sábado, 24 de outubro de 2015

LIVRO: NO LIMIAR DO TERCEIRO MILENIO



NO LIMIAR DO TERCEIRO MILÊNIO (publicado em 05/1972)
 
INTRODUÇÃO
 
Caro Leitor:
 
As páginas deste pequeno manual são destiladas da experiência vivida quotidianamente no trato com as outras dimensões, com os chamados mundos dos espíritos.
São, também, o resultado de quinze anos de convivência com a angústia humana, em todas as suas manifestações, do plano físico da moléstia ao plano escorregadio da mente abstrata.
Destinam-se, portanto, àqueles que continuam na luta de trazer um pouco de luz à escuridão dominante deste triste fim de era cósmica, àqueles que abraçaram o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Todo supérfluo foi eliminado, toda a análise deixada para os que se interessam em aprender os fenômenos da vida. Destina-se o livro, portanto, a todas as mentes abertas a realidades sem nome, sem rótulo e sem preconceito. Se há nomes e conceitos, são apenas marcos didáticos para referência no relativo.
Este livro emergiu de uma comunidade mediúnica sui generis, uma organização dos gurus, dos mestres tibetanos e indus, plantada num vaso Kardecista. Mas, seu principal intento é trazer o Espiritismo para fora do Espiritismo. Espiritismo, como todas as doutrinas e religiões, é apenas um meio de se chegar a um fim, e esse fim, leitor, é Você.
Pouco importa quem seja Você. Importa desperta-lhe a consciência de si mesmo, para que Você possa prosseguir na sua trajetória milenar. Prosseguir, porém mais consciente, mais equilibrado, mais senhor de suas próprias forças, mais feliz.
Essa obra não tem um autor, no sentido comum da palavra. Apenas um médium Doutrinador-Receptivo captou as instruções dos Mentores, trazidas pela Clarividente Neiva, e sintetizou-as em palavras. Traz, porém, a chancela da Corrente Indiana do Espaço, cuja organização, na Terra, é a “Ordem Espiritualista Cristã”, no Vale do Amanhecer.
É, também, incompleto. Um momentum didático num trecho do caminho iniciático. Quando necessário, novos ensinamentos virão, outras formas gráficas, novas sínteses e, talvez, algumas análises.
As possíveis irreverências à Ciência existem, apenas, porque a obra se destina a todos e, além da Ciência, existe um conceito de Ciência dos que não são cientistas. Que os cientistas nos relevem a ousadia.
A forma direta e a linguagem íntima se devem ao fato de que esse trabalho se destinava apenas à distribuição interna, entre nossos médiuns. Foi impresso para distribuição mais ampla porque foi decidido que assim seria mais útil.
 
Vale do Amanhecer, maio de 1972
 
MÁRIO SASSI, TRINO TUMUCHY

CAPÍTULO I
 

FUNDAMENTOS DO MEDIUNISMO
 
O SER HUMANO E OS SERES DE OUTRA NATUREZA
 
O Universo é infinito, fora da nossa capacidade conceptual. Concebemos apenas galáxias e sistemas, mediante alguma verificação e muita imaginação.
Nossa Terra pertence a uma galáxia e a um sistema. No dimensionamento relativo, ela está para a galáxia como um grão de areia está para uma praia. No sistema, ela é um dos menores planetas.
Em nosso planeta existe um processo biológico com base em partículas diminutas. Essas partículas se organizam em formas de vida que denominamos minerais, vegetais e animais.
Dentre as muitas formas, a mais aperfeiçoada é o animal chamado Homem ou ser humano. O Homem se caracteriza pela consciência que tem de si mesmo.
O ser humano, como espécie, não sabe sua origem e nem qual será o seu fim. Tem, porém, a capacidade de especular sobre ambos. É, portanto, uma reta entre dois pontos desconhecidos, do menos infinito ao mais infinito.
O sistema de verificação no planeta Terra é feito através dos sentidos. Os fatos são armazenados num processo chamado memória e transmitidos, de geração para geração, por meios variados e variáveis.
Os sentidos são adequados a uma determinada faixa vivencial e limitados no tempo e no espaço. Para cada forma de vida existem sentidos apropriados. O sistema de memória permite a continuação das espécies. Ela existe na intimidade das partículas e nos arquivos complexos da Humanidade. A escolha de um conjunto de memórias proporciona a existência, por tempo determinado, de um tipo humano ou uma espécie.
Além dos seres verificáveis pelos sentidos, há outros seres, outras formas de vida, cuja existência é admitida pelos efeitos na vida. Deles, o Homem tem menor consciência, dada sua própria natureza.
Mas esses seres agem e interagem e seus efeitos só são percebidos quando se fazem sentir no âmbito dos sentidos, nos chamados plano físico e plano psíquico.
Esses seres fazem parte da Biologia e integram a vida.

ESPÍRITO, ALMA E CORPO
 
Os sentidos humanos registram no Homem um aspecto palpável: o corpo; e um aspecto sensível, mas impalpável, a psique ou manifestações psicológicas. O físico e o psíquico conjugados formam a personalidade – o ser humano diferenciado, característico e único.
O corpo é formado pelo sistema de memória física, ou seja, a herança atávica transmitida pelos genes, partículas submicroscópicas da intimidade celular.
A psique, ou alma, é gerada pela convergência da memória física e do aprendizado recebido do meio ambiente. Ambos se originam de outros indivíduos, outras personalidades.
Além das atividades psicofísicas, o indivíduo apresenta outro tipo de manifestação, cujas origens não são do corpo ou da psique. Essas pertencem a outra ordem de memórias a que chamamos espírito.
Portanto, o Homem é levado à ação mediante três tipos de estímulos: o físico, o psíquico e o espiritual.
A memória física, impropriamente chamada instinto, é regida, na sua reação, pelo condicionamento do mundo físico, do meio ambiente. Reage através do sistema nervoso do grande simpático ou neurovegetativo.
A memória psicológica, ou da psique, interage por processos seletivos, que proporcionam a ação consciente dos sentidos e se faz paralelamente à percepção inconsciente, ou subliminar. O processo seletivo escolhe imagens, formando as idéias e estas associadas formam o pensamento.
A memória espiritual existe e funciona num plano adimensional, num organismo paralelo ao conjunto psicofísico, que denominamos espírito. A herança do espírito transcende o tempo, pois representa o acervo de muitas vidas.
Como conseqüência das três faixas vibratórias – a física, a psíquica e a espiritual –, todas agindo no mesmo veículo, o ser humano apresenta variações de comportamento a cada momento. A hegemonia de uma ou outra faixa determina a tônica que caracteriza uma pessoa. Ela é predominantemente animalizada, psíquica ou espiritualizada. Essa tônica varia conforme as circunstâncias, principalmente em função da idade.

O MUNDO E AS DIMENSÕES
 
O Universo é um todo contínuo e em perpétuo movimento. Ele é concebido pelo Homem conforme o conjunto instrumental aplicado na observação: sentidos físicos, psicológicos ou espirituais. A imagem resultante varia conforme o indivíduo e seu dimensionamento. Existe, pois, um Universo físico, um psicológico e outro espiritual. Visto pelos sentidos, ainda que ampliado pelos instrumentos, ele se apresenta composto de corpos celestes e fenômenos conhecidos, relativamente, até onde alcança esse tipo de verificação. Visto pela psique, em termos interpretativos e de abstração, é intuído, deduzido ou induzido. Forma-se, assim, um pensamento, ou interpretação, que varia com o tempo e as circunstâncias.
Já a interpretação espiritual do Universo é feita pelo sentido religioso, uma percepção indefinida de fatos que escapam à racionalização, tanto física como psicológica. Classifica-se, pois, de mundo espiritual tudo o que escapa ao sistema indutivo ou dedutivo.
Cada um dos planos ou universos se caracteriza por faixas vibratórias, movimentos, cujos limites são perceptíveis. Isso pode ser verificado na experiência quotidiana de qualquer ser humano. O Homem pode saber qual o estímulo que ocupa seu campo consciencional, a cada momento, bastando para isso o senso comum de observação.
Existem uma dimensão física, uma psicológica e outra espiritual. As três coexistem simultâneas e ocupam espaços de acordo com o seu grau de vibratilidade. A vibração de cada um determina a organização das partículas componentes.
Assim, o mundo físico tem uma organização molecular de densidade variável, mas de limites definidos, caracterizados na estequiometria dos corpos simples. O mundo psicológico movimenta corpúsculos que se caracterizam na sua organização pela extremada velocidade. A percepção desses movimentos exige receptores de alta gama vibratória. Sua ação se traduz pelo som, pelo calor e pela luz em suas múltiplas manifestações, que escapam aos sentidos comuns, mas cuja existência é incontestável.
A organização do mundo espiritual, embora situada em termos corpusculares, é de difícil conceituação, pois sua movimentação escapa completamente à sensibilidade sensorial. Sua percepção é feita por processos que, embora verificáveis nos efeitos, são imponderáveis na estrutura e na mecânica.
O campo consciencional – a sede dessas percepções, é chamado o eu, uma abstração definida, uma quarta dimensão nitidamente separada das outras três.
Eu sinto o meu corpo, percebo a minha psique e sou obrigado a admitir a presença do meu espírito – simultaneamente. Mas, sou sempre o eu, algo separado do meu corpo, da minha alma e do meu espírito, pois registro todos eles.
 
A RELAÇÃO INTERDIMENSIONAL
 
Na continuidade universal, o mais vibrátil de um plano se liga ao menos vibrátil de outro plano. Forma-se, assim, um campo neutro, uma zona intermediária que possibilita a homogeneização, a comunicação de um plano para outro. Podemos fazer uma analogia: uma pedra jogada para o alto ao perder o impulso, começa a cair. No momento intermediário, quando pára de subir e começa a cair, ela é regida por força diferente das duas outras: a que a fez subir e a que faz cair.
Existe, pois, uma lei, um regime que governa as relações entre as diferentes dimensões, algo entre dois planos. Esse algo é um “meio”, ou usando a expressão latina, um medium. Essa a origem do neologismo brasileiro médium.
Toda ação no Universo é feita por algo intermediário e isso pode ser facilmente observado pelo senso comum. Quanto mais complexo é o organismo, maior é sua ação intermediária. O Homem, o ser humano, é um médium por excelência. Ele recebe energias e as transforma, adequando-as a cada setor do universo que o cerca. Ele é mais importante por ser portador de um espírito, um espírito para cada conjunto psicofísico. Por isso, ele é diferenciado dos outros seres. Os outros, qualquer que seja sua natureza, são portadores apenas de corpos e psiques ou almas, o princípio organizador e mantenedor da vida. A alma é maior ou menor, segundo a complexidade do organismo que anima. Ela mantém vivo, dá a vida, dirige o organismo em suas relações com o meio. Esse meio é limitado – tem um sentido horizontal; não cria, apenas transforma. Só o espírito traz uma finalidade, um rumo, um objetivo. Só ele tem um sentido vertical, mais amplo, ilimitado em relação à natureza.
O momento, isto é, o ato de fazer um contato entre dois campos vibracionais, dois planos, é que estabelece a individualidade. Ele diferencia o estado intermediário, o campo de encontro, porque esse momento não pertence nem a um nem a outro dos planos que se encontram.
Esse ponto morto de dois campos gravitacionais é semelhante ao conceito de morte – a passagem de um plano para outro. Talvez, seja a isso que Jesus se referia, quando disse que “é preciso morrer para ter a vida”, isto é, nascer de novo. Sem a exaustão do percurso de um campo vibratório não se pode penetrar em outro campo, noutra dimensão.
Esse é o sentido profundo, mas exato, verificável, de fácil percepção das relações inter-planos.
 
DEFINIÇÃO DE MÉDIUM
 
Abordamos o sentido generalizado de médium: o ser humano como intermediário – recepção e emissão – de muitas forças.
O espiritismo tradicional, ou mais precisamente, o Kardecismo, conceituou o médium como o ser humano excepcional, portador de poderes psíquicos que possibilitam o contato com os chamados espíritos. A conceituação kardecista de espírito é ampla e abrange muitas categorias. Mas, o sentido desenvolvido na prática foi o do contato com espíritos que já tenham tido corpos, isto é, já tenham sido seres humanos. Essa preocupação reduziu a grandiosidade do Kardecismo e o espiritismo arcou com o ônus de ser a doutrina dos mortos – o que o Kardecismo não é realmente.
Mais de cem anos depois, talvez sob a inspiração do próprio Kardec, verifica-se que não existem poderes psíquicos especiais, mas apenas emissão de forças, energias naturais comuns a todos os seres humanos. Vê-se também que todos os seres humanos usam essas energias, pois, sendo elas naturais e integrantes do processo biológico normal, ser-lhes-ia impossível deixar de usá-las.
Outro fato tranqüilo é o relacionamento interplanos, o contato entre as dimensões, a osmose universal. Esse fato só permanece obscuro porque se convencionou que contato é o que se faz pelos sentidos, convenção essa fácil de ser derrubada no moderno pensamento científico.
Se admitirmos, pois, a existência de espíritos, seres atômicos, moleculares, cujo habitat é outra dimensão vibracional, somos obrigados, por definição, a admitir a relação desses espíritos com os seres físicos – naturalmente.
O contato se faz com mais precisão pelo ser humano, por ser este portador de um ou mais espíritos. Um ou mais, porque, no caso das obsessões, mais de um espírito habita o mesmo corpo, formando a base das esquizofrenias.
A conscientização do mecanismo desse contato, que é feito à nossa revelia, é que diferencia o médium natural do médium no sentido espírita da palavra.
O desenvolvimento da técnica de contato conscientemente, permite ao médium ir além do relacionamento com seu próprio espírito e controlar o fenômeno, também natural, de relações com outros espíritos.
Médium é, pois, um ser humano normal que utiliza conscientemente suas faculdades mediúnicas. Mediunismo é o conceito organizado desse processo.
 
MEDIUNIDADE E MEDIUNISMO
 
Mediunidade é a faculdade, a maneira como essa energia se manifesta no ser, seja ele humano ou não. É uma energia que emana do corpo físico e se conjuga, na sua manifestação, com o mecanismo psicofísico. Basicamente, ela é igual em todos os seres, porém, varia em teor, quantidade e forma, de um para outro. Não existem dois médiuns iguais, como não existem dois seres humanos iguais. Mas todos são médiuns na sua condição de seres humanos.
Mediunismo é o conjunto técnico-doutrinário que estabelece as maneiras de manipulação da mediunidade. Suas bases repousam nas mais profundas raízes da Humanidade, uma vez que sempre existiu como parte integrante dela. É um pouco ciência, arte, religião e bom senso.
 
MEDIUNISMO E PARAPSICOLOGIA
 
Charles Richet analisou os fenômenos, considerados paranormais, pelo método da observação científica, e é considerado o “pai da Parapsicologia”.
Allan Kardec, observando os mesmos fenômenos, classificou-os por métodos diferentes, e é considerado o “pai do Espiritismo”.
O primeiro reduziu o fenômeno ao âmbito do conjunto psicofísico e ignorou a presença do fator espírito. O segundo considerou o fator espírito e dimensionou o fenômeno em termos religiosos.
Se os dois métodos de observação, ambos válidos e perfeitamente aceitáveis, continuassem em paralelo, a Parapsicologia se tornaria Espiritismo e este se tornaria Parapsicologia. Se ambos caminhassem para um denominador comum, ambos se tornariam Mediunismo.
Assim se apresenta o fenômeno nos dias atuais. A Ciência procura determinar a existência do espírito no laboratório, e o Espiritismo procura uma ciência do espírito. Ambos permanecem ainda inconclusos.
O fenômeno, porém, sempre existiu e não depende de métodos ou de conceituações para existir. É, pois, um contra-senso querer eliminar um em benefício do outro. A Parapsicologia é tão válida quanto o Espiritismo, e vice-versa. Se o fenômeno que ambos observam é o mesmo, ele acabará por se evidenciar, graças exatamente às experiências cada vez mais intensas em torno dele.
Sempre que um parapsicólogo provoca um fenômeno dessa natureza, ele põe em funcionamento os mesmos mecanismos que um espírita poria. O primeiro atribuirá os resultados aos poderes ocultos do ser humano; o segundo os considerará como poder dos espíritos.
Conclui-se daí que as posições assumidas são apenas de conceituação filosófica, o que absolutamente não afeta o fenômeno. O Mediunismo, como perspectiva ampla, irá atenuar essa luta inócua.
 
A ORGANIZAÇÃO CRÍSTICA
 
No seio das inúmeras civilizações que já existiram neste planeta, sempre houve sistemas de relacionamento interplanos. Se observarmos, para a medição do tempo, não importa qual seja o calendário, verificaremos o registro de ciclos relativamente iguais em períodos diversos. Dentre eles, o mais simples para nossa observação, é o de dois mil anos. Nesses ciclos observa-se certa regularidade nos acontecimentos que os caracterizam. Talvez, quando a História for mais científica, isso possa ser verificado com maior acuidade.
Assim é que vemos o Cristianismo. A vinda de Jesus ao planeta não só foi precedida por uma série de fatos inusitados, mas também seguida por eventos cuja trajetória pode ser traçada com nitidez.
Tais fatos, observados em conjunto, nos dão a idéia clara de organicidade e dinâmica, apesar do seu registro se fazer sempre em relação a outros movimentos da História.
Se olharmos com isenção podemos detectar claramente a Organização Crística.
A resistência do Evangelho a todas deformações e as muitas práticas em nome de Jesus demonstram, claramente, a existência de um sistema, uma organização fundamental que resiste a todas as interpretações.
Dentre as muitas coisas sugeridas no Evangelho, emerge com clareza a organização mediúnica. O apostolado e toda a gama de missionarismo nos dão idéia clara do sistema intermediário entre o Céu e a Terra. Assim nasceram as religiões e as idéias do ser neutro – em da Terra nem do Céu, os pontos mortos do alto da lei física.
Hoje, pode-se falar claramente em termos de plataformas espaciais, que são as casas transitórias do Espiritismo, mundos organizados como pontos intermediários entre duas dimensões vibracionais. Se observarmos o Evangelho sem preconceitos, encontraremos um tratado técnico de Mediunismo.
Entretanto, é preciso lembrar que o Mediunismo é uma das facetas do Evangelho e do ser humano. A mediunidade é, apenas, o elemento de ligação entre as atividades sutis do espírito e a trajetória do Homem na Terra.
 
MEDIUNISMO E RELIGIÃO
 
Religião é um conjunto de conceitos que procura estabelecer uma ligação entre dois pontos desconhecidos – o princípio e o fim das coisas.
Por ultrapassar os limites do verificável pelos sentidos, ela estabelece a fé, a crença, como norma de aceitação. Como esses conceitos variam no tempo e no espaço, formam-se religiões características em determinados momentos sociais.
Basicamente, consiste numa forma padrão de comportamento que estimula, além do conjunto psicofísico, o mecanismo espiritual. A prática religiosa procura despertar as forças latentes dos seres humanos no sentido de servir a Deus, em detrimento da tendência natural de servir ao Diabo, Deus e Diabo representando forças opostas e extremadas. Em todas as religiões, as duas figuras emergem com nomes e representações as mais variadas.
Como a religião considera o espírito fator fundamental, ela manipula, com toda naturalidade, as forças naturais de ligação, os pontos intermediários – o Mediunismo.
Concluímos, pois, que a mediunidade é a força básica e instrumental de todas as religiões e o principal fator da atitude religiosa. O estudo do mecanismo das religiões leva-nos a distinguir facilmente as práticas mediúnicas.
A não aceitação desse fator torna a religião motivo de angústia e sofrimento, quando deveria ser exatamente o contrário. Cada ser humano traz consigo sua programação própria, sua maneira de servir o destino. Traz, também, as forças necessárias, as armas próprias para a ação.
A tentativa de padronização do comportamento produz a angústia. É desumano viver-se sob o peso do medo, pecando não contra a consciência, mas contra um conjunto de textos.
 
