PREFÁCIO
Caro leitor:
Este
livro traz a chancela do Vale do Amanhecer, e isso significa autenticidade e
desmistificação. O leitor que já conhece os livros precedentes, “No Limiar do
Terceiro Milênio” e “Sob os Olhos da Clarividente”, sabe da nossa preocupação
em simplificar, esclarecer e, principalmente, tornar cada assunto acessível a
qualquer mente com adequação gradativa. A primeira medida nesse sentido é
tornar claro que o concernente ao espírito e ao destino humanos não é aprendido
somente pela mente aculturada escolarmente, mas, sim, pela receptividade de
outra natureza, do conjunto psicofísico-espiritual, o ser humano tomado no seu
todo.
A mente
concreta, intelectualizada, é essencialmente transformista, elabora idéias com
idéias, muda sempre as formas mas conserva as essências. Porém, a mente
espiritualizada é criativa e, na sua elaboração, traz sempre algo novo, não
pensado ainda, essencial. É nesse sentido que o Vale do Amanhecer orienta sua
mensagem, procurando mostrar que todo ser humano dispõe do mecanismo necessário
para saber as coisas fundamentais a seu próprio respeito e do seu destino.
A
humanidade sempre se preocupou com sua origem e, mais ainda, com seu destino
final. Mas, todos os esforços nesse sentido parecem, sempre, terminar nas
incógnitas das revelações imprecisas, sejam elas científicas ou religiosas.
Isso tem levado à dúvida, à insegurança e ao desespero final, tão bem
caracterizados neste final de ciclo. A finalidade deste trabalho é trazer um
pouco de tranqüilidade e segurança. A retrospectiva de 32 mil anos até nossos
dias, com boas possibilidades de serem encontradas provas das afirmações,
fornecerá à mente humana abundantes elementos de perspectiva, tanto da visão
individual como coletiva. Também, as afirmações do campo psicológico são
relativamente fáceis de serem verificadas. Por exemplo: qualquer ser humano,
mesmo medíocre nas letras, poderá distinguir, no seu campo de consciência,
quando os estímulos de suas ações têm origem no corpo, na alma ou no espírito.
E assim,
entregamos ao público mais um trabalho, mais um esforço no alívio da angústia,
mais uma mensagem integrante do Planejamento Crístico, cujo principal objeto de
cuidados é você, que nos lê.
MÁRIO SASSI, TRINO TUMUCHY
N E I V A
A porta
da casa se abriu e a pessoa que eu havia conduzido fez sinal para que me
aproximasse. Saí do carro com má vontade e entrei na casa modesta. Na pequena
sala estava sentada uma senhora de uns quarenta anos, modestamente vestida, e
em cuja figura se destacavam os cabelos longos e os olhos pretos, penetrantes.
Foi-me
apresentada como “dona Neiva” e eu, muito a contragosto, aceitei o cafezinho. Mas
não podia despregar os olhos dela. Fez-se silêncio por alguns minutos, e ela
ficou me olhando, com ar pensativo. Minha passageira falava sem cessar,
elogiando as qualidades da anfitriã, mas eu mal a ouvia. Entre a dona da casa e
eu havia se estabelecido um rapport,
e o mundo cessara momentaneamente de existir. Depois das amenidades de costume,
ela me surpreendeu com suas palavras:
- O
senhor está sofrendo muito. – disse ela –
Será que não poderia voltar aqui para conversarmos ?
- Como é que a senhora
sabe? – retruquei – O quê a senhoras está vendo?
-
Volte aqui e eu lhe direi. Veja se pode voltar hoje à noite. – respondeu ela – Venha que eu quero ver o seu quadro
espiritual.
Despedi-me apressado, meio confuso, e o resto do dia
passei mais desligado que de costume. Aquela cena e a figura de dona Neiva
persistiam na minha mente e meu coração acelerava quando me lembrava da visita.
Tão pronto escureceu, dirigi-me para Taguatinga.
Fui admitido na mesma sala, e desagradou-me o fato de
nela existirem outras pessoas. Entrei na conversa banal com relutância. Nesse
tempo eu mal tinha a capacidade de ser civil. Dona Neiva conversava com todos,
e eu já desanimava da possibilidade de falar com ela a sós. Embora preparado
para mais uma decepção, minha curiosidade persistia. Eram quase onze horas da
noite quando ficamos relativamente sós. Digo relativamente, porque as pessoas
mais íntimas se haviam retirado para a cozinha, em companhia dos familiares da
dona da casa.
Ela, sentada com simplicidade, cruzou os braços sobre o
busto e perguntou meu nome e idade. Permaneceu em silêncio alguns minutos e,
depois, começou a falar.
- Seu
Mário, – disse ela – o senhor é uma
pessoa insatisfeita, mas tem uma grande missão a cumprir. Sua vida vai mudar
completamente, e o senhor irá encontrar a realização que tanto tem procurado. A
vida tem sido muito dura com o senhor, mas agora chegou a sua hora. Tire essa
idéia de suicídio da cabeça. O senhor tem muito a realizar.
Dito isso, ela calou-se e permaneceu me olhando como se
não me visse.
Meio constrangido diante do seu silêncio e descrente do
que ouvira, desandei uma torrente de queixas amarguradas, eivadas de ironias,
que ela ouviu pacientemente. De vez em quando fazia uma observação, e eu, mais
desabafado, fui-me compenetrando de que não estava diante de uma criatura
comum. Passado o primeiro momento de surpresa, notei que ela se havia referido
a algumas passagens da minha vida íntima, traçando um quadro muito acurado da
minha realidade. Isso, sem eu ter dito nada, ou quase nada, além do meu nome e
idade!
Era evidente que eu estava diante de um fenômeno novo e
com todas as características de autenticidade. Como para dirimir qualquer
dúvida, toda vez que ela fazia alguma afirmação, acrescentava: “Digo-lhe em
nome de Nosso Senhor Jesus Cristo”.
Nossa conversa foi longa e profunda. Quando deixei a
casa, já de madrugada, eu havia penetrado num mundo novo. Minha vida se
apresentava, então, com um quadro nítido, com uma explicação para cada fato. De
repente, tudo começou a fazer sentido, a ter uma correção lógica. Senti-me
invadido por forças desconhecidas e a divisar um mundo acolhedor, no qual havia
um lugar para mim!
Passei o resto da noite insone e excitado. No dia
seguinte, tão pronto pude livrar-me das obrigações mais prementes, corri para
Taguatinga. Isso se repetiu nos dias subsequentes, e, três anos depois, em
1968, mudei-me para lá. Nesse ano, eu passei a ser um Doutrinador, de tempo
integral, no modesto Templo da Ordem Espiritualista Cristã.
O que se passou nesse tempo é quase inarrável, pelas
características do incomum, do fantástico e do admirável. Na aparência, tanto
física como social, o meu novo mundo era absolutamente vulgar. Esse fato, esse
aparente lugar comum, foi o que mais contribuiu para que meus familiares, os colegas
e os poucos amigos me julgassem louco. Isso é bem compreensível.
A casa da Clarividente Neiva era um simples barraco
alongado, que servia também como abrigo de menores abandonados. Na porta havia
uma placa desbotada, com os dizeres: Orfanato Francisco de Assis. O Templo
situava-se a três quarteirões de distância, no fim de uma rua sem calçamento.
Feito de madeira que já fora usada várias vezes, só se distinguia como templo
depois que a gente via seu interior. As pessoas que circulavam entre o Templo e
a Casa Grande, como era chamada a casa de Neiva, eram, em sua maioria, de
aparência modesta. Mas, havia sempre um ou mais carros vistosos, parados num ou
noutro desses locais.
As atividades se concentravam no interior desses dois
edifícios – o Templo e a Casa Grande. O freqüentador casual pouco via nessas
atividades além do lugar comum. Mas, sob essa aparência casual, vulgar,
passavam-se os maiores fenômenos espirituais. Ali se vivia entre dois planos,
graças à Clarividente Neiva. Centenas de pessoas tinham suas vidas equacionadas
e os mais complicados conflitos humanos tinham solução por seu intermédio. A
vida quotidiana era um constante alívio de angústias.
Sem formalidades e com poucas obrigações, as pessoas iam
passando por ela, de dia, de noite, nas circunstâncias mais banais, e saindo
esperançadas, animadas. Só meu olhos atentos é que registravam o esdrúxulo, o
fantástico de tudo aquilo. As próprias pessoas beneficiadas raramente sabiam
avaliar devidamente o extraordinário das soluções que lhes aconteciam. Para a
maioria, Tia Neiva era apenas uma criatura simples que atendia pacientemente e
acalmava qualquer aflição. Poucos percebiam a complexa manipulação de forças
que a solução de seus casos exigia.
A maneira casual e simples de Neiva dizer: “Vou pedir a
Deus pelo senhor...” ou, então, “Pode deixar que eu vou fazer um trabalho e as
coisas vão melhorar!”, desarmam a pessoa de tal forma que seu problema já
começa a ser resolvido no momento da entrevista. Mesmo na intimidade, nos raros
momentos que se ficava só, sem pessoas alheias à casa, a simplicidade e o tom
casual continuavam.
Mas, meu espírito já estava desperto para a missão. Dia a
dia minha mediunidade se abria e meus sentidos estavam alertas para tudo que
acontecia. Pouco a pouco, num paciente e árduo trabalho de escuta e observação,
eu colecionava fatos. Naquele ambiente pobre em seu exterior material,
aconteciam os mais variados fenômenos mediúnicos. Os mais visíveis eram as
incorporações, quase sempre feitas na intimidade, longe de olhos profanos.
As pessoas que viviam em torno de Neiva eram simples, sem
escolaridade, e avessas à racionalização. Estavam tão acostumadas com os
fenômenos, que nada as espantava. As presenças do mundo espiritual e do etérico
invisível eram corriqueiras. Vez por outra, um fato mais contundente chamava a
atenção e era comentado durante muitos dias, colorido com lances imaginosos. O
que mais me impressionava era a inconsciência humana que cercava Neiva. E
assim, com displicência, em meio a uma refeição ou um ato caseiro qualquer, eu
colhia respostas de perguntas milenares, de interrogações que os filósofos e os
cientistas faziam há muito. Minhas perguntas curiosas logo me granjearam o
apelido de “o intelectual”.
Mas minha curiosidade era satisfeita com dificuldade.
Cedo aprendi que a posição de um ser excepcional, que vive, simultaneamente, no
transcendental e no temporal, é complexa e difícil em relação ao meio. Neiva
via as coisas como elas realmente eram, mas não podia falar, mal podia
comunicar. Tinha ela que se ater à
capacidade de cada um e, principalmente, ao estágio evolutivo de cada
interlocutor. Jesus definiu bem essa posição quando disse “que não se deve dar
pérolas aos porcos”...
Outra coisa, que logo aprendi, é que as revelações não me
eram feitas em função da minha capacidade intelectual ou cultural; eu as
percebia por um merecimento de outra ordem, um estado sutil, notado apenas de
relance. Assim é que entendi aquele máxima iniciática, que diz: “Quando o
discípulo está preparado, o mestre aparece!”
Do contraste entre minha maneira de ser e a da
Clarividente Neiva é que pude avaliar minhas imperfeições, meu atraso
espiritual. Logo perdi as pretensões de ser um iniciado, pois a distância era
muito grande. Dolorosamente, dia por dia, fui percebendo a luta que se travava
em mim, entre a personalidade transitória e a individualidade transcendental; a
luta entre eu e meu espírito; a briga entre Deus e o Diabo. Depressa, desisti
de querer me tornar igual à Clarividente, pelo simples fato de ela viver em dois
planos ao mesmo tempo.
Sua intimidade com o mundo do espírito, mediante um
simples ato de mediunização, obriga-a a dar precedência aos atos do espírito.
Eu, como todas as criaturas comuns, sou obrigado a longas lutas para tomar uma
decisão e, mesmo assim, às vezes tomo a decisão errada. O ser comum decide por
tentativas, erros e acertos. A Clarividente não erra, não pode errar, a não ser
nas coisas que se referem a ela mesma. Uma palavra sua constrói ou destrói uma
vida.
Eu conhecia alguma coisa do Espiritismo tradicional,
principalmente do Kardecismo ortodoxo. Na minha ignorância, atribuía,
subjetivamente, poderes extraordinários aos espíritos. Como todos que acreditam
na comunicação com eles, eu achava suas palavras como mais credenciadas que as
dos seres encarnados. Logo, porém, compreendi a precariedade dessa posição,
diante de duas razões fundamentais: a imperfeição nas comunicações e o respeito
que os espíritos têm pelo livre arbítrio humano.
A Clarividente Neiva é, também, um caso raro, só dado aos
clarividentes, de ser um médium de incorporação inconsciente. Os espíritos que
comunicam por seu intermédio o fazem livres de qualquer interferência dela, mas
raramente dão conselhos ou orientação que decidam o assunto pela pessoa.
Mantêm-se, sempre, no terreno do geral, das profecias que exigem elaboração do
interlocutor para serem entendidas. Quando recebiam perguntas de ordem pessoal,
davam orientação doutrinária e sugeriam à pessoa que consultasse Neiva, depois.
A Clarividente tem, como os espíritos, acesso ao passado
e ao futuro das pessoas. Mas tem, sobre eles, a vantagem da vida humana, de
viver quotidianamente e conhecer os valores correntes. Percebi, então, que
Neiva não só consultava os espíritos, como era consultada por eles.
E, assim, fui vivendo e aprendendo. O mosaico de meu
conhecimento, acrescentado da minha experiência de homem maduro, facilitaram
minha “doutrinação” e me permitiram dirigir trabalhos mediúnicos. Aos poucos,
tornei-me dirigente, não tanto pelas minhas qualidades, e, sim, pela minha
disponibilidade. Eu conseguira, por alto preço, desligar-me das obrigações
comuns e, assim, aos poucos, fui-me integrando na minha missão. Na proporção em
que ela se delineava, eu compreendia melhor a profundidade da missão de Neiva.
Sua vida é a vivência crística integral, que vive e dá
testemunho. É um superser constante, que nunca se cansa, nunca pára, e sua
tolerância chega a ser irritante!
Depois de sete anos de vida ao seu lado, compreendi que
esse ser representa o Espírito da Verdade, e que sua missão fundamental é nos
preparar para o futuro. Entretanto, esse preparo não é feito por uma profecia
específica, mas pela sua própria vida profética. A profecia é ela mesma,
vivendo as coisas que transmite. E ela, agora, nos traz as notícias dos fatos
que irão acontecer nas próximas três décadas, principalmente daqueles que irão
ter seu ápice no ano decisivo de 1984!
I N I C I A Ç Ã O
E assim, por três anos, eu acompanhei a Clarividente, à
espera da minha iniciação, sempre advertido por ela da visão do meu quadro
espiritual.
O trabalho mediúnico era um teste diário. Embora me
dedicasse ainda às atividades normais da vida, todo meu tempo livre era
empregado no Templo ou junto a ela, à espera de ensinamentos. Essa vida era
cheia de imprevistos, de acontecimentos. Nesse tempo, registrei a maioria dos
casos pessoais mais marcantes na Doutrina. Começava, então, a me sentir
preparado e em melhores condições de assimilar forças espirituais, nos contatos
com outros planos.
Um dia, Pai Seta Branca, o supremo dirigente da nossa
falange, incorporou em Neiva e fez minha iniciação.
-
-
Meu filho, – disse ele – você é um missionário de Deus e, em nome de
Nosso Senhor Jesus Cristo, terá que anunciar as premissas da civilização do III
Milênio, recebidas por intermédio desta médium clarividente. Você dará
testemunho do Espírito da Verdade, cuja missão é marcar a transição milenar. Os
três anos que teve de aprendizado e disciplina seriam poucos se não fosse a
grande bagagem de que é portador, pelas vidas que já teve neste planeta. Hoje
mesmo, dar-lhe-ei as provas dessas vivências transcendentais. Mas não tente,
nunca, ultrapassar a verdade, pois o Homem se alimenta, apenas, daquilo que se
pode dar testemunho. A transição real irá começar em 1984, quando Capela, o
Planeta Monstro, fizer sentir à Terra sua ação.
Nesse
ponto, perguntei a ele se, realmente, tinha condições para essa missão de tanta
responsabilidade. Ele, como se não me tivesse ouvido, continuou:
- Abrirei
para você um novo mundo, e você escreverá com o Espírito da Verdade. A
Clarividente, que coloco à sua disposição, tem seus olhos entregues a Nosso
Senhor Jesus Cristo. Também você confiou a Ele sua paz e sua tranqüilidade,
cujo penhor é a ausência de qualquer deslize moral. Tudo será feito por amor de
um Deus todo poderoso, e estarei aqui sempre que você precisar de alguma
afirmação.
Em
seguida, ele abandonou o aparelho e Neiva voltou a si, após breves minutos. Tão
pronto ela retomou a consciência, contei-lhe o que tinha havido, e ela não
demonstrou surpresa. Disse-me, então, que, na madrugada anterior, havia
assistido à cerimônia da minha iniciação, numa Casa Transitória.
Diante
dessa notícia, pedi a ela que me descrevesse como se transportava para esses
contatos com o mundo espiritual. Ela me explicou que o transporte era um
precioso instrumento mediúnico, mas que dependia muito de disciplina e
treinamento. Contou que, no começo de sua vida mediúnica, era orientada por uma
senhora de nome Mãe Nenen, que lhe ajudou nos primeiros transportes com fonia.
Esse trabalho tinha duas importantes funções: o reequilíbrio psicofísico de
Neiva e o recebimento, por esse meio, de instruções espirituais. Desde então,
tenho assistido a transportes com fonia, feitos por ela, e esse mecanismo de
contato me fascina e desafia minha atitude científica. Continuando com a
explicação, Neiva disse:
“A maior
dificuldade de Mãe Nenen comigo era minha rebeldia a qualquer disciplina. Eu
era uma simples motorista de caminhão e, na maior parte da vida, eu sempre fora
independente economicamente e possuía meus próprios caminhões. Como viúva e mãe
de quatro filhos, tinha o duplo papel de pai e mãe, e isso me levou ao hábito
de tomar sozinha minhas decisões. Com a abertura das minhas mediunidades e o
total desconhecimento do Espiritismo, fiquei na dependência das pessoas que me
cercavam, e Mãe Nenen foi providencial.
Embora não
fosse uma pessoa de muita escolaridade, Mãe Nenen lia muito, principalmente as
obras de Chico Xavier. Com isso, era considerada a maior autoridade doutrinária
no nosso meio de gente simples. Ela também vivia independentemente e, sendo
mais idosa, assumiu a maternidade de minha vida mediúnica. Daí o apelido
surgido naturalmente de “mãe”, em parte, também, devido à autoridade natural
que ela possuía.
Sob sua
direção, foi estabelecido em “retiro” diário, que tinha início às seis horas da
tarde. Nessa hora se reuniam as pessoas mais íntimas da comunidade que, então,
já começava a se formar no Núcleo Bandeirante. O grupo reunia nove ou dez
pessoas, incluindo um médium vidente, de nome Agenor.
Eu me
deitava num sofá, e as pessoas se reuniam em torno de mim. Mãe Nenen fazia a
abertura com um pequeno ritual e, durante todo o transporte, ia repetindo as
preces apropriadas. Às vezes, conforme surgiam as intuições, as pessoas
cantavam em surdina os hinos mântricos ensinados pelos nossos guias. Eu entrava
numa espécie de sono natural e falava como se estivesse sonhando. Na verdade,
apenas vocalizava, através do meu corpo, as coisas que aconteciam no local para
onde havia me transportado. Mas os circunstantes não ouviam as vozes das
pessoas com quem eu me encontrava. Os seres e os ambientes eram percebidos aqui
em baixo apenas pelas minhas exclamações ou eventuais comentários.
Certo dia,
eu custara mais a deixar o corpo, e eram cerca de sete horas quando me
desliguei. Senti forte dor de cabeça e, de pronto, notei que estava no interior
de um aparelho, uma espécie de cabine ampla e cheia de instrumentos. Percebi
alguém ao meu lado e ouvi-o chamar o meu nome de cigana, Natachan, como sou
conhecida na Espiritualidade. Prestei atenção e vi que ele me apontava para uma
espécie de janela enorme.
-
Natachan, – dizia ele – veja aquela
bola!
De fato,
vi uma enorme bola de fogo colorido, que parecia subir e descer no céu, sempre
retomando a posição inicial. Ouvi, novamente, a voz do meu cicerone, que
parecia falar dentro da minha cabeça:
-
Natachan, olhe bem! Vou mover esta alavanca e você vai enxergar melhor.
A bola
ficou, então, mais nítida, e meu guia continuou:
- Ali,
Natachan, é o mundo dos que se preparam para a grande obra de Deus na Terra. Em
breve você vai conhecê-lo melhor. Esse mundo, esse planeta que você está vendo,
é dividido em quatro partes, quatro mundos diferentes. Uma dessas partes
chama-se Umbanda, cujo significado é “banda de Deus”, ou “lado de Deus”. Ela é
a parte pura do planeta. A outra parte chama-se Capela, que também significa
“última espera” ou “guarnição do nicho de Deus”. Em Capela vivem os seres que
vocês, na Terra, chamam de Cavaleiros de Oxossi. Esses seres têm importante
função nos planos de Deus em relação à Terra. Eles são seres físicos, mas,
tanto na Terra como no lugar em que você se acha agora, eles se apresentam
desmaterializados.
E
perguntei-lhe: Onde é que estou? Mas não obtive resposta e voltei, suavemente,
para o meu corpo.
Pelo
aspecto de espanto de Mãe Nenen e os outros que me cercavam, percebi que essa
“viagem” os deixara apreensivos, pois fugira ao lugar comum dos transportes
anteriores. Embora me recordasse nitidamente do que vira e ouvira, sabia que
não podia falar sobre o assunto além de certos limites, e assim fiz. Mas
percebia que meus companheiros estavam cheios de interrogações, principalmente
em saber onde eu estivera. Interessante é que me senti fisicamente muito melhor
que antes do transporte.”
Assim
Neiva descreveu um dos seus primeiros transportes, os quais foram rareando, na
proporção em que ela ia sendo mais solicitada em atividade de socorro
espiritual. Desde então, os acontecimentos se precipitaram.
1968 e
69 foram anos de trabalho intenso e em condições difíceis.
As novas
solicitações doutrinárias não encontravam eco nos médiuns habituados com a
rotina. Faltavam-lhes a flexibilidade o desapego. A grande maioria era submissa
ao ritual e aos dias certos de trabalho no Templo. Isso tinha seu lado bom,
pois garantia o funcionamento ininterrupto da Ordem. Os dirigentes, por sua
vez, enfrentavam a demanda cada vez maior de suas vidas particulares. Na medida
do progresso de Brasília, a luta pela vida se tornava cada vez mais áspera, e
isso os afastava muito do trabalho espiritual. Com isso, as responsabilidades
iam sendo jogadas, cada vez mais, no ombro de Neiva e no meu.
Em fins
de 1969, recebemos ordem espiritual para estabelecer uma comunidade tipo rural.
A estória do Vale do Amanhecer merece um relato à parte, dadas as
características especiais do grupo que nele habita. Também, os fatos que
acontecem no Vale são fora de série. Neste livro destacaremos, apenas, os mais
marcantes, que nos colocaram mais no foco dos objetivos.
O primeiro desses fatos foi o
confinamento relativo a que Neiva e eu fomos obrigados. Estamos a apenas alguns
quilômetros de Brasília, temos transporte fácil e próprio, mas raramente
podemos nos afastar do Vale. Isso não só pelas necessidades dos seus habitantes
como, também, das pessoas que nos procuram diariamente. Outro fato que merece
destaque é o sistema econômico do Vale. Durante muito tempo, o Vale dependia
quase que somente de Brito.
Brito é
um caso à parte, uma original vocação espiritual. É desprovido de cultura
intelectual e sua escolaridade não foi além do primário. Mas, desde pequeno,
teve sua vida marcada pelo Nordeste, onde nasceu. Cedo, começou uma vida nômade
e aventureira. Disso resultou uma personalidade marcante, forte e
autoconfiante, característica dos pioneiros na construção de Brasília. Nesse
período, ele se destacou como comerciante, pois seu principal talento é o de
fazer bons negócios e desprezar dinheiro em pequenas quantias. Desde o início
do Vale, até bem recente, ele era apelidado, pelos nossos Mentores, de “o
capitalista da espiritualidade”, pois tudo o que se referia a finanças era com
ele.
Atualmente,
ele se dedica a outros empreendimentos espirituais, e o Vale já conta com
sistema de auto-suficiência que permite manter sua independência econômica.
Mas, durante muito tempo, Brito se incumbiu de prover as necessidades básicas
e, assim, se formou o trio que, até recentemente, era sua base funcional: Neiva
é a Clarividente, a portadora das instruções dos dirigentes espirituais, a
coluna mestra da missão; Brito foi o esteio material, o administrador no plano
humano; e eu, sou o cronista, o intérprete, “o intelectual”, como se diz aqui
com toda a simplicidade...
A M I S S Ã O
E assim prosseguiu a missão, o
preparo das bases que irão esclarecer a humanidade neste fim de era. Daqui
partirá a preparação necessária para a interpretação correta dos fatos
extraordinários que irão ocorrer nos dias que se seguirão. Aqui seremos os
porta-vozes do Espírito da Verdade, que tão alto falou através de Kardec. Não
advogamos exclusivismo, nem julgamos ser os únicos portadores das mensagens
celestiais. Apenas proclamamos nossa autenticidade espiritual, nossa dedicação
integral à ajuda aos nossos semelhantes e a ausência de qualquer interesse,
seja pecuniário ou doutrinário.
Ninguém tem qualquer obrigação para
conosco; nós é que temos obrigações para com a humanidade. Neste livro, seremos
os portadores das notícias de um povo de outro planeta, chamado por nós de o
“Planeta Monstro”, devido ao seu tamanho em relação à Terra. Seus habitantes
são gente como nós, espíritos ocupando corpos físicos. São moleculares, mas sua
composição é diferente da nossa. Seu planeta preside os destinos da Terra desde
o princípio, e seu contato com os terráqueos se faz de muitas maneiras. Nos
momentos decisivos, nas transições da Terra em sua trajetória infinita, esse
contato se intensifica, se materializa. Esse povo sempre viveu entre nós, e nós
sempre vivemos entre eles, e essa convivência sempre foi percebida. Apenas, o
registro dessas relações é que tem sido feito de maneira precária, devido aos
limites naturais dos seres humanos. Também, tais registros nenhuma utilidade
teriam, pois apenas pareceriam interferências no sagrado direito de decisão, no
livre arbítrio.
Para o
ser humano, não é necessário saber como é Deus, nem o que Ele faz ou pretende.
O importante é saber como é o ser humano, e o que ele faz ou pretende fazer.
Mas, a pergunta surge naturalmente: por que, então, esse contato atual, e o que
pretendem eles?
Essas
respostas é que pretendemos dar neste livro.
Para
começar, repetimos a afirmação acima: não se trata de um novo contato, mas,
apenas, uma nova forma de contato. Eles agora virão, como já vieram no passado,
fisicamente. Virão para nos ajudar na difícil e catastrófica passagem deste
milênio para o próximo. Por enquanto, virão como socorristas, para nos conduzir
através dos desastres físicos, psíquicos e espirituais, que se abaterão sobre
nós nos próximos vinte ou trinta anos.
Sua
própria maneira de chegar já são impactos desagradáveis. Mas tais impactos têm
a finalidade de ensaios, de preparação para os acontecimentos do futuro
próximo. Seus aparelhos irão causar assombro, e boa porção da humanidade vai-se
apavorar, mas isso faz parte da sua didática. Muitas vezes é preciso, ao ser
humano, se assombrar e se apavorar para poder enxergar a própria realidade.
Basta
imaginar, por exemplo, um imenso aparelho metálico sulcando os céus em
velocidade fantástica, com resultados danosos para as aerovias, as comunicações
e o equilíbrio da atmosfera, para termos uma idéia do que pode acontecer. Se
quisermos estar, realmente, preparados para esse e outros acontecimentos fora
do comum, devemos, desde já, ampliar o nosso campo consciencional.
Os pólos
da Terra se aquecerão, e o gelo neles contido irá se derreter. A imensa
quantidade de água resultante irá se derramar pelos continentes e, com isso, os
mares mudarão de posição. Terras emergirão e outras serão submergidas.
Montanhas se tornarão pequenas ilhas e rachaduras abissais cortarão a Terra em
todos os sentidos. Os climas sofrerão grandes transformações, e a água e o fogo
se alternarão no fazimento da nova superfície da Terra.
As
modificações orgânicas, resultantes dessas transformações, obrigarão a
adaptações psicofísicas do ser humano atual. Essas adaptações são possíveis,
pois o ser humano mal conhece sua potencialidade. Conceitos de alimentação,
sono e capacidade respiratória terão de ser mudados, para que haja resistência
às novas condições ambientais, principalmente no seu caráter mutável do período
de transição.
O ser
humano dos próximos trinta anos será um excepcional, e nisso os nossos amigos
de Capela irão nos ajudar muito. Seus missionários já estão prontos para a
tarefa, e suas vanguardas já estão ativas em muitos pontos da Terra. Até agora,
eles têm exercido sua missão de muitas maneiras, sempre discretos, sempre
evitando interferir no livre arbítrio humano. Alguns ocupam personalidades
específicas, outros agem como guias espíritas, e a maioria nem faz sentir sua
existência.
Na
verdade, eles estão fazendo muitas experiências, na busca da melhor forma para
sua presença na Terra. Os discos voadores são amostra disso. Entre eles e nós
existe um plano intermediário, o plano etérico. O problema deles é manipular as
forças e homogeneizá-las em cada plano: o deles, o etérico e o nosso.
Sua
maior atividade atual reside na preparação dos seres que irão habitar a Terra
no III Milênio. Milhões de seres humanos freqüentam suas escolas e vão sendo
preparados para o futuro, mas esses seres não têm consciência disso na sua
memória física; sabem-no pela sua mediunidade, sua inspiração. O resultado
desse aprendizado se faz sentir em todas as atividades humanas. Na gigantesca
luta sideral, entre o positivo e o negativo, o bom e o mau transcendentais,
essas lições interplanetárias agem como fator de equilíbrio.
É por
isso que vemos, em meio à selvageria da humanidade, seres bem dotados lutando
pelo lado bom. Esses alunos de Capela são os que procuram amar o próximo
desinteressadamente, os missionários de todas as categorias, os precursores das
idéias novas. Mas, essa escola interplanos não é privilégio de ninguém. Verdade
que há alunos que vão até lá e recebem as lições na fonte, mas para cada
categoria existem escolas próprias. Alguns vão às estações espaciais, que são
as Casas Transitórias, como aquelas mencionadas por André Luiz em “Nosso Lar”.
Outros recebem suas lições aqui na Terra, nas escolas dos Mestres Capelinos que
ocupam personalidades terrenas.
Mas o resultado desses estudos são sempre
dependentes da sagrada capacidade de decisão, do livre arbítrio, condição
fundamental da existência dessas partículas diferenciadas de Deus, que são os
espíritos. Portanto, a tarefa dos nossos amigos de Capela é trabalhosa e
incerta, como são as nossas lides aqui na Terra.
Eles
agem, na situação atual, de acordo com o momentum
da humanidade, a situação real existente. Não foram eles que decidiram que a
situação seria essa, mas, sim, a própria humanidade que assim decidiu. Nem a
Terra, ou os que nela habitam, foram, jamais, condenados a qualquer destino
certo. O destino sempre foi feito pela própria humanidade e a Terra física é,
apenas, a resultante dessa atividade. A Terra é somente o plano físico e a
condensação máxima da potência moldadora do espírito.
Se os espíritos que a habitam têm,
agora, uma Terra em convulsão, num parto doloroso, devem isso a si mesmos, e
não a ela. A Terra é, apenas, matéria – átomos e moléculas organizados – e nós
não somos produtos dela. Isso seria um absurdo em termos de lógica espiritual.
A assertiva de que o Homem é um produto do meio é válida, somente, em âmbito
reduzido. Átomos, moléculas, células e quaisquer outras partículas que compõem
as coisas físicas do planeta, inclusive o corpo humano, são apenas agregados pela
força coerciva do espírito, sua capacidade de retenção magnética.
Para que
possamos compreender isso, é necessário que aceitemos e compreendamos a
transcendentalidade do espírito. Isso nos levará, necessariamente, ao fenômeno
da reencarnação. Para reencarnar, nascer na Terra, nós, os espíritos,
preparamos um corpo, moldado segundo nosso plano encarnatório, e nela habitamos
por algum tempo. Mas, é evidente que nós é que fazemos esse corpo, utilizando a
matéria disponível no plano da Terra, e nos submetendo às leis da dinâmica da
superfície. Seria absurdo dizer que esse corpo é que nos criou.
Conforme
o corpo que criamos, de acordo com nossas possibilidades e nossas intenções,
assim será nossa psique, nossa alma. A contingência física determina o
comportamento, a psicologia do ser na Terra, sua personalidade. Conforme a persona que envergamos, somos a
personagem que atua no palco da vida. Mas os agentes somos sempre nós, os
espíritos. Somos atores de uma encenação gigantesca, que se chama Humanidade!
ESCOLA
INTERPLANETÁRIA
A visão do planeta Capela foi a
abertura de um curso interplanetário, paralelo à missão da Clarividente Neiva.
Desde então, ela foi aperfeiçoando sua carreira sideral, vivendo
simultaneamente em três planos vibracionais: na matéria densa, no mundo etérico
e no plano espiritual.
Na
concentração física, na sua personalidade, ela tem sido submetida a todas as
provas da sua faixa cármica, vivendo a vida de relação com intensidade. No
plano intermediário, na física etérica, ela foi aperfeiçoando seu contato com a
matriz da Terra, o planeta-mãe, também conhecido pelo nome de Capela. No plano
mais alto, o plano espiritual, ela se submeteu aos rigores da missão crística,
com todos os percalços do Caminho da Cruz, do Evangelho e das lições que recebe
dos Grandes Mestres.
