outros, à investigação do fenômeno. Pesquisador
dedicado, Kardec começou a frequentar as sessões de mesa girante com o objetivo
de estudar o fenômeno.
Pessoalmente convencido não só da realidade
do fenômeno, que considerou essencialmente real apesar das mistificações
existentes, mas também da possibilidade dele ser causado pela ação de
espíritos, Kardec deu um passo adiante: em lugar de dedicar o resto de sua vida
à busca por “provar cientificamente” a explicação mediúnica para os fenômenos,
procurou extrair da possibilidade, de que fossem causados pela ação de
espíritos, como algo útil à humanidade. Por intermédio de médiuns ele fazia
inúmeras perguntas aos espíritos, e durante dois anos as respostas foram então
analisadas, comparadas, e organizadas.
O resultado desse trabalho foi um livro
que de certa forma mudou o mundo. Publicado em 18 de abril de 1857, O livro dos
Espíritos, traz uma obra dividida em 1019 tópicos, no estilo pergunta-resposta,
ordenadas didaticamente pelo pedagogo. É importante lembrar que nossa Mãe
Clarividente, Tia Neiva recomendava a leitura desta obra, por todos nós
Jaguares. As questões levantadas neste livro serviram como base para os demais
livros que compõem a codificação da Doutrina Espírita.
Mais tarde vieram outras quatro obras que formam
o alicerce da Doutrina Espírita Kardecista, que são:
O que é o Espiritismo? , publicado em 1859, é
uma introdução sobre a Doutrina Espírita.
O livro dos Médiuns, publicado em 1861, e
versa sobre o caráter experimental e investigativo do espiritismo, visto como
ferramenta teórica – metodológica para se compreender uma “nova ordem de
fenômenos”, até então jamais consideradas pelo conhecimento científico: os
fenômenos ditos espíritas ou mediúnicas, que teriam como causa a intervenção de
espíritos na realidade física.
O Evangelho Segundo o Espiritismo, publicado
em 1864, avalia os evangelhos canônicos sob a ótica da Doutrina Espírita,
tratando com atenção especial a aplicação dos princípios da moral cristã e de
questões de ordem religiosa como a prática da adoração, da prece e da caridade.
No Vale do Amanhecer, esse era o livro que ficava no farol mestre da mesa
evangélica, sendo substituído por Seu Mário pelo evangelho bíblico.
O Céu e o Inferno, publicado em 1865 compõem-se
de duas partes: na primeira, Kardec realiza um exame crítico da Doutrina
Católica sobre a transcendência, procurando apontar contradições filosóficas e incoerências
com o conhecimento científico superáveis, segundo ele, mediante o paradigma
espírita da fé racionalizada. Na segunda parte, constam dezenas de diálogos que
teriam sido estabelecidos entre Kardec e diversos espíritos, nos quais estes
narram as impressões que trazem dos planos espirituais.
A Gênese, publicado em 1868, aborda diversas questões
de ordem filosóficas e científicas, como a criação do universo, a formação dos
mundos, o surgimento do espírito, segundo paradigma espírita de compreensão da
realidade.
As idéias de Kardec chegaram no Brasil em
1865 e despertaram o interesse de pessoas letradas que viam nelas sinais de
modernidade contrastante com o conservadorismo católico. Ganharam adeptos nas
elites formadas por profissionais liberais e militares em 1884, já eram
difundidas o bastante para que se criasse uma Federação Espírita Brasileira.
Hoje, o país é o que reúne o maior número de espíritas em todo o mundo. Com 2,3
milhões de espíritas declarados, de acordo com o último censo de 2000 e suas
idéias influencia a cultura religiosa em seu conjunto. O princípio da
reencarnação, por exemplo, é aceito, principalmente, por uma maioria dos
brasileiros. Terceiro maior grupo religioso do país, os espíritas têm sua
imagem fortemente associada à prática da caridade. Mantendo em todos os estados
brasileiros asilos, orfanatos, escolas para pessoas carentes, creches e
instituições de assistência e promoção social.
Allan Kardec e toda sua obra trouxeram novo sentido
à religião, prova que graças a ele, a história das religiões nunca mais foi a
mesma.
fonte: jornal do jaguar
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