MEDIUNISMO E CIÊNCIA
 
A Ciência é uma religião às avessas.
No tempo de Pasteur chegava-se a ridicularizar a ideia da existência dos micróbios. Como consequência, matava-se cientificamente por falta de assepsia. O mesmo aconteceu aqui no Brasil com relação à febre amarela. Os jornais da época estão cheios de charges que ridicularizavam Oswaldo Cruz e a vacina.
Allan Kardec foi o Pasteur do mundo invisível do espírito. Só que o tempo ainda não foi suficiente para sua valorização universal.
Entretanto, a fenomenologia deste fim de ciclo irá trazer à luz os fenômenos espirituais com tal evidência, que a Ciência terá que se voltar para eles e colocá-los no lugar devido.
Além do processo reencarnatório, o Mediunismo evidencia a existência do ectoplasma e, com base nesses dois fatores, a Ciência irá encontrar elementos que se coadunem com a atitude científica.
Segundo literatura recente, dão-nos conta de que na Inglaterra, os cientistas conseguiram registrar um tipo de energia, batizado de Fator L. Em São Paulo, o cientista Hernani de Guimarães Andrade escreveu um ensaio denominado “Teoria Corpuscular do Espírito”. Em todo o mundo se estuda o sistema de fotografia chamado Efeito Kirlian. Poderíamos citar ainda inúmeros exemplos do interesse da Ciência pelo mundo invisível do espírito. Mas nos preocupa o fato de tais estudos estarem ainda no nascedouro e, enquanto isso, milhares de seres humanos estão perdendo sua oportunidade neste planeta.
O Mediunismo, com toda sua simplicidade, poderá apressar o processo científico e oficializar os meios de reequilíbrio humano, tanto no campo físico como no psicológico.
Não existe conflito entre a atitude científica e a manipulação mediúnica. Ao contrário, ambos podem se beneficiar se tomarem caminhos convergentes.

CAPÍTULO II
 
A VIDA FORA DO MUNDO FÍSICO
 
A ENCARNAÇÃO
 
“Na casa de meu Pai existem muitas moradas” – a expressão evangélica é o paradigma de referência para a crença na habitabilidade de outros mundos. Mas, pouco ou nada sabemos como os espíritos moram nessas paragens, como são seus corpos ou sua vida social. Admitindo a reencarnação, teremos que acreditar que o espírito vem de algum lugar organizado e no âmbito de um planejamento reencarnatório. A literatura espírita nos traz algumas revelações, as quais, devidamente escoimadas do formalismo humano, se coadunam perfeitamente aos objetivos desta doutrina.
Assim, podemos aceitar que o espírito vem de um sono hibernal e que traz, no âmago do seu ser, a memória sintética das experiências anteriores. Ele vem para a Terra a fim de completar o ciclo dessas experiências, retificar os erros de sua trajetória ou retomar alguma tarefa interrompida em encarnação anterior.
Além da razão do espírito vir para a Terra, existem muitas perguntas em torno das finalidades da existência humana. Cremos, porém, que as respostas serão sempre aleatórias, pois se trata de especulação da mente divina, fora da nossa capacidade psicológica.
Mas, se o espírito traz consigo sua memória de atividades anteriores, temos que aceitar ser a atual a resultante dessas experiências, desse condicionamento. O equilíbrio do Homem consiste, justamente, em harmonizar suas três faixas vibratórias com o mapa desse roteiro. O ser humano só é equilibrado quando vive em paz consigo mesmo, com os caminhos que escolheu anteriormente, com a trajetória de seu próprio espírito.
O processo reencarnatório é a morte às avessas, a exaustão da vivência em determinada faixa e o início em outra faixa – o espírito deixa um mundo e penetra em outro. O sistema gestatório é a forma mais perfeita para essa transferência. As vibrações sutis que presidem a fecundação e a formação do ser têm justamente as condições estáticas do ponto morto da Física.
O anseio que preside a alma de retorno às origens, a imensa saudade das condições pré-natais, tem sua origem nesses momentos de não ser, que vão desde o ato do amor até o nascimento, quando cessa o não ser, não existir, e se chora por se tornar um ser que passa a existir. É o mistério do amor, da criação.

GUIAS E MENTORES
 
No vasto planejamento sideral, o ser tem sua reentrada no planeta bem delineada.
Como acervo, ele traz consigo as conquistas de sua trajetória anterior, de todos os recantos do Universo onde haja passado.
Embora seja único, na complexidade do seu vir a ser constante, sua existência é sempre relacionada com outros seres que também fazem suas trajetórias.
O ser percorre trechos diversos, com seres variados, porém sempre ligados entre si no caminho maior. Assim, núcleos, átomos, moléculas, células, falanges de espíritos afins, em gigantesco concerto, percorrem universos, formando hierarquias infinitas.
Uns são instrutores de outros, alguns num plano, outros noutro, alguns descendo para o vértice involutivo, outros subindo para a meta evolutiva.
Guias e Mentores são os espíritos responsáveis pela etapa terrena de outros espíritos.
O Mentor é o espírito zelador do programa que o espírito delineou para si na presente encarnação.
Como o engenheiro que acompanha a obra em andamento, ele assiste o espírito na sua personalidade transitória. Obrigado a respeitar o livre arbítrio do seu tutelado, ele usa de todos os meios possíveis para que ele obedeça à planta da obra, sem arranhar a sua liberdade.
Um espírito pode ser o Mentor de vários espíritos, embora se apresente a cada um deles com uma roupagem diferente.
Guias são espíritos amigos do encarnado que o ajudam na realização de sua missão. O Mentor é o responsável pelo destino cármico e pelo êxito de uma existência.
A vida na Terra é como um curso universitário. O aluno escolhe as matérias, faz o vestibular, as provas, e sai diplomado ou não, conforme tenha sido bom ou mau aluno. O Mentor equivale ao reitor e os Guias são como os professores.
Como na escola, a vida terrena é livre e depende do livre arbítrio do Homem.
No Mediunismo, o Mentor é o espírito que assiste o médium na sua vida e com ele trabalha em suas linhas mestras. Os Guias são os espíritos que trabalham com os médiuns na execução de suas mediunidades.
Assim como os professores na Terra têm muitos alunos, os Mentores celestiais também têm muitos tutelados, e os Guias muitos alunos.
 
A RECEPTIVIDADE DOS SERES HUMANOS
 
O aparelho humano é o mais complexo e sensível receptor e transmissor da Natureza. Os outros animais têm alguns sentidos mais apurados, como o cão ou a borboleta, porém sempre no rumo de especialização ou finalidade restrita, afeitos ao plano denso da organização física. Há muitos mistérios nos mundos animal, vegetal e mineral que ainda não foram decifrados pelo Homem. Mas, verifica-se que as ações são sempre relacionadas com a sobrevivência física do indivíduo e da espécie. A Ciência nos mostra isso cada vez com maior acuidade e clareza.
As deficiências do Homem são apenas aparentes. Ele não consegue perceber o som tão bem como o cão, mas sua capacidade seletiva lhe permite registrar mais que o cão. Verifica-se, então, que a Natureza tomou cuidados especiais em preservar a tônica humana, para a gama sensorial estritamente indispensável para a vivência física. Aldous Huxley, na sua obra “Às Portas da Percepção”, nos mostra como a função enzimática é redutora dos sentidos.
O hábito de se fechar os olhos para se concentrar em algo especial evidencia isso com muita propriedade. Procedemos assim para eliminar os estímulos visuais do exterior e, com isso, nos tornarmos mais sensíveis aos estímulos da memória. Para sermos mais receptivos ao nosso mundo psicológico, diminuímos o máximo a recepção aos processos físicos.
Somos senhores da técnica seletiva e atendemos ao mundo físico ou ao mundo psicológico, conforme nossos interesses. Este trabalho pretende mostrar o que fazemos para a recepção às emissões de nosso mundo espiritual e como melhorar essa técnica seletiva.
 
A RECEPTIVIDADE MEDIÚNICA
 
Mediunidade é uma forma de energia, partículas em movimento e, portanto, condutora. Sua vibração supera as dos mundos físico e psicológico. As coisas que acontecem pelo processo mediúnico são muito mais rápidas que as que acontecem no físico ou no psíquico. Um Homem está vivendo, isto é, digerindo, movimentando etc., seu cérebro está pensando e os processos são interdependentes com certa sintonia. Mas o campo vibratório do seu pensamento é sempre mais rápido que o da sua vivência física. Ele pensa ou
faz de acordo com seu interesse no momento. Seu campo consciencional está focalizando numa ou noutra forma de ação (pensar ou fazer são apenas formas de ação).
Enquanto pensamos ou agimos, nosso espírito também age, através do processo mediúnico. Sua ação é semelhante à do mágico, que tira a toalha da mesa sem entornar os copos e as garrafas.
Decidimos, com base nos processos lógicos, porém, por trás de todas as decisões, está o substrato de nosso espírito que, às vezes, nos leva a caminhos inesperados.
Cada campo vibratório é pleno de agentes relacionados entre si. Assim é que fazemos nossos contatos particulares, nosso ambiente. Existe, pois, com toda naturalidade, um ambiente físico, um psicológico e um espiritual.
Com isso, pode-se colocar tranqüilamente o Mediunismo junto à Fisiologia e à Psicologia.
Para a Ciência do Homem se tornar mais completa falta apenas admitir o fator espírito/mediunidade e a psicossomática se tornar espírito/psicossomática ou, simplificando, Somática.
Há, pois, muita objetividade, muita clareza no relacionamento do Homem com seu espírito, desde que admitamos como natural a existência autônoma do espírito. Como conseqüência lógica, teremos que admitir o relacionamento do Homem com outros espíritos sem alma e sem corpo.
Embora devamos ter certa cautela na classificação, poderemos dizer que uma pedra, um pedaço de madeira, uma célula ou um cadáver seriam simples corpos. Um ser humano possui um corpo, uma alma e um espírito. Um espírito desencarnado é um ser humano que tem uma alma e um espírito, mas não tem corpo físico. Um espírito puro não tem alma nem corpo.
 
O DESENCARNE
 
Terminado o curso na escola da Terra, o espírito deixa o corpo e penetra em outras dimensões. Como bagagem, ele leva consigo alma, e a conserva enquanto está a caminho. Para que a alma subsista ao desencarne ela separa do corpo físico parte do sistema nervoso, a estação central, onde todo o sistema da personalidade está concentrado.
Enquanto o espírito está ligado à alma, ele é obrigado a permanecer no campo vibratório dela e fica sujeito às leis que regem esse plano.
Da mesma forma que a alma se alimenta, no ser vivo, das energias sutis produzidas pelo corpo, ela continua se alimentando depois do desencarne.
Como não tem corpo para seu sustento, ela passa a se alimentar de outros corpos e isso estabelece o relacionamento inevitável entre vivos e mortos.
Isso explica toda uma série de fatos estranhos que acontecem na Terra e que devem ser examinados com simplicidade, se quisermos nos equilibrar em relação ao todo.
O desencarne é simples e difícil ao mesmo tempo, e exige assistência, tanto no plano espiritual como em nosso plano. Se o paciente é bem ou mal assistido, isso depende da maneira como viveu.
O processo dura cerca de vinte e quatro horas, no desencarne considerado normal, isto é, o que se dá por moléstia. Depois do último suspiro, ou seja, a cessação do processo metabólico, o espírito deixa o corpo e se coloca pouco acima dele, em posição inversa relação à cabeça, se o paciente estiver deitado em decúbito dorsal.
A partir desse momento, começa a absorção do acervo da personalidade que acaba de morrer. Na medida em que o espírito vai recebendo os fluídos e emanações, ele vai formando um novo corpo, e este vai se distanciando do cadáver. Terminado o processo, o novo habitante do mundo invisível se afasta e o corpo inanimado entra em decomposição.
Nesse mundo, o espírito, com toda a bagagem, entra no estado semelhante ao do indivíduo que acabou de falecer. Ele ainda é considerado um cadáver, até que o destino tomado lhe dê condição de vivente do plano em que se encontra.
Essa é uma idéia generalizada sobre o desencarne. É preciso, porém, não esquecer que cada ser humano tem sua própria maneira de morrer, assim como teve a de viver.
Nesse processo, o sistema nervoso desempenha um papel importante. Como um esquema de memória, ele representa a base material onde se agrega o acervo recebido. Isso explica certas moléstias cármicas, que têm origem na existência anterior.
Se o desencarne se deu por outros meios que não a moléstia, digamos num desastre, o mecanismo é mais ou menos o mesmo. A diferença é que o desencarne se processa antes do ato traumático. A pessoa que dirige um carro que irá chocar-se dali a alguns instantes (ou mesmo horas), já tem o seu desencarne feito.
Livre do envoltório físico, o espírito é encaminhado a um lugar no espaço que, em nossa corrente, é chamado de Pedra Branca. Nesse lugar dimensional ele fica entregue a si mesmo, durante um tempo equivalente a sete dias da Terra. Ali ele chora, maldiz, rejubila-se, alegra-se ou se entristece, na medida em que vai tomando conhecimento do que lhe aconteceu. Seu despertar é o momento solene do exame de consciência sem as distorções do mundo sensorial e dinâmico.
Após esse período, em se tratando de uma criatura comum, o Mentor o apanha na saída e o traz para a superfície, em busca do fluído necessário para a viagem ao destino merecido.
Esse é o momento crítico do recém-desencarnado.
Se cumpriu seu destino e exauriu seu carma, ele abandona o plano físico e é levado para uma estação intermediária do etéreo, conforme a falange ou família espiritual a que pertence. Nessas casas transitórias ele se prepara para voltar ao planeta de origem, onde estava antes de vir à Terra.
Devido às condições difíceis desse período, o espírito é chamado de sofredor. Esse estado pode durar apenas alguns dias ou séculos. Isso depende somente dele. Se o Mentor não consegue encaminhá-lo logo após a volta de Pedra Branca, ele o deixa entregue ao próprio destino, pois terminou sua missão junto àquele espírito. Esse se torna, assim, um espírito errante, que vai, aos poucos, perdendo a identidade, atraído por outros espíritos nas mesmas condições, para as macumbas e ambientes semelhantes.
Há, pois, duas maneiras básicas de um espírito cumprir seu destino na Terra. A normal é a luta como ser vivo, com suas tramas, conflitos, reajustes, vitórias e derrotas, até a exaustão de todos os compromissos. A outra é a da fuga, do suicídio lento e ausência do aproveitamento das oportunidades evolutivas. Isso leva ao parasitismo e à dependência do meio ambiente, que resulta no desencarne com dívidas ainda por saldar.
Nessa condições, o desencarnado é obrigado a permanecer na Terra, e se torna um sofredor. Mas a misericórdia divina, ainda assim, lhe dá novas oportunidades, pois ninguém é abandonado nesse mundo de Deus.
Com os fluídos emanados do plexo solar dos médiuns de incorporação e com a doutrina fluídica dos médiuns Doutrinadores, ele consegue sua redenção, completa sua trajetória e vai se preparar para novas encarnações.
 
ESPÍRITOS SOFREDORES
 
Sofredor e, portanto, o espírito desencarnado que permanece no plano da Terra, nos submundos que circundam a superfície. Chama-se, também, espírito errante, alma do outro mundo e outros nome que as superstições e as crendices os denominam. Sua situação é análoga à de uma pessoa marginalizada, sem endereço ou emprego fixo.
No plano em que vive, não existe a luz solar, o som e outras formas energéticas do plano físico. Aí ele se liga a outros espíritos nas mesmas condições, e forma com eles falanges e até legiões.
O tempo de permanência nessa situação varia conforme o destino de cada um, até a exaustão de seus compromissos ou resgate no Sistema Crístico, nas suas múltiplas manifestações mediúnicas.
Ele se alimenta das energias sutis e fluídicas dos seres humanos, do ectoplasma colhido de plantas, animais, trabalhos de macumbas e outras fontes desconhecidas dos humanos.
Possui um peso molecular variável com sua densidade. Quando doutrinado e fluidificado a um ponto ideal, adquire leveza suficiente para ser magneticamente levado para os postos de socorro espiritual.
Ele se liga ao ser humano pela gradação vibracional e só encontra acesso quando a vibração do encarnado desce até à sua. Normalmente, sua influência é neutralizada pelo mecanismo biológico em seu contexto psicofísico. Essa relação é análoga aos fatores simbióticos do ser físico: respiramos micróbios e impurezas e os neutralizamos com nosso mecanismo de defesa. Se esse mecanismo enfraquece, ficamos doentes.
Da mesma forma, se nosso padrão vibratório é baixo, nós somos tomados, carregados, espiritados, etc. Esse mecanismo determina a posição voluntária de cada ser humano. Ele é responsável pelo seu padrão e, por conseqüência, pela companhia em que vive a cada momento de sua vida.
O Evangelho é um manancial de lições a esse respeito, pois nele encontramos inúmeras citações de problemas de passagem e redenção de sofredores. A mais notável é aquela em que Jesus dá passagem a uma legião de espíritos através de uma manada de porcos. Naquele tempo, havia tantos espíritos desencarnados, ainda na Terra, que era comum um Homem ser portador de mais de um espírito, havendo casos em que muitos espíritos habitavam o mesmo corpo, como no caso acima.
O Sistema Crístico, adequado aos dois mil anos que se sucederiam ao nascimento de Jesus, incluiu a organização das casas transitórias e, já no tempo do Mestre, elas entraram em funcionamento.
De muita flexibilidade e previsto para as mais variadas situações, o Sistema foi se espalhando pelo planeta, tomando as aparências mais diversas, conforme as épocas e lugares. Assim, nasceram mitos, religiões, doutrinas e práticas esotéricas, em cujas raízes se encontra, sempre, a base do sistema mediúnico.
No Brasil de hoje, o Sistema se chama sessão espírita, trabalho de sofredores, passagem, sessão de doutrina, etc.
É preciso que se note, entretanto, que o Mediunismo independe, no seu mecanismo básico, de um trabalho organizado. Os socorristas espirituais se aproveitam de qualquer circunstância humana, principalmente reuniões de pessoas, para fazerem a passagem dos espíritos sob sua responsabilidade. Nesse caso, qualquer ser humano atua como médium, mesmo sem o saber.
Mas o esquema só funciona em sua plenitude quando sob os auspícios do Evangelho. A técnica da passagem é acessível a qualquer um, porém, a moral e as razões mais profundas somente são do domínio de pessoas evangelizadas. É, também, natural que, em épocas de transição, como é a nossa, a necessidade de trabalho seja maior.
Cumpre notar que se torna muito difícil, senão impossível, qualquer doutrina religiosa evoluir sem a preocupação com os sofredores. Esses asfixiam os grupos pelo simples fato de seus componentes serem humanos e possuírem, gostem ou não, seus plexos epigástricos – o Sol Interior.
 