A vida é
contínua e a lei que rege seu todo é uma lei única, que costumamos chamar de
Deus. Porém, para cada manifestação, para cada plano existencial, a lei se
manifesta de acordo com Ele. Passamos, então, a falar em termos de “leis”.
Existem, portanto, as leis que regem as várias gradações do plano físico, as
que regem o plano etérico, as que regem o plano astral e as que regem planos
desconhecidos, fora do nosso alcance.
No ser
humano normal, a maior porção da consciência se concentra no plano físico, na
vida de relação com o ambiente. Sua consciência dos outros planos é parcial e
esporádica. Mediante exercícios, práticas iniciáticas e infinitas situações
anormais do plano físico, o ser humano muda o foco de sua consciência, seu estado
consciencional.
Sempre
que isso acontece, ele fica submetido, parcialmente, às leis do plano em que se
concentra. Um bom exemplo dessa situação nos é mostrado pela vida monástica. O
indivíduo se retira da vida de relação normal, submete seu organismo e sua alma
aos rigores das leis que regem seu espírito. O descumprimento das leis que
regem o plano físico produz atrofias e déficits que o afastam das relações normais com os outros
seres. É impossível, por exemplo, ser um monge tibetano e, ao mesmo tempo, um
atleta ou um bom comerciante. Nunca, porém, é conseguida uma vivência perfeita
em tal situação.
Os
reclamos das leis produzem efeitos dolorosos. O ser humano, nesta situação,
procura, então, minimizar as dores, através de artifícios que lhe permitam
manter-se nessa anormalidade, como um pássaro em vôo. Um dos artifícios mais
comuns é a organização em grupo. Para que uns poucos possam se manter em “vôo
espiritual”, outros executam as tarefas de relação. A isso não escapam nem os
anacoretas das mais rigorosas iniciações. As lendas nos dizem que, em atitudes
extremadas, certos místicos da Índia são sustentados por animais, que lhes
levam o parco alimento.
O único
ser humano que escapa, com maior perfeição, dessa situação, é o clarividente.
Difícil, senão impossível, é saber como se forma um clarividente e o porquê da
sua existência. O fato é que são seres raros, e aparecem, vez ou outra, na
história deste planeta.
A
palavra “clarividente” – “ver com clareza” – confunde-se com a palavra
“vidente”- “ver o que não existe”. Confunde-se, também, com “vidência
ampliada”. O termo, como se vê, não faz jus às qualidades do clarividente. Mas
não se cunhou, ainda, um termo mais apropriado.
O que
distingue um clarividente dos seres humanos comuns é o que poderíamos chamar de
“consciência simultânea”, a capacidade de viver a vida de relação em planos
diferentes, sem prejuízo das leis que regem cada plano, e sua possibilidade de
se comunicar, ao mesmo tempo, pelos meios normais, a cada um desses planos.
No
segundo contato de Neiva com os Capelinos, que será relatado mais adiante, ela
estava vivendo normalmente no mundo físico, consciente do solo, do céu, do
mundo vegetal e do seu próprio corpo; psicologicamente, estava consciente da
sua subordinação à instrutora terrena, Mãe Nenen, e de suas obrigações com seus
semelhantes; ao mesmo tempo, ela ouvia e via um casal capelino, e penetrava na
vivência psicológica dele; o terceiro plano, o plano espiritual, se fazia
presente na consciência da sua missão e dos seus votos crísticos. Tudo ao mesmo
tempo.
Essa
complexa vivência resulta, em nosso plano, de várias maneiras: na manipulação
de forças das outras dimensões, ela cura, retifica situações anormais e livra
os seres que a procuram de suas angústias; do contato com os outros mundos, ela
nos dá as notícias mais urgentes, de nosso futuro imediato; do aprendizado com
os espíritos superiores, ela nos traz os ensinamentos crísticos e as profecias.
A
finalidade precípua deste livro é, aproveitando as qualidades da Clarividente
Neiva, divulgar essas notícias e esses ensinamentos. Essa tarefa, entretanto,
seria impossível se não déssemos, simultaneamente, explicações do mecanismo de
contato, dos seres envolvidos e as implicações resultantes.
O ser
revelador – a Clarividente – é, ao mesmo tempo, um ser humano normal. A gente
confunde, muitas vezes, sua personalidade com sua individualidade, e com as
coisas que comunica.
O FATOR
MAGNÉTICO
Em cada
campo vibratório existe um quantum
específico de atração e repulsão – a tônica magnética, o poder coesivo. A
organização molecular mantém a forma de acordo com esse quantum.
O ser
humano tem esse quantum ajustado ao
meio físico, a uma coesão molecular adaptada à superfície do planeta e adequada
aos fatores ambientais.
A
elasticidade do quantum magnético
humano o torna um dos seres mais adaptáveis da Terra.
Mas,
cada ser tem sua tônica específica, conforme seu destino individualizado. Essa
tônica determina sua posição em relação aos outros indivíduos.
À
variação de posição se deve a luta fundamental de campos magnéticos. O contato
no plano físico tem a sua complexidade estudada pela ciência, embora o que se
conhece sobre o ser humano ainda seja pouco.
No seu
aspecto mais simples, esse contato se efetua pelos sentidos, cujo ponto alto é
a linguagem vocalizada.
Mas, ao mesmo tempo em que se
comunica com seus semelhantes, o ser humano entra em contato com seres de outra
natureza, de outras dimensões, de outras organizações moleculares. Esses seres
têm, também, seu campo magnético específico. Para que a comunicação se efetive,
ambos têm que mudar sua tônica e flexioná-la de acordo com suas categorias e as
finalidades do contato.
Esse
tipo de comunicação é do domínio da ciência espiritual, do mediunismo, do
espiritismo, do espiritualismo, etc.; nomes que se dá às diferentes doutrinas
ou técnicas de manipulação de forças.
A
experiência mediúnica mostra que esses contatos provocam uma perda relativa de
consciência do plano físico, os chamados estados de transe mediúnico. O grau de
consciência, ao ser feito o contato mediúnico, determina a qualidade ou
categoria do médium. A comunicação feita pelo processo cerebral, pela
sensibilização do sistema endócrino, com centro na glândula pineal, e do
sistema nervoso, muda o foco da consciência, embora os sentidos continuem
alertas. Esse tipo de mediunidade é chamado, na Corrente Indiana do Espaço, de Doutrina. Nesse caso, a eficiência na
comunicação é apenas pequena porcentagem da captação normal dos sentidos. Ela é
filtrada pela razão e exteriorizada pelos sentidos normais.
Se o
contato se faz pelo sistema nervoso central, com base no plexo solar, a perda
de consciência é muito maior. O médium, nesse caso, é chamado de Incorporação, isto é, o ser que se
comunica entra em contato direto com seu sistema nervoso. Ele se apossa dos
controles e a mensagem é transmitida diretamente através do médium. Mesmo
assim, a comunicação não é perfeita, pois a perda de consciência do médium é
apenas parcial e variável.
Na
realidade, o fenômeno mediúnico envolve outros fatores, embora a resultante, na
prática, seja sempre a mesma, que é a precariedade da comunicação.
Seres de
organização molecular mais sutil, cujo habitat é fora da faixa reencarnatória,
se utilizam do mesmo processo de comunicação. Nesse caso, eles se densificam,
isto é, contraem suas moléculas, e sintonizam sua tônica magnética com o
médium. Desse complexo encontro de campos vibratórios resultam, normalmente,
alterações do ambiente psíquico. A presença de um espírito de alta hierarquia
deixa duradoura emanação de bem-estar. O fenômeno é amplo e variável. Na
maioria das vezes, o espírito comunicante apenas se projeta no médium de forma
semelhante à imagem de TV, nesse caso permanecendo no seu plano ou em algum
plano intermediário.
Os
mecanismos mediúnicos são muito variáveis e habitualmente se conhecem, apenas,
os mais simples, como a vidência, audiência, olfatação, psicografia,
incorporação, intuição, etc. Há muita coisa, ainda, a dizer sobre isso, pois o
fenômeno é muito complexo. Outra forma de contato sutil é pelo desligamento do
espírito do ser humano. O espírito se liberta do campo vibratório do corpo
físico e penetra em outros planos, conservando o contato por um cordão
fluídico. No plano em que vai operar, ele se entrosa e executa sua tarefa,
retornando, depois, ao corpo. Muitas vezes, nessas excursões, ele delineia
planos a serem executados pela sua personalidade. A eficiência, nesse caso,
depende de sua capacidade na impregnação do ser sob seu comando, daquilo que
pretende. Novamente o problema se apresenta em termos de precariedade.
Conclui-se daí que a comunicação interplanos é difícil e complexa, mas essa
dificuldade apenas mostra a Sabedoria Divina, que garante, em cada plano, a
execução das tarefas fundamentais. Houvesse maior permeabilidade e o ser humano
seria um indeciso permanente, e pouca coisa se completaria em cada plano.
Daí a
raridade dos seres como a Clarividente Neiva, cuja existência faz parte de uma
meta definida nos planos siderais. Ela se comunica, em cada plano, com
perfeição, e conserva, num sistema de memória, as coisas dos três planos. É
comum ela dizer coisas assim: “Ontem estive com Pai Seta Branca e ele me deu
instruções com relação àquele assunto...”
O
importante, porém, é que as coisas comunicadas não são de sua lavra, de sua
elaboração. Ela é, apenas, o instrumento, a intermediária, a médium. Sua
simplicidade humana, a ausência de qualquer sofisticação intelectual e penhora
à missão são algumas das garantias de autenticidade. Ela representa o Espírito
da Verdade, cujas mensagens não precisam ser provadas ou comprovadas, pois
trazem, no seu bojo, as provas da sua veracidade. Toda sua carreira missionária
foi positivada pelos resultados exatos, conforme a natureza da ação.
O CASAL DE
CAPELINOS
Conforme
descrevemos no início, o primeiro contato com os Capelinos foi breve e se
passou no interior de uma nave, da qual lhe foi mostrado o planeta. Isso
acontecera em 1959, e fora um preparo para futuros contatos.
Em fins
de 1960, o grupo que se havia formado em torno da Tia Neiva instalou-se como
comunidade espírita, num lugar chamado Serra do Ouro, próximo a Alexânia, a
meio caminho entre Anápolis e Brasília. Nesse tempo o grupo já se habituara com
o trabalho mediúnico e as relações com os espíritos se processavam normalmente.
Incorporações, transportes, vidências, intuições e toda a gama de fenômenos
eram rotina na UESB (União Espiritualista Seta Branca), como se chamava a
comunidade.
Neiva
não era a única médium, pois ali todos o eram. Dentre eles, havia excelentes
médiuns para cada especialidade. Destacava-se a figura de um rapaz, chamado
Jair, cuja inconsciência durante o transe permitia o recebimento de mensagens e
instruções autênticas.
Mas, nem
Neiva, nem os outros médiuns, tinham conhecimento muito nítido das diferenças
entre os planos. Para eles, existiam apenas o plano físico e o plano
espiritual. Tudo que não fosse perceptível pelos sentidos era espiritual.
Também não se especulava a natureza dos planos espirituais. Não havia, na UESB,
tempo ou lazer, face ao trabalho exaustivo e contínuo de atendimento aos
angustiados e doentes. Havia, ainda, a preocupação na manutenção das cento e
vinte pessoas que ali moravam.
Neiva
trazia consigo a preocupação daquele transporte no qual vira Capela. O fato de
lhe ter sido dito que se tratava de um planeta físico a deixara ansiosa por
maiores explicações. Nesse tempo, porém, ela estava em fase de aprendizado, e
as lições lhe eram ministradas gradativamente. Os espíritos que a assistiam,
com quem ela conversava ao natural, se alternavam conforme o ângulo a ser
ensinado.
Certa
tarde, ela sentiu-se inquieta, sem saber qual o motivo. Em dado momento, ela se
encaminhou para a encosta de um pequeno morro que limitava o terreno, e lá se
deitou sobre a relva. Sem sentir os sintomas habituais de transe mediúnico, ela
subitamente viu uma caverna enorme, como se fosse um grande arco de pedra e sem
fundo. Através dela, Neiva divisou uma extensa planície, iluminada por cores
variadas, e ponteada por árvores simétricas. Ela continuava deitada, mas, ao
mesmo tempo, sentiu que penetrava naquele quadro.
Nisso,
surgiu um casal andando e conversando, parecendo ignorar sua presença. Neiva
percebeu que a conversa girava em torno da Terra, seus problemas e sua
evolução. Mas, mesmo fascinada pelo que via e ouvia, ela sentia a terra sob seu
corpo e, na sua tensão, fechou as mãos na relva que a cercava, com plena
consciência disso. Como se não bastasse a prova de seus sentidos, ela ouviu seu
nome pronunciado por Mãe Nenen, e se apressou a responder.
Mãe
Nenen a repreeendeu por ter saído sozinha e por se arriscar a um resfriado,
deitada como estava na terra úmida. Preocupada em não alarmar sua instrutora,
ela relatou o que estava vendo, mas esta, na sua zanga, não deu importância ao
que ouvia. Pesarosa, Neiva acompanhou-a de volta ao centro da comunidade.
Enquanto caminhava ao lado de Mãe Nenen, que a aconselhava, cheia de cuidados,
Neiva permaneceu olhando o casal que ficava para trás.
Pelo que
vira e ouvira, ela ficara sabendo que os dois eram habitantes do planeta que
lhe fora mostrado um ano antes. A partir desse dia, compreendeu melhor a
natureza desses seres e percebeu a diferença entre eles e os espíritos com quem
mantinha contato habitual. Os espíritos eram apenas espíritos, mas eles eram
seres físicos, relativamente iguais a nós, e habitavam um mundo físico muito
semelhante à Terra.
Sua
aparição não tinha a qualidade diáfana dos espíritos, e sua emanação produzia
um efeito incômodo no seu corpo. Anos depois, foi-nos explicado o mecanismo
dessa visão. Trata-se de um processo sutil, mas mecânico, que se liga
diretamente ao processo sensorial da Clarividente, produzindo, inclusive, os
incômodos a que aludimos.
Esse
casal não voltou mais. Mas, outros têm-se apresentado, e Neiva, hoje, conhece
uma boa parcela de habitantes de Capela. Aos poucos, iremos relatando esses
contatos e delineando seus processos de comunicação, na medida em que eles nos
explicam. Iremos descrevendo episódios passados, na proporção que a clareza
exija. Este livro está sendo escrito por mim, mas orientado por eles, através
de Neiva. Ela e eu somos apenas instrumentos, apenas médiuns.
PRIMEIRAS
DEMONSTRAÇÕES
No dia
14 de fevereiro de 1961, o médium Jair incorporou um espírito que declarou
chamar-se Johnson Plata, habitante de Capela, e cuja missão era anunciar uma
demonstração fenomênica a ser feita pelo seu povo, em nosso plano. Conforme
anunciado, às oito horas da noite, apareceu um clarão no céu e, mesclado com as
nuvens, formou-se um quadro no qual se distinguia, com nitidez, a figura do
Mestre Jesus, ladeado por seus apóstolos. A tonalidade da figura era prateada
e, por trás do quadro, viam-se três pontos de luz, que davam idéia de formar
uma estrela.
Apesar
do aviso recebido, houve certo alarme na comunidade, pois todos viram o quadro.
Mas, o ambiente formado foi balsâmico e alguns doentes, internados no pequeno
hospital da UESB, declaram-se melhor de seus males. A pessoa mais empolgada foi
Neiva. Diante da demonstração, ela sentiu certa confusão. Se as coisas podiam
se processar assim, materialmente, por que toda essa complicação mediúnica? Mas
sua confusão durou pouco, pois seus guias espirituais se apressaram a lhe
explicar. O penoso caminho mediúnico tinha relação direta com a Lei Cármica, a
lei de causa e efeito, cuja vigência leva à retificação dos desmandos
anteriores da presente encarnação.
Mas, as
dúvidas persistiam, e só os acontecimentos posteriores fizeram-na compreender
as palavras de Jesus: “Não julgueis que vim abolir a lei e os profetas; não os
vim abolir, mas levar à perfeição; pois em verdade vos digo que, enquanto não
passarem o céu e a terra, não passará um jota em um ápice sequer da lei, até
que tudo chegue à perfeição”.
Algum
tempo depois, Neiva, muito preocupada com os problemas da comunidade, sentiu-se
doente e com febre. Procurou, então, um remédio, um antitérmico, mas não
encontrou. Sentiu que piorava e entrou numa espécie de delírio. Deitou-se na
cama, procurando evitar que os outros se alarmassem. Nisso, lhe apareceu um
homem verde, vestido de preto e com um cinturão cheio de botões de controle.
Doente como estava, ela sentiu-se irada com sua presença. Mas, no seu respeito
habitual pelos espíritos, ela o saudou com um “Salve Deus!”. Ao mesmo tempo,
ela sentiu certo temor, devido ao absurdo de sua cor.
Ele
respondeu com a mesma saudação e Neiva esperou que ele explicasse a razão da
sua presença. Nisso, porém, ouviu uma voz que a chamava, aflita, do lado de
fora da pequena habitação. Alguém estava morrendo e sua presença estava sendo
solicitada com urgência.
Um pouco
prostrada pela febre, vacilou em se levantar. As vozes, lá fora, continuavam em
exclamações aflitas e, no meio da algaravia, ela distinguiu uma frase estranha
que lhe deu a entender algo absurdo. Um homem estava morrendo por lhe terem
aplicado uma injeção azul! Isso provocou-lhe uma desconexa associação de idéias
e, sem saber porquê, ela atribuiu aquilo ao visitante, julgando tratar-se de
ato dele.
-
-
Veja o que você fez ao pobre homem! Você o matou!
A
resposta do homem verde foi telepática, e ele fê-la ver que estava errada, que
nada de mal ele fizera.
Ela saiu do aposento, e foi atender ao paciente. O
visitante a acompanhou, mantendo-se na sua vidência. O homem, um cliente
habitual da UESB, havia tomado uma injeção numa farmácia e entrara em choque.
Na sua simplicidade, a única coisa que seus acompanhantes sabiam dizer era que
a injeção aplicada era azul. O homem verde sugeriu, então, a Neiva algumas
providências e, em pouco minutos, o homem voltou ao normal.
Nessa altura ela percebeu que sua febre desaparecera e se
sentiu envergonhada do juízo que fizera do seu visitante. Este se despediu com
um sorridente “Salve Deus!”, que ela se apressou em responder com humildade.
Mo dia seguinte, a febre voltou e Neiva entrou na fase
pior da sua faixa cármica. À noite, ela teve uma pneumonia e, pouco depois,
estava tuberculosa. Essa doença durou alguns anos, chegando a levá-la a
internamento num hospital de Belo Horizonte, onde ingressou em estado de coma.
Para surpresa dos médicos, que não viam salvação para
ela, saiu de lá três meses depois. Durante esse período, ela foi uma
demonstração viva dos poderes do espírito, pois, além de tuberculosa, tinha um
câncer no pulmão. Mas, saiu do hospital, continuou se tratando com medicamentos
extremamente fortes, com base na hidrazida e, alguns anos depois, foi declarada
totalmente curada. Esse moléstia, entretanto, deixou-a com reduzida capacidade
respiratória, e um enfisema que lhe produz dores permanentes.
E, assim, o tempo foi passando, entre dores e atividades
ininterruptas. Penosamente, Neiva aprendia os percalços da sua missão. Suas
dores físicas a obrigavam a dosagens cada vez maiores de autodomínio e
paciência consigo mesma. Agora ela distinguia os planos com mais clareza. Saía
do corpo, sentia-se leve e saudável, mas cada retorno era uma prova de
estoicismo.
Um dia,
Johnson Plata tornou a se apresentar, e anunciou nova demonstração do seu povo.
Logo depois, os médiuns se reuniram e Neiva incorporou Pai Seta Branca. Através
de seu aparelho, ele conversou com todos sobre os problemas da comunidade, e
foi respondendo às perguntas que lhe eram feitas.
Em dado
momento, ele levantou o braço da médium e, com enorme explosão, um raio caiu
sobre ela. Como não havia sinal de tempestade, o susto foi enorme, chegando a
se estabelecer um princípio de pânico.
Serenados
os ânimos, a entidade deixou o aparelho como se nada houvera, e alguns chegaram
a duvidar que acontecera qualquer coisa de anormal. Mas, as provas eram demais
eloqüentes. Os que estavam mais próximos da médium incorporada viram quando seu
corpo avermelhou, como se estivesse em brasa. O banco, onde estivera sentada
antes da incorporação, estava em pedaços. A vegetação em torno da habitação
estava toda chamuscada. Os presentes tiveram os pelos das partes expostas
também chamuscados. Uma pequena árvore, existente ali perto, estava partida ao
meio. Mas ninguém havia sofrido qualquer dano sério, incluindo duas moças em
adiantado estado de gravidez.
Desde
então a mensagem foi compreendida. Os espíritos que se comunicavam conosco eram
seres físicos, lidavam com processos materiais, diferenciados, portanto, dos
processos dos espíritos, e tinham uma tarefa a executar.
Depois
disso, foram feitas várias experiências, na busca da melhor forma de contato
entre eles e a Terra. Por último, chegou-se à conclusão de que o contato feito
diretamente através de Neiva, a quem transmitem as instruções, como em sistema
de projeção, de forma semelhante à transmissão de imagens de televisão,
representa a forma mais adequada e prática.
Às
vezes, eles se projetam de Capela, e outras, de espaçonaves, chamadas estufas e chalanas. Estufa é a nave-mãe, e chalana uma nave menor, que se
desprende dela. Existem alguns lugares na Terra em que eles estabeleceram
bases, dentre eles os Himalaias e os Andes. Esse sistema, entretanto, não
invalida outras formas de contato. Neiva tem-se transportado a muitos lugares
desconhecidos e, nem sempre, tem consciência plena de todos os planos. As
situações variam de acordo com as necessidades. Ela, porém, sempre se lembra do
que fez, embora seja sempre demasiado discreta sobre as coisas que vê. Isso,
entretanto, é bem compreensível. Nossa reduzida capacidade mental pode deformar
a comunicação, o que é fácil de acontecer, e, por isso, ela prefere se calar.
Às
vezes, suas chalanas se tornam visíveis a olho nu. Isso, devido a experiências
e ensaios, pois a próxima etapa será a da sua presença física na Terra. Por
enquanto, apenas sabemos que eles são físicos e que se preparam para vir como
são. Atualmente, eles se desintegram do seu plano físico e se tornam etéricos.
Nesse estado, eles se comunicam. Em pouco tempo, eles sairão do etérico para
nosso plano, e serão físicos, como nós.
O JANGADEIRO
SOLITÁRIO
O
entrosamento dos Capelinos foi e tem sido cauteloso. Os planos, dos quais eles
são os executores, envolvem toda a complexidade dos problemas transcendentais.
Nós, habituados ao racionalismo da experiência sensorial, custamos a relacionar
os fatos. Felizmente para nós e para todo o sistema, as coisas de nosso destino
mais amplo se realizam, sem que tenhamos necessidade de abarcá-las com nossa
reduzida percepção.
Temos
percebido esse fato em nosso contato com as pessoas que nos procuram e que se
consideram “iniciadas”. Invariavelmente, o foco de suas angústias são as falsas
interpretações da realidade. É por isso, talvez, que a Cabala judaica adverte
que “o grande não cabe no pequeno...”
A base
física de nossa alma é o corpo e, mais diretamente, o cérebro e o sistema
nervoso. Esse conjunto é perfeitamente adequado à nossa vida de relação. Nesse
complexo harmonioso está registrado todo o conhecimento atávico, acrescido do
aprendizado atual. Mas, esse registro, essa experiência acumulada, é bastante,
apenas, às necessidades do ser físico, do espírito encarnado e não vai além de
certo limite.
Esse
limite é a própria experiência de cada personalidade e sua capacidade na
verificação dos fatos, cujas matrizes são preexistentes no seu sistema.
Sem
dúvida, o ser humano elabora, imagina e constrói abstratamente. Mas sua
concepção, por mais dimensionada, é sempre limitada pelo máximo possível de
cada indivíduo. Sempre que ele se afasta da sua verdade, ele se perde, “como
pássaro que tenta voar na escuridão da noite” (Mensagem de Pai Seta Branca em
1972)
Essa
advertência amiga é para a precaução daqueles que julgam ser o Homem o centro
do Universo. Sem dúvida alguma, nós pertencemos a um Todo, do qual somos
partículas diferenciadas, com certa autonomia e vida própria. Temos o nosso
limite que, naturalmente, é conhecido do Todo, sendo impossível, para nós,
conhecermos o limite do Todo. Aquele que tenta conceber o inconcebível, o
infinito, se perde nas abstrações, mas nosso destino humano, as razões de nossa
existência, são perfeitamente concebíveis por nós.
A
Clarividente Neiva teve que ser levada até os últimos estágios de seus limites
humanos. Isso para que estivesse apta a perceber os horizontes maiores do seu
ser superdimensionado. Sua personalidade sofre, e continua sofrendo,
alijamentos graduais, em benefício da sua individualidade, do seu espírito.
Nesse
contínuo lapidar, dois fatos se destacaram: seu problema físico e seu problema
sentimental. Fisicamente, o absurdo de ser atacada por moléstia insidiosa como
a tuberculose, ir parar num sanatório especializado, ver comprovada a moléstia
e sair viva três meses depois; sentimentalmente, por ter-se tornado uma viúva,
com vinte e dois anos de idade, ser mãe de quatro filhos e amá-los de todo seu
coração, sempre, porém, vivendo na maior solidão.
A doença
física, superada naquelas condições, obrigou-a a reconhecer sua condição de
mensageira das altas esferas e diferenciá-las da sua condição humana.
Nisso
seus mestres tiveram um êxito relativamente fácil. O próprio fato de uma
moléstia comprovada clinicamente, causadora de dores atrozes e constantes, e
que a levou quase ao desencarne, ensinou-lhe a maior lição.
Durante
o decorrer da doença, até mesmo no hospital de irmãs de caridade, ela continuou
sendo portadora de fenômenos mediúnicos. Em meio a uma crise de hemoptise, ela
se mediunizava, adquirira um tom normal, sorria, atendia um socorro espiritual,
uma angústia de alguém, e, no momento seguinte, voltava a ser a doente grave.
Esse fato, repetido e comprovado por inúmeras testemunhas, ensinou-lhe a se
dominar e estar, dia e noite, à disposição dos seus superiores espirituais.
No
terreno sentimental, a experiência foi mais sutil, e começou no período em que
ela desenvolvia suas difíceis técnicas mediúnicas: o transporte e o
desdobramento.
Embora
parecidas, as duas coisas são diferentes.
No
transporte, a parte consciente do espírito sai do corpo e este permanece no
plano físico, sendo, apenas, uma pessoa que dorme. O que sai, que nós estamos
chamando de “parte consciente”, é chamado e classificado de várias maneiras,
conforme a corrente iniciática. Na verdade, consideramos o fenômeno como de
difícil, senão impossível, entendimento da nossa razão limitada. O mais comum é
se dizer que o espírito é que sai do corpo.
Mas, o
transporte é um fenômeno que nos dá uma idéia muito nítida de duas entidades
separadas: a alma e o espírito. O corpo que dorme tem toda sua vida em pleno
funcionamento, e está, portanto, dirigido pelo seu princípio anímico, sua
psique, sua alma. A outra parte, que chamamos, talvez indevidamente, de “o
espírito”, fala, pensa, comunica-se e, como no caso de transporte com fonia,
fala através do corpo.
No
desdobramento, o médium apenas projeta uma parte de si mesmo. Essa projeção
“vai” ao outro lugar, executa o que tem a fazer, mas com pleno domínio nos dois
locais. Conforme as condições técnico-mediúnicas, a parte projetada pode até se
materializar no local. Temos, assim, caracterizado o fenômeno da ubiqüidade, a
presença simultânea de uma pessoa em dois locais diferentes. Mas o ser humano
desdobrado não precisa, necessariamente, se materializar no local onde vai.
Geralmente, os objetivos não exigem isso. Qualquer pessoa pode fazer uma
experiência de desdobramento. Forjemos um exemplo: uma mãe está preocupada com
um filho que faz uma viagem. Ela não tem certeza de que lhe fez todas as
recomendações. Concentra-se, às vezes no meio de um afazer doméstico, e
visualiza o filho no local em que está. Esse, sem saber o que se passa, lembra
dela e recebe os conselhos, como se a estivesse vendo e ouvindo. Ela sai da
abstração, o fenômeno cessa, e ele continua, tranqüilamente, sua viagem.
O
desdobramento de aplica em missões na superfície da Terra e mais em fatos
humanos. No caso de Neiva, às vezes ela está atendendo a uma pessoa que lhe
conta um fato qualquer, relacionado com outra e em outro ambiente. Enquanto
conversa, ela se desdobra, vai ao local, vê a pessoa, e volta, tudo numa fração
de segundo, e se torna mais apta a orientar a pessoa. É, também, muito comum as
pessoas procurarem Neiva antes de uma viagem, para saber se tudo vai correr
bem, se podem viajar. Ela, usando o mesmo expediente, verifica os perigos da
viagem e aconselha que ela seja feita ou não. Nesse caso, além do transporte,
ela usa a capacidade de projeção no futuro, vendo o quadro do que ainda não
aconteceu no plano físico. Na verdade, o desdobramento tem ampla gama de
aplicações, bem como de maneiras de ser feito.
Mas,
para ir a outros planos, relacionar-se com outros seres e cumprir tarefas, ela
é obrigada a se transportar. Sem isso, seria praticamente impossível ela
executar sua missão de Clarividente. Na verdade, o transporte é feito por todos
os seres humanos, principalmente pelos médiuns desenvolvidos. A diferença,
porém, entre Neiva e os outros médiuns, é que estes têm pouca ou nenhuma noção
do que fazem, enquanto Neiva é completamente consciente disso.
Sua
experiência sentimental foi possível graças à facilidade em se transportar.
Naqueles dias, ela ainda era dominada pelo plano físico, o senso puramente
humano do que fazia. A sujeição a que era obrigada nos transportes a irritava,
principalmente pela dificuldade em racionalizar o que via.
Certa
noite, ela saiu do corpo e se achou, sem saber como, próxima ao mar. Embora ela
não as visse, havia dois espíritos – Marta e Efigênia – que costumavam
protegê-la nessas experiências. Elas a conduziam diretamente ao local visado,
e, com isso, poupavam muita complicação em sua mente.
O lugar
onde se achou era uma enseada tranqüila e, naquela noite, banhada pelo luar.
Levada
por um impulso, ela se aproximou da luz de uma cabana solitária e, chegando até
a porta, atravessou-a. Nela havia um homem que escrevia, sob a luz de um
lampião, que, ao percebê-la, levantou os olhos, admirado. Aparentava uns
quarenta e cinco anos, tinha os olhos verdes, e seus cabelos eram grisalhos nas
têmporas.
Ela
permaneceu parada, ambos se olhando como em sonho. Mas Neiva ouvia
perfeitamente o marulhar das ondas de encontro às pedras. Quando ele se
compenetrou que sua visão era real, demonstrou espanto. As palavras surgiram,
espontâneas, sob a forma telepática e, logo, ambos se identificaram. A situação
logo se racionalizou. O homem era uma criatura normal e ela era apenas um
espírito. Ele logo a batizou de “sua musa” e passou a dialogar com ela.
Nessa
noite, Neiva voltou para o corpo com a sensação agradável de ter encontrado um
amigo.
Tão
pronto suas condições permitiram, ela voltou a visitá-lo. Por razões que Neiva
não entendia bem, assim que ela chegava ele se dirigia ao seu barco,
acompanhado dela. Talvez por recordações da sua infância no Nordeste, Neiva
julgava que o barco fosse uma jangada. No relato de suas aventuras aos seus
íntimos, ela se referia ao homem como “o Jangadeiro”. Mais tarde, já com pleno
domínio de seus transportes, ela verificou que o barco era maior do que pensava
e que o solitário marujo tinha uma atividade qualquer no mar. Chegou, mesmo, a
pensar que ele fosse um contrabandista, pois, sempre que ela chegava, ele saía
com seu barco pela baía, carregava mercadorias, aproximava-se de outros barcos,
sempre atento na sua presença.
Essa
amizade sentimental despertou em Neiva o interesse pelo transporte e o domínio
de suas técnicas. O envolvimento afetivo com o Jangadeiro levou-a à troca de
confidências com ele. Interessou-se pela sua vida e seus relatos a faziam
compreender as coisas da vida espiritual e as complicações cármicas. Na medida
em que amadurecia, ela se foi compenetrando melhor de sua vida e de seus
poderes. Pôde, assim, ajudar o Jangadeiro em suas complicações familiares. Sua
vida de solidão se devia a um incidente havido com sua esposa, cuja morte lhe
era atribuída. Isso o separara, também, de um filho, de quem sentia imensas
saudades.
Neiva,
então, manipulou seus poderes espirituais e conseguiu equacionar os problemas
dele. Depois de algum tempo, ele se reconciliou com o filho e se casou com
outra mulher. A partir daí, Neiva se afastou de sua vida. Essa amizade original
havia durado dez anos!
Muitas
vezes, ao discutir o problema com os Doutrinadores, Neiva pensou em procurá-lo
pessoalmente, pois sabia perfeitamente o local. Mas acabou perdendo o interesse,
face à roda viva de sua vida missionária.
Agora,
talvez, esse interesse seja renovado, pois temos a informação de que o
“Jangadeiro Solitário” é um Capelino. Sua missão fora aplainar o caminho da
jovem missionária. Ele foi o elemento palpável que ligou o dualismo natural de
Neiva, sua forte personalidade de um lado e as obrigações de seu espírito, do
outro.