EXUS E OBSESSORES
 
Exu é um nome muito generalizado, que se dá a certos espíritos desencarnados e que atuam como líderes do plano invisível da Terra. Geralmente, são seres humanos, cultos e inteligentes, que desencarnam sem terem compreendido nem aceito o Cristianismo.
Eles aceitam Deus à sua maneira e manipulam as energias mediúnicas em consonância com as suas próprias maneiras de ser, isto é, sem submissão aos planos da Lei do Amor e do Perdão. Eles fazem suas próprias leis.
O Doutrinador deve ter certa cautela na utilização da palavra exu, pois é um pouco vaga e quer dizer muita coisa. Um simples sofredor, incorporado num médium mal desenvolvido, pode parecer um exu.
Na verdade, eles incorporam, de preferência, nos seus cavalos, médiuns afinados com suas finalidades, que variam conforme o tipo de exu e o meio ambiente onde opera. Seus fins são sempre dirigidos para o enredo normal da vida humana e falta, na sua caridade, a sublimação evangélica.
Eles se agrupam em falanges, como quaisquer outros espíritos, e formam linhas, conforme suas especialidades. Certos tipos de exu pertencem a escolas e universidades e manipulam tremendas forças invisíveis.
Dessas bases, eles comandam sua ação junto aos seres humanos, sempre segundo sua maneira de ver e conceituar, como os seres humanos deveriam ser ou fazer. São eles os inspiradores de doutrinas estranhas, de guerras e demandas, sempre, porém, pautadas pela não aceitação da Lei do Perdão.
Obsessor é um espírito que mantém um relacionamento direto com um ser humano encarnado, por afinidade. Essa afinidade, em geral, decorre de um relacionamento estabelecido quando ambos habitavam o mesmo plano.
Obsidiar significa perseguir, assediar, manter o cerco. O obsessor é um espírito que persegue, assedia um encarnado, para cobrar uma dívida da qual se acha credor, num sentimento de ódio ou amor mal interpretado.
A categoria do obsessor varia ao infinito e cada caso de ser examinado à parte. O mecanismo da obsessão é sempre o mesmo: troca de energias entre o obsessor e o obsedado, de forma mais ou menos constante. Um sofredor ou vários podem passar pela nossa vida sem serem obsessores, pelo simples fato de não termos relações pessoais com eles.
O obsessor é, sempre, um inimigo pessoal. Um sofredor pode ser afastado com um simples trabalho mediúnico e, às vezes, até sem ele. Mas, para que haja o afastamento de um obsessor, é necessário que a razão do assédio seja resolvida, a dívida saldada. Afastamentos feitos sem as devidas cautelas resultam pior do que a própria obsessão.
 
ESPÍRITOS DE LUZ
 
A partir da concentração molecular da matéria densa, podemos conceituar a vida, no âmbito do Mediunismo, em termos de vibração. Nesse sentido, a matéria sólida, os líquidos, os gases, o som, a luz, etc. são estados vibracionais.
Conforme o tipo do corpo de que o espírito é revestido, ele está sujeito àquela gama vibratória. Um espírito encarnado age através do corpo físico, um desencarnado do etérico, do astral ou do mental, de acordo com as vibrações desses planos. Ao atingir determinado grau evolutivo, sem compromissos nesses planos, o espírito adquire uma vibratilidade, cujo conceito mais apropriado, em termos de sentidos humanos, é a luz. Costumamos dizer, então, que o espírito é pura luz. A partir daí, conceituamos os Mentores e Guias, que assistem os terráqueos, em termos de Espíritos de Luz.
Espíritos de Luz seriam, então, os que já superaram a faixa reencarnatória em termos pessoais. Quando há reencarnação desses espíritos na Terra é, provavelmente, para o exercício de missões a serviço dos planos divinos e não em funções cármicas.
Naturalmente, os conceitos desses espíritos estão fora do alcance humano e sua ação, na Terra, deve obedecer a planos incompreensíveis para nós, encarnados.
Isso é relativamente fácil de verificar, no contato com esses espíritos, qualquer que seja a modalidade de comunicação. Em nenhuma hipótese, eles invadem o campo de nosso livre arbítrio, ou nos levam a alguma decisão que contrarie nosso destino transcendental. Suas ações são inexoravelmente em termos de nossa evolução, da abertura para o espírito. Embora respeitem nossos valores, jamais criticando as coisas de nossas vidas, ou da vida em geral, eles procuram mostrar o caminho da realização através desses mesmos valores. Eles respeitam a nossa condição de espíritos encarnados. Castigos, punições, lições de moral, estão fora, completamente, das atitudes de um Espírito de Luz.
Ao contrário, um espírito da Terra, ainda que muito evoluído, pauta, sempre, sua ação em termos de aconselhamento, de vida moral, de formas de comportamento. Eles fazem questão de demonstrar seus poderes ou sua eficácia, e acabam, quase sempre, se tornando patronos. Os grupos dirigidos por espíritos da Terra acabam, sempre, por se preocupar com problemas sociais, dão demasiada ênfase à caridade material e à correção das injustiças sociais.
Com isso, a vida mediúnica se horizontaliza, se impregna do transformismo da personalidade. O grupo assim orientado, se preocupa com as bases materiais da obra, com os resultados palpáveis, com estudos e conceituações doutrinárias. Em resumo, ele se humaniza, em vez de se divinizar.
Nesse caso, as ações e a orientação refletem o nível social do grupo. A justiça praticada pode chegar, até mesmo, aos termos de punição, vingança e corrigendas de comportamento.
Nesses grupos, o ectoplasma circulante é impregnado dos fluídos do plano invisível, resultando daí uma divisão de forças, uma homogeneização em termos diluentes. O mundo invisível não produz energias, mas, ao contrário, se abastece de energia do plano físico. É por isso que o médium desses grupos se cansa, desanima e desiste.
Ao contrário, quando o grupo mediúnico sintoniza com os Espíritos de Luz, ele recebe forças do outro plano e, com isso, não gasta suas energias fluídicas ou nervosas. Um médium, bem sintonizado com seu Mentor, pode operar horas a fio, e voltar a si em melhores condições físicas e psicológicas do que quando começou a trabalhar.
Para melhor compreensão dessas afirmações é preciso entender a diferença entre plano invisível e plano espiritual, objeto do subtítulo seguinte.
 
MUNDO INVISÍVEL E MUNDO ESPIRITUAL
 
É mais fácil a comprovação da existência de planos vibracionais diferentes, na experiência pessoal e individualizada de um ser humano. Tomando por base a experiência individual, podemos esquematizar esses planos, com auxílio das revelações iniciáticas e um pouco de bom senso.
Sob esse prisma, temos um plano físico, um psicológico e um espiritual, ou seja, do corpo, da alma e do espírito.
Os grupos iniciáticos fazem a divisão em sete planos, que seriam: o físico, o etérico, o astral, o mental e os três planos crísticos ou búdicos – Pai, Filho, espírito, ou Deus, Verbo e Universo), variando essas descrições de acordo com cada grupo. Todos, porém, mantêm o número sete como base. Mas, para nossa compreensão do Mediunismo, bastam os três planos.
O importante é saber que o mundo invisível não é, necessariamente, o mundo espiritual, da mesma forma que o mundo dos micróbios não é o mundo da alma, embora ambos sejam invisíveis aos nossos olhos.
O mundo invisível que nos cerca faz parte da Terra, é molecular e tem, portanto, uma organização, leis que o regem. Sua forma é tal que ele não ocupa espaços físicos, como um sólido. Uma construção desse mundo pode, tranqüilamente, ser feita no mesmo lugar onde haja uma construção sólida. Ele ocupa os espaços intermoleculares do plano físico e pode coexistir simultaneamente.
Um corpo físico, sólido, pode ser transformado, na sua organização molecular, num corpo invisível, ser transportado através dos sólidos e reintegrado em seu estado anterior. O mesmo pode acontecer a um corpo do mundo invisível. Esse é o fenômeno básico das materializações espíritas. Esse mundo é intensamente habitado por espíritos que passaram pela Terra e ainda não retornaram aos planos espirituais. Pertencendo à Terra, eles são obrigados a viver das energias produzidas nela. Eles manipulam essas energias, não a produzem. Isso é muito importante, e fundamental de se saber. O espírito encarnado, o ser humano, absorve energias da Terra física pelo alimento, pela respiração, etc. O espírito desencarnado não tem as condições do encarnado, que põe em funcionamento os mecanismos de produção. Não tendo possibilidades de produzir as energias que precisa, ele as absorve do encarnado. Mas, para que isso aconteça, é necessário que essa energia tenha o teor adequado, e isso é feito pela mediunidade. Num certo sentido, é uma vida parasitária, em que nada se cria e nem tudo se transforma.
Há algumas coisas básicas desse mundo que devem ser tomadas em consideração , se quisermos ter uma posição correta em relação a ele:
1. Não há possibilidade de um espírito nessas condições encarnar, isto é, nascer na Terra física; a forma que eles encarnam é pela obsessão, ou seja, sintonizam com um encarnado e ocupam, parcialmente, seu corpo.
2. mundo invisível não reflete a luz, o calor, e nem o som do mundo físico. Como uma das conseqüências, eles não têm noção do tempo, da cronologia da Terra. Os fatos que alimentam suas mentes são em menos quantidade que os percebidos por um encarnado. Eles não têm a noção espacial que lhes permita concepções superiores às concepções humanas.
3. Eles precisam de nós, mas nós não precisamos deles, a não ser como instrumentos de nossa evolução, do exercício de nossa mediunidade.
4. Para nos manter em condições de bons fornecedores, eles procuram nos induzir a formar correntes mediúnicas, sintonizadas com eles. Com isso, eles são a maior fonte de ilusões da mente dos encarnados, e tudo fazem para nos apresentar o seu mundo como o mundo espiritual. Uma boa parte dos atuais seres e máquinas, pretensamente oriundos de outros planetas, vem desse mundo. A plasticidade molecular do mundo invisível é tal que eles podem fazer aparelhos que tenham todas as aparências de artefatos, imaginados pelos seres humanos como interplanetários.
5. Conforme o ectoplasma que absorvem, eles são capazes de se materializar no mundo físico, e não o fazem com maior constância em face do enorme dispêndio de ectoplasma que o fenômeno exige.
6. A principal fonte de enganos dos seres humanos, ao lidar com esses espíritos, é que eles usam a palavra Deus com muita facilidade. Mas, em raras hipóteses, eles mencionam Jesus ou o Cristo, a não ser para combatê-los. Isso é natural, pois, a impossibilidade da concepção de Deus, por quem quer que seja, na Terra, não impede que se fale em Seu nome. O mesmo não pode ser feito com o Cristo Jesus.
O mundo espiritual só pode ser entendido e concebido de acordo com a experiência individual. Mas, dificilmente pode ser descrito ou explicado de maneira a se formar conceitos. As tentativas nesse sentido são inteiramente antropomórficas e, portanto, sem validade. Uma delas estabelece a conceituação de Céu para se referir a esse mundo. Essa premissa nasceu das páginas do Evangelho; porém, é difícil separar-se essa idéia do conceito de um estado íntimo do ser humano, de serenidade, de paz, etc.
Em nosso livro “2000 – Conjunção de Dois Planos” há uma série de revelações, feitas através da Clarividente Neiva, de informações do contato com seres de um planeta matriz da Terra, que nos dão uma idéia aproximada do que seria a vida nos planos espirituais.
Fora das revelações, feitas por espíritos amigos, achamos muito difícil estabelecer hipóteses ou premissas em torno das condições de vida nos mundos extraterrestres.
 
MISSÃO
 
Todo espírito que encarna na Terra tem um programa a cumprir, mas nem todos os espíritos têm missão.
Na hierarquia sideral, existem todas as categorias de espíritos e infinitos graus de evolução. A Terra é uma complexa universidade, com toda categoria de alunos. Uns vêm, apenas, completar o curso, outros vêm para um aperfeiçoamento, outros para fazer um curso completo.
A missão se relaciona diretamente com o tipo de programa que o espírito tem de cumprir. Se ele se atém somente ao seu âmbito, seus problemas pessoais, sua faixa é essencialmente cármica. Mas se, além da sua faixa cármica, ele se compromete a evoluir, cuidar de outros espíritos e ajudá-los, nesse caso ele tem missão a cumprir.
Quanto maior é a missão, assim é a faixa cármica do espírito. Esse fato suscita uma questão de magna importância: então, por que os missionários sofrem tanto? Por que Jesus sofreu? E os apóstolos, os seguidores de Jesus, os mártires, por que são sempre ligados a uma idéia de sofrimento?
A resposta a essa questão reside em dois pontos básicos: a diferença entre dor e sofrimento, em primeiro lugar; e as diferenças da tônica magnética dos seres humanos, em termo de corpo, alma e espírito.
A Fisiologia e a Psicologia nos dão uma idéia nítida com referência à dor. Ela é registrada no sistema nervoso consciente, existindo, portanto, uma consciência da dor. Quando se anestesia um paciente para uma operação, o medicamento paralisa os nervos receptores da região a ser operada (ou o conjunto, numa anestesia geral), na proporção direta da dor a ser sentida. Esta, porém, varia de paciente a paciente, e o médico procura, sempre, evitar o excesso de anestésico. Esse fato pode ser observado, com mais simplicidade, no dentista. Ele aplica certa quantidade de anestésico e começa a extração. Se o paciente reclama, ele aplica mais anestésico. Isso prova maior ou menor sensibilidade à dor, e esse fato é, na maioria das vezes, psicológico. Pessoas existem que chegam a dispensar o analgésico, embora isso raramente aconteça.
Existe, então, um estado psicológico de sentir mais ou menos dor, facilmente comprovável na hipnose médica. Uns sofrem mais e outros sofrem menos, com a mesma dor.
Os missionários têm tantas dores ou mais do que os que não têm missão a cumprir, porém, sofrem menos. Isso porque seu campo consciencional está mais ocupado com os objetivos de sua missão e, assim, ele não tem tempo para dimensionar sua dor.
A dor psicológica, a chamada dor moral, segue a mesma fisiologia.
Isso se prende ao segundo fator, à tônica predominante no ser encarnado. Se ele não tem missão a cumprir, sua consciência está sempre ocupada com os problemas do seu corpo ou da sua alma. Mas, se ele tem missão, a voz do seu espírito é mais forte e ele não tem tempo de se ocupar da sua personalidade, do seu ego. Daí resulta que podemos situar a questão em termos de maior ou menor egoísmo.
Para uma pessoa conservar um corpo atlético, em boa forma muscular permanente, ela é obrigada a exercícios e cuidados que ocupam boa parte do seu mecanismo consciente. Sua preocupação com o corpo, assim constante, dá a ela uma tônica física.
Um intelectual, um erudito, um cientista ou uma pessoa que dependa do intelecto para sua trajetória planetária, tem sua consciência predominante no fator intelectual. O seu campo consciencional é sempre ocupado como os problemas psicológicos. Sua tônica é a psíquica, sua vida é centralizada na sua alma.
Um missionário, um ser humano cujo espírito se comprometeu a fazer algo por alguém, vive preocupado em sintonizar seu espírito. Seu campo consciencional se expande em termos espaciais, em captar as nuanças de sua missão e os percalços da vivência, geralmente contraditória, com as coisas mais simples da vida. Corpo, alma e espírito, cada um demandando do eu a satisfação de suas necessidades, exigem decisões a cada momento, que são tomadas conforme a tônica predominante naquela vida.
O símbolo mais antigo da Humanidade é a cruz, e ela exprime, com fidelidade, os três estados. A haste inferior é o Homem físico, com seu atavismo, o suporte material da vida; os braços horizontais representam a alma, os mecanismos psicológicos, o negativo e o positivo, o branco e o preto, o eterno dualismo em que se debate a mente concreta; a haste superior representa o espírito, a antena do transcendente.
Antes da consolidação do ser humano no planeta, quando o Céu se confundia com a Terra, talvez nos tempos da Lemúria, a cruz tinha quatro braços, iguais e simétricos. Quem tem olhos para ver...
Missão, pois, é viver em função do espírito e com os olhos no transcendente. É “amar ao próximo como a si mesmo...”
 
CAPÍTULO III
 
PREPARAÇÃO DOS MÉDIUNS
 
FISIOLOGIA DO MÉDIUM
 
Biologicamente, a base física da mediunidade é uma energia sutil, comum a todos os seres humanos, verificável, também, em animais e vegetais.
Ela tem uma correlação íntima com a circulação e o sistema nervoso. Basicamente, indica uma produção molecular do sangue ativa no organismo, que se transforma em energia. Flui através dos plexos nervosos e extravasa pelas aberturas do corpo, inclusive pelos poros. Ao ser registrada como uma substância, foi denominada por Richet e outros de ectoplasma. Como linguagem comum do espiritismo, é chamada, simplesmente, de fluído.
Esse fluído atua como veículo de ligação entre as três gamas vibratórias do ser humano: os órgãos, os plexos e os chakras. Os chakras eqüivalem, basicamente, aos plexos, e são como centros nervosos do corpo invisível, também chamado fluídico e etérico.
Os estímulos psico-físicos se fazem entre o sistema nervoso vegetativo e o cérebro/espinhal. Os estímulos espirituais são recebidos através dos chakras e transmitidos aos plexos, que atuam como redistribuidores, e vice-versa.
Esse fato tem muitas implicações, mas podemos afirmar que o desenvolvimento mediúnico é, em última análise, a conscientização, na mente cerebral, do funcionamento dos chakras e seu controle volitivo.
Conforme o chakra que se comunica, será o tipo de fenômeno mediúnico que se realiza. Chakras correspondem a plexos e estes a órgãos. As posições desses órgãos, no corpo físico, determinam o tipo de mediunidade.
O chakra frontal, por exemplo, corresponde ao plexo cardíaco, cavernoso e outros. Esses energizam o sistema glandular da cabeça, dos olhos, dos ouvidos, do nariz, etc. As mediunidades que daí resultam são a vidência, a audiência, a olfação, etc.
 
O CARMA
 
Carma (ou karma) é a palavra sânscrita e bramânica que significa “atos praticados em outras encarnações, que produziram certos efeitos na encarnação atual”.
Pelo aspecto espiritual, tem a mediunidade uma relação direta com a faixa cármica dos seres humanos. Como conseqüência, pela manifestação mediúnica pode se determinar, em linhas gerais, o carma de um indivíduo em extensão e profundidade. Essa correlação, porém, só é verificável na especificação da exteriorização mediúnica.
Logo, a mediunidade é uma arma individual que o ser humano traz consigo ao nascer, que lhe servirá para a defesa nos momentos difíceis de sua vida. Da eficácia da mediunidade é que depende o sucesso ou o insucesso de uma existência. Há, por conseguinte, uma relação íntima entre o carma, a personalidade e a mediunidade.
O ESPÍRITO E A MEDIUNIDADE
O espírito, ao reencarnar, traz consigo um programa de ressarcimento e de retificação, que deverá realizar através da personalidade que terá na Terra.
Traz, ainda, sua missão como individualidade, ou seja, como um ser transcendental que irá contribuir para o progresso humano. Na realização dessa missão, a mediunidade é sublimada e se espiritualiza.
Há, pois, dois aspectos da mediunidade: o cármico, em que ela atua como fator de equilíbrio dos conflitos da personalidade, e o espiritual, em que ela é a manifestação da obra do espírito.
Dizemos, então, que na mediunidade do espírito, ou seja, o espírito agindo na qualidade de intermediário da ação crística na Terra, como um missionário, é um colaborador da obra divina.
É difícil, mas não impossível, distinguir-se as duas formas de mediunidade. A observação desse fato é feita na prática do mediunismo, quando se acompanha a evolução do médium. No princípio, ele manifesta transes angustiados, nos quais mal se distinguem as presenças da Terra ou do Céu. Passado algum tempo, na proporção em que a faixa cármica vai se extinguindo, os transes vão se tornando mais suaves, mais nítidos e positivos. A partir daí, os fenômenos de que ele se torna portador vão revelando a sua missão, se espiritualizam.
Isso mostra que a mediunidade cármica tende a ser transitória e se identifica com a personalidade. Com o revelar da missão, o espírito começa a predominar, e a personalidade se retrai. Enquanto esta sofre, morre um pouco todos os dias, o espírito desperta, torna-se marcante e executa sua parcela no planejamento sideral.
 
TIPOS DE MEDIUNIDADE
 
Por ser comum a todos os seres humanos e ter sua manifestação individualizada, pode-se dizer que existem tantas mediunidades quantos são os seres.
Nessa visão ampla, a mediunidade existe e funciona em todos, à revelia de qualquer prática doutrinária ou religiosa.
No âmbito doutrinário, o fenômeno pode ser relativamente delimitado.
Teremos, assim, tipos de mediunidade, formas mais comuns de exteriorização, que podem ser classificadas segundo um critério espírita. Mas, é preciso notar que o espiritismo popular tem confundido mediunidade com o fenômeno da incorporação, que é apenas uma manifestação da mediunidade. Nesse caso, mediunidade e incorporação seriam a mesma coisa.
Por ser mais prático, no desenvolvimento inicial da mediunidade a Corrente Indiana do Espaço estabeleceu, no Templo do Amanhecer, duas mediunidades básicas: incorporação e doutrina.
Assim, são chamados médiuns de incorporação aqueles que recebem a influência dos espíritos, sejam de luz ou não, diretamente no seu corpo, na região do plexo solar. Chamam-se médiuns doutrinadores os que recebem essa influência na região da cabeça. No primeiro caso, o médium perde parte da sua consciência, e, no segundo, ao contrário, ele se torna mais alerta.
Objetivamente: sempre que um médium, ao manifestar, cerceia ou tem cerceado algum dos sentidos biopsicológicos normais, ele é de incorporação; quando se manifesta, sem prejuízo de nenhum desses sentidos, ele é de doutrina.
 
O MÉDIUM DOUTRINADOR

É o médium cujo ectoplasma se acumula na parte superior do corpo, do peito para cima, predominando na cabeça. Quando ele se mediuniza, isto é, estabelece sintonia entre seu sistema psicológico e seus chakras, seus sentidos se ativam acima do normal. Como conseqüência imediata, sua percepção fica mais apurada, mais alerta. Com a tônica circulatória predominando na cabeça, os órgãos inferiores diminuem a atividade, principalmente na área do sistema neurovegetativo.
A partir daí, ele começa a emitir uma onda fluídica com a parte superior do corpo, principalmente pela boca e pelas narinas.
Essa onda estabelece um canal fluídico entre os plexos superiores e os chakras correspondentes. Seu sistema psicológico passa a receber as influências dos chakras que, por sua vez, são ativados pelo plano vibratório do mundo espiritual. O Doutrinador se torna, então, receptivo aos espíritos de sua sintonia.
Essas emanações são filtradas pelo sistema cerebral, e o Doutrinador emite sua doutrina, isto é, fala, pensa, escreve, cura, consola e executa sua tarefa mediúnica.
Esse é o sentido amplo da doutrina. Ela não é, apenas, um conjunto de palavras bem articuladas e com boa construção literária. Também, não é simples pensamento bem elaborado, representando idéias precisas. É, essencialmente, emissão de energia positiva, que tanto pode se manifestar por palavras como pela aplicação das mãos, pelo olhar e até pelo simples pensamento dirigido.
Essa realidade do Doutrinador tem algumas implicações que não podem passar desapercebidas: 1º) O fenômeno existe e funciona, mesmo que o Doutrinador nato não saiba disso; 2º) a emissão fluídica tanto pode ser positiva como negativa, na dependência do campo de sintonia do Doutrinador. Nos estados de ira, de cólera, de angústia, de medo ou de ansiedade, a polarização das forças é, essencialmente, dos plexos nervosos. Nesse caso, os chakras se fecham, e a pessoa entra em curto-circuito, que pode produzir resultados funestos. O sangue que aflui ao cérebro se carrega de partículas tóxicas e produz descargas em todo o organismo. O médium Doutrinador não desenvolvido é um candidato natural à apoplexia, aos enfartes e derrames.
Pelas razões expostas acima, o Doutrinador é o médium por excelência, o intermediário entre os planos e o responsável pelo fenômeno mediúnico. Sem a presença de seu ectoplasma, é difícil a realização do processo, no qual ele atua como catalisador.
A manifestação de sua mediunidade é feita través da sua psique normal e esse fato inspira confiança, em virtude da plena responsabilidade em quaisquer circunstâncias. O Doutrinador não sente arrepios, perdas de consciência, nem tem descontroles emocionais, comuns em outros médiuns.
O desconhecimento desse tipo de mediunidade leva a considerar o Doutrinador como um ser humano que não tivesse mediunidade, atitude essa que tem tirado a oportunidade de realização a muitos.
Por outro lado, a tentativa de desenvolvimento da mediunidade de um Doutrinador nato pelos plexos inferiores, leva a complicações de conseqüências imprevisíveis.
A memória transcendental estabelece, para o ser humano, o momento para cada etapa fundamental de sua trajetória. O exercício da mediunidade tem um tempo certo para começar. Quando essa cronologia não é observada a Natureza põe em funcionamento os sinais de alarme. Estes aumentam de intensidade na proporção em que não são atendidos.
Nesse ponto, torna-se necessário lembrar ao leitor que o exercício da mediunidade não é feito apenas no Espiritismo. Se assim fosse, o mundo seria habitado somente por desequilibrados. Mas, por outro lado, apenas a vida comum, o mundo da personalidade transitória, não satisfaz às demandas mediúnicas. Isso explica, em parte, a busca eterna da realização religiosa, política ou idealista. O ser humano sempre precisa de algo além da sua simples sobrevivência. O Mediunismo se apresenta, atualmente, como a solução mais objetiva.
O Doutrinador potencial, quando se apresenta ao grupo mediúnico, demonstra, em geral, ter a vida desequilibrada e ser dominado pela angústia, pela descrença, agressividade ou passividade excessiva.
Fisicamente, queixa-se de dores de cabeça, distúrbios digestivos e incômodos cardíacos. De modo geral, esses incômodos cardíacos já foram objeto de cuidados médicos e desanimaram o clínico pela falta de causas definidas.
Submete-se, então, o paciente a um trabalho mediúnico, em que haja absorção do ectoplasma excedente no organismo. A melhora quase instantânea é a melhor prova de que estamos na presença de um Doutrinador.
Depois dessa experiência, se ele aceitar a idéia de trabalhar espiritualmente, deve ser submetido ao exercício de sua mediunidade, a começar pelos processos físicos. Durante um período mínimo de três meses, ele deve trabalhar uma ou duas vezes por semana, doutrinando espíritos incorporados, ministrando passes magnéticos e conversando com pacientes que procuram o tratamento espiritual.
Por tendência natural, o Doutrinador tem interesse na cultura intelectual. Tenha escolaridade ou não, ele sempre absorve o aspecto intelectivo do meio em que vive.
Sua apresentação, pois, é cheia de justificativas, explicações e demonstrações de conhecimentos. No seu arrazoado, predomina a análise com tendências ao cerebralismo. Nisso ele revela certo bloqueio à recepção espiritual. O racionalismo excessivo impede o contato com o transcendente.
A alimentação do intelecto, nesse caso, é somente horizontal, isto é, nutrida, apenas, pelas idéias elaboradas por outros, remodeladas num transformismo contínuo, que nada cria. É uma psique saturada.
Paralelamente à desassimilação ectoplasmática, o médium deve ser submetido a uma confortável desassimilação intelectual. Durante algum tempo, ele deve se abster de leituras, experiências e pesquisas mais sérias; isso irá aguçar sua curiosidade, mas descansará sua mente. Esta, sem o bombardeio das informações formais, começará a sintonizar as antenas com o mundo chákrico e, mais além, com o mundo espiritual.
Nesse período, ele deve receber, apenas, as informações essenciais à técnica da mediunização, um sutil fenômeno da Natureza, mas de fácil alcance. Na vida comum, ele pode ser verificado nos momentos dramáticos, quando os acontecimentos superam o senso comum e o ser humano apela, automaticamente, para o transcendente.
O Mediunismo provê a mediunização por meio de chaves, mantras e o ritual em geral. Em última análise, é um problema de disponibilidade de ectoplasma e de focalização da consciência.
Sem dúvida, o sucesso de um Doutrinador depende de sua capacidade de mediunizar-se. Pela sua própria natureza, ele é um impaciente, e tudo que lhe acontece em torno o incomoda. Tem tendência para dar ordens e organizar as coisas. Gosta de falar, mas não de ouvir, provocando, com isso, reações desfavoráveis à sua atividade.
No estado normal, sob o domínio da personalidade, ele manifesta seu temperamento, sua cultura e seus preconceitos, nem sempre agradando.
Ao mediunizar-se, porém, ele entra em sintonia com seu espírito, portador da experiência milenar, e com o plano em que se acha. Seus Guias encontram acesso à sua psique e, através dela, trazem suas vibrações benéficas ao ambiente, no verdadeiro exercício da mediunidade.
Como vimos até aqui, a mediunidade de doutrina revela as maiores possibilidades do ser humano, podendo, sem medo, se atribuir a ela as grandes conquistas da Humanidade.
Se pensarmos em termos da iluminação intelectual, mediante o processo mediúnico, chegaremos à conclusão de que a revelação mística não é antagônica ao processo científico, e tem sido a base da evolução humana. Com essa reflexão simples, colocaremos as religiões no lugar que lhes compete e partiremos mais tranqüilos ao encontro do nosso futuro.
Qualquer ser humano, por modesto que seja em seu mecanismo intelectual, pode ser o portador da experiência transcendente. Basta, para isso, que se disponha a servir o seu próximo nas normas evangélicas e conheça as técnicas do Mediunismo.
 
O MÉDIUM DE INCORPORAÇÃO
 
É o médium cuja tônica ectoplasmática é maior no plexo solar, na região umbilical. Esse plexo nervoso é a maior concentração de nervos do corpo humano, um intrincado cruzamento nervoso, com ligações por todo o organismo. Pertence ao sistema autônomo, também chamado neurovegetativo, ou seja, que faz funcionar os órgãos sem a vontade, sem que se tenha consciência disso. Assim funciona a maioria dos órgãos internos e, parcialmente, outros órgãos.
O ectoplasma, ativando o plexo solar acima da tônica normal, produz toda uma série de fenômenos, que resultam na chamada incorporação. Tais fenômenos são opostos aos da mediunidade de doutrina.
O sangue afluindo com maior pressão nessa região, empobrece a irrigação cerebral e, com isso, amortece os principais sentidos. A força do plexo solar é transmitida aos plexos vizinhos, proporcionando um espectro amplo de ligação com os chakras.
A emissão fluídica resultante reflete o processo nervoso da região, relativamente alheia ao processo psicológico. Nela entra muito menos a vontade do médium do que na emissão do Doutrinador.
Isso esclarece a questão da incorporação. Tanto no Doutrinador como no Incorporador, o fenômeno básico é o mesmo, ou seja, a presença da energia ectoplasmática e a ligação com os chakras. A diferença existe, apenas, na exteriorização, na manifestação do fenômeno.
Se o médium recebe a influência na cabeça, ele age pelo processo psicológico; se essa influência se faz no meio do corpo, ele age pelo processo fisiológico.
A partir desse fenômeno, podemos classificar as mediunidades com o relativo isolamento de cada uma. Mas, não podemos esquecer que o que acontece numa parte do corpo reflete, automaticamente, em todo o corpo. Se acendermos uma lâmpada num aposento de uma casa, é muito difícil que os outros compartimentos permaneçam completamente escuros.
Por estar mais próxima das funções básicas do corpo físico, a mediunidade de incorporação é de assimilação mais imediata, sendo por isso do domínio de maior número de pessoas.
Por outro lado, ela abrange uma faixa ampla de manifestações, que vão desde a simples incorporação de espíritos sofredores até às mais complexas formas de comunicação espiritual. Talvez, pelo teor emocional, a incorporação é mais freqüente no médium feminino. Já o médium Doutrinador se inclina para o racionalismo, sendo esse o provável motivo de se encontrar maior número de Doutrinadores entre os homens.
A incorporação tem um sentido mais horizontal que a doutrina, pois esta se expande em sentido espacial.
Por essa razão, o desenvolvimento do médium de incorporação obedece a um esquema diferente do Doutrinador.
Quando chega ao Mediunismo, o Incorporador nato apresenta incômodos na parte inferior do corpo, principalmente no aparelho digestivo, rins, bexiga e outros órgãos energizados pelo plexo solar e circunvizinhos.
É muito comum, também, apresentarem incômodos na coluna.
Como conseqüência direta desses males, ele sofre cronicamente de dores de cabeça, tonturas e sintomas semelhantes.
Psicologicamente os sintomas são de fobias, alucinações, insegurança, irritabilidade, emotividade exagerada e até histeria.
A primeira medida, no seu desenvolvimento, é fazê-lo sintonizar com o seu Mentor (Veja 2º item do capítulo II). Ele é a garantia do equilíbrio do médium.
Convida-se o candidato a se concentrar, de olhos fechados, de pé, e a respirar profundamente. Mediante a aplicação das mãos, da cabeça para baixo, sem o tocar, o Doutrinador magnetiza o aparelho. Esse trabalho deve ser acompanhado de leve hipnose, através de palavras repetidas. Pede-se ao médium que imagine seu Mentor, e vai-se sugerindo sua presença, mediante chaves próprias.

Na maioria dos casos, o médium incorpora na segunda ou na terceira tentativa. Se ele apresentar sintomas de angústia, deverá ser submetido a uma enfermagem, na mesa mediúnica, e voltar ao processo.
Assim que o médium se habituar a incorporar o seu Mentor, sempre que for solicitado, e na presença de um Doutrinador, ele deve ser encaminhado à mesa e ali incorporar sofredores, assistido pelos Doutrinadores.
 
FUNÇÕES MEDIÚNICAS
 
Conforme seu tipo básico de manifestação mediúnica – incorporação ou doutrina – cada médium inclina-se a uma função, de acordo com suas possibilidades, personalidade, cultura e dedicação ao trabalho.
Há coisas que só podem ser feitas por um Doutrinador e outras mais adequadas ao Incorporador. Outras, ainda, podem ser feitas por ambos.
Um aspecto importante do trabalho mediúnico é ser ele essencialmente coletivo. No mínimo, ele deve ser executado por dois médiuns – um de doutrina e outro de incorporação. Principalmente, a incorporação nunca deve ser feita sem a presença de um Doutrinador, devido à perda parcial de consciência do Incorporador.
O Doutrinador jamais incorpora e nunca perde a consciência no trabalho mediúnico. Inclina-se, com isso, aos trabalhos em que é necessário tomar decisões, interpretar situações e manipular as forças mentais.
São funções próprias do Doutrinador:
1. Aprender, interpretar e conceituar a Doutrina praticada pelo seu grupo mediúnico, bem como a missão a ele confiada;
2. Organizar, administrar e desenvolver os médiuns;
3. Abrir e fechar os trabalhos;
4. Assistir e controlar todo e qualquer trabalho de incorporação;
5. Interpretar as situações dos médiuns quando incorporados. Se for o Mentor ou o Guia, atendê-lo respeitosamente; se for sofredor, doutriná-lo e fazer sua entrega aos planos espirituais;
6. Ministrar passes magnéticos de equilíbrio aos médiuns de incorporação, sempre que estes terminam uma incorporação; estes passes podem ser ministrados a qualquer pessoa, e mesmo a outro Doutrinador, quando revelar desequilíbrio;
7. Controlar, com sua mente, qualquer situação anormal de pessoas ou grupos, mantendo sempre seu equilíbrio pessoal. O Doutrinador, que conhece o seu potencial mediúnico, pode controlar um ambiente sem externar qualquer gesto.
O Doutrinador deve evitar o desenvolvimento de outras mediunidades embora as tenha em potencial. Em casos específicos, que justifiquem outros desenvolvimentos, ele deve ater-se, apenas, a mediunidades dos plexos e dos chakras superiores, como psicografia (automática e semi-automática), vidência (com todas as restrições que essa mediunidade suscita), olfação e audição. Mas, sempre que um Doutrinador desenvolver alguma dessas mediunidades, ele deve ser mantido sob observação dos companheiros, pois essas funções podem prejudicar a acuidade do seu julgamento e sua objetividade.
No sentido oposto, o médium de Incorporação nunca trabalha sem incorporar, isto é, sem a perda parcial de sua consciência. Nestas condições, ele tem duas funções básicas: a incorporação de espíritos de Luz, Mentores ou Guias, e a incorporação de espíritos que ainda não alcançaram os planos espirituais, ou seja, sofredores.
O Mentor incorpora para o equilíbrio o médium, mantendo seu aparelho nas melhores condições possíveis. Os Guias incorporam para o exercício de funções específicas. Um Guia incorpora quando o médium é chamado a fazer uma cura de doença física; outro vem para uma comunicação, outro para um trabalho de passes, etc. Às vezes, eles se alternam nas funções e, em outras, o próprio Mentor atua como Guia.
Com essa visão, poderemos classificar as funções do Incorporador:
1. Passagem de sofredores
2. Cura de doenças
3. Comunicações
4. Passes
5. Desobsessão
6. Psicografia automática
7. Materialização
Há, ainda, duas funções específicas que devem ser confiadas, apenas, aos médiuns de incorporação: o transporte e o desdobramento, este último podendo ser desenvolvido com fonia.
 