Talvez,
se esse Capelino ainda estiver na Terra, ele leia este livro e se recorde
disso.
NÓS E O
UNIVERSO
Num
artigo que apareceu em O Estado de São
Paulo, em novembro de 1972, três cientistas de renome mundial fizeram
declarações a respeito de pesquisas de comunicação com outros mundos. Dentre os
argumentos apresentados, destacamos o fato de que existem 18.000 mundos em
condições semelhantes à Terra, calculados pela Ciência, e 250 bilhões de
estrelas e planetas! Lemos, em outro artigo, que na constelação de Escorpião
existe uma estrela tão grande que, se ela se deslocasse de sua órbita e
tentasse passar entre o Sol e a Terra, colidiria com os dois! Números realmente
fantásticos.
A
quantidade de mundos possivelmente habitados nos leva a pensar no grau de
adiantamento ou de atraso desses possíveis habitantes. E ainda, naturalmente,
estabelecemos, como ponto de referência, nossa própria civilização, nosso
próprio meio físico. Mas esse pensamento, lógico apenas na aparência, não
resiste a uma análise mais profunda. Se compararmos a Terra com essa imensidão,
veremos logo que ela é apenas um ponto insignificante no Universo. Não parece
lógico, portanto, pensar que as formas de vida, possíveis nesses outros mundos,
devam ocorrer segundo conceitos de um dos menores dos mundos.
Nesse
sentido, a ficção científica é mais coerente que as concepções puramente
científicas, que, aliás, são poucas.
Por
outro lado, a impossibilidade atual, ou em futuro previsível, de se chegar aos
mais próximos mundos, já está claramente visível, haja vista as tentativas de
contato com os corpos do sistema solar. Por mais que acreditemos em nossa
capacidade técnica, por mais perfeitas que sejam as máquinas e os meios de
propulsão que temos ou venhamos a inventar, ainda nos deparamos com um
obstáculo: a fisiologia humana. Conseguimos enviar sondas a Vênus e Marte, mas
o envio de seres humanos é duvidoso. Não podemos preconizar limites às
invenções humanas e sua capacidade de manipulação das forças físicas, mas o
próprio limite humano nós já conhecemos.
Quando
nos referimos aos limites humanos, queremos dizer, também, seus outros
aspectos, não somente o físico. As próprias condições fisio-econômicas do
planeta já exigem, cada vez mais, as atenções da Ciência para o simples fato da
sobrevivência da espécie. Isso irá chegar a um ponto em que a própria
humanidade se rebelará, ou se sentirá incapaz de maiores dispêndios
interplanetários.
Quanto a
encontrar meios de sobrevivência em outros mundos, a idéia não parece ser muito
prática. Temos dúvida que a organização sideral coloque à nossa disposição
outros mundos para que continuemos uma civilização que se caracteriza pelas
contradições.
Mas, o
sonho humano é grandioso e nos rebelamos com o cerceamento. Graças a isso,
chegamos até à Lua, e não aceitamos impedimentos na busca do desconhecido. Essa
é uma das nossas grandes qualidades, e é por isso mesmo que nossos amigos de
Capela estão procurando nos mostrar o caminho. O Homem tem, ainda, muitas
oportunidades de refazer sua rota. Basta que seja lembrado de que a humanidade
conhece muito pouco de si mesma, da sua natureza. Mesmo o aspecto físico do
planeta é pouco conhecido, e nós, na realidade, estamos à mercê dos seus
caprichos. Algumas manchas no Sol e pronto, tremendas catástrofes açoitam
populações de países inteiros.
Se nosso
controle do meio-ambiente é quase nulo, menor ainda é o controle dos seres
humanos. A maior prova disso é o crescimento demográfico. Sente-se, claramente,
que estamos num vôo cego e acelerado. Não temos a menor idéia para onde
caminhamos, mas não sabemos ou não queremos parar.
É por
essa e outras razões que os Capelinos estão chegando, agora, fisicamente. No
ciclo atual, nestes últimos dois mil anos, eles têm empregado enormes recursos
de persuasão. Nossos Mestres tudo têm feito para a retificação de nossos
caminhos desatinados. Quem são esses Mestres? Para que tenhamos uma resposta
clara, é necessário que analisemos certos fatos reais. Dentre eles, temos que
fazer nova análise do nosso antropomorfismo, que deriva da idéia do Homem como
centro do Universo. Sim, porque pensamos sempre em termos da forma humana ou
seus derivados. Por que, até mesmo nos mundos imaginosos da ficção científica,
os seres são, apenas, deformações humanóides?
A
resposta nos parece clara e simples: essa forma é o limite do ser encarnado,
qualquer que seja a dimensão onde penetre. Ele não tem possibilidades na
formação de idéias além da sua experiência, da sua alma; o Universo é imenso,
mas o universo humano é limitado, finito. Mesmo que, por hipótese,
considerássemos os conceitos teológicos, místicos e religiosos como
científicos, ainda assim estaríamos encerrados na redoma de nossas concepções.
Mesmo a “revelação” religiosa se traduz, sempre, na ideologia, num sistema
fechado.
A
Teologia e a Ciência representam os pólos extremos de nossa alma, mas ambas
correspondem, apenas, a uma realidade aparente. A Teologia nos fala da alma, do
espírito e da natureza de Deus, apenas como concepções estratificadas nos momenta filosóficos e sociais. A
Ciência, encerrada nas conceituações do mundo denso da matéria, apresenta o
Universo apenas num dos seus aspectos – o físico – e o considera como sendo o
todo.
A ambas
falta uma realidade mais palpável, algo que corresponda a resultados
verificáveis, pelo menos relativamente, ao conjunto do Universo. Falta ao juízo
humano o conhecimento do intermediário, do fenômeno entre os dois extremos, dos
acontecimentos reais, palpáveis, sensíveis do cotidiano, mas que não são
explicados em nenhum dos extremos citados.
Esse
conhecimento inexiste na alma, mas pertence ao espírito. É preciso que o
espírito o transmita à alma; que a individualidade se comunique com a
personalidade. É, portanto, no fator comunicação que o problema se situa. A
alma age à vontade no seu arbítrio limitado, até que chegue o tempo do
fechamento do ciclo, do fim da oportunidade. O espírito, então, toma conta dos
acontecimentos e toma as rédeas onde a alma não soube prosseguir.
Essa
tomada de posição do espírito é o que assistimos na atualidade, num processo
emergente dos últimos três séculos. Isso aconteceu, também, nos outros ciclos,
nas civilizações anteriores. Em nosso tempo, no crepúsculo da atual civilização,
esse fenômeno se apresenta contundente à nossa verificação física, sensorial.
É nesse
plano que devemos situar os fenômenos parapsicológicos, no seu sentido exato de
além do psicológico. Nesse âmbito é que estão contidas as iniciações, as
práticas esotéricas, o mediunismo, o espiritismo, a parapsicologia, que
poderiam ser englobados num termo único: Ciência Espiritual. Mas, antes da
concepção, existem os fenômenos, os fatos. Não foi o Espiritismo que criou
espíritos autônomos, sem corpo físico, mas, sim, os espíritos é que forneceram
as bases para o relacionamento com eles. E foi apenas o hábito mental
estratificado e o dualismo ciência-religião que deu características religiosas
à obra de Kardec. É por isso, talvez, que ele declara nos portais de sua obra:
“Se o Espiritismo não se tornar Ciência, ele perecerá!”
Isso nos
leva à conclusão de que o processo religioso terá que retroceder até o processo
científico, e que a Ciência terá que avançar até nas proximidades da Religião.
E, pelo que está acontecendo, isso não será uma atitude deliberada, de
prudência, mas, sim, compulsória. Quase dois mil anos de debates e lutas! Dia a
dia, em ciclos concêntricos, cada vez mais apertados, as leis transcendentais
vêm se manifestando.
Estamos,
nossa civilização, na condição de pacientes, no qual os sintomas da moléstia,
começada com dores leves, se agravam. É chegado o momento da intolerância, e
temos que recorrer ao hospital, aos médicos. Urge a presença dos facultativos.
Assim
está Capela para nós. Durante todos esses séculos, eles nos advertiram, sempre
respeitando nosso livre arbítrio e nossa necessidade evolutiva. Como
professores que acompanham as dificuldades dos alunos, eles sofreram conosco,
inventaram novos métodos de ensino, aperfeiçoaram os contatos e buscaram todas
as formas de nos mostrar o caminho. Sua constante atividade transparece em
todas as conquistas humanas através dos tempos.
Os
percalços da marcha se devem à bipolaridade natural da Lei. Negativo e positivo
resultam em vida. Não existe vida sem os dois fatores. O problema fundamental
do ser humano é ter que decidir entre duas opções eternas. Agora é chegado o
momento da nossa prestação de contas. A Lei nos alcança, não com a punição, mas
com a necessidade intrínseca do reequilíbrio. Para que o reajuste se faça, é
preciso frear, talvez, com violência.
Nossos
mestres agem no princípio da misericórdia da Lei do Perdão, da Lei Crística.
Verdade é que, agora, estão na dolorosa missão de cirurgiões, que vêm para
amputar nossos membros gangrenados. Sua presença nos é tão desagradável como a
dos médicos num pronto-socorro. Este é o sinal triste de nossas condições de
doentes em desespero. Mas eles, também, são nossa última esperança, para
salvação do nosso patrimônio e no preparo daqueles de nós que irão continuar
nossa estirpe.
Essa é a
missão precípua dos mestres materializados, com suas naves, suas sirenes de
alarme, seus sinais nos céus, em meio ao pandemônio de nosso apocalipse.
Nossa
atitude, agora, não pode ser mais a de quedar à espera, sonhar em meio às
dores, procurar o isolamento ou formas de fugir aos problemas, fechar os olhos
ao desespero em torno de nós. Nem isso será muito possível daqui para a frente.
Quando começarem a aparecer os sinais no céu, a escuridão dominar a luz do Sol,
os abismos quilométricos se abrirem no seio da Terra, as águas jorrarem nos
desertos e secarem os mares, calores e frios gélidos se alternarem, quem poderá
se isolar? Adiantará ser rico, culto ou poderoso? Adiantarão as leis humanas e
as artimanhas da economia? Quem irá escapar das doenças estranhas e sem
antídoto?
E qual a
atitude correta diante dessas ameaças? Talvez seja, somente, a de ter olhos
para ver e ouvidos para ouvir.
As
catástrofes não têm importância, pois destruirão, apenas, corpos físicos. Será
matéria contra matéria. Mas eles se preocupam é com a desilusão dos espíritos,
o fracasso da missão evolutiva, o não cumprimento dos propósitos
civilizatórios. Morrer fisicamente é banalidade, é natural, e tanto faz a morte
tranqüila como a violenta. O que nos preocupa é a reação humana, a atitude
diante do que virá, como iremos receber tais coisas.
Diante
da catástrofe iminente, eles são obrigados a vir pessoalmente, fisicamente. Sua
presença entre nós já vem sendo notada de várias maneiras, e os homens mais alertas
procuram contato. Olhos ansiosos perscrutam os céus, em busca de sinais, e
alguns conseguem detectá-los. A busca, agora, é física, mas, até agora, ela era
puramente psíquica. Aqueles mais preocupados com os problemas do espírito, há
muito estão familiarizados com os sinais. E eles não existiam no céu, mas
sempre existiram no coração humano, no íntimo dos seres, sempre refletindo na
constelação de nosso comportamento.
É por
essa razão que o Espiritismo caminha, a largos passos, para a fisiologia do
mediunismo. Quando afirmamos, aqui no Vale do Amanhecer, que a mediunidade é um
problema biológico e não religioso, é porque essa faculdade tem sua base física
no sangue, e se manifesta pelo sistema nervoso. Encaramos isso assim,
realisticamente, porque conhecemos na prática e nos resultados.
Hoje, as
anormalidades do comportamento – a psicose, a neurose, a esquizofrenia e a
loucura total – ainda podem ser alinhadas nas estatísticas das anormalidades.
Tais doentes, entretanto, estão se tornando legiões, a ponto de ficarmos
confusos na conceituação do que seja normal. Para enfrentar esses e outros
problemas, temos de recorrer aos mestres Capelinos. Só eles podem nos ajudar na
manipulação da energia maciça, capaz de enfrentá-los.
Cada vez
nossa capacidade é menor, e a deles aumenta, na proporção dos nossos reclamos.
Até bem pouco tempo, no Templo do Amanhecer, podíamos preparar cuidadosamente
os médiuns e processarmos nossos rituais com toda solenidade. Hoje, com dez mil
médiuns, e o compromisso de atender trinta a quarenta mil pessoas por mês, nós
apenas conjugamos energias ectoplasmáticas e entregamos as curas às nossas
mentes e aos mestres. Eles vêm como espíritos de Luz, Guias e Mentores, e se
enquadram, humildemente, nas formas do Espiritismo.
No
futuro imediato, eles virão como seres físicos, astronautas, seres espaciais,
ajustados a novas normas relacionais, novos métodos de socorro aos irmãos da
Terra. Teremos, então, formado uma idéia mais precisa das relações entre nós e
o Universo.
COMUNICAÇÃO
INTERPLANOS
A tônica
desta fase de nossa civilização é a comunicação. O ser humano que não se
comunica se enquadra, automaticamente, nos padrões de atraso social. A palavra
comunicação tem, hoje, um sentido amplo, que abrange desde uma ligação
telefônica até o entrosamento emocional entre duas criaturas. A ciência e a
tecnologia nos oferecem meios, cada vez mais perfeitos, de contato audiovisual
e, na busca de novos sistemas, se lança na pesquisa dos meios extrasensoriais.
Nesse campo, visa-se à comunicação telepática e se especula os meios de
comunicação dos animais como fontes de informação. O primeiro submarino atômico
que cruzou sob os gelos do Pólo Norte levava a bordo um tripulante incumbido de
transmitir dados de um código visual a outro sensitivo em terra, a milhares de
quilômetros.
Com
isso, o mundo se tornou pequeno para o Homem, e seu anseio milenar se volta,
agora, para os outros mundos. Sistemas de rádio enviam códigos à amplidão
sideral, e aparelhos sensíveis aguardam respostas. Sondas de avançada tecnologia
percorrem o espaço, enviando sinais do que encontram, Homens chegaram até à
Lua, e os segredos do que viram e sentiram são guardados sigilosamente.
Nessa
intensa atividade, o Homem ampliou seu campo consciencional para mais longe de
si mesmo. Os resultados trazem, em si, certa frustração. As alegrias que a
conscientização do Universo estão trazendo são empanadas pela mesquinhez da
vida terráquea, exigente, confusa, incerta. Hoje, as notícias das tentativas de
conquista do cosmos se diluem em nossa angústia psíquica. Por que essa
contradição?
Talvez
porque estejamos enxergando longe, muito longe, e tenhamos perdido de vista o
que está próximo, muito próximo. Procuramos ver as coisas com as extensões dos
nossos sentidos, nossos tentáculos mecânicos; vamos longe, mas deixamos a nossa
casa desocupada. Enquanto isso, a poeira cobre os aparelhos sensíveis com que a
natureza nos dotou, nossas capacidades extrasensoriais, que só funcionam à
revelia de nossa consciência. Estamos demasiado inconscientes de nós mesmos.
E,
enquanto o homem ciência, o homem razão, faz uma pobre verificação mecânica do
Universo, o homem futuro, o homem consciência, se entrosa com esse mesmo
Universo, de maneira bem mais objetiva. Entre os dois existem distâncias
maiores que entre a Terra e os outros corpos celestes.
Nossa
finalidade, ao fazer estas observações e trazer notícias de seres de outro
planeta, é, justamente, a de diminuir essas distâncias.
A junção
de todos os rótulos da experiência humana fica englobada em dois títulos extremados:
a Ciência e a Teologia, dois pólos de um mesmo sistema de síntese e análise.
Fora desses cânones, entretanto, existe ampla gama de fatos reais que nenhum
dos dois explica, nem sequer tenta.
Mas, a
comunicação, fora dos padrões aceitos e habituais, tanto dos serem humanos
entre si, como com seres de outras naturezas, é fato tranqüilo e objetivo, na
pré-história, na história e nos dias que correm. Só que esses fatos de
comunicação não trazem os avais científicos ou teológicos, apenas isso. O que não
é científico inexiste, oficialmente, no conceito humano; o que não se enquadra
na Teologia é heresia, superstição.
Nesse
quadro, que corresponde, com certa acuidade, à realidade atual, os fatos
comunicativos são exercido ilegalmente, e a ampla gama de acontecimentos
extrasensoriais ou extrareligiosos fica relegada à ficção científica ou
doutrinas não-oficiais. Com isso, somos jogados a dois extremos: a prudência
científica e teológica de um lado, e a irresponsabilidade imaginativa do outro.
Urge, pois, estabelecer um ponto médio de encontro, algo que atenda aos anseios
de todos.
A mente
humana está desfocalizada entre os dois extremos acima. Isso tem impedido a
verificação dos fatos que, realmente, existem. Como tentativa de ajuste focal,
este livro procura chamar a atenção dos responsáveis pelos destinos humanos
para os fatos simples e básicos das comunicações mais amplas, seja na
superfície do planeta, como além. Por isso, queremos chamar a atenção para o Vale do Amanhecer.
Nessa
comunidade, de existência física, real, simples e verificável, nesse conjunto
humano, acontecem, todos os dias, fenômenos extraordinários, em que os agentes
e os pacientes são seres humanos comuns e seres incomuns, extraterrestres. Tais
fenômenos, entretanto, não acontecem provocados pela curiosidade ou pela
necessidade de pesquisas. Acontecem, apenas, porque ali se apresentam seres
humanos angustiados, e encontram outros seres humanos interessados em minorar
suas angústias. A adversária de cada dia é a dor, em seu espectro mais amplo e
variado.
Entre a
dor e o lenitivo de seus portadores surge, de permeio, o processo, o meio, o
instrumento, a técnica. Após muitos anos de ação, esse conjunto se apresenta
como uma doutrina. Esse agregado harmônico poderia ser chamado de Doutrina do Amanhecer, pois se destina
à entressafra do presente e do futuro imediato.
Desse
complexo instrumental, destacam-se a presença, verificável, palpável, de forças
psíquicas e forças externas ao ser humano.
As
forças psíquicas são chamadas mediúnicas,
e as forças externas são chamadas espirituais.
As primeiras são caracterizadas por seres humanos, chamados médiuns, e as segundas são
representadas por seres individualizados, chamados espíritos. A aceitação da existência dos espíritos e da sua
comunicação conosco é tranqüila a boa parte da humanidade. Mas, esse fato não é
aceito pela Ciência e é aceito pela Teologia em termos restritos.
No Vale
do Amanhecer não existe preocupação em provar sua existência ou o contato com
eles. Esses fatos são traduzidos em resultados palpáveis, para os quais nenhuma
Ciência ou Teologia tem explicações. Mas, a missão do Vale não é a de fazer
doutrina, fundar religião, congregar prosélitos ou profetizar. A missão tem
sido, tão-somente, atender seres humanos angustiados que procuram alívio.
Mas, sua
capacidade de atendimento está próxima dos limites numéricos, e a angústia
humana atinge dimensões cada vez maiores. Isso tem conduzido ao planejamento de
levar seus benefícios a maior número de pessoas. Parte desse plano é a síntese
literária, a comunicação escrita e a notícia. Com isso, o Vale ingressa no rush atual da comunicação, porém
comunicação de fatos reais, verificáveis.
E então,
nossos Mentores e Guias Espirituais nos autorizaram a divulgação de nossos
contatos com seres de outros planetas, seres físicos, concretos, existentes no
Universo. Com essa divulgação, eles visam a preparação da humanidade para a
generalização desses contatos, dos quais somos, apenas, um núcleo experimental.
Eles, os seres de outros planetas, virão e se entrosarão com os habitantes da
Terra, neste século, fisicamente.
A
experiência do Vale do Amanhecer está sendo conduzida com base em dois fatores
fundamentais: a clarividência da médium Neiva e a manifestação específica de
seres de um planeta cujo nome é, para nossa linguagem, Capela.
Para que
esses fatos reais não possam ser confundidos com fantasias, eles vão sendo
escritos na sua atualidade e com flash-backs
de fatos passados. O relato culminará com projeções de acontecimento futuros, a
serem verificados na medida em que se concretizem.
VIAGENS A
OUTROS PLANOS
Até
então, os contatos de Neiva com os Capelinos sempre aconteciam quando ela
estava nalgum estado de anormalidade física ou psíquica, com febre ou choque
emocional.
Certa
vez, ela sentiu intuitivamente que algo de novo lhe viria surgir, e se dirigiu
para o local onde tivera sua primeira visão de Capela. Nesse dia, porém, ela
estava completamente equilibrada, física e psiquicamente.
Sentou-se,
e começou a sentir os sintomas de um novo fenômeno mediúnico: saía do corpo e
voltava a ele abruptamente. Essas idas e vindas se processavam com certa
angústia. A principal sensação era a perda de fôlego e de mergulhos em lugares
escuros. Nessa época, porém, ela já estava com quase quatro anos de experiência
espiritual e mediúnica, e logo começou a dominar o fenômeno. Num dos retornos,
percebeu que se tratava de um novo treinamento de contato interdimensional.
Senhora da nova técnica, ela percebeu que poderia escolher o mundo a ser
contatado e, ao mesmo tempo, conservar a consciência parcial no mundo físico.
Mas,
enquanto experimentava, surgiu-lhe na mente uma interessante questão: a
gradação do foco consciencional. Até então, essas “viagens” tinham, sempre, uma
finalidade; na maioria das vezes, a execução de alguma tarefa de socorro
espiritual e, em menor número, apenas de observação e aprendizado. A eficiência
na execução da tarefa era medida pelo grau de consciência no plano da operação.
Assim, ela havia aprendido a deixar o corpo em estado cataléptico, estado esse
que lhe permitia maior concentração no outro plano. O estado cataléptico
caracteriza-se pelo enrijecimento muscular e insensibilidade dos sentidos. A
Medicina o considera como uma doença intermitente. Visto, porém, pelo ângulo
mediúnico, é um estado em que as exigências respiratórias são mínimas, pois
parte do peristaltismo respiratório é transferido para o corpo etérico. Este,
com maior capacidade respiratória e, portanto, maior irrigação cerebral,
adquire maior consciência, melhor registro dos fatores ambientais. Foi com esse
método que ela “viajou” nesse dia.
O
ambiente escuro e abafado onde penetrou era uma caverna de exus. Essas cavernas são habitats de espíritos desencarnados, que vivem na parte mais densa
do plano etérico e são portadores de poderes psíquicos. Geralmente, são seres
humanos cultos que morrem e permanecem no mundo dos vivos, na camada molecular
esparsa do éter. Essa camada interpenetra o plano físico e os seres que nela
habitam interagem com os seres vivos pelo campo vibracional intermediário, o
campo mediúnico. A energia motora de contato é o ectoplasma sangüíneo
fluidificado. É liberado através do sistema nervoso ou, então, diretamente pelo
sangue quando em contato com a atmosfera. Isso, aliás, explica a presença do
sangue, ou outras fontes liberadoras desse tipo de energia, nas macumbas e
práticas de feitiçarias. Isso explica, também, a importância da respiração
nesses trabalhos, exacerbada, geralmente, pela movimentação rítmica, cantos
monótonos, lacerações, ingestão de álcool, etc.
Mediante
o conhecimento da manipulação dessas energias, esses exus agem no plano físico
por obscuros propósitos. De modo geral, têm pouca consciência do próprio estado
e a serviço de quem eles agem.
Dado o
espaçamento molecular desse plano, a luz solar não é refletida, não existindo,
portanto, a sucessão de dias e noites. Sem esse fenômeno, não existe a mesma
contagem de tempo do plano físico. Com isso, o sistema de memória desses
espíritos se resume na somatória da experiência anterior à morte do corpo,
acrescida, tão-somente, pelo lento evoluir dos acontecimentos. No íntimo de
suas mentes, os estímulos são, apenas, os sucessos de suas ações entre os seres
vivos, com os quais fazem contato através da mediunidade. Uma boa parcela dos
desastres humanos se deve às ações desses espíritos, e cada acontecimento
negativo entre nós é motivo de júbilo entre eles.
Ao
penetrar na caverna, Neiva dispunha das vantagens de sua mediunidade, que lhe
permitia ver e ouvir sem ser vista. Logo que entrou, ela ouviu palavras confusas,
que diziam mais ou menos assim: “Nanaburucu vai fazê vingança. Nagô Oxum
Quelelê mandô.” Ela sabia, na sua
experiência no trato com os espíritos, que aquele era o grito de guerra da
Rainha do Trovão e do Rei da Mata. Por ele, ela identificou o ritual dos
antigos negros Nagô. Esses exus se caracterizam pelo ódio intenso e fanatismo,
vivendo de velhas crenças africanas.
São tão
materializados, seus corpos etéricos são tão densos, que chegam a perceber a
iluminação artificial do pleno físico, como velas e luzes elétricas.
Neiva
estava absorta, pensando nas palavras que acabava de ouvir, quando sentiu que
lhe tocavam de leve no braço direito. Sem alterar seu estado cataléptico,
voltou instantaneamente para junto de seu corpo. Viu, então, o Capelino Johnson
Plata que tocava de leve no seu braço físico.
Embora
não se sentisse muito à vontade na sua presença, saudou-o com o “Salve Deus!”
habitual, e os dois passaram a conversar.
- Ah! –
disse ela – foi o senhor que incorporou, outro dia, no aparelho de nosso irmão
Jair, não foi? Já que o senhor está aqui, poderia nos dizer quando é que vai
descer aqui com seu disco voador?
- Não,
respondeu ele, não estou aqui. Estou, apenas, projetado. Vim para lhe dar
proteção na sua ida àquela caverna. Fazemos assim sempre que você corre algum
risco.
Neiva
sentiu-se encabulada por ser objeto de tantos cuidados, e se calou. O Capelino
continuou:
- Agora,
você irá comigo. Fará mais uma visita ao nosso planeta.
Ainda
sentindo as sensações da caverna dos exus, ela vacilou. Na sua consciência de
missionária, habituada a “viajar” sempre com alguma missão, ela não havia
atinado, ainda, com o motivo de sua visita à caverna.
Enquanto
pensava, ela olhava o corpo crispado, deitado na relva, em estado cataléptico.
Nos seus sentidos etéricos, ela percebia alguns seixos na mão fechada e o capim
ralo roçando sua nuca. Registrando todos aqueles fenômenos e, ao mesmo tempo,
tendo consciência de sua missão, do amparo dos espíritos, ela anuiu.
No mesmo
instante, ela sentiu-se transportada para o interior de uma nave, muito
parecida com aquela em que estivera antes. Na complicada cabine havia outro
Capelino, que lhe foi apresentado por Johnson, com o nome de Eris.
Enquanto
falavam, os dois manipulavam alavancas e botões. Abriu-se, então, uma enorme
comporta, e Neiva extasiou-se com o que viu. Ali, bem perto, como se estivesse
ao alcance de suas mãos, estava Capela!
A
primeira coisa que lhe chamou a atenção foram as luzes opacas, sem brilho, de
colorido variado. Era como se o Sol estivesse envolto em faixas de algo
transparente e de cores várias. Mas as luzes, a iluminação, não eram estáticas,
se alternando e se interpenetrando, formando nuanças suaves. Atraiu-a, logo, a
faixa violeta. Sem saber porquê, ela estava convencida de que aquela era a sua
faixa, o mundo que correspondia à sua missão na Terra.
Nesse
momento, ela se lembrou do seu corpo físico, mas não o sentiu mais. Lembrou-se,
também, dos exus da caverna e, sem saber porquê, sentiu enorme compaixão deles.
Diante daquela complexa realidade – a nave, os Capelinos e seu próprio
pensamento – ela sentiu-se estranha e disse, em voz alta:
- Senhor,
se tudo isto é real, conserve os meus olhos. Caso contrário, os arranque, para
que não venha a revelar aos outros mentira ou mistificação alguma!
Nisso,
ela ouviu um estalido, como se um aparelho de som tivesse sido ligado, e
começou a ouvir Mayante, cantado
pelos médiuns do Templo, na Terra. Ficou ligeiramente confusa, mas logo se
lembrou de que, na Terra, era a hora do início do segundo trabalho do dia,
começado sempre com esse mantra.
Com a
segurança emocional que o canto familiar lhe trouxe, voltou sua atenção para
Johnson, que dizia:
- Estamos
lhe mostrando o nosso mundo, também chamado Nicho de Deus. Na Terra, ele ainda não tem um nome certo. Creio que
vocês vão batizá-lo de “O Planeta Monstro”, devido ao seu enorme tamanho
relativo à Terra. Em alguns grupos iniciáticos, ele é chamado Capela. Ele já
foi visto duas vezes pelos seus astrônomos. A dificuldade na sua observação é
devida ao fato de ser um planeta de trás do Sol, que periodicamente sai da sua
órbita, e isso confunde os cientistas.
A
explicação, porém, deixou-a atordoada devido ao tumulto de emoções e
pensamentos que cruzavam sua mente. Não conseguia esquecer os exus da caverna.
Talvez, por isso, ela não gravou em sua memória as outras explicações de
Johnson.
Ele,
então, mudou o rumo da conversa, e disse:
- De
agora em diante vou lhe mostrar o que, realmente, está acontecendo na Terra.
Vou, também, lhe explicar quais os planos de Deus para sua proteção, nesta fase
de transição.
- Quer
dizer – disse ela – que a Terra não vai desaparecer, ser submergida pelos
mares?
- Não, –
respondeu ele – desta vez a nossa aproximação irá causar, apenas, alguns
problemas menores. Na medida em que você for se familiarizando com o meu mundo,
nós iremos relatando o que vai acontecer. Aliás, este mundo só será meu lar por
mais quatro anos do seu tempo na Terra. Depois disso, eu estarei na Terra,
serei um terráqueo.
Neiva,
fascinada, continuava olhando Capela, observado cada detalhe. Cada vez mais se
maravilhava com o jogo de luzes. Johnson continuou:
- A
missão fundamental de Capela, no momento, é presidir a transição do segundo
para o terceiro milênio da fase atual da Terra. Haverá uma grande mortandade e,
ao mesmo tempo, será lançada a nova civilização que irá fazer jus à evolução
alcançada por esse planeta. Nessa nova era não haverá a Lei Cármica, pois a
Terra deixará de ser escola de expiação. Não existirão doenças e os climas
serão constantes e amenos. Antes, porém. Que isso se realize, terá que haver o
reajuste final e o encaminhamento dos espíritos que a habitam para seus justos
destinos. Saindo de sua órbita, Capela passará entre o Sol e a Terra, e esta
ficará nas trevas por três dias. Devido à ausência dos raios solares, haverá
tremendas descompensações caloríferas. No seu interior, as matérias
combustíveis se queimarão e gigantesco incêndio envolverá em vapores e fumaça
grande parte dela.
Ainda
preocupada com os exus da caverna, Neiva perguntou:
- E os
espíritos, os desencarnados que ainda estão na Terra, principalmente aqueles
atribulados pelo ódio, o que irá acontecer a eles?
- Virão
para cá! – foi a estranha resposta.
Neiva,
porém, se sentia mais alerta, e insistiu:
- Não
será melhor eles ficarem onde estão? Será que eles não prefeririam assim? Não
estão eles lá por vontade de Deus?
- Não! –
respondeu ele – Deus não poderia querer que espíritos vivam assim. Ele não
obriga espírito algum a ter um corpo aleijado ou qualquer outra situação
humilhante, seja na Terra ou em outros planos. Isso sucede, apenas, pela
própria vontade dos espíritos, pelo seu livre arbítrio.
Neiva se
calou e permaneceu longo tempo olhando aquele belo mundo. Mil coisas lhe
passavam pela mente. Perguntou se certos espíritos que ela conhecia gostariam
de viver naquela beleza, naquele mundo estranho. Mas, pensou, a Terra também é
bela! Seus habitantes é que deturpam as leis e se comprometem, como aqueles
exus. Esse pensamento, por razão que não atinou, lhe deu certeza de que estava,
realmente, em outro mundo, bem distante da Terra. Despertou de suas reflexões
com a voz de Johnson:
- Uma
última informação, Natachan, e sua visita irá terminar. Em ciclos
correspondentes a dois mil anos na Terra, nosso planeta se aproxima dela, cada
vez com um tipo diferente de contato, produzindo, assim, efeitos diferentes. É
por isso que a historia de sua civilização compõe-se de ciclos dessa duração.
Essas aproximações são sempre decisivas.
Neiva
assimilou a informação e de pronto fez a pergunta que lhe aguçava a curiosidade
desde o início da visita:
- E o seu
planeta, senhor Johnson, ele é físico como estou vendo? Ele é de terra, de água
e de ar?
- Sim, -
respondeu ele – Capela é de terra, de água e de ar, como a Terra. Só que sua
composição é diferente, de outro tipo. Outra coisa, Natachan, Capela é, na
realidade, um mundo dividido em quatro mundos diferentes. À semelhança do que
acontece na Terra com suas regiões distantes, cada um desses mundos ignora os
outros. Na verdade, existem somente dois desses mundos que sabem da existência
um do outro.
Neiva
sentiu que a visita estava terminada. Com a mesma rapidez que se fora, ela
sentiu-se novamente junto ao corpo. Pensou em ir, novamente, à caverna dos
exus, mas não achou propósito. Mergulhou, então, no seu corpo e despertou-o do
torpor.
Levantou-se
e olhou em torno de si, para a paisagem desolada do cerrado do Planalto, e
compreendeu porque tão poucos médiuns se lembram de suas “viagens”. As saudades
daquele belo mundo que vira já lhe cortavam o coração.
Havia
decorrido tão pouco tempo desde que se deitara na relva, que ninguém ainda
havia percebido sua ausência da comunidade. Encaminhou-se, então, para o
Templo, meditando sobre todas aquelas coisas.
A
MULTIPLICIDADE DO SER
Para que
possamos entender as revelações da Clarividente, é necessário certa mudança de
posição, buscar-se uma perspectiva mais ampla. Sem isso, a gente se perde no
emaranhado das coisas novas. Essas coisas são naturais para ela, a
Clarividente, mas não o são para nós, mortais comuns.
A experiência
humana é, essencialmente, antropomórfica. Essa palavra, para a qual não
encontramos substituta mais exata, significa a forma, a maneira como o Homem vê
as coisas. É a curta visão da vida física, a limitação cérebro-intelectiva.
Embora a
capacidade humana de imaginação – elaboração, composição de imagens – seja
grandiosa, ela é sempre limitada pela experiência.
A
experiência é adquirida a partir do ventre materno e termina somente com a
morte física. A base dessa aquisição, o alicerce da personalidade, é, por sua
vez a experiência atávica, a herança recebida através dos cromossomas e outras
partículas talvez ainda desconhecidas da biofísica e da genética.
Essa
herança é muito grande e sua extensão pouco conhecida.
É fato
tranqüilo que todo ser recebe, no seu acervo de DNA e RNA, certa quantidade de
caracteres. Hoje, a genética pode determinar, pelo exame dessas partículas,
alguns desses caracteres. O que não se sabe, ainda, é qual a quantidade de
caracteres recebidos por um ser e o seu tipo, sua qualidade específica.
Citamos
esses detalhes da Biologia para lembrar o fato dos seres serem ligados à árvore
genealógica da espécie, ao passado dos seres que o antecederam. Somente não
sabemos se nessa herança está contida toda a experiência da espécie ou, apenas,
parte dela. Não sabemos se sua genealogia começa na raiz, no tronco ou num
galho da espécie humana.
Sabemos,
então, que sobre essa base vai-se formando a experiência individual desde a
vida intra-uterina, a partir de certa idade do feto, à chamada formação
psicológica pré-natal.
A partir
do nascimento, nos contatos com o mundo exterior, e tão pronto se completem os
mecanismos cerebrais, tem início o lento processo de conscientização. Esta consciência de si, como ser
relativamente autônomo, e do mundo que o cerca, cresce com a idade cronológica
e termina somente com a morte.
A
variação dos dados desse complexo acervo é que garante a personalidade, sendo
praticamente impossível a existência de dois seres absolutamente iguais.
Percebemos,
pelo que acima foi dito, que o Homem tem o seu início num ponto qualquer do
mundo físico – que poderíamos chamar de menos
finito, e seu fim num outro ponto – que poderíamos chamar de mais finito.
Embora
não saibamos, por falta de possibilidades de verificação, onde se situam os
dois pontos – o menos e o mais finito –, uma coisa sabemos claramente: o Homem,
considerado biologicamente, é apenas um fragmento de uma trajetória, uma reta
entre dois pontos.
Mas, na
trajetória infinita, além do ser biológico, as coisas continuam, e o Homem
procura enxergar além, divisar o horizonte maior. Para isso, ele utiliza o
instrumento que conhece, sua experiência limitada, e comete o erro fundamental
de projetar o desconhecido no que conhece.
Assim é o universo humano, uma redução
proporcional do universo desconhecido.
“A
experiência é como uma lanterna que a gente carrega nas costas: só ilumina o
caminho percorrido” – já disse alguém. Essa é a verdade do antropomorfismo.
O Homem
atual é um ser irrealizado e sem rumo. Sente-se imerso na voragem da destruição
e tem poucas esperanças de um retrocesso, uma retomada do caminho
civilizatório. Todos os dias ele proclama sua falência e aceita, com
naturalidade, as coisas mais atrozes, como guerras e injustiças, de todos os
tipos.
Sente,
pois, a necessidade de buscar novos caminhos, sair da sua limitação. Para que
isso aconteça, precisa de novas perspectivas, novos ângulos de visão. Isso
porque os fenômenos, que já estão
acontecendo e os que acontecerão em pequena parcela de tempo que resta neste
século, ultrapassarão tudo que jamais foi concebido.
Daí a
razão desta mensagem, veiculada por um ser humano incomum, a Clarividente
Neiva, de excepcionalidade testemunhada pelos fatos. Para que esta mensagem
seja compreendida, é necessário criar os instrumentos de recepção, a linguagem
e a imagem, tão adequadas quanto possível às nossas limitações.
Ela se
refere a fatos desconhecidos, fora da experiência humana convencional. O
primeiro instrumento adequado à associação de idéias, que nos irão permitir
entendê-las, é a admissão da multiplicidade do ser humano.
Nos
capítulos anteriores, procuramos dar uma idéia, tomando a Clarividente como
modelo dos diferentes estados ou faixas vivenciais nas quais existimos.
Na superfície da Terra, no seu plano físico, na organização celular chamada matéria, somos um ser físico; no mundo
etérico, somos um ser etérico; no mundo astral, ainda molecular, somos um ser
astral; no mundo sutil e atômico do espírito, somos um ser espiritual. E assim
continuamos, pelo infinito, sendo algo, até Deus!
Mas há
que se distinguir nossas posições de ser
e estar. Sou físico, etérico,
astral, mental, espiritual, mas sou sempre eu, algo definido e particular que
engloba as várias formas de eu ser. Essa consciência ampla é o que poderíamos
chamar de eu maior, e as formas de
ser de eus menores. Com isso, o “eu
sou” se tornaria mais lógico como “estou sendo”, ou “sou estando”.
Somente
nesse conceito ampliado é que podemos nos considerar, talvez, como centro do
Universo. O erro fundamental do antropomorfismo é considerar o Homem, o ser
físico, portanto, um dos “eus”, como o todo, o “eu” maior.
Na
verdade, somos uma consciência ampla, que toma conhecimento de si mesma. Apenas
que, nesse tomar conhecimento, empregamos somente parte dessa consciência, a
parte mais adequada e proporcional a cada estado, cada maneira de ser. Temos
uma visão geral que ultrapassa a reta finita da nossa vida biológica. A
dimensão máxima dessa visão, na qualidade de encarnados, seres físicos, seria o
que chamamos nosso espírito, o eu, como podemos conceber.
Assim
como a vida biológica é limitada, cada um desses planos tem, também, seus
limites e seu grau consciencional. Mas nossa subordinação a planos de vida,
programa de ação por tempo determinado, estabelece, como medida de sucesso, de
segurança, um hiato, uma “desmemória” entre uma vivência e outra. E, na medida
em que vamos vivendo, desenvolvendo o programa fixado para uma etapa, vamos
divisando as outras etapas, os programas seguintes a serem vividos.
E a
percepção natural de outros estados é fato objetivo, independente de qualquer
concepção que se tenha das coisas.
“Eu” sou
o meu espírito, mas ele – o meu espírito – não é, apenas, o “eu” que sou
atualmente. Meu espírito já teve e tem outros “eus”, outras personalidades. São
outras almas, outras psiques, que tanto podem ser deste como de outros planos.
Isso pode acontecer, e acontece, à semelhança de uma pessoa que possua vários
veículos com os respectivos condutores. Embora todos possam estar trabalhando
simultaneamente, a pessoa só poderá vê-los se todos estiverem próximos e na
mesma estrada. Mas, se cada veículo estiver rodando numa estrada diferente,
isso será impossível. Assim acontece com o nosso espírito. Se nossos vários
“veículos” estiverem subordinados a uma direção comum, estaremos sintonizados,
estaremos em paz. Quando nossos veículos enveredam por caminhos diferentes,
entramos em distonia, em dor, mas só assim tomamos conhecimento de nossa
dualidade, de nossa tríade ou de nossa multiplicidade.
A
experiência mais comum é a percepção de nossas ações, ao distinguí-las como
físicas, psíquicas ou espirituais. A auto-observação cada vez mais ampla irá
nos levar à admissão relativamente fácil de nossa multiplicidade.
A
Clarividente Neiva, através de quem estão vindo estes esclarecimentos, é um ser
fora de série, mas é um ser humano igual a nós. Ela apenas existe, como sempre
existiram outros seres em estado de exceção, como demonstração viva do que
somos potencialmente.
Talvez no
próximo estágio civilizatório do III Milênio, os seres comuns sejam como ela é
hoje. Mas, para que possamos entender as mensagens que os Mestres estão
transmitindo por seu intermédio, é preciso que nos coloquemos, pelo menos em
imaginação, em posição semelhante à dela.
Essa é a
razão fundamental porque, neste livro, frisamos, sempre, suas experiências,
como as coisas aconteceram e estão acontecendo a ela.
É
provável que as mesmas coisas tenham acontecido e aconteçam a outras pessoas da
mesma forma. A diferença, porém, é que a percepção consciencional dessas
pessoas, pelo menos até onde temos notícia, é sempre parcial, de focalização
mais no físico ou no psíquico. Só a Clarividente dá o enfoque com maior
amplitude.
A TORRE DE
DESINTEGRAÇÃO
A partir
daquela noite, em que Neiva apanhou uma pneumonia, posteriormente transformada
em tuberculose, as coisas de sua missão se intensificaram de várias maneiras.
Embora disfarçasse seu estado físico, escondendo suas dores e nunca se
recusando ao trabalho, ela sentia a ameaça que a moléstia significava para sua
missão. Como Clarividente, ela via os quadros à frente e, na sua maneira
simples, pedia ao Pai que, se possível, afastasse aquele cálice amargo. Mas,
como todo missionário do Cristo, ela o teria que sorver até a última gota...
O contato
com Capela passou, então, a ser a quebra da monotonia do trabalho árduo de cada
dia.
Certo
dia, sentindo-se mais febril que de costume, dirigiu-se ao local dos primeiros
contatos com os Capelinos, tomada de estranho desejo de fuga. Preveniu-se com
uma manta de lã e sentou-se à espera do fenômeno habitual. A vontade de escapar
das contingências viera mesclada com estranho sentimento de saudades dos outros
planos e do Jangadeiro amigo.
Seu
desejo de libertação é explicável. Ao desprender-se do corpo físico, ela sabia
que deixaria para trás todas as sensações desagradáveis, não só da moléstia
como dos conflitos em que vivia imersa.
Deitou-se
na relva, repetindo mentalmente os detalhes de sua nova modalidade de
transporte, e logo saiu do corpo. Sentiu-se levitando e, logo em seguida, ouviu
um ruído forte de motor, diferente dos motores da Terra.
De pronto
achou-se em outro local, e ouviu a voz familiar de Johnson Plata.
Cumprimentou-o com o “Salve Deus!” habitual e notou que, em sua companhia,
havia duas pessoas. Johnson os apresentou com os nomes de Eris e Stuart. Ao
olhar para este último, notou certa familiaridade nele, como se já o
conhecesse. Percebendo seu pensamento, Johnson e Eris riram, e lhe explicaram
que, de fato, ela conhecia Stuart, pois ele era Tiãozinho!
A
surpresa de Neiva não podia ter sido mais agradável. Tião, o espírito amigo e
constante, o socorrista de todas as horas difíceis, o brasileiro simples e
sempre alegre, ali estava com sua imponente estatura, seu sorriso afável e sua
amizade devotada. Tiãozinho, um Capelino! Ela chorou de alegria.
Agora,
que estamos mais familiarizados com a multiplicidade do ser, podemos dizer algo
a respeito de Tiãozinho, dada a importância de sua missão na Terra.
Sua
última encarnação, neste planeta, foi a de um simples cidadão brasileiro, da
Mato Grosso, filho de um grande fazendeiro. Casou-se, muito jovem, com sua alma
gêmea, a Justininha, e seu nome era Sebastião Quirino de Vasconcelos. Mas todos
o chamavam de Tião ou Tiãozinho. Logo depois do casamento, os dois morreram
afogados, no naufrágio de uma balsa. Isso aconteceu há cinqüenta anos, mais ou
menos.
Com o
início da missão de Neiva, Tiãozinho recebeu inúmeras incumbências junto a ela,
principalmente devido aos laços espirituais que os uniam desde eras remotas.
Esse fato aconteceu a inúmeros missionários desencarnados, mas Tiãozinho
destacou-se, logo, pela sua versatilidade e habilidade em resolver situações
intrincadas. Sua apresentação mediúnica é sempre a de um espírito alegre e
simples. Fala numa linguagem de homem simples da roça, dando idéia de um
mato-grossense, aparentemente simplório. Com isso, ele coloca todo mundo à
vontade e confiante e, alegremente, vai disseminando mensagens, dando profundas
lições de amor e tolerância.
Cabe,
aqui, lembrar que o trabalho dos espíritos, tanto aqui na Terra como em outros
planos, é tão sujeito a percalços como é o nosso. Para eles, como para nós, o
sucesso e o insucesso estão sujeitos a fatores complexos, principalmente em
relação ao livre arbítrio, tanto dos espíritos como dos encarnados.
Mas a
mobilidade de Tiãozinho e a maneira como ele se faz aceitar pelos encarnados,
deram-lhe importante papel na presente missão de preparo da Humanidade para o
III Milênio. Nos primeiros sete anos de ação entre nós, ele graduou-se como
Engenheiro Sideral, especialidade do mundo espiritual que trata de problemas
planetários. Ele possui uma chalana, nome que nosso grupo dá a certas
astronaves, e é o comandante de uma nave-mãe, que chamamos estufa.
Com a
presença de Tiãozinho, na qualidade de um habitante de Capela, Neiva sentiu-se
mais em casa. À guisa de explanação, Johnson disse que, como Capelino, ele se
chamava Stuart e era o responsável pela Torre
de Desintegração.
-
Desintegração? – estranhou Neiva.
- Sim. –
respondeu ele – Todos os corpos enviados à Terra têm que passar, antes, pela
Torre de Desintegração, que os transforma em matéria etérica. É nesse estado
que operamos entre vocês. Mas, existem outras formas de operação. Já têm havido
contatos em estado físico, muito esporádicos na fase atual, e sempre
experimentais. Essas experiências estão se intensificando e tudo está sendo
preparado para nossa presença física entre vocês, em pouco tempo. Isso está na
dependência das modificações físico-planetárias, em que o plano etérico fará
junção com o plano físico.
- Quer
dizer – perguntou Neiva – que vocês se irão materializar, como fazem os
espíritos, atualmente, nas sessões espíritas de materialização?
- Por
enquanto, Natachan, eu só posso lhe dizer que é mais ou menos isso. Mesmo que
lhe explicasse como a coisa é realmente, você não saberia explicar para o seu
povo. Sua ciência não tem, ainda, elementos comparativos do fenômeno. No
momento, o que fazemos é sair de nosso estado físico em Capela e passar para o
estado mais fluídico do etéreo. Desse plano nós podemos nos comunicar através
dos médiuns, materializarmos com seu ectoplasma ou irradiarmos sobre seus
sentidos. Quando necessário, nos cercamos das devidas cautelas e nos tornamos
físicos, junto com nossos aparelhos. Mas as permissões para isso são muito
restritas. Os tempos estão próximos, mas ainda não chegaram totalmente.
- Uma
coisa não entendo. – disse Neiva – Por que, então, se vocês têm esse poder, só
fazem o contato através da mediunidade, se apresentam somente como espíritos?
Afinal de contas, a mediunidade é um fator de sofrimento, “um espinho enterrado
na carne”, como diz Mãe Yara.
-
Procedemos assim, Natachan, porque não temos ordens para agir diferentemente, a
não ser, como disse há pouco, nas experiências, nos testes. Lembre-se, Natachan,
que a mediunidade é a principal arma de redenção cármica da fase atual do
planeta. Ela faz parte intrínseca do Plano Crístico de redenção dos espíritos
encarnados. Enquanto esse plano não se completar, até que não haja se esgotado
a oportunidade de conscientização dos habitantes da Terra, os contatos terão
que ser assim, sofridos, cheios de nuanças e percalços. E a oportunidade irá
até o limite preestabelecido. Chegado esse limite, quando não houver mais
possibilidade dos seres humanos compreenderem a mensagem de Jesus Cristo, o
planeta será entregue aos executores da sentença!
Johnson
fez uma pausa e Neiva continuou imersa em interrogações. Como que adivinhando
seus pensamentos, ele prosseguiu:
- Pense
no seu caso, Natachan, e você compreenderá melhor nossa posição. Você é
conhecedora da Alta Magia, tem sua própria Cabala e a capacidade de manipular
forças extraordinárias. Entretanto, só usa seus poderes conforme as ordens dos
seus Mentores, e tem que aguardar as oportunidades adequadas. Muitas vezes você
é obrigada a permanecer impassível, mesmo sabendo que teria forças para
interferir. Assim somos nós. Temos que aguardar a oportunidade.
- É, –
disse Neiva – o senhor tem razão. É isto
mesmo!
- Mas, –
prosseguiu ele – hoje você veio aqui para outra finalidade. Temos um assunto
muito urgente a tratar.
- Quer
dizer que vocês sabiam que eu viria? – perguntou ela.
- Sim,
Natachan, fomos nós que a convocamos. Seu país irá passar por uma crise
política, resultante de uma mudança necessária. Nós estamos fazendo tudo ao
nosso alcance para que essa mudança se opere sem derramamento de sangue. O
Brasil é considerado, na espiritualidade, como a “cúpula de Deus no planeta”, e
os Mestres não o querem ver imerso em sangue.
Essa
surpreendente revelação despertou a curiosidade de Neiva.
- Por que
o Brasil tem essa importância? – perguntou – Toda vida pensei que o Oriente é
que era importante, principalmente o Tibete.
- Sim,
Natachan, – respondeu ele – o Oriente, de fato, já foi muito importante. Até
agora, o comando na distribuição das forças pertencia a ele. Isso aconteceu até
que esta região estivesse preparada para o reajuste final. O ponto focal,
agora, na hora decisiva, é o Brasil e, de modo geral, a América do Sul,
principalmente a região dos Andes. Na verdade, Natachan, a posição da Ásia foi
transitória. Isto porque o solo da América do Sul é mais velho em relação ao
ciclo atual do que o da Ásia. No Brasil e nas Américas já existiram
civilizações importantes, que desapareceram há muitos milhares de anos. Há
cerca de 32 mil anos, existiram civilizações sob os signos de Áries, Touro,
Leão e Virgem; mas os elementos dessas fases não desapareceram. Apenas mudaram
de estado, e continuam influindo nos destinos dessa parte do planeta.
- Mas, –
perguntou Neiva – que tipo de influência, de que forma eles continuam
existindo?
- Sei que
é meio difícil para você entender, Natachan. No interior da Terra, no fundo de
seus mares, nos planos astrais e etéricos mais densos, existem bilhões de
criaturas, veículos de espíritos conscientes, que agem, pensam, sentem e se
entrosam com a Terra. Seus propósitos são muito variados, de acordo com as
épocas em que estão fixados, seus graus de evolução e outros aspectos. Em cada
mudança de ciclo, eles reagem de acordo, buscam novas posições e alguma forma
de realizar seus planos. Isso, Natachan, coisas que se passam em apenas parte
do planeta, lhe dará idéia do gigantismo da luta universal, o significado do
“assim na Terra como no Céu” da oração que Jesus ensinou. Algumas dessas
civilizações eram tão poderosas que, até hoje, existem resíduos físicos da sua
existência. Eles, como os homens de hoje, fizeram as mais tristes experiências,
deturpando os caminhos que os levariam a Deus. A Ciência sem Deus conduz para
abismos. Por isso, temos que nos precaver contra esses espíritos, pois são
ardilosos e sagazes. Os espíritos que habitaram essa parte do planeta, nos
ciclos de Áries e Touro, trouxeram à Terra uma poderosa força magnética,
extremamente complexa. Já os dos ciclos de Leão e Virgem foram portadores de um
magnético animal negativo e são esses que mais estão influindo nos atuais
acontecimentos do Brasil. Seu país tem passado por altos e baixos, conforme se
alternam as influências dessas falanges. Assim, como quaisquer outros espíritos
que ainda vivem nos planos da Terra, eles agem, influenciam, obsidiam e dominam
com seus ardis. Eles são bem diferentes dos obsessores recém-desencarnados, os
“mortinhos”, como você costuma dizer. Eles influenciam, de preferência, os
intelectuais. Uma dessas falanges, chamada os Falcões, é especializada em
política. Quando os espíritos dessa falange conseguem fazer predominar sua
influência, eles conturbam a vida político-administrativa do país, como estão
fazendo atualmente.
- Mas, – objetou Neiva
– eles têm tanto poder assim? A gente não tem defesa contra eles?
- Sim, Natachan, o
combate entre eles e as falanges Crísticas é terrível.
- Mas –
ela tornou a objetar – essas falanges que o senhor chama de Crísticas não têm
mais força, não são elas as forças do Bem?
- Sem
dúvida, Natachan. As forças sob a luz Crística são mais poderosas. Mas o
problema não depende disso e, sim, dos espíritos encarnados, do ser humano. Não
se esqueça de que se trata de uma luta de influências sobre a mente humana, e é
o Homem que escolhe seus amigos. Essa luta tem, também, seu lado técnico, que é
o ectoplasma, a energia de contato. Conforme o teor de ectoplasma emitido pelos
seres humanos, ele atrai uma influência ou outra. O ser humano, cuja tônica é a
animalidade, o orgulho, o intelectualismo materializado, atrai esse tipo de
espíritos e se submete, inconscientemente, aos seus planos. Já o Homem
cristianizado, cuja tônica seja a do amor ao próximo, a tolerância, a
humildade, esse emite um ectoplasma fino, fora do alcance desse tipo de
espíritos. Na claridade, na composição molecular desse fluido se entrosam
espíritos de Luz, construtivos e criadores. Percebeu a diferença, Natachan?
- Sim,
senhor Johnson, creio que entendi bem. Conforme nossa maneira de ser, nós
entramos em sintonia com nossos semelhantes.
- Isso é
que decide a luta. – acrescentou Johnson – Se predominam os homens de boa
vontade, a situação é de progresso, de paz. Se ao contrário, temos a guerra.
Por aí você percebe, também, Natachan, que ajudar no progresso, no bem de um
país ou qualquer grupo humano, não depende somente da posição social, da força
econômica ou qualquer outra. Depende muito mais da força espiritual, da
honestidade individual, do cuidado do ser humano com sua maneira de ser.
Neiva
quedou-se pensativa, e Johnson parou de falar. Em seu semblante másculo
perpassava uma ligeira nuvem, como se ele estivesse sentindo o drama da posição
humana, na eterna luta entre o Bem e o Mal. Neiva, então, lhe perguntou algo,
cuja curiosidade havia sido despertada nas explicações de Johnson.
- O
senhor falou dos signos que presidiram essa gente toda. Nesse caso, o senhor
considera a Astrologia como válida?
- Sim,
Natachan, a Astrologia é válida, mas não nos termos em que é apresentada na
Terra. Na verdade, é uma profunda iniciação, que só alguns conseguem alcançar
em vida na Terra. Seus princípios são exatos e científicos. Os seres que são
enviados à Terra o são consoante um conjunto vibratório de astros ou mundos.
Esses corpos celestes de origem dão a esses seres a tônica de sua trajetória no
planeta e alimentam o seu psiquismo. Cada ciclo da Terra está sob a
predominância das vibrações de um conjunto planetário. Isso explica os signos
que citei há pouco. Atualmente, a Terra está sob o signo de Peixes, o ichtius dos originais evangélicos. Ele é
a tônica crística, que compõem as leis do perdão, do amor e da tolerância.
Repare, Natachan, como os Evangelhos estão cheios de referências ao peixe.
Entre os primitivos cristãos, o peixe era o símbolo do próprio Cristo. E signo
seguinte, que irá predominar sobre seu planeta, será o de Aquário. Esse tem uma
tônica bem diferente de Peixes. Suas vibrações serão de paz inquebrantável,
fraternidade natural e conhecimento de Deus. Essas influências tornarão
desnecessária a Lei Cármica como ela existe agora. A inteligência humana será
mais vibrátil, mais etérica, mais permeável para as coisas espirituais.
- É, –
disse Neiva na sua simplicidade – creio que compreendi. De fato, o problema é
bem mais sutil do que as habituais previsões astrológicas da Terra. Mas, –
objetou ainda – elas, afinal, têm algum fundo de verdade e não fazem mal a
ninguém. E tudo tem sua utilidade...
Parou um
pouco, pensativa, e perguntou:
- Sobre
esses Falcões, senhor Johnson, diga mais alguma coisa sobre eles. Tenho a
impressão que já encontrei com esses espíritos nos seus trabalhos.
- Sim,
Natachan. Direi tudo o que puder sobre eles, para que você possa saber o que
fazer na sua missão junto aos homens públicos de seu país. Há milhares de anos,
conforme lhe disse há pouco, esses espíritos eram encarnados e tinham
importante missão civilizatória. Mas desenvolveram o seu orgulho a tal ponto
que se libertaram das influências benéficas dos seus Mestres e se
desenvolveram, sempre, na tônica da razão e do egocentrismo. Atingiram, assim,
altos conhecimentos científicos e, ao desencarnarem, eles permaneciam no plano
etérico, formando ali verdadeiro exército de cientistas, principalmente de
químicos e físicos. Eternamente preocupados com o conhecimento intelectual,
eles fundaram, nesse plano, grandes escolas e universidades, semelhantes às
atuais da Terra. Para elas são atraídos espíritos dos que desencarnam
irrealizados, em conflito com as Leis do Cristo. Trabalhando com as energias
animais da Terra e outras forças do plano etérico, eles criaram uma “química
ectoplasmática”. Com essa matéria, eles se alimentam e fabricam equipamentos de
todo tipo. São muito versáteis e plasmam as mais variadas formas de se
apresentarem. Uma dessas falanges de apresenta como “astronautas” e tem
engodado com essa roupagem. São os tais “verdinhos”, que já têm sido vistos por
muitos terráqueos. Sua aparência, na Terra, é a de homens com mais ou menos um
metro e meio de altura, vestidos com roupas de viajantes interplanetários, com
botões, antenas, armas estranhas, etc. Sua capacidade de materialização, na
Terra, é muito grande, devido ao seu conhecimento na manipulação fluídica. Isso
se deve, também, ao fato de habitarem nas camadas mais próximas da superfície.
Esses espíritos são a maior fonte de enganos dos pseudo-iniciados e cientistas
desprevenidos. São eles que alimentam falsas idéias a respeito das coisas do
Universo. Com isso, eles fomentam iniciativas mais tristes, afastam o Homem do
seu destino evolutivo. Seu maior argumento é falar em nome de Deus. Com isso,
justificam os encarnados sob sua influência de muitos absurdos. Seu supremo
ideal é conseguir encarnar no planeta pelos seu meios, independentes da Lei
Cármica. Mas, os milhares de anos em que tentam, já começaram a pesar neles.
Por isso, ao verem que o fim se aproxima, eles estão dando tudo o que têm. Uma
das universidades chama-se Vale das
Sombras e a ela são agregados os desencarnados que ocupam posição religiosa
ou científica de relevo na Terra, mas que não conseguiram se harmonizar com as
Leis Crísticas. Um dos objetivos desses espíritos é levar ao desânimo os
encarnados que tentam seguir a trilha do Mestre Jesus. Para isso, eles fomentam
o culto de Jesus sangrando, pendurado numa cruz. São sanguinários como você,
Natachan!
- Eu
sanguinária? – explodiu Neiva, agastada.
- Sim,
Natachan. Vocês, na Terra, amam de preferência Jesus açoitado, sofrido,
humilhado! Na verdade, esse Jesus é, apenas, o reflexo do masoquismo
inconsciente de vocês, das suas dores inaceitas e das suas frustrações. O
verdadeiro Cristo Jesus é todo suavidade, bem diferente daquele dos seus
crucifixos e suas esculturas cheias de vermelho sangüíneo! Aliás, Natachan, o
culto do sangue tem um significado especial para esses espíritos, pois é dele
que tiram sua matéria-prima, o fluido magnético animal, o ectoplasma. O exemplo
de Jesus não fascinou a humanidade, mas sua dor alimenta, por muito tempo, seu
sadismo. Bem, Natachan, por hoje chega de lições. Vamos voltar aos objetivos
principais de sua vinda. Temos instruções muito precisas para você cumprir.
Volte para seu corpo e mobilize seus irmãos da UESB para saírem imediatamente
de lá. Aquela beira de estrada para Brasília vai-se tornar muito perigosa nos
próximos dias. A atual administração de seu país está praticamente dominada
pelos Falcões, e estamos envidando todos os esforços para que o problema
brasileiro seja equacionado sem sangue. Uma das alternativas é a renúncia do
atual Presidente. Mas, isso irá acarretar problemas de outra natureza, pois o
Vice-presidente está sujeito à deturpação do seu poder. Há, pois, muita
probabilidade de uma revolução. Por isso, queremos que nossa tribo se afaste
dali. Nossa missão é muito delicada e não podemos nos arriscar.
Neiva
aquiesceu, sem objeções, e perguntou:
- Que
tipo de influência têm os Falcões sobre os políticos? Eles não são cientistas?
- Sim,
Natachan, eles são cientistas, como todos os do Vale das Sombras. Mas os
Falcões são hábeis em política, formam um grupo especializado. Sua capacidade
de influenciar os homens públicos é tão grande que, muitas vezes, esses homens
são tomados de verdadeira alucinação e cometem os maiores desatinos. Quando a
empatia é muito grande, esses políticos e administradores entram em transes
mediúnicos e transportes, e projetam quadros terríveis no plano etérico. Muitas
vezes, deparamos com esses espíritos fora do corpo, sob a forma de bichos
fantasiosos, figuras essas resultantes de suas mentes desvairadas.
- Ah! –
exclamou Neiva – Agora me lembro de uma visão que tive algum tempo atrás. Então
era isso? Vi, como se fossem projetados no céu, uns homens com cabeça de gente,
mas seus corpos pareciam lacraias. É a isso que o senhor está se referindo?
- Sim, Natachan, é a
isso mesmo. Foi isso que você viu.
- Agora,
uma última pergunta, senhor Johnson. O senhor falou sobre as influências
planetárias a que estão sujeitos todos os espíritos encarnados. E nós, os
ciganos de Pais Seta Branca, quais são os astros que nos alimentam?
- Seus
astros principais são a Lua e o Sol. Tanto num como no outro existem grandes
usinas e enormes turbinas que, trabalhando em consonância, fornecem as energias
psíquicas da sua tribo, que, aliás, também é a minha...
Neiva
retornou ao corpo e, imediatamente, tomou as providências para o êxodo. Como
legítimos ciganos que eram, foi fácil mobilizá-los para a partida. Em poucas
horas a caravana de carroças e velhos caminhões estava na estrada. Escolheram
uma curva no rio Corumbá, que formava uma praia de areia branca, e lá montaram
o acampamento. Ali permaneceram por algum tempo, sempre informados dos acontecimentos
pelos espíritos amigos.
A
revolução se efetivou, sem derramamento de sangue, e as coisas políticas
continuaram seu curso, a caminho da evolução.
Os
ciganos de Neiva, os missionários de Seta Branca, retomaram seu trabalho, sob a
égide de Assis.
OS ESPÍRITOS
E O UNIVERSO
A busca
do “eu” absoluto é tão quimérica como a procura da essência de Deus. Isso, nos
planos vivenciais concebíveis. Além disso, nada há que se possa afirmar ou
desmentir. Mesmo a concepção de planos corresponde a realidades relativas,
didaticamente submissas às nossas capacidades. Mas, na busca do ponto fixo de
referência, a essência das coisas, a gente sempre vai aceitando o relativo mais
perto, o que nos parece o mais absoluto.
Assim se
situa a posição do espírito. Na escalada suave deste relato, vamos nos
familiarizando com o espírito como agente. Percebemos, também, que corpo, alma,
encarnado, eu, consciência e outros termos, se referem a maneiras de “estar”,
formas ou situações induzidas pelo espírito.
O Homem,
o ser humano, ou, apenas, o ser, são simples formas, maneiras operacionais ou
de manifestação dos espíritos. Citamos assim no plural para que se perceba, com
clareza, a existência do espírito como algo individualizado, e não no seu
conceito abstrato, como “o espírito das coisas”, etc.
Com esse
conceito, vamos, então, compreendendo que os espíritos têm a versatilidade de
percorrer o Universo, viver, existir, agir, construir, criar, destruir ou
modificar. Também percebemos sua capacidade multiforme simultânea de se
apresentar em planos e lugares diferentes.
Vimos,
na figura de Stuart/Tiãozinho, um exemplo dessa capacidade. Como Stuart, ele é
um cidadão de Capela, cumpre funções técnicas num dos seus mundos, e deve,
provavelmente, ser muito ocupado. Como Tiãozinho, ele atende na qualidade de
Guia Espiritual do Vale do Amanhecer.
Como
Tiãozinho ele é muito solicitado. Às vezes, ele está incorporado em algum
médium do Templo do Amanhecer, e a gente percebe que ele faz ligeira pausa na
comunicação. Certa vez perguntei o porquê disso, e ele disse que estava
atendendo a algum pedido feito naquele momento, a alguém que estava muito
aflito e que o invocava. Explicou, então, que fazia esse tipo de atendimento no
prazo de alguns poucos segundos! Como Stuart, sabemos pouco de suas funções.
Estamos informados, apenas, que a Engenharia Sideral se prende a problemas de
cálculos astronômicos e atividades relativas aos seus aspectos físicos. Isso
nos faz imaginar se ele não tem outras “personalidades” além dessas.
Isso,
que sabemos sobre ele, nos diz claramente que o espírito a quem costumamos
chamar Tiãozinho, cujo retrato falado está no Templo do Amanhecer, atende e
vive todas essas figuras que acabamos de descrever. Aparentemente, tudo isso
acontece simultaneamente. Esse fato, porém, deve ser entendido em seu aspecto
relativo de “tempo”, cuja conceituação é a mais complicada possível para a
nossa mente física. O fato mais fundamental é que se trata do mesmo espírito.