EVANGELIZAÇÃO
 
O Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo é o mais completo manual da Vida. Nele, qualquer espírito em trânsito na Terra, poderá encontrar todas as condições para o melhor aproveitamento de sua estada no planeta.
Mas, é preciso que se distinga, com muita clareza, o Evangelho escrito, isto é, os livros que contêm a Doutrina de Jesus, escritos por outros, transcritos, copiados, interpretados, escoimados, escamoteados e traduzidos e o Evangelho Vivo, isto é, a orientação Crística, que é ministrada a todos os seres humanos na Terra, e que não depende exclusivamente da transmissão pelos sentidos, seja ela falada ou escrita.
O Evangelho Vivo é uma Luz potencial, que reside, faz parte intrínseca do organismo de todos os espíritos que habitam o Sistema Solar e, talvez, de outros sistemas.
Na conceituação iniciática, os seres humanos, isto é, os espíritos encarnados na Terra, possuem essa Luz sob a forma de uma partícula atômica – o Átomo Crístico. O Mestre Jesus teve e tem em si toda a força Crística. É, pois, a emanação de Jesus que desperta, no ser humano, a Partícula Crística.
Esta se expande e impregna o ser da sua intimidade para fora, traduzindo-se em conceitos, atos, atitudes e maneira de viver.
Para cada quadrante do Universo, o estímulo de Jesus age de forma dinâmica e adequada e, absolutamente, não depende dos textos escritos. Por miríades de formas, em todas as línguas e em todos os gestos, a Mensagem de Jesus fala diretamente ao íntimo dos seres humanos. Sua linguagem está escrita na vida de cada dia, nos seres humanos que cercam outros seres humanos, no viver de cada momento. Talvez, seja até mais fácil encontrar uma pessoa que viva, com intensidade, os ensinamentos de Jesus entre os que nunca tiveram oportunidade de ler um texto do Evangelho, do que entre os eruditos.
Embora esse fato não invalide todas as pregações, doutrinas e religiões, é preciso lembrar que todas se transmitem pelos sentidos, se destinam à personalidade, à parte transitória do ser humano. Mas, a personalidade é, apenas, o instrumento através do qual o espírito realiza um curso, uma experiência. Os ensinamentos de Jesus não se destinam somente a ela, mas ao espírito que habita nela.
É importante que se vejam as duas coisas separadamente, para que se possa entender o fenômeno. O melhor campo para se percebê-lo é o mediúnico.
Toda vez que praticamos alguma ação fora da rotina de nossa vida, um gesto de generosidade ou uma atitude caridosa, automaticamente nos lembramos de Deus, de religião, da bondade, da moral, etc.
Da mesma forma, cada vez que fazemos um gesto negativo, entramos em debate íntimo, no qual entram as justificativas, o medo, a angústia, etc. Sempre, porém, nossa elaboração mental fica ligada a um aspecto mais transcendente da vida; sintonizamos com nosso espírito.
O próprio fato de nos interessarmos e procurarmos exercer alguma função mediúnica já nos liga a esse mundo transcendental. Nesse processo, nos ligamos a alguma coisa, fora do circuito de nossas experiências, do nosso quadro quotidiano, e percebemos, com mais clareza, a imagem de nossa personalidade contrastando com a imagem de nosso espírito.
A partir do momento em que começamos nossa mediunização, a Partícula Crística encontra acesso em nossa mente, e seus raios começam a impregnar os nossos atos. Assim, apreendemos, por um processo natural, o Evangelho. A partir daí, sobem à nossa consciência os fragmentos do aprendizado que tenhamos tido em termos de religião, cultura religiosa, crendices, superstições, rituais, etc., seguidos da inspiração espiritual profunda.
É por isso que, em condições anormais de acontecimentos, nós soltamos, involuntariamente, exclamações como “Deus do Céu!”, “Mãe do Céu”, “Virgem!”, ou, então, tomamos uma aparência reverente, solene.
E, por estarmos no limiar do Terceiro Milênio, não falta, qualquer que seja nossa ambientação, a manifestação evangélica, a Palavra do Mestre Jesus, em forma verbal ou escrita, para formalizar nosso aprendizado.
Concluímos, pois, que a evangelização no Mediunismo se faz, objetivamente, adequada a cada grau evolutivo e estado em que o ser humano se apresenta para o exercício de sua missão, de sua tarefa no planeta.
 
A ACULTURAÇÃO DO MÉDIUM
 
A palavra cultura tem dois sentidos – um geral e outro particular. De modo geral, cultura é o aprendizado que uma pessoa faz no seu meio ambiente, sua maneira de viver. De modo particular, a cultura é o aprendizado de um conjunto de idéias específicas, como, por exemplo, a cultura física, a cultura filosófica, etc. Nesse sentido existe, portanto, uma cultura espírita, ou seja, o conjunto de idéias, normas, técnicas e práticas, que regem o Espiritismo.
Essa cultura, entretanto, é complexa e variável conforme a época, o lugar e o grupo. O que há de mais aproximado para uma cultura espírita é a obra de Allan Kardec e seus divulgadores. A Codificação Kardecista é ampla e preenche, perfeitamente, a mais exigente necessidade de aculturação espírita.
Mas, a própria evolução do Espiritismo e a tendência natural para o sectarismo nos leva ao conceito do Mediunismo, totalmente abrangente, pois se refere a coisas básicas do ser humano, portanto, livre de qualquer injunção. O médium, no sentido popular, é uma figura humana de dons excepcionais. O médium, no conceito do Mediunismo, é um ser humano comum, ou seja, todos os seres humanos são médiuns.
Para uma aculturação kardecista é necessário, de modo geral, haver um mínimo de escolaridade, pelo menos saber ler. É muito difícil conceber-se um grupo mediúnico kardecista sem a leitura. Já na Umbanda, a transmissão doutrinária é, predominantemente, oral, formando, com isso, uma cultura mais particularizada. Ambas, naturalmente, são reflexos de grupos sociais e obedecem às leis sociológicas. Como grupos eles têm, logicamente, certo exclusivismo que, em termos doutrinários, significa sectarismo.
No conceito amplo do Mediunismo, podemos citar, ainda, os grupos mais fechados, embora tais grupos não aceitem a mediunidade como aconselhável. O problema aí entre em termos de cultura intelectual, o que o torna mais exclusivo, etc. Falemos, portanto, em termos de “aculturação mediúnica”, que irá tornar o problema bem mais simples.
Mediunidade sendo algo natural, inerente ao ser humano, tem, logicamente, meios naturais de aprendizado. Decorre daí, que a aculturação mediúnica é apenas aculturação geral, quer dizer, as coisas do Mediunismo fazem parte do quotidiano, como comer, vestir, estudar, etc., coisas que tanto podem ser feitas por pessoas cultas como incultas.
Cabe aqui um parêntesis: a experiência da Humanidade, em termos de aculturações específicas em massa, tem sido sempre desastrosa. Basta, para isso, que se olhe o calendário das guerras e das lutas sociais para se ter uma idéia.
A oportunidade só existe para todos se a cada um for dado o pode absorver e não uma cultura padrão, geralmente mal assimilada.
Duas coisas são fundamentais no desenvolvimento do médium: a técnica da mediunização e o conhecimento sensato da vida fora da matéria.
 
AS CORRENTES
 
Corrente mediúnica é o conjunto de espíritos empenhados numa tarefa específica, uma missão comum que os identifica.
Parte desses espíritos estão situados nas esferas superiores e outros estão encarnados. Como conjuntos, eles se reúnem em falanges, quer dizer, se afinam em grupos de sete espíritos, formando hierarquias, cujo número é sempre um múltiplo de sete.
Cada corrente é conhecida, na Terra, pelo tipo de trabalho que executa através dos médiuns a ela filiados. Para que haja a filiação, é necessário que o médium se afine, isto é, que a sua sintonia se ajuste ao padrão vibratório do grupo.
A atração do médium, para um tipo de corrente determinada, se faz por laços cujas raízes são anteriores à presente encarnação. Quando esses laços não existem, o médium dificilmente se ajusta ao trabalho.
Não é, pois, o exame objetivo, segundo critérios humanos, que determina a junção. Todos os grupos são bons para aqueles que se afinam com eles. Não há grupos melhores ou piores, mas apenas grupos. A crítica aos conjuntos, sejam doutrinários ou religiosos, ou a idéia de que um tem a verdade e outro não, absolutamente não procede, em termos do transcendente. A verdade está no ser humano, no íntimo do seu espírito, que é inexprimível por um conjunto dogmático ou mesmo doutrinário.
Talvez, se falarmos da verdade em termos de realidade, possamos dizer que um grupo doutrinário, ou melhor, uma doutrina, corresponde, em determinado momento, a realidades do conjunto humano e melhor se adaptem às necessidades do momento.
É assim que as correntes fazem sentido. Exemplifiquemos:
Em dado momento de nossa época, certos espíritos dos planos superiores preocuparam-se com os rumos tomados nos processos de cura, na Terra, em termos de Mediunismo. As superstições medravam mais do que as ervas usadas nas curas, afastando, cada vez mais, a medicina científica das possibilidades mediúnicas.
Com essa preocupação, eles foram ao Cristo e pediram permissão para consertar essa situação na Terra. Essa falange era composta de espíritos cuja maioria já havia sido encarnada na Europa, principalmente na Alemanha, onde haviam exercido a Medicina. Recebida a autorização, eles começaram a incorporar em médiuns de efeitos físicos e fazer curas, predominando no Brasil. A partir daí, começaram a aparecer curadores tipo Zé Arigó e outros. Formou-se, então, uma corrente, cuja evolução vem sendo notável. Do sensacionalismo das curas, feito talvez com a idéia de despertar atenção, a mediunidade de cura está ingressando num quadro mais harmônico de entrosamento com a Medicina da Terra. Isso explica, também, o porquê dos espíritos curadores se apresentarem como “Doutor Fritz”, um diminutivo de Francisco, em alemão. Simples problema didático, visando capitalizar o prestígio dos médicos alemães. Assim, temos correntes especializadas em todos os ramos da vida na Terra: de cura, de desobsessão, de vida intelectual, científica, etc.
 
CAPÍTULO IV
 
A CURA ESPIRITUAL
 
ORIGEM DAS DOENÇAS
 
Doença é um estado de anormalidade física ou psíquica. A ciência que trata das doenças é a Patologia. Um dos ramos da Patologia chama-se Etiologia, ou ciência das causas. A Etiologia considera a origem das doenças nos agentes biológicos, nas profissões, na insalubridade e em outros fatores desconhecidos.
Fora da Ciência, na observação comum, qualquer pessoa pode perceber que os estados psicológicos também produzem doenças. Por sua vez, as alterações psicológicas tanto podem ter sua origem num fato expresso conscientizado, como num fato inconsciente ou subliminar.
O inconsciente é o mundo desconhecido do ser humano, o vasto repositório dos mistérios da vida. A ciência médica ou a Psiquiatria não têm condições, ainda, de explicar esses mistérios. Enquanto isso não acontece, teremos que aceitar o pragmatismo mediúnico.
Para o Mediunismo, todas as doenças têm sua origem no plano invisível, na dimensão envolvente do plano físico. O espírito não tem doenças, mas pode ser o portador delas. Ao reencarnar, ele traz, na sua memória o esquema de outras encarnações e se liga, pelos corpos invisíveis, aos déficits energéticos de sua cota, e procura fazer o ressarcimento.
Vista por esse prisma, a doença tem um sentido educativo, faz parte do mecanismo cármico e é coerente com a posição atual do planeta.
A Neogenética é uma ciência relativamente nova, que estuda os problemas dos genes. Estes corpúsculos se situam no íntimo das células, e determinam as características do indivíduo, suas doenças, enfim, a vida física de uma pessoa.
Uma das coisas que intriga os geneticistas é o fato que uma célula, possuidora de um gene causador de uma determinada lesão ou doença de um organismo, ficar dormente durante muitos anos, e só entrar em atividade num tempo certo, como um ator, que só entra no palco no momento de representar a sua parte!
Isso dá a entender que o organismo tem uma programação, um esquema no qual cada coisa acontece na hora determinada. Mas, assim o como o fato genético pode ser modificado, por razões do próprio organismo ou por interferências externas, assim são as vidas das pessoas nos outros planos.
Existe uma gênese do corpo, uma da alma e uma do espírito.
Mas existe, também, o livre arbítrio.
Um espírito programa uma encarnação em função do seu débito para com a Terra. Para que ele salde esse débito, é preciso que emita energias, se coloque em posição de produtividade espiritual. É necessário que sua força se evidencie no plano da Terra e, com isso, outros espíritos, talvez seus próprios credores, se beneficiem dessas forças. Ele escolhe, então, uma vida em que a dor anule, até certo ponto, a tônica da alma e do corpo, para que se evidencie a do espírito.
Ele programa um corpo e, para ele, certas doenças. Para isso são feitas miríades de combinações, impossíveis de serem entendidas ou concebidas em nossa mente humana. Os genes são manipulados a partir dos pais ou, talvez, dos avós. Não esqueçamos que o tempo do plano espiritual não é o mesmo que o nosso. Não esqueçamos, também, que os espíritos programam suas encarnações um função de outros espíritos, e que famílias inteiras se relacionam por acordo mútuo, muito antes do encontro.
Chegado o momento propício, a doença aparece – ou não –, na dependência da maneira que esse espírito tenha vivido até esse ponto. Mesmo encarnado, o espírito sabe o que programou. Mas sua alma, sua psique, apenas pressente. O corpo nada sabe: é apenas o executivo, a base material. A luta se passa no Eu, no campo consciencional, entre a alma e o espírito. Uma boa alma pode pagar o débito energético de um espírito, sem precisar da dor. Mas, isso só pode acontecer no ser humano adulto, quando a alma tem capacidade de decisão.
Disso podemos tirar inúmeras conclusões. Por exemplo, a doença de uma criança causa mais dor aos pais do que a ela mesma. Os adultos têm mais consciência da dor que as crianças. A morte de uma criança em nada afeta seu espírito, mas atinge muito o espírito dos pais.
O ser humano, enquanto não se torna adulto, não tem vida mediúnica, da mesma forma que não tem autonomia sócio-econômica. Deduz-se, daí, que o aspecto cármico das doenças, embora tenha nas crianças um instrumento, se refere mais aos adultos. Só eles têm seu livre arbítrio em condições de viver uma dor, ou evitar essa dor pelo trabalho espiritual.
O trabalho mediúnico, qualquer que seja sua modalidade, no âmbito doutrinário ou não, pode evitar uma doença, nos adultos ou nas crianças da sua dependência. Isso tanto pode acontecer antes ou depois de a doença se manifestar.
Portanto, as doenças cármicas são as programadas.
Mas, não existem, apenas, doenças cármicas. Os desatinos, tanto no plano físico como no psíquico, causam, talvez, mais doenças do que os carmas. Também, a doença pode ser, apenas, um fato correlato com o carma de uma pessoa. Há miríades de possibilidades de um ser humano apanhar doenças apenas como decorrência de outros fatores cármicos, como, por exemplo, viver numa região insalubre ou trabalhar em condições que provoquem doenças.
Deve-se, por conseguinte, distinguir os fatos que são parte integrante da Natureza, em que o fator cármico é natural, sendo a Terra um planeta de retificação dos espíritos e os destinos particulares de cada espírito.
Conclui-se que cada caso deve ser examinado de per si, não se podendo estabelecer generalizações em torno das doenças. A mesma terapêutica aplicada em indivíduos diferentes produz resultados diferentes.
 
DIAGNOSE MEDIÚNICA
 
A Medicina, antes de se tornar uma ciência, era um culto. Antes da ciência de Hipócrates, existia o culto a Esculápio. Antes da existência de um hospital, havia o templo. A Patologia tem 2.500 anos, o culto do espírito se perde nos cálculos de tempo.
Natural, pois, que, no revisionismo atual, se procure novas luzes para a ciência – ou arte? – de curar. O Mediunismo é uma dessas luzes.
Entre os enigmas da Medicina, o maior é, talvez o da diagnose. E o grande problema da diagnose é a interpretação correta das causas. É difícil, senão impossível, interpretar-se corretamente uma situação em que não temos todos os dados do problema.
Vimos, no subtítulo anterior, que, além das origens conceituadas na Medicina, existem outras fontes onde se poderá buscar as causas das doenças. Tais fontes, porém, são inacessíveis ao médico convencional, preso à ortodoxia científica. Entretanto, são inúmeros os relatos de médicos que localizaram a causa de distúrbios, em certos pacientes, de forma completamente alheia aos métodos habituais. Muitas estórias desse tipo são contadas por médicos de zonas rurais, habitualmente enfrentando toda sorte de problemas humanos e contando com menos recursos que os médicos de cidades.
Mesmo com os recursos da Patologia atual, ainda é o médico que faz o diagnóstico, e isso depende mais da sua personalidade do que dos aparelhos que o cercam. Partindo desse ponto, podemos apontar os caminhos em que a mediunidade pode ajudar o médico.
O primeiro deles é a semelhança entre o processo mediúnico e um computador, com seu sistema de memórias.
A diagnose médica atual joga com dois tipos de incertezas: o estado psicofísico do diagnosticador e a sintomatologia do diagnosticado.
No primeiro caso, a experiência pessoal do médico aflora ao seu campo consciencional, conforme seu estado no momento da diagnose; no segundo, o doente manifesta os sintomas, conforme seus momentos psico-físicos.
Essa variação não existe no indivíduo mediunizado, ou melhor, existem apenas duas variáveis: o indivíduo está sintonizado numa faixa horizontal ou numa vertical. Ele está bem ou mal assistido, mas distingue, com facilidade, as duas coisas. Para que esse processo possa ser entendido, é apenas necessário que se admita as origens dos estímulos, que são do campo físico, psíquico ou espiritual.
Lembremo-nos, apenas, que mediunizar-se, isto é, colocar-se em estado receptivo às emanações vibratórias de campos de forças diferentes, não é privilégio exclusivo de alguns. Qualquer ser humano pode fazê-lo, principalmente o médico. Percebida a causa fundamental do incômodo do paciente, o problema se resume na interpretação correta dos dados fornecidos.
 
DISTÚRBIOS MEDIÚNICOS
 
O mecanismo de produção, emissão e absorção ectoplasmática é tão simples e natural como o do alimento físico. Existe um metabolismo do plano físico, do psicológico e do espiritual, um influindo sobre o outro.
Em cada ser existe um estado ideal de equilíbrio dinâmico, a cada momento de sua vida. Fora desse ótimo é que se apresentam os distúrbios, resultantes da atividade celular descompassada.
A produção da energia mediúnica é involuntária, relacionada com a corrente sangüínea e o sistema neurovegetativo. Se essa energia encontra meios de aproveitamento, no relacionamento mediúnico favorável à pessoa, ela é normal e saudável. Se, ao contrário, não existirem meios de escoamento, o acúmulo de fluido magnético provoca um tipo de pressão nos plexos nervosos, tornando-os hipersensíveis.
Essa sensibilização provoca sintomas de anormalidade nos órgãos de influência desses plexos e, na medida da persistência do fenômeno, se transformam em distúrbios físicos.
O fenômeno provoca, também, certa descompensação energética, uma perda constante de energia vital. Até certo ponto, esse quadro é normal, manifesto em pequenos incômodos, aos quais não damos importância. Tomamos um comprimido ou um remédio caseiro, e continuamos cumprindo nossas obrigações. Chega o dia, porém, em que esses incômodos se tornam mais agudos, e tratamos de procurar o médico.
Este intervém, mediante a análise dos sintomas e a visão do quadro geral apresentado pelo próprio paciente. Em hipótese alguma os fatores aqui mencionados entram na cogitação do médico ou do paciente.
Naturalmente, na medida em que os incômodos aumentam, vai se tornando evidente o dano celular, e o paciente entra nas classificações tradicionais do equacionamento clínico. O problema começa para o leigo em Mediunismo, seja ele o médico ou o paciente, quando as intervenções clínicas, consagradas pela experiência, não produzem o resultado esperado.
Se tomarmos em conta o problema que representa, para a sociedade, a atual oferta de serviços médicos em face da procura, seria de bom alvitre a Medicina volver os olhos para esse fator.
A manipulação mediúnica pode resolver, em questão de minutos, certos problemas médicos que, de outra forma, representariam muito dispêndio e sofrimento.
O problema é conjugar as duas visões: a psico-espiritual e a física, e empregar a terapêutica certa.
Na Psiquiatria, isso se torna mais fácil. As anormalidades da psique oferecem maior campo de observação dos fatores mediúnicos. Os distúrbios da mente são atribuídos a fatores generalizados, dificilmente especificados na feitura de um diagnóstico. Tanto neste como na terapêutica, o clínico está envolvido nas dificuldades da definição das causas.
A mediunidade pode aliviar muito essa situação, pois se a pressão mediúnica tem a propriedade de alterar as condições orgânicas do ser humano, ela altera, com muito mais facilidade, as condições psíquicas.
 