Neiva, ao conhecer, pela primeira vez, o cidadão Capelino Stuart, um ser
físico, momentaneamente em estado etérico, reconheceu logo Tiãozinho, o
espírito amigo, o mato-grossense alegre de nossas sessões familiares!
Essa
capacidade de ser várias coisas simultaneamente é uma das propriedades dos
espíritos. Estamos vendo que o fato existe, tanto pelas ações da Clarividente
Neiva, como pelos atos de espíritos como Tiãozinho. A idéia é comunicar
justamente isso, a multiplicidade dos espíritos, pois se trata de um patrimônio
comum a todos os espíritos. Sem a absorção dessa realidade, se torna impossível
entender outros fatos de nossa vida e de nosso universo. Mas, com a consciência
desse fato, nossa capacidade de encarnado se amplia, se dimensiona e teremos,
assim, mais recursos para entender as coisas que acontecem e irão acontecer
neste período de transição para o III Milênio. Para nós, pelo menos
provisoriamente, é o Espírito, e não o Homem, que ocupa o centro de nosso
Universo.
O UMBRAL
CAPELINO
Embora
rápido, o aprendizado de Neiva em relação a Capela foi árduo. Na verdade, essa
foi mais uma iniciação, e ela, depressa, compreendeu as implicações disso.
Habituada
como era a comentar as lições de seus Mestres com as pessoas que a procuravam,
ela fez o mesmo com relação aos Capelinos. Um dia, porém, logo após uma
conversa que tivera sobre este assunto, ela sentiu incômodos físicos diferentes
dos causados, habitualmente, pela sua moléstia. Sentia enorme pressão na nuca e
os olhos pesados, sonolentos. Procurou a causa daquilo em sua clarividência, e
viu que tinha relação com os Capelinos. Percebeu, então, que ela estava sendo
irradiada por eles e que havia algo errado no seu comportamento em relação a
eles. Os distúrbios aumentaram, a ponto de lhe tirarem a proverbial paciência
com as pessoas. Sentindo, pois, que as experiências estavam interferindo com
sua missão na Terra, decidiu esclarecer o assunto com eles.
Dirigiu-se,
então, para o local habitual de contato, e escolheu um ponto na parte mais alta
do morro. Havia ali um pé de murici, e ela se encostou no tronco, sentada, com
os pés pendentes no despenhadeiro. A posição era tão confortável que ela teve a
impressão de o local ter sido preparado. Embora ela já não se preocupasse muito
com seu corpo, sabedora de que recebia toda proteção deles, não pôde impedir um
pensamento de possível queda no abismo.
Com essa
idéia acauteladora, ela saiu do corpo, testou a situação, voltou para ele, mas
não parou de sentir a mesma dor na nuca e o peso nos olhos.
Normalmente,
quando saía, embora continuasse com percepção física parcial, ela não sentia as
dores ou as sensações desagradáveis. Desta vez, porém, elas continuaram.
Estava, assim, procurando a causa dessa anormalidade, quando percebeu duas
figuras ao seu lado, assustando-se ligeiramente. De pronto conscientizou-se de
que eles estavam sendo vistos por ela, pela sua vidência. Eram Johnson Plata e
Eris que a olhavam, de pé, do seu lado esquerdo.
Na sua
preocupação de autenticidade, lembrou-se, então, de uma lição de Mãe Nenen, de
que a apresentação do lado esquerdo era feita por espíritos sofredores, sem
Luz. E reparou, então, que os dois estavam opacos, sem brilho.
Johnson,
adivinhando seus pensamentos, disse-lhe o “Salve Deus!” habitual, e sugeriu que
ela deixasse de lado essa idéia, pois nela havia muito de superstição, o que
não era do agrado de Pai Seta Branca.
Se eles
estavam assim opacos, é porque não estavam refletindo melhor a luz solar, dada
a composição do momento. Ela estava brilhante porque permanecia no estado
físico. Num relance, ela compreendeu o que quis dizer. Eles estavam ali apenas
em projeção e, embora essa projeção fosse física na Terra, não tinha as mesmas
qualidades do seu próprio corpo físico, mais denso, menos penetrável pelos
raios solares, refletindo, portanto, muito mais. Isso explica, também, sua dor
de cabeça e sua sonolência, causadas pelas projeções deles desde que começara a
falar a seu respeito.
-
Natachan, – continuou Johnson – deixe de lado essas pequenas coisas humanas e
lembre-se das coisas de Deus e da sua missão. Será a luz dos seus olhos que a
levará aos outros mundos para trazer o esclarecimento ao Homem para o Terceiro
Milênio.
Neiva,
então, compreendeu o simbolismo do que ele acabara de dizer e olhou-os
interrogativamente. Eles sorriram e pediram para que ela se concentrasse, para
“viajar”.
No mesmo
instante tudo escureceu para ela, como se o Sol houvesse desaparecido. Não
sentiu mais a dor e os dois Capelinos se tornaram luminosos. Ela percebeu,
então, que já se achavam em outro plano, iluminados pela luz dele. Ouviu a voz
de Johnson, que dizia:
- Sim,
Natachan, agora estamos prontos para nosso trabalho. Vamos!
Ela
notou a diferença entre seu corpo e o deles, uma situação inversa de minutos
atrás, quando estavam na Terra. Agora estava em corpo etérico e eles no seu
corpo físico, natural. Deduziu, também, que se achavam em Capela. Diante de seu
ar admirado, eles confirmaram seu pensamento.
- É
verdade, Natachan, aqui é Capela, o planeta onde começa e termina o Homem...
A
palavra “homem” soou com estranheza nos seus ouvidos e ela perguntou se a mesma
era usada em todos os planos.
- Sim, –
disse Johnson – homem é a expressão que se usa em vários planos, entre Capela e
a Terra. Sim, homem como Natachan, homem como Tia Neiva...
Ela
pensou consigo: que falta de cavalheirismo deles em me chamarem de homem. Nem da
comparação eu gosto!...
Lendo
seus pensamentos, os dois sorriram, e ela, meio humilhada, sorriu desapontada.
Nisso,
chegaram ao destino, e a primeira pessoa que ela viu foi Tiãozinho, vestido
como seus companheiros. Ela sentiu grande alegria em vê-lo, e os dois se
cumprimentaram afetuosamente.
Johnson
explicou que pedira a presença de Stuart para colocá-la mais à vontade, uma vez
que os dois se conheciam melhor. Tião sorriu e disse:
- Neiva,
então você veio conhecer o Umbral de
Capela?
Ela
olhou-o, sem compreender, e Tiãozinho apressou-se em explicar:
- Aqui,
Neiva, é um dos mundos de Capela, que se parece com o Umbral que André Luiz
descreveu por meio do Chico Xavier. Só que o Umbral a que eles se referem é uma
Casa Transitória, um ponto intermediário entre a Terra e Capela.
- Mas,
Tião, – disse ela – como se parece com a Terra!
- Sim,
Neiva, ele não só parece, como é de terra, físico. É aqui que o Homem ainda
maldoso paga o preço de sua evolução em trabalho. Aqui, Neiva, medram as
saudades, o arrependimento e as recordações que obrigam o espírito a fazer
reexame de sua trajetória e do que fez com sua encarnação.
Neiva
fez várias perguntas e chamou Tião de Stuart. Os outros dois riram da rapidez
com que ela se adaptava às circunstâncias. Tião continuou com as explicações:
- Esta
parte de Capela tem uma variadíssima organização social, mas com camadas
distintas. Aqui são recebidos os espíritos desencarnados na Terra que não hajam
conseguido condições de vivência nos mundos mais adiantados de Capela. Quando chega,
ele é encaminhado para o setor de sua condição e afinidades. Passa, então, a
conviver com espíritos da mesma faixa, na equanimidade da Justiça, que irá
facilitar sua evolução.
-
Justiça em que sentido? – perguntou Neiva.
- No
sentido mais lógico que os encarnados podem ter da Justiça Divina – respondeu
Tião – O espírito, acrisolado no seu próprio egoísmo, estaciona num ponto
qualquer da sua trajetória, ficando para trás em relação aos outros.
Estabelece-se, então, uma diferença vibratória, que é a causa da maioria dos
conflitos entre os encarnados. Enquanto alguns progridem no amor, na tolerância
e na humildade, outros se desenvolvem no ódio, na crueldade e nas ações
maléficas. É verdade que existe a Justiça humana, que procura estabelecer o
equilíbrio. Mas esta atua, apenas, parcialmente, pois não pode ir além dos
preceitos legais, quando as ações desses espíritos violam seus princípios. Mas,
a Justiça humana abrange pouco além do comportamento efetivo, e como irão se
corrigir as faltas não previstas e não codificadas nas leis? De que forma irão
ser reajustados os desgastes profundos causados pela maledicência, pela inveja,
pela calúnia, pelas astúcias e as ações secretas? Como serão recompensadas as
vítimas da maldade humana, se a Justiça dos homens é tão precária? A resposta
está aqui, no Mundo Maior, no Planeta Mãe, cujo tamanho e organização provê
todas as oportunidades de reequilíbrio, de retificação das trajetórias
desviadas. E aqui, Neiva, é uma das suas “oficinas de reparos”, com sistema de
departamentos. Foi a visão deste mundo que inspirou a obra de Dante Alighieri,
a sua “Divina Comédia”. O Homem moderno deveria reler Dante, pois dispõe de uma
perspectiva mais ampla para entendê-lo.
- Quando
voltar para a Terra, vou comprar esse livro! – disse Neiva, com simplicidade.
Tiãozinho
continuou:
- Aqui
existe uma divisão em vinte e um departamentos estanques, como se fossem mundos
separados. Os espíritos que desencarnam na Terra passam pelas Casas
Transitórias e, tão pronto completem seu tratamento, são encaminhados para cá.
O departamento escolhido é de acordo com sua problemática. Geralmente ele vai
encontrar e conviver com espíritos da mesma gradação, sem os benefícios da
diversificação da Terra. Lá, ele aprendia, acumulava lições na liberdade da condição
do encarnado. Se era maldoso, a bondade dos outros equilibrava suas ações.
Aqui, sua situação muda, pois os espíritos têm as mesmas condições dele. Só
assim ele irá sentir na própria carne as coisas que costumava fazer aos outros.
Assim como um criminoso contumaz, que ao ser perseguido por outros criminosos
sente todos os terrores do atentado à sua vida. Só assim ele se conscientiza,
toma conhecimento do que é ser vítima, ser perseguido. Aqui, ele se lamenta
porque percebe a oportunidade que perdeu, como encarnado. Faz, então, seu autojulgamento e sua autocondenação e,
depois, na convivência áspera, no conflito equilibrado, ele evolui e muda de
departamento, sempre no processo de ser colocado junto aos iguais. A
organização é perfeita, nos mínimos detalhes. Há, por exemplo, um setor para
onde vão as velhinhas intransigentes, essas matronas que não perdoam as
travessuras dos mais jovens e acham que o mundo nada vale. Aqui, na convivência
com outras velhinhas do mesmo tipo mental, elas se saturam daquela maneira de
ser e compreendem seus erros.
- E, –
perguntou Neiva – quem dirige tudo isso?
- Os
próprios espíritos em provas, em hierarquias dos mais evoluídos. Ser um
trabalhador aqui, Neiva, já é meio caminho andado para os outros mundos de
Capela.
Stuart
calou-se. Neiva reparou, então, que havia visto tudo aquilo que Tião explicava,
mas que, na realidade, não havia saído do lugar. Compreendeu, então, o que
Johnson Plata queria dizer quando se referiu à “luz dos seus olhos”.
Assim
terminou a primeira visita de Neiva, sua primeira lição sobre esse mundo de
Capela. Depois disso, no decorrer de sua missão, ela manteve estreito contato
com ele, sempre, porém, restrita ao âmbito de sua mediunidade.
AS RIQUEZAS
DA TERRA
Terminada
a lição de Neiva sobre o Umbral Capelino, ela, calada, pensava na complexidade
da vida espiritual e lembrou-se, com certas saudades, da Terra, onde as coisas
agora lhe pareciam bem mais simples. Na verdade, pensou, a Terra é muito
preciosa, cheia de oportunidades. Lembrou-se de que, certa vez, Tião lhe
dissera ser a Terra cheia de tesouros. Decerto, seria isso que ele queria
dizer. Os três Capelinos, porém, leram seu pensamento, e Neiva distraída,
apenas ouviu quando Johnson, dirigindo-se a Stuart, disse:
-
Stuart, por que você não aproveita esta oportunidade para materializar sua
chalana e levar Natachan para a Terra, para ela aproveitar melhor?
Tião
concordou, conduziu Neiva para o interior da nave e partiu em direção à Terra.
Neiva, acomodada no seu corpo etérico, nada sentiu além de ligeira tontura,
logo se adaptando ao sistema. Permaneceu maravilhada, olhando a enorme janela
transparente. Os astros e corpos celestes não apresentavam grande diferença de
sua visão habitual na superfície, a não ser pela variação de luz e sombras. Subitamente,
ela viu um risco de fogo que cruzava o céu, e pressentiu ser algo diferente.
Parecia um foguete, e ela chamou a atenção de Tião.
- Veja,
– exclamou – olhe, Tião, um foguete da Terra!
Tião se
aproximou da janela e respondeu:
- Sim,
Neiva, é um foguete da Terra que se dirige para a Lua.
- E ele
chegará até lá?
- Sim, –
disse ele, pensativo – o foguete chegará até lá, mas seu piloto vai morrer.
-
Morrer, Tião? Meu Deus! E o espírito dele?
- Seu
espírito, Neiva, seguirá seu destino, de acordo com seus merecimentos. Não se
preocupe. Esse astronauta tem muitos méritos e receberá suas recompensas de
acordo com eles. Esse fato tem acontecido mais do que vocês, na Terra, supõem.
A conquista do espaço pelos seres físicos tem custado uma fortuna de sacrifícios
e dispêndios materiais. Mas isso não é novo na história da Terra. Foi assim que
o povo de Equitumans se perdeu. O Homem, cego pelo orgulho, julga que seus
conhecimentos científicos lhe darão poderes divinos. Com isso, se lança a essas
conquistas insanas e perde de vista os tesouros que o cercam, na Terra.
Infelizmente, pela ciência material o Homem fará muito pouco. Ele se esquece de
que Deus tem seus desígnios e que sua missão é a de se ajustar a esses planos
divinos, e cada homem executar sua parcela deles. Aliás, Neiva, essa é a
atitude fundamental que distingue os seres humanos entre si. Alguns procuram
fazer a vontade de Deus, serem apenas executores de seus planos. Outros, apenas
se preocupam com seus próprios planos, sua própria vontade. Os que reconhecem
sua condição precária de partículas diferenciadas de Deus e a serviço de Sua
vontade, esses são os médiuns, os intermediários entre Deus e o Universo. Para
eles, Deus é inconcebível, e eles o vêem, apenas, na parcela da missão que
executam, no que lhes é próximo. Esses são os puros de coração, os simples.
Para esses, Deus existe realmente, embora pouco saibam sobre Ele. Os outros, os
que pretendem executar tarefas de si mesmos, reduzem Deus às proporções de suas
mentes, identificam-No consigo mesmos. Esse é o Deus feito à imagem e
semelhança do Homem, é o Deus dos laboratórios, da hipertrofia do ego humano.
Veja por você mesma, Neiva, como se fala tanto na grandiosidade do Homem, nas
suas conquistas científicas e no futuro grandioso da espécie humana. E,
entretanto, como essa realidade é diferente, como existem mazelas, injustiças
sociais, guerras cruéis e como está vazia a alma humana! E pensar, Neiva, que o
Homem tem tudo em si e em torno de si, no seu universo próprio, para a
realização dos planos divinos. Vamos continuar, Neiva, e daqui a pouco vou lhe
mostrar alguns pontos da Terra onde estão enterrados grandes tesouros da
herança humana.
A
chalana, invisível, saiu da influência de Capela e penetrou no etéreo da Terra,
materializando-se na proporção em que se aproximava da superfície.
Neiva,
indiferente aos processos, tinha olhos, apenas, para a paisagem da Terra,
iluminada pelo Sol. Tião, naturalmente acostumado com o ângulo de visão que
aquela altura proporcionava, ia identificando os pontos por onde passavam.
Apontou para uma longa fita prateada que cortava uma superfície amarelada e
informou-a ser o rio Nilo. A paisagem pareceu familiar a Neiva, e ela sentiu
inexplicável aperto no coração. Sentiu que recordações nítidas lhe subiam à
memória, e sua angústia aumentou. Sim, sim, ali ela vivera e fora uma rainha!
Ali fora importante e realizara grandes coisas. Como sua situação, agora, era
diferente! No Egito, fora poderosa, senhora de exércitos. E agora? Lembrou-se
da UESB e da sua missão. Sim, agora ela era uma simples missionária do Cristo.
A
chalana diminuiu a velocidade e Tião explicou porque estavam se demorando sobre
aquele pedaço da Terra.
- Neiva,
– disse ele – observe aquelas pirâmides. No seu interior estão encerrados
preciosos ensinamentos, suja revelação poderia modificar toda a trajetória
humana. Elas ocultam tesouros da sabedoria cósmica, representados por
documentos, máquinas e provas vivas desse conhecimento. Além deste, existem
mais três pontos da Terra em que essa herança está guardada. Uma situa-se entre
as ruínas do império incaico, o outro está no Brasil Central, e o quarto num
ponto que ainda não pode ser revelado. Esses segredos virão à tona, mas creio
que tarde demais para serem aproveitados pela humanidade atual.
- Mas,
Tião, por que isso? Se, como você está dizendo, os homens poderiam modificar o
destino da humanidade com os ensinamentos desses tesouros, com o que está
encerrado nesses monumentos e ruínas, por que não são guiados a descobri-los?
- Muitos
o foram, Neiva, muitos! Alguns acharam parte dessas verdades e a revelaram. Não
foram, porém, acreditados. Outros tiveram que guardar os segredos para si.
Esses não tiveram autorização para dar aos homens mais poderes, devido às
condições espirituais em que se mantinham. Esses tesouros, Neiva, estão ocultos
no interior desses monumentos, como o tesouro de Deus está oculto no coração
dos homens. Eles não estão sendo descobertos, porque o fiel da balança pendeu
para o outro lado, para a extroversão do ego, para a conquista do mundo
sensorial. Em vez de mergulhar no fundo do seu próprio mundo interior, do seu
Cristo interno, o Homem preferiu a conquista, aparentemente mais fácil, do
mundo exterior de si mesmo. Foi isso que levou a humanidade a essa situação
paradoxal. O Homem utiliza seus sentidos, sua capacidade física e seus poderes
sobre a matéria para a conquista do cosmo, que é de outra natureza, mais sutil,
mais vibrátil, e, com isso, se condena por antecipação. Sem dúvida alguma,
muitos dos artefatos humanos atingem o alvo e transmitem informações. Mas elas
são reduzidas pela própria limitação concepcional e passam a ser válidas apenas
na Terra. Isso é que forma a ilusão cósmica humana. A própria palavra cosmos significa uma concepção ilusória
do Universo. Veja no caso da Lua, Neiva. Prejulgando seus objetivos em termos
de geologia, rochas, estratificações, irradiações e outras concepções da
matéria, a Ciência está alheia a fatos, bem mais positivos, do equilíbrio
sideral, das forças selênicas e das verdadeiras funções da Lua. Longe estão de
“enxergar” os seres que habitam o pequeno mundo lunar. Entretanto, se usassem
os instrumentos adequados da sua psique, e se harmonizassem com os planos de
Deus, os homens poderiam não só conhecer a Lua, como outros planetas, estrelas
e corpos celestes. Tais conhecimentos dimensionariam a alma humana até as
proximidades do espírito, e trariam sabedoria. Se assim o fizessem, os homens
poderiam não só conhecer, como colocar as coisas no seu devido lugar, no plano
adequado. Saberiam, então, o que é útil para sua missão na Terra e o que não
lhes competia interferir. Neiva, minha irmã, a Lua tem importantes funções,
muito mais importantes do que os homens julgam. E, em relação à Terra. Essas
funções estão em pleno funcionamento, e isso está completamente fora dos
poderes do Homem, como espírito encarnado. Por isso, Neiva, a decantada
conquista da Lua não passa de um gesto de temeridade, resultante da hipertrofia
do pequeno ego humano. Se o Homem empregasse apenas parte desses esforços na
descoberta e interpretação dos enigmas das ruínas incaicas ou egípcias, ele
estaria muito mais aparelhado para levar a atual civilização a bom termo. Na
Lua, Neiva, existem seres lunares, espíritos ocupando corpos de acordo com as
condições da Lua, cuja função principal é controlar as gigantescas usinas de
seu interior. São seres de tal natureza que sua simples proximidade de um ser
humano causará sua desintegração! Você nem pode imaginar, Neiva, o trabalho que
tem havido para que esses astronautas sobrevivam e retornem à Terra!
- Mas,
Tião, por que isso? Não seria melhor que isso acontecesse e os homens
desistissem dessa tolice?
- Não,
Neiva, não seria melhor. Se houvesse mais desastres do que tem havido e
encobertados, haveria pânico na Terra, e as coisas se precipitariam. Se as
coisas têm acontecido nessas pesquisas, os desastres ocultos pelos poderes
públicos fossem noticiados ou vistos pela humanidade, haveria temores
prematuros que iriam modificar a psique humana antes do tempo. Não esqueça,
Neiva, que a Terra ainda está incluída no Ciclo de Jesus, e os estímulos para a
conscientização de cada homem ainda são aqueles preconizados por Ele. Logo
mais, essa oportunidade terá passado e o Homem ficará à mercê das forças que
desencadeou. A semeadura foi livre, a colheita será obrigatória. Mas, por algum
tempo ainda, o Homem está protegido pela Lei do Perdão, do Amor e da Redenção.
É importante que o Homem perceba, por si mesmo, as coisas. Na verdade, grande
parte do trabalho dos Mestres é proteger os homens de seus próprios desmandos,
para que não se destruam antes do tempo, antes que tenha despertado sua
partícula crística, sua luz interior. Assim exige a didática divina.
Enquanto
Tião fazia essa longa explicação, a chalana continuava seu caminho. Passavam
sobre altas montanhas e o Capelino se apressou em explicar que eram os Andes.
Ao longe, ele mostrou a Neiva o oceano Pacífico. Quando se aproximaram de sua
orla, Tião mostrou um enorme espelho de água em meio às montanhas.
- Ali,
Neiva, – disse ele – ficam a Bolívia e o Peru. Aquele é o lago Titicaca, onde
começou a civilização dos Incas. Vê aquelas ruínas? Ali também estão encerrados
grandes segredos milenares.
A
chalana invisível continuou adentrando o interior do continente, e pairou sobre
enorme floresta, cortada de rios.
-
Aquele, Neiva, é o rio Araguaia, bem no coração de seu país. Nessa região é que
estão ocultos os tesouros dos Equitumans, um povo que existiu há milhares de
anos, e que deu origem a quase todos os povos que habitaram este pedaço da
Terra, há milênios atrás.
A
chalana acelerou e se dirigiu para o Norte. Pouco depois, estava sobre o Pólo,
e Neiva ficou admirando aquelas enormes montanhas de gelo. Subitamente, ela
soltou uma exclamação, chamando a atenção de Tião, que lidava com a chalana.
- Veja,
Tião, – exclamou – um disco voador!
- Sim,
Neiva, aquele é um aparelho voador que pertence a um povo que vive debaixo do
gelo. Você o está vendo com nitidez porque estamos em estado etérico; mas não
se esqueça que ele é invisível para os olhos físicos. É verdade, Neiva, também
sob essas rochas existem imensos tesouros que virão à tona pelo derretimento do
gelo. Embaixo dessa imensidão gelada existe uma grande civilização em estado
etérico. Ali vibram corações tão amargurados como na região umbralina de
Capela. Ali vivem, também, os homens-peixes,
cuja principal obsessão é derreter o gelo e inundar a Terra.
-
Derreter o gelo? – estranhou Neiva.
- Sim,
Neiva, esses seres vivem no fundo dos mares polares e são dotados de
inteligência quase humana. Oportunamente, dar-lhe-emos notícias mais
pormenorizadas sobre eles. Agora, vou levá-la de volta ao seu lar, pois o tempo
já está quase esgotado.
A
chalana encaminhou-se novamente para o Planalto Central do Brasil, enquanto
Neiva meditava sobre todas aquelas coisas estranhas que vira.
Ao
passarem sobre Brasília, Neiva teve sua atenção espertada por uma nuvem escura
que se movia em direção ao conjunto central de edifícios. Notou que não se
tratava de uma nuvem comum, e interpelou Tião a respeito. Ele veio para perto
da janela e disse que já estava a par do fato.
- São os
Falcões, – disse ele – uma das falanges do Vale das Sombras.
- E o
que eles estão fazendo? – perguntou ela.
- Como é
de seu hábito, estão fazendo uma investida em massa contra o centro político e
administrativo do seu país. Observe bem, Neiva, porque, daqui a pouco, eles
entrarão em choque com as defesas. Creio que haverá verdadeira batalha.
Neiva
viu, então, uma outra nuvem, mais clara, que se aproximava dos Falcões e olhou
interrogativamente para Tião.
- Aqueles
são os Espíritos das Correntes Brancas, comandados pelos orixás. Volte para seu
corpo, pois vão precisar de você no seu plano,
Neiva
despediu-se dele com um “Salve Deus!”, fechou os olhos e despertou no seu
corpo. Permaneceu sentada alguns minutos e procurou coordenar as idéias que lhe
afloravam na mente. Só então notou dois companheiros de trabalhos da UESB, que
pareciam estar ali há muito tempo. Teve ligeiro alarme, mas logo se convenceu
de que nada de anormal acontecera. Ao vê-la desperta, eles se aproximaram
sorrindo, e ela ficou sabendo que estivera dormindo apenas por meia hora. Sem
saber o que fazer, e receosos de acordá-la, eles haviam ficado de vigília, por
ordem de Mãe Nenen.
Os três
se encaminharam para a cabana que servia de sala das consultas, e Mãe Nenen
chegou, apressada.
- Alguma
novidade, Neiva? – foi logo perguntando.
- Não,
Mãe Nenen, apenas tive um transporte. Sabe, Mãe Nenen, acho que vamos ter
novidades nesses dias. Vi uma batalha em cima do Palácio do Governo, entre
Falcões e Cavaleiros de Oxossi. A coisa aqui em baixo vai ficar preta!...
O VELHO LINO
Ninguém
sabia seu nome completo até o dia em que foi necessário verificar seus papéis
para seu enterro. Conheciam-no, apenas, como o Velho Lino.
Ele
chegara à UESB por seus próprios meios, mas tão doente que foi logo encaminhado
para o modesto “hospital”. O diagnóstico foi de cirrose hepática, sem
possibilidade de recuperação. Assim mesmo, durou alguns meses e, durante todo
esse tempo, Neiva cuidou dele com carinho e afeição.
Na sua
clarividência, ela ia vendo seus quadros e os relatava a ele.
Seu
corpo era todo inchado pela perniciosa moléstia e sua pele tinha um tom
esverdeado, que causava repugnância. Isso tudo era agravado pela sua boca
desdentada. Mas o Velho Lino quase não se queixava. Dia a dia, ele ia morrendo
com a tranqüilidade dos que se acham “em casa”. Entre ele e Neiva havia amizade
e respeito. Os dois tinham longas palestras, que ninguém entendia.
Alguns
meses depois de sua morte, Neiva sentiu saudades dele. Só então se dera conta
da sua solidão, em meio à multidão que viva. Afinal, o Velho Lino tinha sido um
bom companheiro, na visão dos caminhos que conheciam pouco.
Lembrou-se,
então, de seus transportes, e pensou que, talvez, tivesse oportunidade de saber
notícias dele. Com essa idéia em mente, encaminhou-se para sua plataforma de
contato, e lá sentou-se à espera.
Sua
concentração foi tão natural e imperceptível que até se assustou um pouco
quando ouviu a voz familiar de Johnson Plata a lhe dizer “Salve Deus!”. Eris estava
com ele.
Já fora
do corpo, ela respondeu, e Johnson foi logo dizendo:
- Vamos,
Natachan, vamos que está na hora de encontrar o Velho Lino!
Ela
ficou meio encabulada, talvez devido à maneira de como que eles conheciam seus
pensamentos, e sentiu certa relutância em aceitar o convite. Ao ouvir o nome do
Velho Lino ser mencionado por Johnson, com seu ar nobre e saudável, perdeu
parte do seu entusiasmo. Na sua mente passaram quadros dos últimos dias de sua
vida e do cadáver inchado daquele velho de setenta anos. Mas, imediatamente,
sentiu vergonha de seus pensamentos, e seguiu-o, sem mais comentários.
A
chalana pousou suavemente numa espécie de plataforma iluminada.
Saíram
da nave e se encaminharam por um longo corredor, que terminou num parque
iluminado pelo luar. No meio do terreno, tapeçado de uma erva que reverberava à
luz da Lua, e pontilhado de árvores simétricas, erguia-se enorme edifício, que
se alongava para os fundos do parque. Ela ficou olhando aquelas árvores, que
sempre lhe chamavam a atenção pela simetria.
Para
ela, que gostava das flores artificiais da Terra, elas pareciam ser de plástico
colorido. Reparou, também, que, em todas elas, estavam dependurados medalhões,
com inscrições que ela não distinguia. Estranha música pairava no ar, mas Neiva
não tinha muita certeza de que se tratasse de música. Parecia mais um som
agradável, um zumbido modulado. Johnson falou:
- Aqui,
Natachan, é um hospital de recuperação da Casa Transitória e, também, o ponto
de partida para Capela.
Apontou
um lado para o qual Neiva ainda não olhara, e ela viu várias naves de grande
porte, que se pareciam muito com os zepelins (dirigíveis) da Terra, só que
tinham enormes janelas, cuja luz amarelada se destacava na luz branca do luar.
Chegaram
ao saguão do enorme edifício, e Neiva se preparou para o choque. Sentia
saudades e um certo receio. Ficou olhando as pessoas que se movimentavam nos
seus afazeres e, momentaneamente se viu sozinha. Johnson e Eris conversavam com
alguém, junto a um balcão. Nisso, ouviu seu nome sendo chamado pela voz do
Velho Lino. Levantou os olhos, receosa, e viu, diante de si, um homem que
aparentava uns quarenta anos, cujo sorriso amplo revelava dentes alvos e
perfeitos. Trajava roupas semelhantes às dos Capelinos, e tinha um ar saudável
e desenvolto. Ela custou a acreditar que estava diante do Velho Lino!
Daquele
pobre velho, inchado e desdentado, só restava o ar de serenidade e segurança
que caracterizavam seu espírito evoluído. Ele estendeu a mão, sempre sorrindo,
e, olhando-a com ar carinhoso, falou:
- Neiva,
que satisfação em vê-la! Queria muito lhe agradecer o tanto que fez por mim,
até meu desencarne! Tudo que sou, devo a você e à UESB. Mas, principalmente a
você, que me amparou com seu amor e seu carinho. Graças a Deus!
Neiva
estava tão emocionada que não conseguia falar. Sentia as lágrimas descerem pelo
seu rosto e procurou, como fazia na Terra, um lenço para disfarçar.
A
diferença que se operara em Lino era fantástica. Há apenas alguns meses, ele
deixara um corpo esverdeado pela infecção, como um fruto apodrecido, um ser
humano sofrido e pobre. A figura que tinha, agora, diante de si, era a de um
homem em plena forma e com a tranqüilidade de um ser humano realizado.
Pelo seu
espírito passaram as mais variadas implicações, comparações, lembranças,
doutrinas e tudo o que aprendera. Quantas conclusões, quantas provas da
multiplicidade do espírito, da veiculação variada, de corpos e personalidades
ocupados por um mesmo espírito!
E o que
pensar da fabulosa capacidade moldadora, na maleabilidade da matéria nos planos
fora do físico? Ali na figura esbelta de Lino, estava a prova viva de cada uma
daquelas assertivas. Enquanto refletia, ia ouvindo os comentários de Lino, que
lhe contava, com sobriedade, o que acontecera desde que chegara, trazido pelos
Médicos do Espaço.
Enquanto
ouvia, percebeu que aumentara muito a movimentação de gente em torno do
edifício, e sentiu certa curiosidade pelo que estaria acontecendo. Lino
apressou-se em explicar que aquele povo todo estava de partida para Capela,
inclusive ele.
Neiva
compreendeu a razão da presença de todas aquelas naves. Viu que todas tinham
grandes comportas, por cujas rampas pessoas iam e vinham. Era o embarque em
andamento, como em qualquer aeroporto da Terra. Lino continuou falando e
pedindo notícias do pessoal da UESB, mas os sentidos de Neiva estavam alertas
para alguma coisa que pairava no ar, uma estranha expectativa. Notando seu
estado, Lino apressou-se a lhe explicar que a curiosidade era em torno da
espera de uma pessoa que estava chegando da Terra e que iria para Capela na
mesma frota que ele. Tratava-se de um político do Brasil, muito conhecido, e
cuja influência fora muito grande nos destinos desse país, pois fora um
ditador.
Daí a
pouco, chegou um pequeno veículo e pousou bem junto ao edifício. Dele saíram
homens com roupas semelhantes à de enfermeiros. Levavam uma espécie de maca, e
Neiva, do ponto onde se achava, distinguiu claramente as feições transtornadas
do homem ali deitado. Subitamente, a palavra “ditador” calou na sua mente e ela
deu um grito.
- Mas,
seu Lino, – exclamou – esse homem morreu há muitos anos e só agora está
chegando aqui?
- Sim,
Neiva, de fato ele morreu há alguns anos, mas não conseguiu se desligar dos
seus compromissos cármicos, e permaneceu na Terra, ligado aos seus interesses.