LICANTROPIA E CÂNCER

A licantropia é a capacidade do espírito desencarnado de moldar seu corpo etérico conforme as deformações de sua mente. Essa palavra deriva da lenda universal do lobisomem, o homem que se transforma em lobo.
Traumatizado pelo ódio, ele vai se deformando e concentrando, a ponto de ficar com o tamanho aproximado de uma cabeça de mico, onde predominam os olhos grandes, e com os braços e pernas atrofiados e colados ao corpo.
Na Corrente Indiana do Espaço, esses espíritos se chamam elítrios.
Na fixação de seu ódio, ele permanece nos planos invisíveis, aguardando a oportunidade de vingança, e assim pode ficar até por milênios. Chegado o momento do reajuste, do acerto de contas com o espírito que o levou a essa condição, ele vem para o plano físico e começa a exercer sua ação deletéria. Na maioria das vezes, nasce com o espírito de quem vai cobrar a dívida. Enquanto o recém nascido vai se formando como ser humano, ele permanece incubado, dormente. Assim que as condições físicas da vítima se apresentam favoráveis, ele começa a absorver as energias vitais.
Cada caso aparece com características próprias da situação em que a dívida se formou. Esse mecanismo é obscuro e de difícil penetração. Sua presença é verificada, no trabalho mediúnico, nos casos de doenças rebeldes e tratamentos médicos, principalmente as consideradas incuráveis.
A doença causada pelos elítrios pode estar situada em qualquer parte do corpo. Também, pode ser verificada a presença de mais de um elítrio no mesmo paciente.
A forma sutil de sua atuação faz com que, a princípio, os sintomas sejam imperceptíveis. O elítrio vai firmando seus tentáculos e, quando chega o momento, começa a sucção. A partir daí, os sintomas são alarmantes, e o paciente é levado ao médico, já sem recursos.
A aderência de um elítrio tanto pode ser em termos musculares como em centros nervosos e medulares. Sua ação, entretanto, se faz sentir em todo o organismo, pois absorve as energias sutis do paciente.
O câncer, em algumas das modalidade que se apresenta, tem essa característica. Muitas doenças, consideradas curáveis pela Medicina, não são resolvidas quando o paciente tem elítrios. Só o Mediunismo pode detectá-los e atingi-los. Falaremos disso no título dedicado à cura espiritual.
 
CURA MÉDICA E CURA ESPIRITUAL

A Organização Mundial de Saúde considera doente o cidadão que apresenta desequilíbrio num dos três aspectos: físico, mental ou social.
O Mediunismo considera, além desses três, o fator transcendental. Para ele, o paciente é um ser reencarnado, isto é, que já existia antes do nascimento, continuará existindo depois da morte e mantém contínua relação com as outras dimensões.
Portanto, a ausência da saúde pode ter sua origem no corpo, na mente, nas condições sociais e nos fatores transcendentais.
A missão do Mediunismo é cuidar, apenas, do fator transcendente, embora os problemas resultantes se manifestem nos planos físico, mental ou social, isto é, distúrbios de ordem física, mental ou social podem ter sua origem no plano espiritual.
A Medicina está perfeitamente aparelhada para sua missão de curar, e compete ao Mediunismo, apenas, fazer a enfermagem espiritual. O trabalho mediúnico deve encaminhar aos médicos os pacientes livres dos elítrios e das pressões ectoplasmáticas.
Mas, para que os dois processos funcionem em sintonia, se torna necessário a admissão, no conceito médico, da existência desses fatores invisíveis da doença. A ciência médica e a ciência espiritual se completam perfeitamente.
É preciso que se saiba, com toda clareza, que a cura de um paciente, qualquer que seja sua moléstia, está relacionada com o seu destino transcendente. Tanto a morte prematura como a vida de saúde precária são, às vezes, condições que o espírito estabeleceu para sua própria evolução. Casos como esses é que dão motivos de desânimo aos facultativos, pois são rebeldes às mais severas intervenções. São os pacientes que não querem ser curados, inconscientemente. Aliás, a atividade médica, se olhada sem distorções românticas, é a luta perene contra o suicídio. O ser humano considerado normal, suicida-se todos os dias um pouco, na insensatez da vida moderna.
Só o Mediunismo tem condições de erguer uma pessoa da sua miséria íntima e incutir-lhe a vontade de viver. O despertar dos fatores transcendentais explica o mundo e mostra ao Homem qual a posição nele.
 
MEDIUNIDADE DE EFEITOS FÍSICOS
 
Certas pessoas emitem um ectoplasma que tem a propriedade de intervir na matéria física, exterior ao seu corpo. Com esse fluido, uma pessoa ou um espírito pode materializar ou desmaterializar, mudar padrões vibratórios ou magnéticos, transportar objetos, produzir ruídos, etc.
O fenômeno é muito amplo e vem sendo estudado, na época moderna, desde o Século XIX, e é apresentado como base da comunicação com os espíritos. Na verdade, ele é muito mais amplo, e a prova disso está, justamente, na cura espiritual, cuja base é a desmaterialização.
A maioria das doenças consideradas incuráveis é produzida por elítrios. Estes são espíritos concentrados a tal ponto que interferem na matéria física. Quando o paciente portador de elítrios é submetido ao trabalho mediúnico, o elítrio recebe a aplicação do fluido do médium de efeitos físicos. Esse ectoplasma produz o alargamento dos espaços intermoleculares do elítrio, fazendo com que ele cresça, se torne menos sólido, e perca sua concentração.
Mediante sucessivas aplicações, ele chega a atingir a estatura normal de um ser humano. Nesse ponto, ele está tão leve e sutil que não tem possibilidade de aderência, podendo, então, ser encaminhado ao seu plano.
 
MÉDIUNS CURADORES
 
Com base no que verificamos até aqui, a respeito de doenças e doentes, a cura não se faz, apenas, na desmaterialização dos elítrios ou outros fatores da doença. Nela entra em jogo a verificação dos antecedentes espirituais do paciente, o quadro clínico, os diagnósticos, tratamentos, internamentos, idade, etc.
De acordo com o quadro obtido no contato com o doente ou com seus acompanhantes, é que irá se processar a eventual cura. Para cada um desses aspectos, é usada uma função mediúnica diferente, e se chega à conclusão de que todas as mediunidades se aplicam à cura.
Se quisermos, porém, considerar a cura apenas quanto aos sintomas patológicos, o curador por excelência é o médium de efeitos físicos. É preciso considerar, entretanto, que o ectoplasma de efeitos físicos não é exclusivo de um único tipo de médium, ou seja, não existe um médium cuja função mediúnica seja, unicamente, a de efeitos físicos. Qualquer médium pode ter esse fluido, embora nem todos os médiuns o tenham.
Poderíamos, então, caracterizar o médium curador como aquele que se dedica a essa missão, especificamente, e seja portador do fluido necessário. O afastamento dessa realidade leva a superstições e conceitos que prejudicam mais do que ajudam à Humanidade, tão carente de um médium sadio.

CIRURGIA INVISÍVEL
 
A cura mediúnica ou cura espiritual é feita, exclusivamente, através do corpo sutil do paciente. Não há, portanto, necessidade alguma de contato físico entre os médiuns curadores e o doente. Não é o médium que faz a cura, mas os espíritos que a fazem, por intermédio do médium. Para maior facilidade, para que haja ambiente, concentração de forças mediúnicas e auxílios de ordem psicológica, é melhor que o paciente esteja próximo aos médiuns que irão curá-lo. Mas, absolutamente, não é necessário que o médium toque no paciente ou faça qualquer ato de ordem física. Uma cura mediúnica pode se processar em qualquer distância física entre médiuns e o paciente, dependendo do tipo de corrente mediúnica que pratica.
O significado profundo desse fato é que qualquer imitação dos processos da Medicina, na cura mediúnica, é fraude ou ignorância da realidade. Quando isso acontece, é porque os espíritos que estão intervindo na moléstia do paciente são espíritos da Terra e não espíritos do Céu.
Espíritos da Terra são de pessoas que morreram, mas ainda não alcançaram os planos superiores, estando, portanto, presos à faixa cármica e reencarnatória. Seus critérios são prejudicados pelo simples fato de que vivem num plano intermediário, numa zona de conceitos indefinidos.
Espíritos do Céu são redimidos do carma, são os chamados espíritos de Luz, cuja posição é nítida e definida na Organização Crística, nos critérios transcendentais.
Há, portanto, duas formas claras de se encarar o problema de um doente: o da ciência médica, com base na razão e no bom senso, usando-se a inteligência humana lastreada nos fatos sensoriais, e o da ciência espiritual, tomando-se em consideração o fato transcendental, o destino mais amplo da criatura humana que se quer curar.
No primeiro caso, a única autoridade é o médico, o profissional da cura, responsável pela saúde humana. No segundo caso, a autoridade é o Espírito Superior, que preside os médiuns que, eventualmente, irão intervir num caso de cura.
Espíritos do plano invisível da Terra, por melhor que sejam suas qualidades ou suas intenções, não têm capacidade de julgamento, nem autoridade, para interferir num destino humano, pelo simples fato de que eles ainda não definiram seu próprio destino.
Essa posição é o suficientemente clara, e uma operação só aparece no plano material, sensorial, com cheiro de éter, assopeais, curativos, incisões, bisturis, esparadrapos, sangue, tumores em vidros, etc., por motivos humanos de uma suposta origem espiritual.
Os espíritos superiores, absolutamente, não precisam dessa parafernália para efetuar uma cura, quando é justa no destino transcendente do paciente. Também, não fazem dispêndio de energias em atos físicos, para os quais existem seres preparados e treinados – os médicos. Esses exercem uma profissão das mais nobres e respeitadas no plano espiritual, tanto que todo médico recebe proteção espiritual, qualquer que seja sua posição doutrinária.
 
A MEDICINA E O MEDIUNISMO
 
A principal finalidade da Medicina é preservar a vida humana na Terra. A principal finalidade do Mediunismo é preservar o destino de um espírito em tráfego encarnatório, na Terra. A Medicina se preocupa com o destino transitório de uma encarnação do corpo físico que um espírito está usando para o seu programa atual. O Mediunismo se preocupa com a conservação do corpo físico, em função das finalidades do espírito que o utiliza.
Ambas as ciências têm sua razão de ser e suas finalidades bem definidas. Uma trata do plano psicofísico, e a outra, do plano espiritual. Remédios se usam para o corpo, e são problemas de Química e Fisiologia. Um espírito receitar um remédio é o mesmo que um médico querer recartilhar um carma. Um espírito fazer um diagnóstico clínico, é o mesmo que um médico querer definir a posição de um espírito. Se o paciente precisar de um diagnóstico, ele vai ao médico, e o seu Mentor, junto com o Mentor do médico, inspiram a este o quadro certo. Se o diagnóstico não for certo, provavelmente será porque o espírito daquele paciente não quer que ele seja curado. Não se pode generalizar esse assunto, pela simples razão que cada ser humano apresenta um problema único e original. Não nos esqueçamos, porém, de que todos os seres humanos são objeto da misericórdia divina.
 
AS DOENÇAS DO FUTURO
 
No Universo em expansão, a Terra sofre, periodicamente, transformações impossíveis de serem previstas e registradas pelo processo científico.
Tais processos se manifestam em termos de ciclos, que são imperceptíveis no começo, e mais sensíveis no fim. Tomando-se por base os ciclos de dois mil anos, definidos em termos astronômicos, pode-se registrar modificações biofísicas palpáveis.
Mas, o fenômeno não se traduz, apenas, em termos geológicos, mas, também, de uma ecologia ampla. Por exemplo, as viagens espaciais de artefatos, sejam tripulados ou não, terão que trazer alguma modificação à Terra, pois apenas parte dos fenômenos envolvidos são previsíveis e conhecidos. Por outro lado, quantos fenômenos de ordem psicológica, social ou econômica essas viagens já produziram?
O assunto é, aparentemente, vago, uma vez que não existe uma autoconsciência coletiva e seja, talvez, objeto de cuidados secretos dos cientistas. Por enquanto, o que existe de público, são as profecias, antigas e novas, do mundo espiritual.
Nessas profecias, são previstas alterações na intimidade biológica e, dentre elas, novas doenças que irão se manifestar nos próximos dez ou vinte anos. A única razão de registro desse fato neste manual é que o princípio dessas doenças está, justamente, no aumento em termos de profundidade e extensão do fenômeno elitriano.
Seria, então, de bom alvitre que a Ciência começasse a volver os olhos para o fenômeno mediúnico, única forma pela qual poderia registrar os fatos estranhos à lógica científica. Assim, talvez, possibilitasse a formação dos técnicos que iriam enfrentar o problema de saúde, quando sair fora da lógica atual.
 
CAPÍTULO V
 
AS OBSESSÕES
 
O FENÔMENO
 
Diz-se que uma pessoa é obsidiada quando tem uma idéia fixa, ama ou odeia descontroladamente alguém ou algo, e é assediada por essa idéia, pessoa ou coisa. Isso, na linguagem comum, é uma obsessão, um defeito da personalidade, uma anormalidade de comportamento. Caracterizadas, no indivíduo, sob a forma de vícios, hábitos estranhos, marginalização social, revoltas, etc., são resultantes do conflito natural da gama vibratória psicofísica, e, até certo ponto, faz parte da vida normal.
Ao ser registrado no âmbito do Mediunismo, o fenômeno adquire outra dimensão, primeiro pela admissão, pelo paciente, da existência de fatos estranhos na sua vida, e, segundo, porque o diagnóstico abrange os fatores transcendentais da anormalidade.
O Mediunismo situa, sempre, o problema em termos de presença de espíritos, e a maior ou menor influência no fenômeno obsessivo. Porém, considera obsessão somente quando o indivíduo perde a liberdade, total ou parcial, para outro espírito.
Entretanto, para se compreender o fenômeno em toda a sua extensão, é preciso que se tenha em mente o processo reencarnatório.
O espírito, ao encarnar, ocupa um corpo submisso às leis físicas. Nesse corpo atuam todas as leis naturais – do mineral, do vegetal e da química do carbono. Este, por sua vez, é comandado pela alma, que obedece às leis psicossociais que regem o meio onde vive.
O espírito é regido por leis de outra dimensão, de aspecto transcendente. Ao encarnar, ele subordina-se às leis que regem o organismo que ocupa, e visa, com isso, obter determinado fim. Esse objetivo é inteiramente particular, da mesma forma que o organismo ocupado é inteiramente seu, de sua escolha.
Temos, assim, uma certa dualidade, o corpo e a psique compromissados com seu ambiente, e o espírito com suas obrigações transcendentais. A luta entre os dois – personalidade e espírito – cada qual procurando atender às demandas de seu ambiente, forma a eterna dualidade que se reproduz em todos os homens. À personalidade repugna qualquer interferência e, para isso, dispõe do seu mecanismo de defesa. O espírito, a fim de atender aos compromissos anteriores, liga-se e permite que outros espíritos interfiram na vida da pessoa. Para o espírito, o corpo tem, apenas, uma utilidade transitória: o período necessário para atingir os fins a que ele se propõe. É apenas um meio, um veículo. O corpo pode se desagregar, e acabará por desaparecer. O espírito permanece, neste ou em outros planos.
Essa ligação e a subordinação a leis mais amplas é que explica o mecanismo da obsessão. Pelo seu caráter negativo, ela é o reflexo das lutas entre espíritos, cuja arena é o plano físico. Não é, portanto, um fenômeno exclusivo dos encarnados, mas é, principalmente, dos espíritos.
Nessa perspectiva ampla, a obsessão é um fenômeno próprio da vida neste planeta, onde o espírito encontra condições de equacionar seus problemas, criados por ele, em tempos diferentes, em encarnações diversas.
A personalidade, regida por leis relativamente estáveis, procura a tranqüilidade, a satisfação de suas necessidades básicas e o melhor aproveitamento do ambiente. O espírito, regido por leis mais dinâmicas, com outro conceito de tempo, procura o conflito, o ajuste de contas e a cobrança ou o pagamento de seus débitos.
A ligação de um espírito com outro, qualquer que seja a sua natureza, produz alterações no meio psicofísico, na forma de ação da personalidade. Quando essas ligações são de caráter negativo, produzem-se as obsessões.
A interferência pode ser de ordem intelectual, no plano da mente física, no sistema nervoso ativo, ou pode ser de ordem física, no sistema vegetativo – caso das doenças licantrópicas.
Existem, pois, mais obsessões do que se considera habitualmente como tal, por se notar esse fenômeno apenas quando se manifesta em termos de convulsões, manifestações de loucura ou ações criminosas.
 
OBSESSÃO POR DESENCARNADO
 
É a obsessão mais comum. O espírito encarna, e traz programada uma série de reajustes com outros espíritos desencarnados. A maioria desses reajustes se faz na vida quotidiana do indivíduo, nas mil e uma maneiras que a vida diária proporciona. Os espíritos cobradores se aproximam da área invisível da pessoa, e provocam situações embaraçosas.
Com isso, provocam a dor, e esta libera as energias de que eles se acham credores. Satisfeitos e vingados, eles se afastam. Assim são nossos aborrecimentos e nossos desastres quotidianos. Sempre tem alguém se aproveitando de nossas amarguras e se libertando de nosso espírito.
Essa energia sutil, da qual os espíritos são ávidos, é produzida de duas maneiras básicas: pela dor ou pelo trabalho espiritual, considerando trabalho espiritual toda atitude humana condizente com os princípios crísticos. A forma mais lucrativa do trabalho espiritual é a mediúnica.
A obsessão começa a existir quando as condições de cobrança são desequilibradas. Ou o espírito cobrado não tem dor o suficiente intensa para satisfazer o cobrador vingativo, ou não consegue outra forma da produção da energia necessária para satisfazê-lo.
Nesse caso, o obsessor toma conta da personalidade, na proporção em que consegue romper suas resistências, e a pessoa entra em desequilíbrio. Esse fenômeno pode durar de apenas alguns minutos a uma existência. Até certo ponto de sua duração, a intervenção é possível, no mecanismo da Lei do Perdão e do Amor Crístico. Ultrapassado esse ponto, o indivíduo se torna um esquizofrênico ou um louco total, e acaba por desencarnar nessas condições. O que se passa depois está fora do domínio humano.
É importante saber que o ajuste de uma situação obsessiva não consiste, apenas, em afastar o obsessor. A intervenção indevida só transfere o problema para situações futuras, provavelmente piores. É necessário dar, ao obsidiado, condições de pagamento de suas dívidas e proporcionar, com isso, a libertação de ambos – obsidiado e obsessor.
 