Por muito tempo, continuou entrosado com seus correligionários e ao magnetismo
das mentes dos que o odiavam e dos que o amavam. Ultimamente, porém, ele estava
se imiscuindo com a falange dos Falcões, e os Mentores Espirituais acharam por
bem retirá-lo de circulação, para que não se atrasasse. Era um homem honesto
que se deixara influenciar pelo orgulho e pela desonestidade de muitos de seus
adeptos.
As
recordações de Neiva em torno do antigo ditador, cujo domínio do país fora
exercido, inclusive, nos tempos em que ela era uma viúva jovem e lutando pela
vida, misturaram-se com o quadro que acabara de presenciar, e ela sentiu certo
desequilíbrio.
Johnson
se aproximou e convidou-a, gentilmente, a se reequilibrar. Ela, um pouco
envergonhada pelo lapso momentâneo, retomou sua compostura habitual. Johnson
fez alguns comentários em torno da viagem, e Neiva notou que alguns dos
veículos já haviam recolhido as rampas de embarque. Viu, nas suas janelas
iluminadas, as sombras dos passageiros, e Johnson comentou que eram espíritos
que haviam terminado sua recuperação na Casa Transitória e estavam indo para
Capela. A aparência, entretanto, era igual à de uma plataforma de trens, na
Terra, com sua balbúrdia. “Assim na Terra como no Céu!...” – pensou ela.
Nisso,
Lino apresentou suas despedidas, e Neiva notou que ele estava muito alegre com
a partida. Mais uma vez agradeceu tudo o que ela fizera por ele:
- Deus
lhe pague, Neiva, por tudo. Creio que vai ser difícil a gente se encontrar
nesse mundão para onde vou.
Ela sentiu
um aperto no coração, e acenou para ele, que se encaminhava para uma das naves.
Uma a
uma, as naves foram decolando silenciosas e, aos poucos, o terreno foi ficando
vazio. Johnson pediu-lhe que aguardasse um pouco, pois tinha alguns assuntos a
tratar ali. Neiva ficou pensando naquilo tudo, olhando a movimentação, agora
bem menor. Mas, a tranqüilidade não durou muito. Outras naves, semelhantes às
que haviam partido, foram chegando. Só que, desta vez, se procedia a um
desembarque. Neiva viu que delas saíam espíritos nas piores condições,
amparados por enfermeiros e médicos espirituais. Eram os “mortinhos”, como ela
costumava dizer. Tomada de piedade, exclamou:
-
Pobrezinhos!
-
Pobrezinhos, por que? – perguntou Johnson Plata, se aproximando – Essa leva de espíritos
que está chegando resulta de um desencarne coletivo que acaba de se fazer na
Terra. São espíritos terríveis, Neiva, mas que pagaram boa parte de suas
dívidas, contraídas na antiga Roma. Todos eles foram colaboradores em torturas
e queima de pessoas daquele tempo. Agora, acabam de desencarnar no incêndio de
um circo, no Brasil. Na verdade, só agora é que vão, realmente, se recuperar
totalmente dos carmas contraídos, naquele tempo, em Roma. Ainda há muitos deles
na Terra, mas, até 1984, todos estarão neste plano.
Johnson
continuou dando explicações, enquanto olhavam o desembarque. Neiva, sorrindo,
pediu-lhe que, agora, tivesse cuidado com tanta informação, pois sua cabeça era
muito pequena.
Ele
também sorriu, e disse-lhe que era teria que absorver muitos fatos para o
exercício de sua missão na Terra.
- Entre
elas, Natachan, você irá agora receber as iniciações de um Mestre do Tibete,
que Seta Branca conseguiu. Você irá aprender a Alta Magia no próprio Tibete!
Neiva
recebeu a informação e indagou de Johnson como é que ela, uma missionária, iria
trabalhar com um “mortinho”.
- Não, –
disse Johnson, sorrindo – não se trata de um “mortinho”, mas sim de alguém do
seu próprio plano e adequado à sua altura evolutiva, pois se trata de um monge
altamente evoluído. Mas, porque essa sua intransigência com os que você chama
de “mortinhos”? Não será isso influência do catolicismo, que proíbe a invocação
dos mortos?
Ela não
fez comentários, e ele continuou:
- É
preciso a gente se lembrar de que não existem “mortos”, mas, apenas,
recém-chegados a um plano ou outro. Num ponto, talvez, os católicos estejam
certos, pois os que aqui chegam têm muito em que se concentrar e a invocação da
Terra os prejudica.
Pouco
depois, todos estavam no interior da chalana, que decolou, silenciosa, em
direção à Terra. Neiva permaneceu absorta, pensando em tudo o que vira e
ouvira. Despertou ouvindo um comentário de Eris em torno do Xingu. Para ela,
pareceu que, naquele momento, estavam passando por sobre essa região do centro
do país.
- Ali –
dizia Eris – estão os verdadeiros missionários de Deus!...
Ela não
entendeu bem o que ele queria dizer com aquilo, mas deixou para se informar em
outra oportunidade. Afinal, ela já tinha um bocado de informações para
catalogar em sua pequena cabeça!
Eles se
despediram com um caloroso “Salve Deus!”, e Neiva sentiu frio, pois começava a
cair uma chuva fina. Johnson continuou em sintonia, pela sua vidência, e
recomendou que ela tomasse um medicamento para a febre e que fosse logo para
casa, se abrigar da chuva. Ouvindo isso, ele disse, meio agastada:
- Por
que, agora, essa preocupação? Se meu corpo estava aqui, na chuva, de que
adiantam esses cuidados agora?
- Não,
Natachan! – respondeu Johnson – Enquanto seu espírito estava conosco, seu corpo
estava protegido pelos nossos médicos e não corria perigo algum. Pode estar
certa disso! Agora, porém, você está entregue às leis do mundo físico e de sua
faixa cármica. Vá se cuidar!
E sempre
sorrindo, desapareceu do campo de sua vidência.
MIGRAÇÕES
INTERPLANETÁRIAS
O
encontro de Neiva com Lino foi um marco de consolidação no seu aprendizado. A
partir desse dia, sentiu-se mais segura no que fazia e teve uma idéia mais
nítida a respeito dos planos vividos e percorridos. Também passou, a partir
daí, a estabelecer, na sua mente, a ligação entre as coisas que via e ouvia e
os acontecimentos na Terra.
Naqueles
dias, o assunto predominante entre seus consulentes era a situação política do
Brasil. Dia a dia aumentava o número de políticos e administradores públicos
que a procuravam, inquietos. Conversou a esse respeito com Johnson Plata, e ele
levou-a a observar a concentração de Falcões sobre a Praça dos Três Poderes.
Ela já tinha uma idéia do problema, pois vira a nuvem escura naquela viagem de
retorno que fizera com Tiãozinho. Desta vez, Johnson entrou em maiores detalhes
da luta e lhe deu instruções sobre a maneira de se haver com os políticos que a
procuravam. Com isso, ela passou a fazer advertências sobre os perigos que
resultariam na queda da administração federal. Estávamos nos últimos meses de
1963, e a agitação era muito grande. Na verdade, todos procuravam se acautelar
e defender suas posições. A complicação, porém, era muita, e, para a visão de
Neiva, mais parecia a boca de cena para os reajustes, os atos finais de um
drama transcendental. Essa visão não lhe tirava, entretanto, o dissabor que
essas consultas representavam. O ponto alto de sua missão era, justamente, sua
capacidade de amar indistintamente as pessoas, e doía seu coração quando
aqueles homens públicos se despiam de sua arrogância, pedindo-lhe orientação.
Sempre
que ela começava a ser muito envolvida e a se penalizar demais, Johnson a
levava para os planos sutis e lhe mostrava o quadro transcendente de cada um.
Aos poucos, ela foi compreendendo o mecanismo da Lei Cármica, na sua ligação
entre o passado remoto e o presente e a relação existente entre a política do
Céu e a política da Terra, ambas trabalhando em consonância. Na verdade, os
dirigentes terrestres são sempre bem assistidos e agem na tônica vibratória do
momento em que governam. Neiva compreendeu, então, o provérbio de que “cada
povo tem o governo que merece...”
Foi aí
que ela começou a penetrar nas origens mais remotas dos conflitos
civilizatórios e a tomar contato com as forças das primitivas tribos que
povoaram esta parte do planeta. O retrocesso no tempo e a penetração na
pré-história das Américas constituiu, para Neiva, e constitui para nós, a mais
fascinante aventura espiritual.
Referindo-se
a essa época, diz ela:
“Na
revolução de 64, fui obrigada a penetrar em tremendos quadros siderais, para
ter melhores condições de esclarecer aquela gente.
Certa
madrugada, fui acordada por um grupo de pessoas, todas da mesma família, que se
achavam na maior aflição. Vinham pedir socorro para o chefe da casa, pessoa de
alta posição social, e cuja situação se tornara, de um momento para outro,
extremamente grave. Por isso me procuravam, na calada da noite, temerosos de
represálias.
Mobilizei,
de imediato, as minhas forças , e procurei logo aliviar aquelas mentes
angustiadas mediante o processo de ionização. Depois de ouvi-los, despachei-os,
prometendo fazer algo por eles e pelo seu chefe, mergulhando a fundo no
problema. Logo compreendi que se tratava de um grande reajuste, de caráter
nacional e político, em meio a um grupo em desenvolvimento para a Nova Era,
espíritos em transição. Vendo os quadros terríveis daqueles espíritos,
compreendi quão difícil é a evolução do Homem.
Estava,
assim, mergulhada no mundo espiritual, com a cabeça quente de tanta complicação,
quando senti a presença de um velho amigo de Capela, a quem eu chamava Amanto,
cujo sorriso amplo e cordial me tirou daquela angústia. Mais tarde, vim a saber
que Amanto significava “professor” e que eles, na sua humildade, preferiam ser
chamados assim, evitando dar o nome.
Demonstrando
compreender o que se passava, ele me convidou para acompanhá-lo e, diante do
meu consentimento, de pronto nos achamos em sua chalana.
Num
tempo, que me pareceu ser de poucos minutos, achamo-nos nas margens do lago
Titicaca, cujas águas tinham a cor cinzenta da madrugada fria.
Abrindo
os braços, num gesto que parecia abarcar todo o Universo, Amanto me disse:
- Eis
aqui, Neiva, o berço e o túmulo de uma grande civilização. Aqui foram jogadas
duas grandes tribos: os Incas e os Índios. Os Índios aqui neste lado, nesta
margem do lago, e os Incas do outro lado desta cordilheira.
- Mas,
Amanto, – objetou Neiva – você disse que estas tribos foram jogadas? Não
entendi bem isso!
- Sim,
Neiva, elas foram virtualmente jogadas, num perfeito planejamento civilizatório
desta parte do planeta.
- Se
foram assim “jogadas”, Amanto, isso quer dizer que foram trazidas, não é
verdade? Nesse caso, elas foram trazidas de onde?
- De
Capela, Neiva, de onde vêm todos os habitantes da Terra.
- Todos?
Amanto, quer dizer que nós, que povoamos a Terra, somos todos oriundos de
Capela?
- Claro,
minha filha. Já lhe foi dito que Capela é o princípio e o fim do Homem na
Terra. Aqui só encarnam e reencarnam espíritos vindos de lá, também chamado
Nicho de Deus. O meu planeta é o responsável pelo Homem na Terra. A Terra só
responde pelos seus atos e os espíritos que aqui chegam vão e voltam tantas
vezes quanto for preciso.”
Neiva, no
seu confortável corpo etérico, permaneceu olhando as águas calmas do Titicaca,
cujas margens se perdiam de vista. Na sua cabeça fervilhavam perguntas, mas ela
não conseguia formulá-las convenientemente. Amanto, também olhando o lago,
demonstrava calma e compreensão. Segurando a mão de Neiva, ele disse:
- Neiva,
use a luz dos seus olhos e preste atenção nestas águas.
Ela se
concentrou e mergulhou sua visão espiritual no lençol líquido. Logo, começou a
perceber formas estranhas de casas, máquinas e corpos físicos que se misturavam
na imobilidade da morte. A imagem comparativa mais próxima da sua memória, que
lhe surgiu, foi a das ruínas de Pompéia, das quais já havia visto gravuras e
relatos. Os corpos ressequidos mal se distinguiam do lodo sedimentar, mas
pareceu a ela serem homens e mulheres enormes. Nisso, ouviu a voz de Amanto, que
dizia:
- Preste
atenção, Neiva, pois o que você está vendo é o testemunho físico de um drama
sideral, da falência de uma civilização que foi promissora na evolução da
Terra. Você está vendo o túmulo dos Equitumans, construído com água e terra
pela Estrela Candente!
Neiva
custou a despregar os olhos daquela triste visão e, no seu espírito, havia uma
interrogação apenas: o porquê daquilo tudo. Amanto conduziu-a de volta à
chalana, e a fez acomodar-se diante de uma tela, uma espécie de visor. Ligou
alguns botões e, com sua voz amiga, foi relatando e mostrando a ela a estória
dos Equitumans.
- Esses
espíritos, Neiva, foram preparados em Capela, durante muito tempo. Neles foi
destilado, dia a dia, o anseio evolutivo, o desejo de realização, e despertada
a vontade de colaboração na obra de Deus. Eles aprenderam a história da Terra,
seu papel no conjunto planetário, e se prepararam para o estabelecimento de uma
nova civilização neste planeta. A idade física da Terra se contava em termos de
bilhões de anos, e muita coisa já havia acontecido antes. Isso, porém, não era
de seu domínio mental, pois assim o exigia a didática divina. Só é dado ao
Homem saber aquilo que é necessário a cada etapa de sua trajetória. O impulso
criativo e realizador reside exatamente no terreno entre o conhecido e o
desconhecido de cada ser. Assim estavam esses espíritos quando vieram para a
Terra. Isso aconteceu 32 mil anos atrás, 30 mil anos antes da vinda do Cristo
Jesus.
- Quer
dizer, Amanto, que sua vinda foi assim, planejada como um grupo de
colonizadores, semelhante ao que acontece na Terra em nossa época?
- Sim,
Neiva, mais ou menos assim. Os Mestres haviam preparado o terreno, em várias
partes do globo. Mediante ações impossíveis de lhe serem descritas, foram
alijados da superfície certas espécies de animais, e outras foram criadas. Os
climas e os regimes atmosféricos foram contrabalançados e o cenário estava
preparado. Eles foram trazidos em frotas de astronaves e distribuídos pelo
planeta, em sete pontos diferentes. Esta região foi um dos pontos de
desembarque. Os outros foram onde hoje é o Iraque, o Alasca, a Mongólia, o
Egito e a África. Esses locais servem, apenas, como referência, pois, na
verdade, eles tinham o domínio de grandes áreas.
- Mas,
eles eram assim tão numerosos? – perguntou Neiva.
- Não,
não eram. O que eles tinham era o enorme poder de locomoção e de domínio sobre
os habitantes de cada região. Seu principal poder residia na sua imortalidade,
nas suas máquinas e na sua tecnologia.
-
Imortalidade?
- Sim,
Neiva, eles eram imortais, ou melhor, quase imortais. Eles não tinham a mesma
organização molecular dos seres que aqui já se encontravam. Seus corpos tinham
sido preparados em Capela, e traziam dentro de si dispositivos naturais de
sobrevivência. Eles só corriam o perigo de afogamento ou destruição física.
Seus maiores inimigos eram os grandes animais e os acidentes.
- Mas, –
perguntou Neiva – e sua fisiologia? Eles eram iguais a nós em outros pontos?
Eles comiam, bebiam, falavam e se reproduziam?
- Sim,
filha, eles eram normais em tudo. Sua língua, no princípio, era a mesma, mas,
aos poucos, ela foi se diferenciando, conforme os grupos com que foram
convivendo. Em algumas regiões da Terra, ainda se fala a línguas original dos
Equitumans, inclusive em algumas tribos de índios brasileiros. Mas, além da
linguagem articulada, eles usavam a telepatia entre si. Isso, aliás, foi que
causou a degenerescência da língua inicial. Para se entender com os outros,
eles adaptavam sua linguagem ao meio.
- É,
Amanto, continuo com certa dificuldade de absorver essa idéia de imortalidade.
Se eles comiam, bebiam, respiravam, como é que podiam se livrar das infecções e
das doenças? Eles não envelheciam?
- Sim,
Neiva, eles envelheciam, se tornavam mais velhos pela passagem do tempo, mas
sem degenerescência. Suas células traziam em si princípios diferentes das
células dos seres comuns. Na verdade, os mais velhos eram, apenas, mais
experientes, mais adaptados às tarefas. Eles amadureciam na sua alma, mas não
no seu corpo. Eles contavam, ainda, na conservação de seus corpos, com a
assistência dos Mestres, com quem mantinham contatos permanentes. Às vezes,
acontecia de um Equituman não evoluir de acordo com a tarefa e ceder seu corpo
a outro, que sofrera um acidente. Nesse caso, o espírito do cedente, simplesmente,
era recolhido ao planeta de origem. Mas, o importante, Neiva, é o que se
passava na questão da reprodução. Em Capela, eles eram organizados em casais
afins, almas gêmeas, e não havia reprodução como aqui na Terra. Creio que o
sistema de Capela está um pouco fora da compreensão dos terráqueos. É melhor
não tentar explicar, dada a tendência que vocês têm ao antropomorfismo. Mas,
aqui, eles foram submetidos ao processo sexual normal e tiveram filhos. Só que
seus filhos nasciam com um organismo comum, igual ao dos mortais. Assim, foram
nascendo outros Equitumans mais preparados para a Terra, bem como iam se
desenvolvendo. Suas mentes ágeis permitiam a constituição de organismos
adaptados às regiões onde nasciam. Daí os tipos diferenciados, que deram origem
às raças modernas, como contam, precariamente, seus historiadores e
antropólogos. O principal estímulo dos Equitumans era o seu livre arbítrio.
Eles eram pequenos deuses a quem estava entregue a tarefa de civilizar um
planeta, e dispunham de ampla liberdade para isso. Seu único compromisso era
observar os propósitos civilizatórios aprendidos nas escolas de Capela. A idéia
fundamental era o estabelecimento de condições ecológicas que permitissem a
vinda de novos imigrantes. Famílias espirituais inteiras sonhavam com a
oportunidade de colonizar a Terra, colaborar na obra de Deus. Mas, se eles
dispunham das grandes vantagens de seres extraterrenos, eles tinham as
desvantagens do terráqueo na sua animalidade física. Cedo se manifestou a velha
luta entre suas almas e seus espíritos.
- E eles
tinham religião?
- Tinham
o que nós podemos chamar de um conjunto doutrinário, cujas coordenadas eram
formadas pela hierarquia planetária, cujo centro era o Sol. Com isso, eles não
tinham preocupação com a busca de Deus, pois tinham um universo amplo e
objetivo o suficiente dimensionados para não necessitar a busca de uma
finalidade. Mais tarde, no declínio de sua sintonia com os planos iniciais,
essa doutrina derivou na religião do Sol. Se os historiadores quiserem traçar o
percurso dos Equitumans na Terra, basta catalogarem as regiões e os povos que
adoravam o Sol. Durante mil anos, os planos seguiram a trajetória prevista. Os
núcleos foram se expandindo, e muitas maravilhas foram se concretizando na
Terra. Basta que se observem alguns resíduos monumentais na superfície para se
ter idéia. Verdade é que essas ruínas são de difícil interpretação pelo Homem
atual. Uma coisa, porém, elas evidenciam: as ciências e as artes que permitiram
sua elaboração estiveram fora do alcance do Homem atual. Até hoje os cientistas
não conseguiram explicar, por exemplo, o porquê e como foram feitas as estátuas
da Ilha de Páscoa ou as pirâmides. A partir de agora, uma parte desses
mistérios será desvendada. Dois fatos contribuirão para isso: a curiosidade
científica despertada para fatos estranhos e as convulsões que a Terra irá
sofrer. Os Equitumans se comunicavam de várias maneiras. Dispunham de forças
psíquicas e aparelhos que lhes permitiam a troca de experiências. Isso explica,
em parte, as semelhanças arqueológicas que estão sendo encontradas, em lugares
distantes e, aparentemente, sem possibilidades, naquele tempo, de comunicação
entre si. Também viajaram entre planetas, e chegaram não só à Lua, como a Marte
e outros lugares do nosso sistema. Essas viagens, porém, só foram feitas no
segundo milênio, com o começo da hipertrofia dos seus egos, à semelhança do que
está acontecendo agora. A partir do segundo milênio, isto é, há 31 mil anos,
eles começaram a se distanciar de seus Mestres e dos planos originais. Seguros
na sua imortalidade e intoxicados pela volúpia de encarnados, eles deixaram
dominar pela sede do poder. Depois de muitas advertências, seus Mestres tiveram
que agir. Ao findar o segundo milênio de sua vida, eles foram eliminados da
face da Terra. Como isso se passou será de difícil compreensão para vocês. Foi
uma nave gigantesca, denominada Estrela Candente, que percorreu os céus da
Terra, executando a sentença divina. Em cada um dos núcleos Equitumans, a Terra
se abriu e eles foram absorvidos, triturados e desintegrados.
Neiva,
fascinada, ouvia a narrativa. e seus olhos se voltaram de novo para o Titicaca.
Agora, compreendia o que vira com seus olhos espirituais. Aqueles corpos,
aquelas máquinas, eram dos Equitumans!
- Sim,
Neiva, – prosseguiu Amanto – aqui é o túmulo deles e, como esse, existem outros
túmulos. Agora, com o próximo degelo dos pólos, muita coisa virá para a luz do
Sol.
- Mas, e
aí? – perguntou Neiva – Quer dizer que o plano falhou? E o que foi feito desses
espíritos?
- Não,
Neiva, o plano não falhou. Apenas não se cumpriu em toda a plenitude. Muita
coisa foi feita que permitiu a evolução da Terra. Já os grandes animais haviam
sido eliminados, tornando habitáveis as principais porções de terra. Os
princípios da tecnologia e as sementes da vida social formavam um lastro
imperecível na mente de muitos habitantes. O padrão espiritual então existente
foi permitindo a materialização da natureza, e tudo se foi modificando. Os
imortais Equitumans foram se transformando em lendas e deuses, e o Homem foi
construindo suas cidades e suas religiões. A partir daí, os grandes
missionários começaram a vir à Terra, e os Equitumans, recolhidos no
planeta-mãe, começaram a reencarnar nos descendentes de seus antigos corpos.
Aí, então, teve início outro tipo de luta: alguns desses espíritos, saudosos de
seu antigo poder, começaram a se organizar no etérico da Terra, formando
falanges. Os antigos poderes psíquicos
foram sendo sedimentados em manipulações mediúnicas e os dois planos – o físico
e o etérico – intensificaram seu intercâmbio. Um grande missionário, que hoje,
para nós, se chama Seta Branca, o responsável pela Estrela Candente, reuniu os
remanescentes mais puros e os dividiu em sete tribos, que foram distribuídas
nos antigos pontos focais dos Equitumans. A eles coube recomeçar a tarefa
interrompida. Cada tribo compunha-se de mil espíritos. Foi aí que foram criadas
as hierarquias dos Orixás, os grandes chefes, que tinham a virtude de se
comunicar com os Mestres. Essa palavra afro-brasileira é muito adequada, pois
quer dizer exatamente “divindade intermediária entre os crentes e a suprema
divindade”. Cada Orixá tinha, a seu serviço, outros sete Orixás de menor grau,
e estes, por sua vez, também o tinham. Daí para cá, essa linguagem se firmou no
plano espiritual, pois corresponde à organização septenária das falanges. O
processo civilizatório dos descendentes dos Equitumans se foi realizando nos
milênios subsequentes. Cada Orixá deu características especiais ao processo de
sua tribo, mas conservava os princípios básicos. Daí as semelhanças entre
religiões de povos antípodas, principalmente no culto ao Sol. Duas dessas
tribos deixaram caracteres mais marcantes: os que, mais tarde, chamaram-se Incas, e os posteriormente conhecidos
como Hititas. Outra tribo que,
também, teve muita importância nos acontecimentos, foi a dos Índios, cujo núcleo foi iniciado aqui,
nas margens deste lago. Cedo, eles adentraram para Leste, em direção ao
Atlântico, e para o Norte, na rota do Amazonas.
- Mas,
Amanto, ao que parece, essa tribo de que você está falando, não teve grande
projeção. A gente nunca ouviu falar de civilização aqui, no Brasil, e quando os
portugueses chegaram, aqui só havia mesmo índios em estado primitivo. Como se
explica isso?
- Neiva,
é preciso lembrar que estamos falando de um longo período de tempo da Terra, em
termo de centenas de séculos! Sim, Neiva, aqui houve e floresceram grandes
acontecimentos civilizatórios. Só que, desde muito cedo, esta região,
principalmente o território que veio a constituir o Brasil, ficou sendo a
reserva espiritual do futuro. Todas as precauções foram tomadas para que aqui
se desenvolvessem certas características espirituais, que permitissem o
recomeço de novos ciclos. Digamos que a América Ocidental, particularmente o
Brasil, tenha sido considerado o celeiro do futuro. Aqui, Neiva, tem sido o
berço de grandiosas missões, e as relações de seus habitantes com os Mestres
têm sido muito intensas.
- Mas,
Amanto, como é que isso passou desapercebido, não tendo sido registrado?
- Neiva,
toda elaboração espiritual exige silêncio e recolhimento. Enquanto outros povos
se lançavam à conquista do mundo físico, na busca do poderio material, domínio
de seus vizinhos, lances heróicos e construções monumentais, as tribos desta região
se aconchegavam na floresta amena, nas facilidades do clima suave e abundância
da natureza. Por isso, digamos que tudo aqui permaneceu propositadamente
oculto, ou melhor, quase tudo... Mas foi isso, Neiva, que permitiu o
florescimento atual. Repare como tudo, na civilização brasileira, tem algo
diferente. Veja como é marcante a capacidade do seu povo em absorver os que vêm
de fora, sem hostilidade, e como o estrangeiro se adapta depressa. Repare na
religiosidade natural, sem a rigidez dogmática. Repare na ausência de conflitos
bélicos mais contundentes e repare, também, na vivacidade natural do seu povo.
Repare em tudo isso, Neiva, e você irá compreender o que aqui se passa e se
passou. Mesmo atualmente, minha filha, muita coisa está acontecendo que ninguém,
ou quase ninguém, sabe. Na intimidade do território do Brasil, tribos inteiras
mantêm contatos com os Mestres Capelinos, e grandes missionários trabalham em
consonância com os planos de Capela.
-
Trabalham em que sentido?
- Na
manipulação das energias mediúnicas, em favor das populações do Brasil. Grandes
problemas de seu país têm sido resolvidos com seu auxílio. Mas, deixemos isso
para mais adiante. Agora, quero lhe explicar qual a relação existente entre a
pré-história da América e a situação política atual do Brasil, o porquê de
tantos reajustes e situações embaraçosas, como a desse homem a quem você
prometeu ajudar.
- É,
Amanto, é bom que você me explique, porque já estou ficando meio perdida em
relação ao tempo e aos acontecimentos.
- Não se
esqueça, Neiva, de que o tempo é muito relativo. Nos planos invisíveis, não
existe a mesma contagem de vocês encarnados. Mas, voltemos um pouco aos
Equitumans. Eu lhe disse que muitos dos primitivos espíritos, que participaram
do povoamento inicial, foram recolhidos e voltaram a reencarnar nos seus
próprios descendentes, desta vez, porém, sem as condições de imortalidade. Ao
desencarnarem de suas agora curtas vidas, eles se recusavam a seguir os rumos
normais de Capela, e preferiram perseguir suas próprias quimeras nos planos
etéricos. Juntaram-se, assim, em falanges, e, graças ao conhecimento adquirido,
procuraram, sempre, reproduzir a situação inicial. Esqueceram-se eles de que,
desta vez, não tinham a bênção de Deus e nem o auxilio precioso dos Mestres,
suas máquinas e seus corpos imperecíveis.
- Mas
eles, nesse plano, não são imperecíveis?
- São,
Neiva, mas no sentido inverso do que foram na Terra física. Nos seus corpos
iniciais, os princípios vitais lhes permitiam viver, como aconteceu com quase
todos, até a destruição externa, propositada. Suas mentes, porém, através de
suas almas, se evoluíam e progrediam sem parar. Na economia sideral dos planos
da época, a indestrutibilidade dos corpos atuava como fator de segurança, que
permitia a esses seres enfrentar as tarefas ciclópicas sem titubear, além do
respeito que impunham a seus descendentes, as vantagens da memória física
milenar, e outras. Já no plano etérico, sem as vantagens do plano físico, sem a
contínua assistência dos Mestres e sem os planos da Engenharia Sideral, suas
mentes foram se degenerando, na atrofia inexorável desse plano. Isso é um
círculo vicioso, em que o ser cada vez perde mais as perspectivas e se ilude
com as próprias sensações. Grande parte de sua atividade se concentra na
alimentação dos seus corpos etéricos, cuja maior fonte de energia é o
ectoplasma da Terra, dos seres vivos. Em vez de terem suas cabeças erguidas
para o Céu, para as fontes puras de energia divina, são obrigados a tê-las
voltadas para baixo, para os seres encarnados, de onde parte sua alimentação
energética. E o coração do Homem está onde estão seus interesses. Tudo o que
acontece com os seres humanos lhes interessa. Tendo uma falsa noção de poder,
remanescência dos poderes que possuíam, eles sempre pretenderam influir nos
acontecimentos humanos e, em parte, o conseguem. Sua confusão mental,
entretanto, os faz crer ser possível a retomada da antiga posição de trezentos
séculos antes. Assim, Neiva, podemos juntar duas épocas distantes e entender os
enredos tenebrosos dos dias atuais. Equitumans encarnados, Equitumans no
invisível etérico e Equitumans nos
planos mais evoluídos, esses são os elementos das lutas atuais no Brasil. Hoje,
esses espíritos nem sabem mais que foram os poderosos Equitumans, que foram à
Lua e a Marte. Os que estão encarnados têm menos noção ainda. Acrescente-se,
ainda, que esses encarnados, presos aos círculos cármicos, vêm se endividando e
pagando dívidas, num círculo quase vicioso. Muitos dos atuais políticos
passaram pelas lutas dos últimos dois ou três mil anos, talvez mesmo
anteriores. E agora, no fim de mais um ciclo, quando o planeta urge passar a
categorias melhores, fazem-se necessários o reajuste e o reequilíbrio. Por
isso, os inocentes de hoje não o foram ontem. É preciso ter compaixão e ajudá-los,
mas isso deve ser feito com a serenidade que o Cristo nos proporciona, com a
justiça evangélica de “as árvores serem conhecidas por seus frutos...”
Neiva
quedou-se pensativa. Pela sua mente ágil passavam quadros vertiginosos de
destinos seculares. Lembrava-se, agora, das figuras que lhe pediam auxílio, mas
as via multiplicadas por existências incontáveis, encarnações terríveis, quando
participavam de épocas tenebrosas da história humana.
Amanto, o
professor, tirou-a gentilmente da abstração.
- Neiva,
– disse ele, carinhoso – creio que, por hoje, já basta. Você agora tem material
suficiente para entender os políticos que vão lhe procurar em número crescente.
Mantenha, sempre, a sua calma e lembre-se de que é simples portadora da
mensagem divina, simples espírito consolador.
Ela
acordou, suavemente, no seu corpo refeito, e retomou suas tarefas.
A ILHA DE
OMEYOCAN
A
situação política do país evoluiu para novas fases e novos sistemas. A
perplexidade dos primeiros momentos foi sendo substituída pela expectativa de
mudanças e, aos poucos, as novas formas foram se firmando. Naturalmente, isto
acarretou a queda de alguns e a ascensão de outros. Lentamente se foi formando
novo conceito geral das coisas e as queixas passaram a ser privativas de
pequenos grupos ou indivíduos, sem possibilidades de extravasamento público.
Esse
fenômeno, compreensível no contexto existente, resultou no aumento de sigilo no
atendimento de Neiva e no tratamento de dores mais profundas. Seu coração doía
cada vez mais ao amparar aqueles homens sofridos, e sua dor era maior face à
discrição que era obrigada a manter. Penalizados da sua solidão, seus amigos
espirituais não a abandonavam nem um minuto.
Mas Neiva
não era portadora, apenas, de um coração sensível. Sua mente ágil comparava,
deduzia e induzia, com base nos novos elementos fornecidos pela história dos
Equitumans. Sempre que algum caso lhe despertava maios comiseração, ela ia
buscar o fio da meada naquelas vidas de um passado remoto.
E assim,
fazendo repetidas viagens ao Titicaca e outras paragens desconhecidas, sempre
assistida pelo gentil Amanto, ela foi acumulando conhecimentos e informações.
Mas, o local que mais a atraía era o lençol líquido do cimo dos Andes. Amanto
constantemente a lembrava dos tesouros que ali estavam submersos, e ela
procurava entender o sentido desta advertência.
Certa
vez, Amanto disse:
- Veja,
Neiva o cabedal de conhecimentos que essas coisas irão representar para a
Ciência atual!
- Não
vejo o porquê disso, Amanto. Afinal, são simples corpos e algumas máquinas...
- Sim,
Neiva, são simples corpos e máquinas. Mas, você já pensou no que irá
representar, para o Homem atual, o encontro disso tudo? Imagine o choque que
irá causar para a mente estratificada e antropomorfa saber que essas máquinas e
esses seres já viajaram pelo espaço sideral, moveram montanhas e representam um
conhecimento da Química e da Física quase inconcebível atualmente!
- E você
acha, Amanto, que isso será descoberto e que o Homem atual vai, realmente,
tomar conhecimento desse fato?