OBSESSÃO POR FALANGES
 
Falanges são agrupamentos de espíritos afins, geralmente em número de sete ou seus múltiplos. Todos os espíritos pertencem a alguma falange. Como nos grupos sociais, a constituição de uma falange pode se dar por um motivo único e transitório, assim como por razões mais duradouras e transcendentes.
A obsessão por uma falange se dá quando esses espíritos efetuam uma cobrança de algo que lhes foi feito coletivamente por um único indivíduo.
Naturalmente, as energias necessárias para esse tipo de cobrança são muito maiores. O obsidiado por uma falange, geralmente, é, enquanto dura o assédio, um anormal psicofísico. Pode acontecer de o obsidiado produzir, na sua atividade humana normal, mais energias que um indivíduo comum. Para que se caracterize essa obsessão, é necessário que o obsidiado tenha poderes energéticos ou sociais que, de alguma forma, atendam os interesses da falange.
Mesmo assim, o problema se apresenta semelhante, tanto na obsessão de uma personalidade atuante na vida social, como de um ser humano comum, sem expressão.
Mas, é necessário não se deixar enganar pelas aparências. Um pobre alcoólatra, que perambula pelas estradas, obsidiado por uma falange em busca do magnético animal pesado, apresenta, muitas vezes, um quadro de reajustes semelhantes ao de um político ou cientista, bem colocado na vida social, que atende obsessivamente a espíritos de gabarito.
 
OBSESSÃO LICANTRÓPICA
 
É, tipicamente, a presença dos elítrios, espíritos condensados no ódio, já descrito no capítulo das curas espirituais. Geralmente, o elítrio já vem na bagagem do espírito quando encarna.
Um espírito leva muito tempo para se tornar um elítrio. Só algo terrível, em termos de crueldade humana, pode provocar essa situação. O espírito desencarna sob torturas físicas ou morais, e seu ódio se concentra numa ou mais pessoas que causaram sua desdita. Uma vez no plano invisível, sem a alimentação relacional que poderia fazê-lo esquecer, ele vai deformando seu corpo etérico, num processo inverso do feto humano.
Todo espírito, ao desencarnar, leva consigo sua alma e a reveste de um novo corpo, no plano invisível. No princípio, este corpo é semelhante ao que deixou no plano físico. Ele tem as mesmas características, os mesmos hábitos, usa as mesmas roupas, os mesmos óculos, etc. Esse corpo e esses hábitos vão, a partir do desencarne, se modificando, de acordo com rumos que o espírito toma, com a síntese mental que forma da existência que acaba de deixar. Se essa síntese é o ódio caracterizado num agrupamento de fatos, ele se torna um elítrio.
Atingida essa condição, ele permanece hibernando, até que chegue o momento de retomar o caminho. Isso pode durar anos, séculos ou milênios, contados em termos da Terra.
Assim que o espírito ofensor atinge o grau de evolução suficiente, às vezes através de várias encarnações, para ter condições de suportar a cobrança, ele programa a encarnação em que vai pagar a dívida para com os elítrios que ajudou a formar.
O espírito, geralmente, encarna no ventre materno, quando o corpo gerado atinge o terceiro mês. Nessa altura, ele é colocado nesse corpo e se torna um ser humano que irá nascer, provavelmente, daí a seis meses.
Junto com esse espírito, os responsáveis por essa encarnação colocam, também, os elítrios. A posição desses espíritos, em relação ao organismo que vai se formando, obedece a razões acima do nosso conhecimento. De um modo geral, sabemos que, na qualidade de futura doença, eles se preparam para causar ao paciente dores semelhantes àquelas que lhes foram causadas no início do drama.
O processo de descongelamento do elítrio vai se fazendo de acordo com as etapas de crescimento do ser cobrado. Eles tanto podem causar um mal congênito, como permanecer dormentes e aparecer, subitamente, em idade avançada. Cada caso é um caso específico e, dificilmente, aparecem dois casos iguais.
Qualquer doença pode ter sua origem num elítrio, porém nem todas são causadas por eles. A de maior incidência, com essa origem, é o câncer, em algumas de suas modalidades. Por essa razão é que existem doenças que são curáveis em uns indivíduos e incuráveis em outros. E, por essa razão, indivíduos portadores da mesma doença, uns são curados no Mediunismo, e outros não. A cura mediúnica é possível quando se trata de obsessão, quer
dizer, doença causada por uma dívida espiritual e o paciente apresente condições que permitam arranjos na contabilidade sideral.
O indivíduo pode ter um ou mais elítrios, e certos elítrios podem causar efeitos em mais de uma pessoa de intimidade, como o caso de marido e mulher, mãe e filho, etc.
 
OBSESSÃO EPILÉTICA
 
A epilepsia tanto pode ter sua origem num ou mais elítrios, como em outras causas. Ela é obsessiva quando existe a presença de elítrios junto ao cérebro do paciente. Nesse caso, os sintomas são mais localizados pelos órgãos, pois, que entram em convulsão; pode-se, eventualmente, determinar a região do cérebro que está sendo afetada (pequeno mal).
Há, porém, outras causas espirituais que produzem a epilepsia. Um espírito, endividado com muitos outros espíritos, não teria condições de sobrevivência na Terra se todos lhe cobrassem na obsessão comum. Os Mentores os conservam em seus mundos invisíveis, e o devedor encarnado recebe a cobrança indireta.
Estabelece-se, então, uma ligação vibracional entre esses espíritos e o devedor encarnado, em parte diluída pela distância. A onde vibratória é detectada pelo cérebro do paciente. A intensidade de cada onda é diferente, e atuam nas células cerebrais. produzindo a convulsão e outros sintomas típicos da epilepsia.
Nessa relação complexa e variável, cada paciente apresenta condições diferentes. Os fatores comuns da epilepsia são as fases típicas, os estágios da moléstia e a tendência dos ataques em horários mais ou menos certos. A ionização dos raios solares interfere nas comunicações interplanos, num processo semelhante ao que afeta as ondas hertzianas.
Também, nesse caso, o desenvolvimento mediúnico pode ajudar o paciente a diminuir ou minimizar as crises, se conjugar esse trabalho com medicação apropriada. Deve-se considerar que o epiléptico pode ter, paralelamente, obsessões comuns e outros sintomas de mediunidade angustiada.
Um epiléptico que consiga condições mediúnicas de equilíbrio, pode viver plenamente e se realizar como qualquer pessoa. Os fatores de influência social estabelecem um ritmo de produção mental constante que reforçam os mecanismos de defesa. A literatura nos dá notícias de epilépticos geniais, que muito contribuíram para o progresso humano.

OBSSESSÃO POSSESSIVA
 
A obsessão possessiva – ou possessão – difere da obsessão pela forma como se dá o fenômeno.
Na obsessão, o espírito se liga ao indivíduo pela afinidade vibracional, usando os plexos nervosos como pontos de contato. Na possessão, o ser obsessor desdobra uma parte de si mesmo e penetra na metade do corpo do paciente. Devido a essa forma de assédio, a possessão se dá muito entre os vivos. Uma pessoa ama ou odeia outra, continuadamente, atribuindo a ela as razões de seu sofrimento ou a culpa dos males que lhe acontecem. Com isso permanece num estado quase contínuo de depressão psíquica, estado esse que estabelece condições de transe mediúnico meio sonambúlico. Seu ectoplasma se destaca do corpo e, carregado de sentimentos, dores e incômodos, se transforma quase num ser à parte, uma pequena alma que se movimenta.
Esse meio ser penetra no objeto de sua desdita e ocupa, por razões obscuras, metade do corpo do sujeito visado, quase sempre o lado esquerdo. O ectoplasma assim constituído invade a medula da perna e do braço, e irradia por todo o corpo.
O primeiro sintoma de possessão é a sensação de desconforto físico e dores indefinidas na perna. O corpo se descontrola e as sensações depressivas se alternam com atitudes de reação. Na medida em que a possessão se firma, o paciente começa a sentir as mesmas sensações do possuidor. Sente culpas, arrependimentos, revoltas e passa a detestar as coisas do seu próprio mundo. Ele assimila o estado psíquico do possessor.
A intensidade da possessão varia conforme os estados do possessor e tende a aumentar à noite, quando ambos dormem. O corpo ectoplasmático entra e sai, produzindo, no paciente, estados alternados de depressão e de normalidade.
O maior problema que apresenta o fenômeno da possessão é a sua verificação. Há certa dificuldade em se distinguir estados depressivos comuns de outros que sejam possessivos. O sintoma mais característico é o incômodo físico em apenas um dos lados do corpo.
Também, não existem métodos seguros de afastamento da possessão, no âmbito do Mediunismo. A neutralização de uma possessão exige o emprego de forças mais sutis da alta magia. Isso eqüivale a dizer que, para se afastar uma possessão, é necessário uma atitude crística elevada, um estado de amor, de perdão e de humildade. Talvez, por essa mesma razão, a possessão é mais comum em pessoas de elevado gabarito moral e religioso. Qualquer brecha na sua atitude dá oportunidades aos seus desafetos.
A possessão por espíritos se dá por processo semelhante, partindo de espíritos recém desencarnados ou muito saturados de fluído magnético animal.
A melhor solução para um problema de possessão é conseguir o auxílio de um Guia Espiritual, incorporado num médium bem desenvolvido.
 
OBSESSÃO DO PRÓPRIO ESPÍRITO
 
Trata-se de uma forma obsessiva na qual o agente obsessor é o próprio espírito do paciente.
Dominado por quadros do passado e influências de outros espíritos, estabelece-se uma desassociação extremada entre a atual personalidade e o espírito da pessoa, produzindo angústia constante.
Esse tipo de obsessão é mais comum em pessoas aculturadas intelectualmente, que se adaptam a uma linha unilateral de pensamento. Seu espírito se filia a uma corrente de idéias do plano invisível, e essa tônica dominante contrasta, quotidianamente, com as idéias que a própria personalidade entra em contato. A fonte do seu espírito é única, enquanto as fontes da personalidade variam, formando um contraste extremado, teimoso.
O espírito desse tipo de obsidiado tanto pode estar sob o domínio de uma revolta contra a sociedade, como contra uma pessoa, ou grupo de pessoas, a quem atribui as causas dos seus males.
Esse quadro, quando atinge o limiar da esquizofrenia, provoca, no paciente, crises de violência e convulsões. Ela se revela ao Doutrinador por um detalhe de suma importância: no decorrer de uma crise, pronunciando-se o nome do paciente, ela aumenta. Num obsidiado por outro espírito, o mesmo processe faz com que volte ao normal.
 
OBSESSÃO RELIGIOSA
 
É a escravidão espiritual, em suas várias modalidades de expressão, a prova mais contundente do antropomorfismo aplicado às coisas do espírito. Deus feito à imagem e semelhança do Homem. São os conceitos do Bem e do Mal, do bom e do mau, o positivo e o negativo, particulares da Terra, com um aval forçado do Deus Universal, o Inconcebível.
Esse tipo de obsessão se origina, em geral, na educação religiosa divorciada da educação comum, para as coisas da vida. O fenômeno é tão antigo quanto a Humanidade, porém mais notável no ciclo atual, e formou uma poderosa falange de espíritos desencarnados, que habitam uma região do plano etérico da Terra, conhecida, nos meios iniciáticos, como o Vale das Sombras.
Para esse poderoso exército afluem, todos os dias, espíritos de pessoas que desencarnam sem ter compreendido o Sistema Crístico. Em sua maioria, são cientistas, intelectuais, líderes religiosos e políticos, que nunca aceitaram as leis do perdão, do amor e da humildade. Sua principal argumentação é falar em nome de Deus, porém, não aceitam, em hipótese alguma, a palavra Cristo.
São eles os mestres da dialética do conhecimento, e atuam, sutilmente, na mente fechada dos ditames do próprio espírito do paciente.
A pessoa que cai sob o domínio desses espíritos é intransigente e inabalável na sua posição religiosa, qualquer que seja ela, e chega ao fanatismo extremado. O mesmo fenômeno pode acontecer a uma pessoa nessas condições, que seja anti-religiosa ou que espose um credo político ou científico. Qualquer conjunto de idéias pode servir para um obsidiado desse tipo. Quando ele atinge a esquizofrenia, repete, com monotonia, as idéias e frases estereotipadas da sua religião ou credo.
 
OBSESSÃO ALCOÓLICA
 
É, tipicamente, a obsessão que poderia ser chamada de obsessão química.
O ectoplasma natural do alcoólatra vai se impregnando dos resíduos extremamente voláteis do álcool e, com isso, estabelece um contato regular com o mundo invisível que o cerca.
Paralelamente, a repetida agressão que sofrem as células cerebrais, amortecem suas reações, e o alcoólatra vai perdendo a consciência do mundo psicofísico, em termos de normalidade de percepção.
É uma condição mediúnica constante e angustiada. Os espíritos desencarnados que vivem, naturalmente, em torno dos seres humanos, encontram, no ectoplasma do alcoólatra, um alimento fácil e acessível. Na medida das afinidades que estabelecem com o paciente, vão se apoderando de sua vontade, e acabam por se tornar obsessores. Como se vê, a iniciativa é do indivíduo, e não do espírito desencarnado. É uma obsessão que se origina na educação, nos hábitos sociais e nos traumas psíquicos.
O mesmo fenômeno se passa em relação a outras drogas, e sua generalização se dá devido aos momentos fugazes de prazer que proporcionam. A ativação dos sentidos além da gama normal, que a embriaguez proporciona, é semelhante à percepção mediúnica, porém, nada tem de igual. Nunca se deve confundir a excitação sensorial com a sensibilidade espiritual.
 
A DESOBSESSÃO
 
A desobsessão é o trabalho fundamental do Mediunismo. Compreendida em seu sentido amplo, a obsessão é uma condição generalizada em que se acham os seres humanos no presente ciclo do planeta. A maioria das pessoas sofre as influências dos espíritos, numa ou outra modalidade obsessiva.
No sentido comum da palavra, ela só é reconhecida quando o paciente apresenta sinais visíveis de anormalidade, tais como convulsões, crises de agressividade ou prostrações repentinas.
Como resultante, existem duas terapêuticas aplicáveis: uma de emergência, e outra a longo prazo. Para que não haja decepções, tanto dos socorristas como das pessoas que procuram o Mediunismo numa crise, é preciso que haja certa cautela na verificação do paciente. Se ele já entrou no quadro clínico da esquizofrenia ou da loucura, tendo recebido choques químicos ou medicação psicotrópica prolongada e profunda, nesse caso o Mediunismo já não lhe adianta. Fazer um trabalho mediúnico para um paciente nessas condições é arriscar os médiuns, cansá-los inutilmente, e não obter resultados.
A terapêutica mediúnica é a restauração do equilíbrio da pessoa. Se ela não apresenta condições básicas de recuperação, se o seu sistema nervoso já foi danificado, o veículo físico não tem condições de restauração; nesse caso, o problema já ultrapassou a faixa puramente mediúnica. Sem dúvida alguma, a misericórdia divina sempre pode acudir uma pessoa nessas condições. Às vezes, a medicação adequada, combinada com a intervenção mediúnica, produz extraordinários fenômenos de recuperação.
A base da desobsessão é a Doutrina, desde que não se entenda por doutrina a simples persuasão. Embora se use a palavra em quase todas as fases da desobsessão, elas só se tornam inteligíveis, tanto para o obsidiado como para o obsessor, se estiverem em condições de entender, racionalizar as coisas. Isso significa que ambos evoluíram a ponto de se libertarem mutuamente. A principal função da palavra, em Mediunismo, é servir de condutora de fluído, de ectoplasma.

CAPÍTULO VI
 
A PRÁTICA DO MEDIUNISMO INFRA-ESTRUTURA CRÍSTICA
 
“Onde houver duas ou mais pessoas reunidas em meu nome, eu estarei entre elas em espírito e verdade” (Mateus,18/20)
 
Essa promessa do Mestre Jesus, repetida antes de qualquer trabalho mediúnico, é a melhor forma de garantir, para ele, a assistência dos espíritos superiores. Essa frase evangélica pode ser repetida em todos os quadrantes do globo, em qualquer língua, pois, dificilmente, o seu sentido pode ser deturpado.
O Mestre Jesus representa, no atual Ciclo de Peixes, o Cristo atuante, a manifestação sensível de Deus aos seres humanos. Pouco importa se a apresentação se faz em termos de Budismo, Induísmo, Catolicismo ou outras roupagens religiosas. A presença Crística se evidencia através de fatores que são comuns e inconfundíveis a todo espírito encarnado na Terra ou, em outras condições, nas suas imediações.
Toda religião, doutrina, iniciação, ciência oculta, conhecida ou não da atual Humanidade, esotérica ou exotérica, se caracterizará como Crística se a atitude fundamental que sugerir puder se resumir em três palavras: Amor, Humildade e Tolerância.
Para se compreender amplamente esse fato, deve-se notar que a presença Crística não é manifesta, apenas, em termos de doutrina verbalizada ou escrita, mas, sim, na determinação de uma atitude básica de comportamento global, que envolve todos os aspectos da vivência humana.
O Mestre Jesus foi o executor de um plano sistemático, que envolveu toda uma etapa evolutiva da Humanidade, compreendendo um período de dois mil anos. Esse sistema abrange todos os aspectos concebíveis do ser humano, e visa dar, essencialmente, a cada espírito, a mais completa oportunidade evolutiva.
O Ciclo de Peixes é do carma, e seu símbolo máximo é a estrela de seis pontas, dois triângulos equiláteros sobrepostos em posição inversa, que representam a evolução e a involução.
Carma significa o pagamento de dívidas anteriores, liquidação de débitos. Por isso, a figura de Jesus aparece como o Redentor, o Salvador, o amigo que ajuda a pagar nossas dívidas. Com essa premissa, o sistema se apresenta como algo intermediário entre duas situações.
Esse é o fato básico do Mediunismo: o ser humano colocado na posição de intermediário entre as forças superiores e os que o cercam (amor ao próximo), submetendo-se às determinações do mundo espiritual (humildade diante de Deus) e aceitando os ditames da sua posição cármica (tolerância).
Conclui-se que a base do Mediunismo é a manipulação do fenômeno mediúnico em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo.
 
A MOTIVAÇÃO
 
A mais sã motivação, para que um grupo de pessoas se reuna na prática do Mediunismo, é a admissão honesta da existência do fenômeno.
A vida humana é o constante equacionamento de problemas físicos, psicológicos e espirituais, desde que se evidencie que problemas espirituais não são, necessariamente, problemas religiosos.
Essa sutil distinção entre as inquietações do espírito e o fato puramente psicológico de pertencer ou não a uma religião, deve ser buscada em termos individuais.
Religião é um modelo de comportamento, e o fato de um indivíduo não se ajustar a um padrão determinado, não é problema espiritual, mas, apenas, social, psicológico. Religiões representam épocas, latitudes e longitudes, de maior ou menor extensão e profundidade, variando, portanto, no tempo e no espaço. O ser humano é, basicamente, sempre o mesmo.
Inquietações espirituais são os estímulos desconhecidos da personalidade, os fatos estranhos ao previsível de cada um, os anseios desconhecidos, os sonhos secretos, as dores inconsoláveis, as sensações de abandono, coisas essas que só o indivíduo pode saber de si mesmo.
Ao chegar o momento em que essas coisas se tornam prementes, a ponto de alterarem o comportamento físico ou psicológico, o indivíduo está pronto para o Mediunismo.
Sem dúvida, existem outras motivações para o ingresso num grupo mediúnico ou a procura para organizar outro. Mas a pessoa só permanece ou o grupo obtém sucesso quando os motivos são fortes. A pesquisa ou a curiosidade não são suficientes, pois são puramente psicológicos. Também, não adiantam as provas ou testes, porque são sempre exteriores ao indivíduo.
Para que uma pessoa procure o Mediunismo, ou pense em organizar um grupo mediúnico, é preciso que ela tenha sentido o fenômeno em si mesma, o admita por experiência própria, individual. E quem, nesse mundo, já não teve alguma experiência nesse sentido?
 