- Sim,
Neiva, e de formas várias. A pressão dos acontecimentos humanos, o verdadeiro
torniquete de dor por que a humanidade vai passar, produzirá uma sensibilização
da psique que irá extravasar a sofisticação intelectual. Com esse aumento de
receptividade, o fenômeno mediúnico deixará de ser privativo do Espiritismo
para se tornar mais uma forma vivencial cotidiana. Cada vez mais, os cientistas
lançarão mão dos recursos psíquicos como instrumento de pesquisa. Você já
imaginou, Neiva, esse mesmo fenômeno que está acontecendo agora – você e eu em
corpos etéricos, penetrando na intimidade do passado, invisível aos olhos
físicos – reproduzido por pessoas comuns? E se fosse combinado o processo
mediúnico com os recursos científicos? Você já pensou, Neiva, no fato de que,
em cinco segundos, nós podemos nos transportar para qualquer parte da Terra e
registrar os fatos com a mesma acuidade dos sentidos ou das máquinas? Pense em
tudo isso, Neiva, e você entenderá a nossa tarefa, o porquê de estarmos sempre
em busca de alguma informação adequada aos problemas que afligem seu povo. Por
outro lado, Neiva, o ciclo atual está se fechando com grande rapidez. Da mesma
forma que no passado, a Terra se convulsiona e se transforma. Não creio que irá
ser preciso os homens mergulharem nessas águas. A montanha se contrairá e
despejará, pelas encostas, terra e água, nas quais rolarão corpos e máquinas,
os testemunhos físicos desta era remota!
- Mas,
Amanto, com cataclismos desse jaez, não creio que haja pessoas em condições de
tomar conhecimento, nem isso irá ser fisicamente possível.
- Talvez
você tenha razão, Neiva, talvez... Tudo irá depender da reação humana aos
avisos que estão cada vez mais constantes. Não se esqueça de que a misericórdia
divina exaure até o último ceitil de oportunidade. O Homem moderno, apesar das
angústias em que vive, tem também, à sua disposição, magníficos instrumentos de
alerta. Veja, Neiva, as maravilhas da comunicação atual e o desprendimento cada
vez maior dos preconceitos, até mesmo científicos, e a avidez com que o ser
humano atual absorve as coisas do Céu. Veja tudo isso, e você entenderá as
possibilidades que existem daquilo que os religiosos chamam de “salvação”.
E assim,
através dessas inúmeras oportunidades, Neiva foi compreendendo o alcance das
palavras de Amanto. O tempo terreno corria na lentidão das volutas astrais.
Certa
vez, a chalana pairava sobre os Andes e ela, com a perspicácia dos seus olhos
espirituais, a tudo observava. Amanto apontou para uma pequena ilha, perdida na
imensidão azul.
- Ali,
Neiva, está o que resta da grande Omeyocan de Jaguar. Atualmente, ela se chama
Ilha de Páscoa. E é, apenas, um recanto turístico, a despertar a curiosidade de
todos.
A chalana
eterizada pousou suavemente numa elevação deserta, e Neiva pôde observar a Ilha
de Páscoa. De pronto, sua atenção foi atraída pelas estátuas enormes que
cercavam quase toda a ilha. Todas iguais, em sua maioria enfileiradas próximas
ao mar, mais pareciam sentinelas grotescas de um exército mudo. Algumas jaziam
deitadas na encosta de um monte central, e quase todas ostentavam uma espécie
de chapéu. Já habituada na observação do lago Titicaca, ela se pôs logo a
rememorar o conjunto de idéias e imagens que lhe assomavam à mente, e a
recompor estórias. Amanto, então, começou a conduzi-la em perfeita viagem
mental. Ele disse:
- Neiva,
você me perguntou, uma vez, se a civilização dos Equitumans havia falhado, e eu
lhe disse que isso havia acontecido apenas parcialmente. Pois bem, observe,
agora, um dos resultados de seu trabalho. O que você está vendo agora,
aconteceu, mais ou menos, vinte e cinco mil anos depois que eles já haviam
desaparecido; portanto, há uns cinco mil anos. Das tribos redistribuídas pelo
Grande Orixá da Estrela Candente, haviam se formado inúmeros clãs, que
percorriam as terras planetárias, formando toda a espécie de povos e gente. A
tarefa construtiva prosseguia sempre, em todos os recantos da Terra, e os
Equitumans de boa índole, sintonizados com os Mestres, iam e vinham entre
Capela e a Terra, no contínuo processo reencarnatório. Mas, apesar dos milênios
que decorriam, as bases de sua formação inicial continuavam atuantes. Sua luta
maior era contra o pavor da morte!
- Mas,
Amanto, – observou Neiva – não consigo entender isso muito bem. Se eles eram
espíritos evoluídos, a ponto de se prestarem a essa árdua tarefa, não sabiam
eles que a morte não existe, que eles apenas mudavam de estado a cada fim de
existência?
- Neiva,
sei que isso é difícil de ser entendido, até mesmo por você, mas o processo de
habitação de um espírito num corpo físico é sempre penoso e complexo. Você já
ouviu falar num escafandro, desses que os homens usam para descer ao fundo dos
mares? Pois bem, a situação de um espírito encarnado é semelhante à de um
escafandrista. Seus movimentos são inibidos pela pesada roupagem carnal e suas
comunicações são esporádicas e difíceis. Observe sua própria vida, Neiva, e
você entenderá o que quero dizer. Agora, por exemplo, você está lépida e
desinibida, não está? E o que acontece quando você volta para o corpo? Vê as
dificuldades, entendeu?
- É,
creio que entendi.
- Aqueles
espíritos – prosseguiu Amanto – habituados a milênios de vida sutil, só aos
poucos iam se acostumando com os percalços das jornadas no planeta Terra. Foi
preciso muitas encarnações para que aqueles Capelinos se transformassem em
terráqueos! A história dos Tumuchy mostra bem isso.
- Tumuchy?
- Sim,
Tumuchy! Havia um grande Orixá chamado Jaguar que, juntamente com sua alma
gêmea, plantou a mais linda flor civilizatória nesta região.
- Que
nome esquisito para um Orixá! – exclamou Neiva.
- Esse
nome, Neiva, foi-lhe outorgado pelos habitantes andinos, cuja língua ficou
sendo conhecida como quíchua. Significa sangue, luta, briga, valentia, e acabou
por nomear os felinos, como as onças, panteras, etc. Aliás, Neiva, a ligação
com felino serviu para testemunhar a existência desse Orixá em inúmeros
monumentos e inscrições, através da sua representação pictórica. Com sua longa
experiência na Terra, ele encarnou, com sua alma gêmea e cerca de oitocentos
espíritos escolhidos. Formado o clã, eles passaram a ser conhecidos como
Tumuchy. Em sua maioria, seus membros eram cientistas, principalmente grandes
químicos e físicos. Por seus próprios meios, eles construíram uma chalana que
lhes permitia se deslocar para qualquer parte da Terra. Isso os diferenciou,
logo, das outras tribos, e garantiu para eles certa paz em meio às lutas
permanentes. Dedicavam-se a várias artes e eram grandes tecelões. Viajavam
muito, e tinham seus próprios rituais. Como medida de precaução contra o
desencarne incerto, eles traziam um sistema de não procriação e de melhor
durabilidade física. Eles viveram, em média, duzentos anos da Terra, e traziam,
impressa no peito, a data de seu desencarne. Comunicavam-se, constantemente,
com os Mestres Capelinos, e sua chalana mantinha contatos com outros povos da
Terra. Mesmo com todas essas medidas de precaução, cedo se manifestaram grandes
dificuldades. A partir de certo estágio, eles começaram a perceber que os
contínuos contatos com os Mestres, que vinham em suas poderosas naves, iam
produzindo certo enfraquecimento na vida animal e vegetal local. Os indivíduos
das áreas afetadas morriam cedo e a vegetação se tornava raquítica. Por outro
lado, o contínuo estado de belicosidade das tribos com que entravam em contato
feria fundo sua susceptibilidade.
-
Amanto, – interrompeu Neiva – quero que me explique uma coisa que está difícil
eu entender: se esses Tumuchy eram tão adiantados, a ponto de possuírem uma
chalana, como é que se explicam suas lutas, suas guerras e as dificuldades com
o meio-ambiente?
- Essa é
uma boa pergunta, Neiva. Sim, por que? Para que eu lhe responda, é preciso
comparar as idéias do que seja “civilizar”, nos termos dos planos daquele
tempo, e o que seria a mesma coisa, em termos do seu tempo, Neiva. “Civilizar”,
para os Mestres Capelinos, significava trazer, ou melhor, criar um tipo humano,
de acordo com um processo evolutivo, em três planos diferentes: o físico, o
psíquico e o espiritual. A natureza da Terra tinha um determinado ciclo em
andamento, com suas variações geológicas, vegetais, minerais e animais. O
transformismo lento modifica a superfície e as várias camadas, mas essa
lentidão é, apenas, relativa ao período de modificações. Naquela época, as
transformações da Terra eram violentas e rápidas, emergindo dos degelos, devido
à maior aproximação do Sol. Os vegetais, em adaptação e escassos nas regiões
montanhosas, convidavam ao nomadismo espontâneo. Os animais, em sua maioria de
grande porte, como o javali, o urso, os felinos e outros, constituíam ameaça
permanente à integridade física. Civilizar constituía, pois, a modificação
daquela tônica agressiva para uma harmonia ecológica mais propícia ao Homem. A
missão era a de tornar a Terra habitável para o Homem. É preciso não esquecer que
o Homem já existia, porém todo absorvido pela luta da sobrevivência, no estado
de defesa permanente, submisso à natureza e à vida instintiva. A predominância,
embora variável, era da tônica física. O psiquismo ficava colocado em segundo
plano, um psiquismo mais voltado para o plano físico, para as coisas mais
imediatas da vida quotidiana. Os olhos vivam voltados para o chão, para o
ambiente imediato. Sabedor isso, Jaguar vinha munido de duas armas
fundamentais: a ausência da procriação e um instrumento de reconhecimento
aéreo, que era sua chalana. Sem o empecilho dos filhos, eles podiam se dedicar
às artes criativas e estudar as formas de domínio do ambiente, criar
instrumentos mecânicos e científicos. Com sua chalana, Jaguar percorria os
pontos da Terra onde outros Orixás executavam a mesma tarefa, em ambientes
físicos diferentes. Isso, Neiva, explica as questões de conhecimentos de
Astronomia, dos calendários, dos cultos, do trato com os materiais e as
semelhanças nos templos, pirâmides, esfinges, estátuas, cerâmicas, cerimônias,
que a Ciência atual se esforça para explicar em termos de migrações e contatos
puramente físicos. Naturalmente eles não dependiam exclusivamente da chalana,
pois eram profundos conhecedores dos sistemas de comunicação psíquicos, além
das preciosas fontes de informações, que eram os Mestres Capelinos. Tais
recursos, porém, não eram suficientes para compensar a rudeza da tarefa. Ao
perceberem que poderiam ser esmagados pelo ambiente, contrariando seus
propósitos, que eram opostos, ou seja, de domínio do ambiente, eles optaram por
uma tangente, e os Tumuchy voltaram seus olhos para a então grande Ilha de
Omeyocan. Isso oferecia várias vantagens e, dentre elas, a mais importante era
a distância do continente. Com seus instrumentos, sua Química e sua Física,
construíram barcos e se apossaram da ilha, até então desabitada.
-
Amanto, – interrompeu Neiva – isso que eles estavam fazendo é o que vocês
chamam civilizar. E o que seria civilizar nos dias atuais?
- É
verdade, Neiva. Ainda não lhe expliquei a diferença. Civilizar, para o Homem
atual, é inculcar a tônica predominante de padrões existentes, sejam
tecnológicos, morais ou religiosos. Por exemplo: os conquistadores europeus
consideravam civilizar a transformação das populações indígenas, de um status religioso e moral, para o status
de que eram portadores, no caso em apreço, o Cristianismo. Disso resultava,
apenas, uma transformação, a substituição de uma forma civilizatória por outra,
considerada mais adiantada. Não havia, nisso, criação, mas, apenas,
modificação. No caso dos Tumuchy, havia a criação, não segundo padrões
preestabelecidos, mas, sim, segundo um plano harmonioso de conjunto, cujos
padrões iam sendo criados, pois inexistiam na Terra. Com o avanço nestas
revelações, Neiva, você irá tendo uma idéia mais clara a respeito. Voltemos,
agora, aos Tumuchy. Na realidade, eles não abandonaram o continente, pois
mantinham pontos de irradiação, onde concentravam suas realizações. Nesses
pontos foram construídos fabulosos monumentos, planejados cuidadosamente para
as finalidades a que se destinavam. Com seu poder de levitação mecânica, usando
processos físicos de forças magnéticas, eles podiam movimentar, com relativa
facilidade, grandes blocos de pedra, qualquer que fosse sua natureza. Tais
pedras eram lavradas por processos químicos e trabalhadas com ciência e arte.
Sua arquitetura era orientada em função de um relacionamento, visando a
recepção de forças do planeta-mãe e de outros corpos do Sistema Solar. Tais
finalidades estão sendo estudadas, hoje, em função de seu aspecto religioso, e
isso se constitui em mais um triste engano antropomorfo. Na realidade, elas
eram múltiplas e variáveis, inclusive no tempo. O que ontem servia para a
captação da energia lunar, poderia ser, hoje, um simples depósito ou túmulo. É
preciso que a gente não esqueça da dinâmica do mundo físico de então e suas
modificações violentas. A prova de que os Tumuchy, como outros grupos de épocas
diferentes, tomavam em consideração a movimentação geológica, está na sobrevivência,
até hoje intacta, de muitos desses monumentos. Outro aspecto notável é que os
descendentes dos Equitumans eram hábeis metalúrgicos e sabiam avaliar as
condições geológicas do solo. É preciso, ainda, que a gente se lembre de que
não se tratava de uma experiência isolada. Nos sete pontos fundamentais do
globo, as mesmas coisas se desenvolviam, com características próprias. No
Egito, por exemplo, eles faziam suas pedras utilizando os sedimentos desérticos
e o material da superfície. As coincidências entre pirâmides das Américas e do
Egito não são apenas aparentes. Na realidade, havia ampla troca de informações
e experiências nas construções de ambos os lados. Outra coisa notável, que
ainda não foi bem examinada pelos cientistas atuais, é a relação posicional
dessas construções. Tais monumentos foram construídos em função de um plano
global do planeta. Os Tumuchy possuíam o que eles chamavam de Mutupy, que eqüivalia a uma
aerofotografia da Terra, como a feita pelos satélites artificiais, e é evidente
que seu uso se destinava a consultas em função desse planejamento. E, assim, a
Ilha de Omeyocan foi transformada na sede científica do planeta e no centro da
comunicação interplanetária. Ali chegavam e dali partiam as grandes chalanas,
vindas de Capela. Ali, também, se realizavam as grandes conferências dos
Orixás, os chefes máximos dos planos civilizatórios da Terra.
- Mas,
Amanto, – objetou Neiva – o que estou vendo é uma pequena ilha, e está me
parecendo acanhada demais para conter tudo isso que você fala.
- Neiva,
faça a mesma coisa que você fez com relação ao Titicaca, e você verá!
Neiva
intensificou sua visão espiritual e percebeu que a ilha fora bem maior, e o que
ela via atualmente era apenas uma ponta emergente, a parte mais alta, que
ficara acima do nível do Pacífico. Embaixo, nas profundezas do oceano, havia
complicadas construções de pedra, túneis, grandes abóbadas e um enorme túnel
que, aparentemente, ligava a ilha ao continente.
- E essas
estátuas, Amanto, para que serviam?
- Elas
tinham várias finalidades e, dentre elas, serviam como portas indicativas.
Embaixo de algumas delas existem entradas para as câmaras subterrâneas. Elas
também faziam parte de um plano de padronização e estavam para ser exportadas
quando o período dos Tumuchy chegou ao fim. Ali existia uma espécie de usina,
onde elas eram fabricadas em série.
- Mas,
Amanto, o que aconteceu com eles?
- Como
sua missão não era o estabelecimento de uma estirpe e suas vidas eram muito
sacrificadas no penoso relacionamento com Capela, deram-na por terminada.
Embora eles tivessem qualidades físicas especiais, viviam em distonia com as
realidades planetárias, sem a osmose natural. Na verdade, eles viviam em
constante luta com o conjunto de leis que regem os planos físico e psíquico da
maioria. Mas, sua missão já havia sido
cumprida, e o grande Jaguar deixara sua marca em vários pontos da Terra.
Sabendo que seu fim se aproximava, pois trazia no peito a data de sua passagem,
ele visitou, em companhia da esposa, os locais de trabalho, e desapareceu. Seu
povo continuou, ainda por algum tempo, a missão, mas, sem o impulso do seu
líder, acabou por abandonar a ilha e se dissolver. Mais tarde, em encarnações
sucessivas, foram portadores de notáveis traços civilizatórios, que serviram
para o preparo do grande berço do III Milênio. As recordações de suas
atividades iam se transformando em lendas e ele foram chamados de deuses. Sua
experiência foi retomada, depois, pelo povo que veio a se chamar Inca. Mas a
orientação aguerrida que estes seguiram impediu a encarnação dos antigos
cientistas Tumuchy, e a civilização incaica tomou aquelas características
semibárbaras que a História registra.
- Mas,
Amanto, o que aconteceu com a Ilha de Omeyocan?
- Foi,
praticamente, engolfada pelo mar. Naqueles dias, as irregularidades da natureza
se manifestavam em degelos, alternados com secas terríveis. Em cada degelo, os
mares se enfureciam e varriam os litorais com violência, enquanto as águas
dissolviam terras e montanhas. A Terra procurava novas acomodações em torno do
Sol, e isso causava verdadeiras convulsões em suas entranhas. Isso explica,
Neiva, as dificuldades dos cientistas atuais em estabelecer uma cronologia
exata dos fatos civilizatórios. Ele se baseiam em fragmentos e objetos, mas
esquecem as transformações por que todo esse material passou, no contínuo
transformismo das rochas e metais abaixo da superfície. O mesmo acontece na
interpretação dos registros escritos ou pictóricos, diferenças de calendários
ou símbolos representativos. Há, ainda, um fator que não costuma fazer sentido
no aproach científico, que é a
atividade deliberada no fazimento das coisas da natureza.
- O que você quer dizer com atividade deliberada,
Amanto?
-
Refiro-me a modificações em que o curso da natureza era alterado com certas
finalidades. Por exemplo, a existência de grandes animais, como os mastodontes.
Eles tiveram que ser banidos desta região, e isso foi feito. Outras coisas
desse tipo aconteceram, e ainda acontecem, quando há uma relação direta entre
os Mestres e a Humanidade. Os poderes do Homem em relação ao meio são imensos,
principalmente em seu aspecto destrutivo. Mas, esses poderes são
consideravelmente aumentados quando a força do Homem se conjuga com as forças
do espírito, construtivamente.
- É,
Amanto, isso parece lógico. Mas nada disso está acontecendo atualmente, pelo
menos que a gente saiba!...
- Está
sim, Neiva, e em maior escala do que o Homem possa pensar. Não esqueça que os
seres humanos são relativamente condicionados em relação às notícias do que se
passa no seu planeta. Em muitas regiões da Terra estão acontecendo fatos
extraordinários, principalmente onde a atual civilização ainda não penetrou. No
interior da África, por exemplo, estão sendo feitas modificações na vida
animal, com que o Homem nem sonha. Em cada plano de vida existe sempre uma
interferência, sempre visando o aperfeiçoamento das condições do planeta.
- Mas a
verdade é que a gente nada percebe disso, Amanto. Digamos, por exemplo, nós
aqui em Brasília. Tudo que a gente sabe que acontece, é coisa natural, corriqueira...
- Mas
acontece, Neiva, e acontecerá mais. Não esqueça o que já lhe disse, quando me
referi a cada plano. Três são as tônicas: a física, a psíquica e a espiritual.
Há regiões de predominância física, outras de hegemonia psíquica e outras,
ainda, de domínio espiritual. A tônica de Brasília e das regiões próximas é,
essencialmente, psíquica, com tendências ao espiritual. É, pois, natural que as
modificações sejam de ordem psíquica ou espiritual, e não animal ou física.
Repare bem, Neiva, como um bom exemplo, o que se passa no Templo do Amanhecer,
e você irá entender a diferença entre o “natural” e o “deliberado”. A própria
mediunidade da Doutrina do Amanhecer é uma prova disso. Creio que será
relativamente fácil, a qualquer conhecedor dos princípios da mediunidade,
compreender essa diferença se observar os trabalhos sem idéias preconcebidas.
- É,
Amanto, foi bom você me advertir disso. Afinal, para nós da Corrente, tudo é
tão natural, tão espontâneo, que a gente nem nota a presença da mão de Deus!
- Sim,
Neiva, a presença da mão de Deus. E o que é a mão Dele senão a presença
constante dos Mestres, os grandes Orixás que orientam a fenomenologia
mediúnica, tão característica de nossa Corrente? E assim, Neiva, acontece em
todos os setores de atividades do mundo. Existe, sempre, a presença deliberada.
Apenas, o orgulho humano, o egocentrismo exacerbado, é que não deixa perceber
isso. Felizmente, os Planos Divinos não ficam na dependência da percepção da
sua forma de agir. Pouco importa, para os Mestres, que os Homens percebam ou
não sua ação na Terra. Na verdade, isso fica reduzido a uma questão de foro
íntimo, de cada ser humano, individualmente. Cada um vê a mão de Deus à sua
maneira. Essa despreocupação com o reconhecimento das atividades dos emissários
do Alto é porque os Mestres sabem que, tão pronto o espírito desencarna e
consegue chegar a certos planos, logo se conscientiza e fica sabendo.
- É
verdade, Amanto. Agora posso compreender melhor o juízo humano. De fato, não
adianta muito tentar explicar as coisas. É preciso que as pessoas entendam por
si mesmas, se compenetrem das realidades.
- A
tônica do Brasil, variando as regiões, é de psiquismo inclinado ao espirito. Em
algumas, predomina o psiquismo puro, sem a direção espiritual. Isso explica,
Neiva, as tendências para as superstições ou o animismo e, explica também, as
pretensões iniciáticas. Estas resultam, geralmente, da intelectualização dos
fatos do espírito, da confusão entre a mente concreta, racional, e a mente
perceptiva do transcendente.
- Mas,
Amanto, em vez de se explicar esse fenômeno em termos de regiões, não seria
melhor falar em grupo humanos?
- Sim,
Neiva, em parte você tem razão. Apenas cumpre notar que os espíritos planejam
suas encarnações em famílias e tipos humanos condizentes com sua tônica
evolutiva. Isso produz certo padrão de comportamento. Observe os hábitos
regionais dos habitantes do Sul do Brasil e os do Norte, e você irá perceber
bem a nuança. Voltando agora aos Tumuchy, Neiva, quero lhe relatar certos
acontecimentos e características que irão explicar muitas coisas desse passado.
Uma delas, de suma importância, é o início dos núcleos civilizatórios em
regiões montanhosas. O principal motivo deriva das primeiras tribos de
Equitumans, que vinham para o estabelecimento de uma era dos metais. Repare,
Neiva, como seus historiadores dividem as civilizações antigas em termos de
metais, referindo-se, sempre, ao cobre e ao bronze, com base nos instrumentos
que encontram nas escavações. Na verdade, os Equitumans já vieram com pleno conhecimento
dos metais existentes na Terra, e para cada núcleo havia especialistas. Nos
Andes, por exemplo, havia abundância da prata, do ouro e do cobre, e eles se
deleitavam na confecção de objetos de adorno, jóias e instrumentos de precisão.
Esse acervo de conhecimentos no manuseio dos metais é que lhes proporcionou o
avanço tecnológico que, hoje, espanta os arqueólogos. Mas, os processos que
utilizavam são ainda desconhecidos do Homem atual.
- E sobre
as pirâmides, Amanto, para que foram construídas?
- As
pirâmides, Neiva, eram centros de manipulação de energias, verdadeiras usinas
de força. Ali se concentravam os grandes cientistas para a conjugação de suas
forças psíquicas, como hoje se reúnem os médiuns nos templos iniciáticos. Ali
se concentravam os conhecimentos e a documentação dos planos planetários, os
instrumentos básicos e os meios de comunicação. O grande Jaguar era um
especialista na construção de pirâmides. Ao perceber que o fim de Omeyocan se
aproximava, ele deslocou-se para o Egito e lá emprestou sua colaboração aos
Orixás responsáveis por aquela área. Com sua química, eles decompunham as
rochas e as moldavam de acordo com as necessidades. Possuíam prensas com as
quais moldavam grandes blocos e tijolos. Por processos eletromagnéticos, eles vitrificavam
as superfícies e movimentavam os blocos gigantescos, com a mesma facilidade
como os pedreiros atuais movimentam tijolos.
- E
quanto ao Sol, Amanto, por que essa constante referência a esse astro?
- O Sol
era, para eles, o centro de energia vital, e sua preocupação constante era a de
manter a sintonia com suas forças. A variação da órbita da Terra obrigava a
constantes reajustes dos aparelhos e construções. Cada variação na posição da
Terra em relação ao Sol, à Lua e a outros corpos celestes, produzia fenômenos
violentos, que alteravam constantemente os planos. Foi isso que aconteceu com
Omeyocan, hoje chamada Ilha de Páscoa. Numa dessas aproximações, grande massa
de gelo dos Andes se derreteu, e o Pacífico envolveu a ilha, varrendo suas
praias com violência. Os Tumuchy abandonaram-na com relativa pressa, embora não
tenha havido vítimas. Essa é a impressão que nos dá a ilha, atualmente: a de
ter sido abandonada precipitadamente. Essa constante preocupação com o Sol
gerou toda uma série de hábitos e práticas, os quais, pela sua natureza,
derivaram em religião.
OS
APRENDIZES DE FEITICEIRO
- Amanto,
– disse Neiva – de tudo isso que você me mostrou e contou, não consigo formar
uma idéia de conjunto do porquê de tantos altos e baixos, tantos fracassos.
Afinal, esses séculos de lutas, com instrumentos tão preciosos nas mãos dos
espíritos evoluídos, tudo isso para termos um fim melancólico como esse que
está sendo profetizado? Onde está a lógica disso tudo?
- Neiva,
– respondeu ele – você conhece a lenda do aprendiz de feiticeiro?
- Não,
nunca ouvi falar dela.
- Certa
vez, diz a lenda, um mago poderoso, que vivia num castelo, saiu para uma viagem
e deixou seu aprendiz tomando conta da casa. Este, tão pronto se viu a sós,
resolveu experimentar os conhecimentos que julgava haver aprendido do seu
mestre. A primeira coisa que lhe ocorreu foi usar aqueles poderes mágicos para
executar as tarefas desagradáveis pelas quais era responsável. Assim, usando as
palavras apropriadas, ordenou à vassoura que varresse o castelo, e esta entrou
em ação na mesma hora. O mesmo aconteceu com o balde de água, e o aprendiz se
deleitou com seus poderes. Mas, a vassoura varria tanto e o balde jogava tanta
água, que o castelo começou a ser inundado. O aprendiz não sabia as palavras
mágicas para pará-los.
- E como
terminou a estória?
- Não sei
bem. Creio que o feiticeiro pressentiu qualquer coisa de errado, e voltou a
tempo de salvar o castelo, mas não pode impedir o aprendiz de quase morrer
afogado e de passar um bom susto...
- Quer
dizer nós estamos na mesma situação desse aprendiz?
- Em
termos, de certa forma, sim. Através de todos os tempos, os Mestres promoveram
todo o necessário a cada situação, a cada programa civilizatório, sempre
visando adequar o planeta para a realização dos espíritos, dar a eles os meios
de continuar sua evolução e colaborar na obra divina.
- Mas,
Amanto, esse é outro ponto que a gente sempre interroga. Afinal como é isso? Os
espíritos são perfeitos e, depois, decaem, passam a precisar evoluir de novo?
- Minha
filha, essa pergunta vem sendo feita pelos Homens há milhares de anos. A mesma
interrogação é feita em outros recantos do Universo, mas a resposta é sempre o
silêncio e a incógnita. E possivelmente obtenhamos essa resposta quando
estivermos integrados em Deus. Talvez os espíritos que já atingiram essa meta
saibam o porquê de tudo! Mas, isso é impossível, tanto para você como para mim,
pois somos, apenas, retas entre o menos e o mais infinito, somos espíritos a
caminho... Voltando ao nosso aprendiz de feiticeiro, no caso o ser humano
desses últimos trinta e dois mil anos, eles muitas vezes usaram sua mágica para
varrer e lavar. Veja o exemplo dos Incas, dos Maias e dos Astecas. Eram
herdeiros de profundos conhecimentos científicos, recebidos de seus ancestrais,
aos quais tinham acesso através da herança tecnológica arquivada no recesso dos
seus templos e palácios. Entretanto, esse tesouro era usado para o
engrandecimento de seus egos hipertrofiados, do seu egoísmo palaciano e de suas
conquistas insensatas. Preocupavam-se, muito, em receber, obter cada vez mais
assistência dos Mestres, e, para isso, não poupavam esforços. Por isso,
construíram complicados sistemas de propiciação aos deuses e observavam
religiosamente seus calendários iniciáticos. Tudo visava a obtenção de energias
do Céu, no caso representadas pelo deus Sol e pela deusa Lua. Pelo que a
história da Terra registra, eles rezavam mais do que trabalhavam.
- Mas
você não pode dizer que eles não trabalhavam! Se assim fosse, como é que
poderiam ter construído aqueles majestosos monumentos, que até hoje estão de
pé?
- Tais
monumentos não foram feitos com o trabalho braçal. Isso é um engano que os
cientistas cometem, ao interpretá-los em termos da atual capacidade humana e
devido ao desconhecimento das técnicas empregadas naquele tempo. As teorias
atuais se ressentem de lógica. A confusão ainda é maior devido à interpretação
religiosa que se dá, atualmente, aos fatos, ou melhor, somente religiosa. É
preciso unir as duas coisas, os atos psicofísicos e as finalidades do espírito,
para se ter uma idéia mais precisa. Já lhe disse que não só os monumentos como,
também, as cidades, foram feitos mediante processos fisioquímicos e forças
magnéticas. Os construtores eram os nobres, os sacerdotes e os especialistas
nas várias artes e ciências, principalmente os astrônomos. O povo mesmo, as
massas daqueles tempos, era apenas espectador. Aliás, isso pode ser facilmente
verificado nos episódios registrados em épocas mais recentes, como, por
exemplo, no Século XVI da era atual. Toda a classificação sociológica dos povos
antigos demonstra, sempre, essa defasagem entre os círculos dominadores e as
massas.
- Mas,
isso não é assim, também, em nossos dias?
- Sim,
mas com distanciamento bem menor e com o fenômeno participativo cada vez maior.
Mas, entre os Incas, por exemplo, a distância era imensurável. As referências a
essas civilizações são sempre em termos de monumentos, riquezas em metais
preciosos, rituais estranhos e templos. A gente não houve falar de ruas, casas,
comércio e povo. Veja a facilidade como abandonavam suas cidades e se mudavam
para outros sítios. Eles não tinham muito a carregar; os dirigentes, porque
refaziam suas coisas com relativa facilidade, e os da periferia porque viviam
do meio ambiente, sem muitas exigências. Até hoje isso pode ser visto nos
países latinos, essa defasagem entre o monumental das cidades e a pobreza dos
bairros, subúrbios e zonas rurais. O exemplo mais frisante se encontra na
história dos Maias, que ocupavam a península de Yucatan.
- Mas,
Amanto, isso faz surgir uma indagação: por que, realmente, eles se mudavam e
abandonavam suas cidades? Pelo que ouvi um professor de História dizer, isso
constitui um dos maiores mistérios dessas civilizações.
- Devido
à degenerescência da natureza em torno deles, dado o abuso das forças nobres
como o magnetismo, a fissão atômica e a fisioquímica em geral. Essas forças
provocavam alterações na coesão molecular das coisas vivas e, com isso, seu
enfraquecimento. As plantas e os animais morriam com facilidade, enquanto os
seres humanos se tornavam apáticos e preguiçosos. Isso explica, em parte, a
derrota desses povos diante dos espanhóis, numericamente inferiores, e as
humilhações sofridas diante dos invasores. A história dos Astecas demonstra
isso claramente.
- Mas, se
eles podiam manipular forças atômicas e magnéticas, e tinham tais conhecimentos
científicos, como no caso da Astronomia, como é que se explicam essas
contradições que tanto confundem os pesquisadores atuais?
- Já lhe
falei, Neiva, das dificuldades da transformação dos Capelinos em terráqueos, da
adaptação desses espíritos à missão a que se propuseram. Mesmo depois do
desaparecimento dos Equitumans e das catástrofes que se sucederam na superfície
terrestre, eles continuaram indecisos quanto ao rumo certo. Milhares de anos se
passaram, cerca de cento e vinte e cinco séculos depois da tragédia do
Titicaca, até surgirem os conceitos da realidade humana, da necessidade de
autonomia, do uso do livre arbítrio e do caminho criativo. Podemos traçar uma
analogia desses tempos com o fenômeno migratório atual. Os imigrantes que
chegaram ao Brasil nos fins do século passado, principalmente no Sul do país,
levaram três gerações para abandonar os hábitos de seus países de origem, e
assim mesmo ainda se nota, nos seus descendentes, a nostalgia, o saudosismo. A
maior dificuldade era a adaptação ao ciclo vital – nascer, viver, reproduzir,
morrer e nascer de novo. Sua grande preocupação era a de garantir os vínculos
com os Mestres, e isso durou até a derrocada diante dos europeus. Aliás, esse
traço da psique, de se garantir fora de si mesma, se renova agora, nas
preocupações com o extraterreno, na busca de novos mundos, onde possa se
perpetuar.
- Mas, –
perdoe-me por tantos “mas” – você não disse que a derrota dos Equitumans foi
devida à perda de sintonia com os Mestres, com os planos originais? Como
explica você, agora, que seu fracasso seria devido a essa mesma preocupação?
- Isso se
explica, Neiva, pela errônea interpretação de Deus. Eles se esqueceram, como o
Homem sempre se esquece, de que Deus é intrínseco na natureza, no íntimo do ser
e não exterior a ele. A projeção antropomórfica é que O faz assim. Em vez de se
voltarem para si mesmos, de usarem sua força criativa e seus instrumentos no
fazimento do mundo, na tarefa construtiva, eles se preocuparam mais em manter
vivo seu cordão umbilical e em voltar para o útero materno. Aliás, as pirâmides
nos dão uma idéia bem aproximada disso. Enquanto eles usavam a energia atômica,
até para a iluminação delas, nos arredores os homens plantavam milho e trigo
com paus pontudos, na forma mais primitiva. O mesmo sucede hoje, num paralelo
absolutamente nítido. Enquanto os cientistas colocam milhares de custosos
satélites em órbita e fabricam onerosas bombas atômicas, populações inteiras
morrem de fome e a superfície do planeta se esvai no enfraquecimento
progressivo da natureza. Esse é o aspeto fundamental de todos os problemas que
afligem o Homem. É na luta básica dos campos de força que está situada a
defasagem. O planeta foi planejado para determinada tônica de coesão molecular,
uma dinâmica que se ajusta automaticamente a cada estágio posicional em relação
ao sistema. A utilização de energias nobres deveria ser feita com critério
espiritual, isto é, apenas nas tarefas criativas de impulso e em harmonia com o
sistema. Nesse caso, “deus” seria considerado como “criador”. Mas, se essas
forças são usadas indiscriminadamente, sem o planejamento cuidadoso, elas se
transformam em destruição, e, nesse caso, “deus” se confunde com “vingança”. O
mundo que, depois, se chamou América, se enfraqueceu no contraste energético, e
isso se verifica na atual desarmonia da superfície, na sucessão de florestas e
desertos e nas contradições da dinâmica humana. Por isso, as civilizações
pré-colombianas eram civilizações de pedra. As florestas que, atualmente,
cobrem suas ruínas, resultam de um custoso trabalho da natureza na retomada da
tônica adequada. Houve um momento em que a Humanidade pareceu compreender isso:
no Século XIX. Observe a história atual e você verificará os movimentos sérios
que nasceram naquele século. Mas a euforia resultante está levando, novamente,
ao fracasso. Se não houvesse o desencadeamento mal feito da energias atômicas,
não haveria o triste 1984, que já começa a se manifestar. Os atuais aprendizes
de feiticeiro se comprazem em “varrer” territórios com a bomba atômica,
esquecendo-se de que são incapazes de parar as “vassouras” e os “baldes de
água”. Isso explica, Neiva, a ausência de provas das civilizações mais antigas.
Seus restos foram devorados nas transformações ciclópicas sofridas pela
natureza. Depois, na medida em que a tônica própria foi sendo readquirida, o
planeta foi conseguindo conservar suas amostras civilizatórias, que permitem as
atuais cronologias da História. De cinco mil anos A.C. para trás, apenas existe
o nada, ou o quase nada...
Neiva se
quedou pensativa. No plano etérico em que se encontrava, na sintonia cada vez
mais perfeita com sua existência transcendental, ela compreendia as lições
profundas que estava recebendo. Mas, o ser humano que havia nela se
manifestava, na preocupação de armazenar informações. Procurando manter os pés
na Terra, ela se defendia com perguntas que Amanto, pacientemente, respondia.
- Amanto,
– pergunto ela – e as pirâmides? Explique melhor sobre elas.
- Sim,
explico. O grande Jaguar, o Tumuchy, era um cientista, conhecedor profundo da
fisioquímica, e, com sua chalana, ele viajou para o Egito e outros pontos do
planeta. Ele trabalhava com maestria o cobre e seus compostos e, com isso,
ensinou a fundir grandes tubos e utensílios de metal, que eram usados em vários
pontos da Terra. Isso permitiu o florescimento de núcleos tecnologicamente
avançados, sendo um deles localizado na região coberta, atualmente, de gelo,
que correspondem ao Pólo Norte e à Sibéria. O degelo dessa região, agora
começando, vai revelar tudo isso. Mas, foi no Egito que teve início a
conscientização da realidade humana. Observe a história dos egípcios, e verá as
transformações básicas que ali tiveram lugar.
- E essas
máquinas, esses tubos, ainda existem?
- Sim,
são coisas recentes, de cinco ou seis mil anos passados. Sob a areia dos
desertos e no fundo lamacento do Nilo, encontram-se objetos que irão espantar
os cientistas de hoje, quando forem encontrados.
- Mais
uma pergunta: essa história da arca de Noé tem algum fundamento?
- Há
muitos fatos que se transformam em lendas. Na verdade, sempre existiram noés
que precederam as catástrofes. Essa lenda se prende à seleção do mundo animal,
feita sob a orientação dos Mestres. Sempre foram feitas experiências nesse
sentido, e a habilidade do Homem em relação aos animais existe até hoje. Veja a
miscigenação dos rebanhos atuais e todas as experiências com animais, e você
poderá fazer uma comparação com o que acontecia.
- Outra
pergunta, sobre essa questão de contatos com os Capelinos. Quais os problemas
que havia?
- Os
mesmos que existem hoje. Nós habitamos um planeta de constituição diferente,
embora física, material. Para que possamos nos aproximar em nosso estado
natural, somos obrigados a alterar o campo vibratório dos lugares onde
chegamos, e isso provoca uma série de alterações na natureza. Assim mesmo, não
podemos sair do interior de nossas naves, pois seríamos esmagados pela
densidade do plano da Terra. Naqueles tempos, ainda conseguíamos estabelecer
bases na superfície, onde podíamos sair das naves com relativa segurança. Mas
isso era uma anormalidade que exigia enorme dispêndio de preciosas energias, e
só era feito em função dos planos da época. Mas não era qualquer ser humano que
podia chegar até nós. Apenas os missionários, que tinham o conhecimento das
técnicas empregadas e organização física adequada, o faziam.
- E essas
bases, como eram elas?
- Campos
magnéticos preparados no subsolo e delimitados na superfície. Ainda hoje, se os
cientistas usarem instrumentos adequados, eles irão detectar a diferença desses
solos em relação às regiões circunvizinhas. Em sua maioria, esses pontos eram
demarcados, e a aproximação totalmente vedada aos seres humanos comuns. Tais lugares
ainda são considerados sítios sagrados ou malditos, conforme o folclore local,
pois são, realmente, inadequados ao equilíbrio psicofísico dos seres humanos.
Esse mesmo fenômeno ocorre em todos os lugares onde foram utilizadas energias
magnéticas ou atômicas. Os discípulos do Jaguar usavam uma espécie de pincel
atômico, que lhes permitia esculpir, com perfeição, os mais duros metais ou
pedras. Os ambientes onde trabalhavam, bem como os objetos, ficavam emanados
com essas energias, e se transformavam em tabus. Com o passar do tempo, essa
emanação vai desaparecendo, mas ainda existe muito perigo nesse sentido. O
desequilíbrio que isso provoca é facilmente confundido com problemas
mediúnicos, daí surgirem as lendas e superstições. Naqueles tempos, isso mantinha
os curiosos afastados, mas isso gerou o mistério religioso. Tais mistérios
sempre foram habilmente utilizados pelos sacerdotes de todos os tempos, e
incorporados aos rituais. No Templo de Salomão havia uma câmara onde somente o
supremo sacerdote entrava, uma vez por ano.
- E havia
algum perigo para outra pessoa que penetrasse nessa câmara?
- Havia,
sim, Neiva, porque ali estava localizado um núcleo de captação de energias que
somente aquele sacerdote sabia como manipular. O fenômeno acontece, hoje, no
Templo do Amanhecer. O cristal que existe na cruz, atrás da Pira, emite um tipo
de energia recebida do plano astral. É por isso que o ritual exige a abertura
dos braços quando se cruza a linha mediana do Templo. Mas a energia que é
emitida no Templo não oferece perigo algum para as pessoas de fora do ritual,
pois não estão sintonizadas com a onda vibratória emitida. Já os médiuns em
trabalho, recebem uma pequena carga todas as vezes que atravessam a linha de
emissão.
- Quer
dizer que os médiuns que atravessam a linha sem fazer o gesto apropriado
recebem carga?
-
Receberiam, se não fosse a proteção das entidades que os assistem. Você sabe
muito bem, filha, o trabalho que nos dá a proteção dos médiuns incautos!... É
preciso não esquecer que, embora semelhantes, os fenômenos são diferentes. No
caso das civilizações antigas, eram energias fisioquímicas, mas, no presente
caso, se tratam de energias ectoplasmáticas, flluídicas.
- Amanto,
ainda lembrando Noé, o mundo não foi inundado naquele tempo?
- Não, se
você se refere ao dilúvio como diz a lenda. Na verdade, as catástrofes sísmicas
e os degelos já fizeram imensas inundações e afundamentos de terras. Muitas
regiões da Terra foram submergidas e outras emergiram. Mas, esses foram
fenômenos localizados, e não gerais. A idéia do geral se deve ao fato do
conceito de mundo como sendo apenas a região onde o fato foi registrado.
- E
agora, o mundo vai ser inundado?
- Apenas
parcialmente, como já ocorreu no passado. Desta vez serão submergidos vinte e
um países, que desaparecerão totalmente.
- Amanto,
o que podemos fazer ou, então, deixar de fazer para evitar tantas perdas?
- O que o
Homem pode fazer é se compenetrar de si mesmo, da sua situação de espírito em
caminho, e acomodar sua mente às coisas do transcendente. As catástrofes e os
acontecimentos planetários pouca diferença fazem ao indivíduo. Para aqueles que
já vão desencarnando nos desastres e nas doenças incuráveis, o fim já chegou,
embora muitos continuem, talvez, até os reajustes finais.
- Mais
uma pergunta, que me escapou quando você falava dos contatos dos Capelinos com
a Terra. Esses contatos traziam algum mal à Terra?
- Sim,
Neiva, embora esses males fossem bem menores do que aqueles causados pelos
próprios terráqueos. Quando os Tumuchy perceberam que os repetidos encontros
conosco produziam danos à Terra, eles se entristeceram demais. Depois disso,
eles rarearam muito, pois nos cercamos de imensos cuidados. A melhor forma de
nos comunicar é através do plano etérico, como estamos fazendo neste momento
com você. O problema que se apresenta, porém, é a falta de terráqueos
equilibrados, para um trabalho dessa natureza, como é o seu caso, Neiva. A
prova dessa dificuldade são os incríveis relatos de pessoas que dizem ter
viajado em nossas chalanas, pois isso é tecnicamente impossível, em corpo
físico. O mesmo acontece conosco em relação à Terra, embora muitos tenham
afirmado terem visto e conversado conosco, fisicamente... Entretanto, existe em
andamento toda uma série de acontecimentos, técnicos e naturais, que irão permitir
esse contato. Quando o grande Seta Branca lhes diz que o “Céu irá se encontrar
com a Terra”, ele se refere a esses acontecimentos. Mas tenha certeza, Neiva,
que, quando isso vier, as coisas serão bem diferentes no seu planeta.
- Bem,
Amanto, acho que, por hoje, me dou por satisfeita. Deixe-me voltar ao meu
corpo.
- Sim,
Neiva, creio que hoje a dosagem foi grande. Aliás, nos preocupa muito nos
servirmos tanto do seu trabalho. Mas você é o repositório desses antepassados e
a intelectual de nossos dias.
- Eu,
intelectual? – retrucou Neiva, dando uma risada.
Então,
ouviu o eco da risada que dera, como se estivesse reproduzida por um aparelho
eletrônico, e disse:
- Que
foi, Amanto? É minha esta risada?
- Sim,
Neiva, – respondeu ele, rindo – isto foi um pequenino carinho eletrônico, pois
você é tão querida para nós, como sabemos que o somos para você. Que você seja
bem-aventurada até o término da sua missão. Bem-aventurados sejam todos os que,
esquecendo-se de si mesmo, cuidam do seu próximo! Por hoje, chega, Neiva. Noutra oportunidade
voltaremos aos Tumuchy e seus descendentes, e às proximidades do Titicaca.
- Ao
Titicaca de novo?
- Não.
Desta vez iremos adiante, subindo as cordilheiras dos Andes!
A SERPENTE
MORDE O RABO
Neiva
ouvia Amanto dissertando:
- Um a
um, os ciclos civilizatórios foram se exaurindo, e inúmeras vezes a serpente
mordeu o rabo, fechando o circuito. Cada ciclo, entretanto, representava dois
milênios de vida, vinte séculos de penosas experiências, de erros e acertos.
Não houvesse a providencial interferência de fatores externos, independentes da
vontade humana, os terráqueos perderiam o sentido do transcendental, o Céu
ficaria separado da Terra. Mas o planejamento sideral continuou, sempre na sua
trajetória inconcebível, o Sistema Solar se movendo na galáxia, e esta se
incluindo no movimento do Universo. Presa ao sistema, a Terra evolveu sempre,
reajustando sua posição, evoluindo com o conjunto, e os Homens, por sua vez, se
evoluindo na Terra. Para que houvesse consciência de conjunto e sintonia com os
planos siderais, a permanência do Homem na Terra foi diminuindo de prazo. Da
imortalidade dos Equitumans, seus sucessores passaram a ter vidas mais curtas e
desencarnes mais numerosos. Com isso, foi nascendo o temor da morte e a preocupação
em se perpetuar na Terra. Esse fato fundamental é que explica as contradições
daquelas civilizações e explica, melhor ainda, as contradições da atual
civilização do Século XX. Os espíritos transcendentais que aqui aportavam,
vinham cheios de Deus e de Eternidade. Suas constituições eram de pura luz e,
como tal, pouco se diferenciavam da Luz Divina. Sua individualidade era
conhecida, apenas, de Deus e dos Grandes Mestres. Dessa situação seráfica, eles
passaram a habitar corpos densos e, para operar esses corpos, tinham que lançar
mão do recurso da criação dos corpos intermediários, dando existência às almas. A experiência era terrível e
sedutora, ao mesmo tempo. Até então, viviam seu cuidados pessoais, com poucas
responsabilidades. Mas, a partir do momento em que chegaram à Terra, começou
sua odisséia individual. Para que não desanimassem da tarefa, foi-lhes
concedida a imortalidade relativa. Os Equitumans não eram sujeitos às doenças e
ao desgaste energético, e não tinham, a princípio, o fantasma do desencarne, da
morte. Por outro lado, a presença dos Mestres, com suas naves e seus
equipamentos, representava a segurança do planeta de origem, a presença de
Capela. A tônica de suas vidas era a do espírito. Seus corpos, exigindo poucos
cuidados, desenvolviam a psique adequada, suas almas eram simples e básicas. E,
assim, deram início à tarefa. O meio físico – a Terra – já estava sedimentado e
sujeito apenas a pequenas variações. Os colonizadores extraplanetários
receberam um mundo estratificado e com bilhões de anos de vida. Da nebulosa
inicial, restava, apenas, a pirosfera. Do fogo interior saíam os fatores
magnéticos que mantinham o equilíbrio em relação ao calor solar. Rochas, corpos
simples diferenciados, variações topográficas, distribuição de águas e sistemas
atmosféricos, tudo se enquadrava num cenário testado e balanceado. O que
restava fazer podia ser feito, agora, pelo Homem. A tarefa principal já estava
concluída. O restante era a oportunidade de fazimento, de criação, que Deus
dava de presente àqueles espíritos, um terreno para que fizessem o seu jardim,
a sua horta, o seu mundo. Seus instrumentos eram quase perfeitos.
Cuidadosamente sedimentada no seu mundo atávico, na sua memória espiritual,
eles tinham toda a história da Terra, todos os planos, todos os sofrimentos,
todos os fracassos e todos os sucessos. Tinham, ainda, nesse repositório
inconsciente, o sentido de uma tarefa finita, e sabiam que, como a seus
antecessores, a eles apenas cabia a continuação do trabalho, retomado onde os
outros haviam deixado. A razão de sua vinda era fazer sua parte e voltar para o
planeta-mãe. No princípio, eles estavam perfeitamente conscientes disso. E,
assim, se lançaram ao trabalho. Sua matéria-prima era constituída de rochas e
metais elaborados em bilhões de anos. Seu trabalho era essencialmente físico, e
os estímulos vinham diretamente de seus espíritos. As relações entre eles
obedeciam às normas espirituais e não havia necessidade de complicadas
elaborações psíquicas. Por isso, suas almas eram singelas, e sua linguagem
direta. Um simples olhar ou gesto bastava para que se entendessem. Assim era,
no princípio. Por isso, dispunham de condições para manipular forças
extraterrenas. Usavam a desintegração molecular e atômica, por meio de
instrumentos, e as forças magnéticas de polarização interplanetária. O Sol, a
Lua e os corpos do Sistema Solar eram fontes de energia a serem utilizadas, e
eles sabiam como fazer isso. Com tais conhecimentos, eles aplainavam montanhas
e furavam a terra, com base nas plantas gerais para o planeta. Esse trabalho se
realizava em sete lugares diferentes da Terra. Em cada um desses pontos havia
um grupo diferente, com corpos adequados às condições locais. Os elos de
ligação entre eles eram vários. Seus espíritos se comunicavam com facilidade, e
seus chefes se deslocavam nos seus veículos polarizados, transportando
instrumentos, máquinas e operadores. A tarefa era a mesma para todos, mas as
condições inteiramente diferentes. Aos poucos, eles foram padronizando a
exploração das energias vitais, visando o abastecimento energético do globo. As
poderosas usinas solares eram contrabalançadas pelas usinas lunares, numa
complicada rede que visava a cobertura da Terra inteira. Em cada região, o
plano obedecia a normas próprias, e seus instrumentos registravam, por
antecipação, as acomodações da Terra. Eles tinham, portanto, todas as condições
para conduzir a evolução física da Terra e sua adequação aos ciclos que se
seguiriam. Por isso, eram senhores da natureza e controlavam as vidas mineral,
vegetal e animal. Entretanto, eles não eram os únicos, pois chegaram a uma
Terra já habitada pelos remanescentes das civilizações anteriores. A relação
com esses habitantes os obrigou ao desenvolvimento dos sentidos psíquicos, da
linguagem articulada e das emoções psicológicas. Aos poucos, suas almas foram
aumentando os estímulos e as suas consciências, cujo campo foi sendo invadido
pelas emoções psicológicas. Na proporção em que a tônica anímica foi crescendo,
a espiritual foi diminuindo e, aos poucos, eles foram deixando de ser puros
espíritos que tinham um corpo físico, para se tornarem mais corpos físicos que
tinham uma alma. Essa involução se foi agravando na proporção em que geravam
filhos, cujos corpos não tinham as mesmas qualidades de sobrevivência de seus
genitores. A necessidade de se resguardarem dos percalços da vida física
aumentou sua vida psicológica. A degenerescência dos corpos obrigou ao
desenvolvimento de sentidos psíquicos cada vez mais apurados. Ao aproximarem
sua tônica magnética da dos habitantes das regiões onde operavam, começou sua
miscigenação e, com ela, o enriquecimento da sua psique. Eles passaram a ser
tão ocupados nas suas tarefas, cada vez mais complicadas, que já não tinham
tempo de sintonizar seus espíritos com os Mestres responsáveis. A insistência
dos Mestres na manutenção dos planos originais foi entrando em conflito com a
autonomia, cada vez mais ampla, daqueles espíritos que se transformavam,
progressivamente, em seres humanos. No fim do primeiro milênio, os Mestres já
começaram a perceber que haviam cometido erros de cálculos.
- Erros de cálculo?
Neiva,
sentada em sua mesa, inteiramente mediunizada e registrando a narrativa de
Amanto, espantou-se tanto com essa afirmação que saiu do seu torpor
semicataléptico.
- Sim,
Neiva, e por que não? Afinal, nós não somos Deus, somos apenas seres
individualizados, diferenciados, portanto, de Deus. Não esqueça, também, filha,
que somos habitantes de um mundo maior, mas um mundo que se chama Capela. O
fato de Capela presidir a Terra como sua filha, não quer dizer que seja
perfeito ou que seus habitantes sejam perfeitos. Sem dúvida, existe ali maior
perfeição do que na Terra. Mas isso, apenas, num sentido de proporção. Afinal,
tudo é muito pequeno em relação à grandiosidade do Universo e de Deus. O erro
é, pois, a característica fundamental dos espíritos. Só não há erro quando o
espírito se integra no Todo Divino. É verdade que tudo é proporcional e na
dependência da perspectiva. Nós recebemos os planos prontos para a evolução da
Terra, e os executamos. Durante milênios, fomos arregimentando espíritos e
preparando-os para a tarefa. Chegado o momento, os conduzimos para os locais de
trabalho e lhes demos todas as condições. Mas, se os planos eram perfeitos, o
mesmo não aconteceu com sua execução. Um exemplo típico disso foi o excesso de
autonomia que demos aos trabalhadores, devido à nossa limitação no plano
físico. Éramos obrigados a nos manter em etérico, para não sermos influenciados
pelas condições do plano físico. Com isso, nos comunicávamos diretamente com os
espíritos, e eles sempre concordavam com as instruções. Mas, na hora da
execução, eles encontravam dificuldades em suas próprias psiques, e quando a
tarefa era feita, já não correspondia ao que fora combinado. Isso produzia
emoções conflituosas e dilemas para o livre arbítrio. Diante das dificuldades
na execução dos planos, começaram a se perguntar se o que lhes sugeríamos seria
o certo e, na ausência de uma resposta positiva, eles ou desistiam ou
prosseguiam, na incerteza. Dúvida é sinônimo de fraqueza, e para não se
sentirem fracos, eles começaram a erigir tabus e pontos de referência
psicológica. Esses tabus foram se transformando em mitos, e dos mitos nasceram
as religiões. Nossos contatos foram, então, rareando, e os esforços foram sendo
redobrados, para guiá-los na direção certa. Mas a volúpia da autonomia
aumentou, a tal ponto, que os planos foram se distanciando, cada vez mais, dos
originais. Isso nos obrigou a recorrer aos grandes Orixás, Mestres que ocupavam
posições mais evoluídas que as nossas, e que tinham poderes mais amplos. No fim
do segundo milênio da existência dos Equitumans e outros seis grupos, a
intervenção começou a ser feita, produzindo as grandes catástrofes físicas na
Terra. Os Equitumans foram virtualmente sepultados nos Andes, e os outros
grupos nos seus pontos de irradiação. Houve, então, um período de estagnação,
de refazimento da natureza, e a tarefa foi reiniciada pelos espíritos que se
salvaram. No caso das Américas, o grande Orixá responsável foi Seta Branca.
Neiva se
maravilhava com as explicações de Amanto, que continuou:
- A
situação da Terra, entretanto, se tornara mais complexa. Os espíritos que
desencarnavam estavam tão imbuídos, nas suas almas e em seus corpos, que não
conseguiam condições de retorno a Capela. Como só poderiam reencarnar pelos
processos do planeta-mãe, permaneciam em etérico e exerciam sua influência
nesse mundo ilusório. Nele foram nascendo poderosas organizações de seres
etéricos, em cujas consciências mal penetrava a voz do espírito. Assim nasceu o
“outro mundo”, o mundo das almas, o mundos dos que vocês, atualmente, chamam de
espíritos sofredores. Os espíritos
sensatos, que tinham condições de retornar a Capela, eram recolhidos e recebiam
novas instruções dos Mestres. Em seguida, encarnavam, já preparados para os
novos planos que se delineavam para o planeta. Foi assim que surgiram os
Tumuchy, os Jaguares e os Mussuman. Esses eram antigos Equitumans, que tinham
liderança e vinham em condições superiores aos habitantes. Para facilitar a
tarefa, eles recebiam corpos preparados para certa longevidade e ações, vedadas
aos outros. Assim, foram decorrendo milênios sem conta. As populações iam
aumentando, e os conflitos se sucedendo, com maior ou menor resultado, conforme
as épocas e os lugares. Mas, o tempo ia destruindo seus rastros. O planeta, que
estava destinado a conter a marca transcendental do espírito, ia ficando à
mercê da alma. Alma, psique, significa conflito, relacionamento pela diferença,
fatores positivos e negativos, em ação. O espírito tem a criação intrínseca no
ser âmago, pois traz a marca de Deus, está mais próximo da Eternidade. A alma
traz a marca do criado, do transitório, da elaboração transformista e suas
marcas tendem a se apagar. É por isso, Neiva, que não temos quase provas
palpáveis dessas civilizações. Se houvesse predominado a tônica espiritual, o
tempo dos homens não seria contado em termos de anos, mas, sim, em milênios.
Você pode comparar bem isso na sua época. Veja o Cristianismo como é atual,
dois mil anos depois de Jesus, e observe o pensamento humano nas suas várias
nuanças. Enquanto o primeiro se manifesta sensível, independente das
elaborações psicológicas, as criações humanas são imperfeitas e dependentes de
uma porção de fatores para poder exercer sua influência. É por isso que a
história humana só é registrada oficialmente de uns cinco ou seis mil anos para
a frente. Esse registro depende de fatores físicos e psicológicos. Os
monumentos das civilizações mais antigas já viraram pó! As coisas que foram preservadas
são poucas e, talvez, o tenham sido apenas para a revelação final, para que os
atuais espíritos tenham idéia da sua antigüidade.
- Mas,
Amanto, o que você quer dizer com isso, com essa “antigüidade”?
- Quero
dizer, Neiva, que esses espíritos somos nós, são vocês e são os que já habitam
outras paragens. Sim, Neiva, essa é a razão do presente relato, dessas
revelações. Tudo o que falei até agora se refere a nós mesmos e a vocês.
Queremos que você encerre este livro e comece outro, que irá se chamar “De
Esparta a Brasília”. Nele registraremos a trajetória de alguns espíritos
escolhidos, desde esses tempos até os tempos atuais. Talvez, em alguns casos,
nos reportemos, até mesmo, a situações desses espíritos anteriores a Esparta.
A
ORGANIZAÇÃO CRÍSTICA
Amanto
prosseguiu:
- O
povoamento da Terra continuou por muitos milênios, em meio à luta pela
hegemonia. Às vezes, predominava o plano puramente físico, principalmente nos
períodos de cataclismos e refazimento da superfície. Outras vezes, predominava
o plano psíquico, nas lutas travadas entre civilizações que se adiantavam e
outras, menos evoluídas. O espírito só conseguia predominar nos pontos
estratégicos e no relativo anonimato. Esse fato é que deu nascimento aos
repositórios da herança espiritual, às cavernas, aos subsolos das pirâmides,
aos templos proibidos e aos agentes secretos do mundo espiritual. Essa é a
origem das doutrinas herméticas, das iniciações, do ocultismo e do esoterismo.
Cada grupo evoluiu de acordo com sua situação geográfica e a tônica especial de
sua missão. Isso explica, também, a diferença entre as iniciações e as
religiões. As religiões nasceram do psiquismo, dos anseios da alma e da
necessidade de apaziguar a angústia. Por isso, não existe religião divina, mas,
apenas, humana, antropomórfica. As coisas foram evoluindo, num crescendo cada
vez mais amplo e mais complexo. As relações com os Mestres foram se reduzindo a
contatos esporádicos dos iniciados, dos sacerdotes, com eventuais caminheiros
dos planos superiores. Espíritos de grandes Orixás encarnavam em penosas
missões e eram derrotados pela alma barbarizada. Felizmente, o perigo da
manipulação de forças extraterrestres foi sendo afastado pela própria grosseria
humana, pela impossibilidade dele se haver com forças mais sutis do que as
físicas. Os Mestres materializados já tinham se convencido da inutilidade dos
seus esforços, pois a energia que conseguiam manipular se transformava em arma
mortal contra a natureza. Até os contatos passaram a ser perigosos, e eles
tinham que isolar vastas áreas territoriais para poderem receber minguadas
instruções dos Mestres eterizados. Foi isso, aliás, que deu origem aos jinas, os lugares sagrados, protegidos
pelas falanges dos elementais.
- Mas,
Amanto, – interrompeu Neiva – por que essa proteção tinha que ser feita pelos
espíritos elementais? Ela não poderia ser feita pelos mecanismos terrestres?
- Sim,
Neiva, eles sabiam se proteger dos encarnados e, raramente, um ser humano
chegava até os lugares proibidos. O programa, porém, era de protegerem dos
espíritos do plano etérico. Aliás, essa era a maior dificuldade que havia para
a execução dos planos de Capela na Terra. Entre a Terra e o mundo sutil de
Capela, formara-se um verdadeiro mundo denso, uma barreira quase intransponível
de ectoplasma, vigiada por falanges organizadas. Seu propósito era o de tomar,
de Capela, o comando da Terra. A resultante foi a saturação da Terra com
espíritos que desencarnavam e não podiam subir ao planeta-mãe. Aprisionados
entre duas dimensões, esses espíritos se apegavam aos corpos físicos, o que
resultava no processo obsessivo em massa. É por isso, Neiva, que os últimos
cinco mil anos antes de Cristo foram tempos de terríveis movimentos humanos, de
guerras e destruições. A barbaridade, a impiedade, a sensualidade da carne
resultavam na desagregação, cada vez mais intensa, da mente humana, sujeita às
suas almas deformadas, com poucas possibilidades de ouvir as vozes de seus
próprios espíritos. Daí serem criadas as mitologias, complicadas construções
intelectuais de fatos não compreendidos à luz do espírito. Egito, Babilônia,
Grécia, Cartago, Roma e todos os povos que constituem a base da História
conhecida, nos dão idéia nítida desse fato. E em meio a esses movimentos de
massas destruidoras, surgiam, vez por outra, as vozes clamando nos desertos, o
grito angustiado do espírito a exigir justiça. E nos sete oásis da Terra, nos
sete pontos onde haviam desembarcado os privilegiados Equitumans, as coisas
secretas eram cada vez mais enterradas, tornando-se cada vez mais inacessíveis.
Os missionários ocultos clamavam a presença de Deus, mas os esforços dos
Capelinos resultavam inúteis. E então, Neiva, o Grande Orixá, o Mestre dos
Mestres, decidiu vir pessoalmente. Nasceu Jesus, e com ele, teve início a mais
perfeita organização que o planeta conheceu. Naves gigantescas, com pilotos
experientes dos planos etéricos, vararam a densa matéria e foram abrindo
caminhos para o Céu. Plataformas espaciais foram estabelecidas, a fim de
receber os espíritos que começavam a se libertar do jugo físico e da prisão
etérica. No plano físico, os missionários encarnados se organizavam em sistemas
mediúnicos e os primeiros médiuns começaram a exercer sua piedosa missão de dar
oportunidade aos espíritos acrisolados. A esse fato se deve a confusão inicial
do Cristianismo e o nascimento de tantas seitas. Para que houvesse ectoplasma
adequado às desobsessões maciças não poderiam existir os grupos harmônicos e
espiritualizados. Por outro lado, a tônica predominante ainda era a da psique
obsidiada pelas especulações filosóficas e intelectuais. O orgulho humano
personificava-se nas figuras de César, do Império Romano, dos bárbaros e dos
conquistadores de povos e nações. E assim, lentamente, num processo seguro e
inexorável, o espírito foi retomando sua posição no planeta, na luta sem
tréguas e contínua.
- Mas,
Amanto, – atalhou Neiva – se o Cristianismo veio resolver o problema, como se
explica a situação atual, com toda essa barbaridade, guerras e injustiças
sociais?
- Apenas por não ter se completado, ainda, o processo.
Daqui para diante é que veremos o triunfo do espírito, a realização final do
ciclo redentor. Afinal, Neiva, o que são dois mil anos diante dos milênios
anteriores? Não se esqueça, filha, de que não se tratava, apenas, de equilibrar
a população encarnada do mundo que, por sinal, era muito pequena quando o
processo teve início. Tratava-se, realmente, de proporcionar a libertação de
milhões de espíritos dos planos próximos à superfície, e isso vem se efetuando
sem interrupção. Cada vez mais o sistema se aperfeiçoa em todos os planos. As
Casas Transitórias funcionam com eficiência, e as falanges das sombras vão
sendo reformadas pela luz do Amor, da Tolerância e da Humildade. A densidade do
etérico terrestre vai diminuindo, enxertada pela luz física do mundo mediúnico,
de um lado, e pela presença das falanges de Capela, do outro. Espíritos
tenebrosos, acrisolado, há milênios, nas sombras. Vão sendo desalojados e
lançados na Terra física. É por isso, Neiva, que o mundo se apresenta tão cheio
de contradições, de indivíduos enlouquecidos e de obsessores tão terríveis.
Assim o exige o reajuste final, os últimos estágios de um drama que começou há
milênios. Mas você pode perceber que, em meio a provas tão terríveis e
tragédias imensuráveis, o processo redentor funciona sem parar. Enquanto o
mundo se degladia e se destrói, espíritos evoluídos e altamente cristianizados
trabalham sem cessar, consolando, redimindo e abrindo novas perspectivas aos
espíritos sofridos. Essa é a beleza e a grandiosidade dos tempos atuais. Dos
sete pontos de irradiação partem as luzes que iluminam as consciências e
preparam os espíritos para a caminhada de retorno. Em meio ao sofrimento, a
sensibilidade aumenta, dia a dia, enquanto a proximidade do fim aguça a
ansiedade do encontro com a realidade. Aos poucos, as máscaras vão caindo e,
com elas, caem as falsas concepções. Mas, tudo tem uma relação direta, cada
vida se alimenta das raízes do seu passado e floresce de acordo. Vamos, Neiva,
vamos escrever “De Esparta a Brasília” e traçar os perfis dos velhos Equitumans
nas suas vidas atuais, principalmente daqueles que habitam um dos sete pontos
de irradiação, que se chama Brasília!
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