O GRUPO SOCIAL
 
A mediunidade é uma manifestação essencialmente individualizada, porém, com características comuns a todos os seres humanos. Essa exteriorização comum permite que quaisquer pessoas possam se reunir para formar um grupo mediúnico, independente da aculturação social ou intelectual.
Um conjunto mediúnico ideal é o que se compõe de pessoas com aspirações espirituais comuns, e não por motivações sociais. A padronização de um corpo mediúnico se faz em termos de ideais transcendentes, mas não personalísticos.
Compreensão espiritual não é o mesmo que compreensão social. Isso porque um espírito evoluído pode habitar um ser humano, qualquer que seja sua posição social, e o mesmo pode acontecer com um espírito involuído, atrasado. Posição social nada tem a ver com posição espiritual.
Embora seja natural a aglutinação das pessoas de interesses comuns, em termos de posicionamento social, formando grupos harmônicos culturalmente, isso pouco benefício traz para o exercício evangélico.
Ao contrário, o perfeito entendimento psicológico e a concordância de todos em torno de tudo, reforçam as relações horizontais e provocam uma constante transformação na forma. Isso não dá lugar à alimentação vertical, que vem do espírito, não traz criatividade, nada acontece de original. Como decorrência normal dessa situação, nascem a exclusão e o sectarismo.
Conclui-se, daí, que a escolha dos que irão se constituir em grupo mediúnico deve ser feita em termos de mediunidade e não de personalidade. A figura do médium deve excluir, completamente, a da pessoa. Pouco importa se a pessoa é boa ou má, bonita ou feia, pobre ou rica. Importa, isso sim, se ela manifestar sua mediunidade, e o exercício dessa qualidade produzir o efeito desejado, se ela cura, alivia e consola, enquanto está mediunizada.
O comportamento só deve ser preconizado para o médium como participante do conjunto. O que ele faz ou deixa de fazer fora do trabalho mediúnico é de sua alçada, e o grupo nada tem a ver com isso.
Ninguém se torna melhor ou pior porque se ache que assim deva ser, ninguém modifica ninguém. Mas, no exercício constante da mediunidade, no contato regular que o médium tem com seu próprio espírito, ele se modifica efetivamente, de dentro para fora. Nenhuma pessoa se torna boa médium
porque é boa. Quase sempre, essas pessoas se tornam bons organizadores, solícitos e serviçais, mas, raramente, bons médiuns.
De modo geral, o candidato a bom médium é aquele sofrido, maltratado pela vida e que já experimentou os altos e baixos de sua existência. Esse está em melhor condição de perceber a autenticidade e de se realizar através da mediunidade. A heterogeneidade do grupo proporciona muito mais oportunidades aos participantes de exercer sua tolerância, sua humildade e seu amor.
 
IDENTIFICAÇÃO DA MISSÃO
 
Todo ser humano está ligado a dois tipos de família: a família da presente encarnação, geralmente ligada pelos laços cármicos, feita por acordo mútuo, antes desta encarnação, e a família espiritual, formada por espíritos afinados na sua origem remota e transcendente.
Durante a encarnação, os espíritos ficam submissos às suas personalidades e se ajustam por elas. A família é uma luta de personalidades na qual as pessoas se amam ou se odeiam de acordo com os reajustes que elas mesmas programaram. Quando, porém, o ser humano começa a exercer conscientemente a sua mediunidade, os estímulos de seu espírito vão superando os da sua personalidade, e isso ameniza os reajustes, diminuindo os choques.
Na proporção que isso acontece, diminuem os atritos e o espirito liberto da luta procura sintonizar-se com suas tarefas, geralmente fora da família atual. Assim, vão se encontrando os velhos companheiros de luta que se aglutinam em torno de seus ideais, de seus hábitos, de suas especializações transcendentais. Aos poucos, o grupo assim formado, mesmo que socialmente haja as maiores diferenças, vai identificando a missão, sabendo, tranqüilamente, o que tem a fazer. Só esse encontro produz a originalidade na obra realizadora. Quando os espíritos de um grupo mediúnico não são afinados transcendentalmente, a missão se torna indefinida e insegura.
Naturalmente, é quase impossível um grupo ser composto, apenas, por espíritos afinados, mesmo porque esse fato só é verificado depois de certo tempo de convivência. Mas, essa preocupação se torna válida quando se observa, no mesmo grupo, a formação de subgrupos que se afinam mais. Nesse caso, podem surgir missões diferentes no mesmo programa, da mesma forma que falanges diferentes de espíritos trabalham na mesma humanidade.
Mas, sempre é conveniente a definição da missão, em termos de especializações mediúnicas ou vocacionais, que possam caracterizar aquela falange de médiuns.
 
POSIÇÃO SÓCIO-ECONÔMICA
 
Essa é a fronteira, a linha demarcatória entre o Mediunismo e as práticas anímicas, as religiões formais e entre o que é humano e o que é divino. A força mediúnica só é criativa e benéfica para o progresso do espírito integrante do Sistema Crístico, sob a égide do Evangelho.
A vida humana, em termos físicos e psicológicos, funciona em torno de produção e dispêndio de energias que, em última análise de traduz em sistemas econômicos. A vida mediúnica não depende de energias físicas ou psicológicas. Ao contrário, o mecanismo mediúnico equilibrado é uma fonte de energias. Mesmo a produção do ectoplasma humano, que é um processo fisiológico, é tão sutil em relação ao mundo físico, que as energias despendidas quase não afetam o equilíbrio normal do organismo.
Como atividade, trabalho/hora, dificilmente existe uma tarefa mediúnica que possa prejudicar o ganha pão normal de uma pessoa. O ambiente físico e o pouco necessário para o ritualismo mediúnico raramente são de monta a afetar a economia. Conclui-se, então, que o exercício da mediunidade nada custa a ninguém.
Não há, portanto, razão alguma para que haja qualquer tipo de cobrança em torno da vida mediúnica. Não há custo, não há dispêndio e, por essas razões, o Mediunismo não exclui pessoa alguma por motivos de ordem sócio-econômica. Quanto mais humilde e simples for o grupo, melhores serão os resultados. Com isso observado, estaremos mais enquadrados nas palavras de Jesus: “Daí de graça o que de graça recebestes”.
 
O PREPARO DOS MÉDIUNS
 
Os conhecimentos básicos do Mediunismo, a disposição para agir nos princípios crísticos e a necessidade de realização são as condições necessárias para o trabalho mediúnico. O que for melhor, em termos de posicionamento sociocultural, deve ocupar a liderança. Mas, deve-se atentar para dois fatores importantes: o “melhor” é aquele que se dispõe a servir desinteressadamente e o padrão de referência tem que ser local, de acordo com o meio onde o trabalho irá se realizar.
O escolhido deverá examinar os problemas da comunidade e fazer uma síntese dos mais constantes e característicos. De acordo com esse exame inicial é que pode ser orientado o tipo de trabalho a ser realizado.
Depois, começa o desenvolvimento dos médiuns. Não é preciso procurar aqueles que já tenham experiência mediúnica. É preferível que os próprios candidatos revelem suas mediunidades. Se observadas as coisas fundamentais do mediunismo, as vocações se revelam logo. O principal cuidado que o responsável deve ter, é com as comunicações mediúnicas que irão surgir, inevitavelmente. É preciso, sempre, ser lembrado de que a comunicação nunca é isenta da personalidade do médium. A direção dos trabalhos deve ser, sempre, de um Doutrinador, e compete a ele julgar as comunicações, aproveitando as que correspondam, objetivamente, ao trabalho.
Deixem que os médiuns se revelem e se desenvolvam com certa liberdade. Procurem, somente, prestar-lhes assistência, dando uniformidade na forma, principalmente aos que incorporam. Aprendam a distinguir o Doutrinador do Incorporador, a fim de que não haja desenvolvimentos errados.
Depois de certo tempo de experiência com o grupo, faça pequenas reuniões informais, em que todos possam ser ouvidos. Quando o grupo se sentir seguro, comece o atendimento de pacientes.
 
O AMBIENTE E O RITUAL
 
Os fatores mediúnicos estão, sempre, presentes em todos os ambientes onde haja pessoas reunidas. Para um trabalho deliberado, qualquer aposento serve, desde que fique reservado para esse fim, devido à impregnação. Uma mesa e algumas cadeiras são o suficiente. Com o desenvolvimento e o aumento natural dos participantes, o aposento dará lugar ao templo, de acordo com o meio social e o conhecimento iniciático do grupo.
Cada falange de espíritos tem o seu próprio sistema, por isso deve ser evitada a imposição de um determinado ritual. Deixem que os Mentores o determinem. Procurem, apenas, simplificar o problema, evitando agregar hábitos doutrinários ou religiosos de outros grupos. Também, não se preocupem se o ritual que irá nascer se parece com o de outros grupos. Existe um ritual básico do Cristianismo que é comum a qualquer grupo. Por exemplo, a estrela de seis pontas é um símbolo iniciático universal do carma. A cruz sempre representou o ser humano encarnado. A água sempre foi o veículo da cura. O defumador não pertence a religião alguma, em particular. E assim por diante, desde os cantos, música ambiente, cores, uniformes, etc.
 
A LIDERANÇA
 
Esse é o ponto crítico do trabalho mediúnico. Ele só irá inspirar confiança se a liderança for exercida por um Doutrinador, secundado por outros Doutrinadores.
Entendemos, aqui, por liderança, toda a orientação do grupo mediúnico nos aspectos fundamentais, a saber:
a) Doutrina ou conjunto doutrinário;
b) Finalidade específica do grupo; e
c) A filosofia do comportamento.
A doutrina básica do Mediunismo é a reencarnação. A partir dessa premissa, o líder seleciona os aspectos que mais se apropriem às finalidades específicas do grupo, de acordo com a média do padrão cultural ambiente. Na medida do possível, esse conjunto doutrinário deve ser do conhecimento de todos os médiuns, principalmente os Doutrinadores.
A finalidade básica de um trabalho mediúnico é o reequilíbrio de seres humanos. Os médiuns que formam o grupo irão se reequilibrar pela mediunidade; os clientes, pelo atendimento dos médiuns. Reequilibrar significa ajustar uma pessoa à sua faixa cármica, de acordo com o grau de evolução alcançado pelo seu espírito.
O líder deve estabelecer a filosofia a ser seguida pelo grupo, cuja base é considerar o participante pela sua mediunidade, e o cliente pela sua necessidade. O respeito ao livre arbítrio é a única atitude compatível com o Sistema Crístico. Não julgar para não ser julgado, é a melhor forma de dar oportunidade a todos, indistintamente.
O cliente – ou médium em potencial – deverá, sempre, ser atendido, qualquer que seja sua posição social. Por pior que seja sua moral, depois de atendido ele não fica devendo nada ao grupo. Ninguém assume obrigação alguma com o grupo, nem mesmo doutrinária. O grupo, porém, sempre tem obrigação com as pessoas.
 
ALIMENTAÇÃO DOUTRINÁRIA
 
Esse é o maior problema com o qual o corpo mediúnico irá se deparar. Quem trará a Doutrina a ser seguida? Os videntes? Os médiuns de incorporação? Os psicógrafos?
A vidência é mediunidade interpretativa. O que o vidente vê, ele é obrigado a traduzir em imagens e palavras compreensíveis aos de fora de sua vidência. Não há, portanto, maneira alguma de ser comprovado. O Incorporador comunica a mensagem impregnada de seu próprio ponto de vista, a não ser em condições excepcionais de inconsciência. O psicógrafo escreve mensagens, mas ninguém pode comprovar quem seja o mensageiro a não ser, também, em condições excepcionais, como é o caso de Chico Xavier. Quem, então, terá condições de interpretar uma orientação espiritual com autenticidade?
A resposta é única: o Doutrinador! Somente esse médium tem condições de interpretação correta de uma mensagem, pelo simples fato de que seu raciocínio normal é iluminado pela sua mediunidade. O Doutrinador ouve, lê, compara e sintetiza com muito maior possibilidade de isenção.
O fundamento na interpretação de mensagens que o Doutrinador deve ter é a seguinte: só os espíritos superiores, que já alcançaram o plano espiritual, que estão fora da faixa cármica e cujo habitat é fora da Terra, têm condições de alimentar doutrinariamente e dar socorro a espíritos encarnados. A mensagem desses espíritos é completamente isenta, pois seu padrão de referência é o destino transcendental dos que eles assistem, de acordo com o Sistema Crístico. Esses espíritos jamais interferem no livre arbítrio dos encarnados. Eles nunca decidem as questões pelas pessoas, mas se resumem em ajudá-las a decidir por si mesmas. Só esses espíritos têm a capacidade de trazer energias siderais e produzir modificações efetivas na trajetória cármica dos encarnados. Só eles têm acesso aos registros transcendentais, e podem fazer um recartilhamento, sem fugir às metas cármicas, individuais ou coletivas.
Fora dessa premissa, qualquer comunicação, não importa os meios, é de espíritos que ainda habitam o planeta Terra, nos seus vários planos e até mesmo na sua superfície física. Esses espíritos, por melhor que sejam, se baseiam em motivos e opiniões humanas e, como tal, interferem no livre arbítrio, tomam partido nas situações, sendo, portanto, incapazes da observância rigorosa das premissas evangélicas.
É fácil, pois, ao Doutrinador, saber como agir em face das informações que recebe. A maioria das vezes ele tem que decidir sozinho, embora esteja, na realidade, sempre assistido pelo seu Mentor, quando está agindo na qualidade de líder.
É preciso não se esquecer que a Doutrina, em suas linhas principais, já existe na mente e no coração dos Homens, e que são precisas poucas
mensagens para dirigir um grupo. O que queremos, realmente, dos espíritos superiores é a cura, a remoção de nossas angústias, a abertura de nossas esperanças no dia de amanhã. Essas coisas, porém, não vêm em forma de mensagens escritas ou faladas, mas, sim, de realidades verificáveis. Pouco adianta a uma pessoa ouvir bonitas palavras se com elas não forem removidas as cargas magnéticas e as correntes negativas que a assediam. O que precisamos, efetivamente, são as forças do Céu. Compete a nós mobilizar as forças da Terra através das nossas possibilidades humanas.
Concluindo: um trabalho mediúnico só é autêntico e está enquadrado no Sistema Crístico quando é dirigido pelos espíritos superiores e qualquer outra classe de espírito seja apenas cliente. Que se acautelem, pois, todos aqueles que queiram cumprir seu dever mediúnico: só os espíritos superiores podem nos orientar, e só eles sabem não só dos nossos destinos particulares, como o destino do nosso mundo e dos mundos que nos cercam.
 
NO LIMIAR DO TERCEIRO MILÊNIO
 
Faltam, apenas, vinte e cinco anos para o ano 2000! Já se passaram, portanto, mil novecentos e setenta e quatro anos, desde que Jesus iniciou, com sua vinda ao planeta, o Sistema Crístico deste ciclo. Daqui mais um quarto de século, estaremos no Terceiro Milênio, que irá ser, talvez, o Primeiro Milênio de um outro sistema, a Era de Aquário.
Para as almas e para os corpos, restam, provavelmente, apenas esses vinte e cinco anos. Para os espíritos que habitam essas almas e esses corpos, haverá novos caminhos a percorrer, novos corpos e novas almas.
Se tomarmos por base o começo e o fim de ciclos anteriores, podemos prever transformações dolorosas, drásticas, e o nascimento de novas formas civilizatórias, novos conceitos de vida. Nada indica que continuaremos na atual linha de vida. Os fatos reais evidenciam isso. A demografia nos apavora com os dados do crescimento populacional. Os Ecologistas nos dão notícias sombrias da destruição da natureza. A poluição aumenta drasticamente e, em pouco tempo, começaremos a sentir os efeitos da poluição atômica.
Os sistemas políticos e econômicos se tornam, a cada dia, menos eficientes. O Homem se padroniza e perde sua individualidade. A liberdade é apenas aparente. Cada vez mais as almas se enclausuram e se concentram nas neuroses, nas psicoses e nos vícios autodestruidores. Periodicamente, as neuroses eclodem coletivas, em guerras e doutrinas extremadas.
A consequência direta da desagregação da alma aumenta a ansiedade pela tranqüilidade do espírito. Essa atitude explica a atual busca mística e religiosa. As religiões tentam ir ao encontro dessa demanda, mas sua própria infra-estrutura, apenas humana, psicológica, constitui obstáculo. Falta o caminho mais seguro, que corresponda à realidade humana, que sirva de farol às mentes obscurecidas e abra caminho para o espírito.
Essa situação foi prevista pelo Mestre Jesus, em seus principais aspetos, numa das poucas profecias que fez: segundo um dos seus doze apóstolos, Mateus – que também se chamou Levi –, Jesus havia terminado um longo debate no Templo de Jerusalém e fora ter com seus discípulos. Sentaram-se no Monte das Oliveiras, e os discípulos chamaram sua atenção para o belo edifício do templo, que dominava a paisagem. Disse-lhes Jesus:
“Vedes tudo isto! Em verdade vos digo que não ficará aí pedra sobre pedra: tudo será arrasado. Tomai cuidado que ninguém vos engane! Porque aparecerão muitos em meu nome dizendo: eu sou o Cristo! E a muitos hão de enganar. Ouvireis falar de guerras e boatos de guerras. Ficai alerta e não vos perturbeis com isso. É necessário que assim aconteça, mas ainda não é o fim. Porque se levantará nação contra nação, e reino contra reino: haverá fome, peste e terremotos por toda parte. Mas tudo isto será apenas o princípio das dores. Então vos hão de entregar a atribulação e a morte. E, por causa do meu nome, sereis odiados de todos os povos. Muitos hão de perder a fé, atraiçoar-se e odiar-se uns aos outros. Surgirão falsos profetas em grande número, iludindo a muitos. E com o excesso de impiedade, há de a caridade arrefecer no coração de muitos. Mas, quem perseverar até o fim, será salvo. Será este Evangelho do reino pregado no mundo inteiro, em testemunho a todos os povos: só depois disto virá o fim!
Quando, pois, virdes reinar no lugar santo os horrores da desolação, de que falou o profeta Daniel – atenda a isto o leitor! – então fujam para os montes os que estiverem na Judéia, e quem se achar no telhado não desça para buscar alguma coisa em casa. E quem estiver no campo, não volte para buscar o seu manto. Ai das mulheres que, naqueles dias, andarem grávidas, ou com filhinho ao peito! Orai para que vossa fuga não incida no inverno nem no dia de Sábado. Então sobreviverá uma atribulação tão grande como não tem havido igual desde o princípio do mundo até agora, nem haverá igual, jamais. Se aqueles dias não fossem abreviados, não se salvaria pessoa alguma, mas aqueles dias serão abreviados em atenção aos escolhidos.
Quando, então, alguém vos disser: “eis aqui está o Cristo! Ei-lo acolá!”, não acrediteis, porque aparecerão falsos Cristos e falsos profetas, que farão grandes sinais e prodígios, a ponto de enganarem, possivelmente, até os escolhidos. Eis que vos ponho de sobreaviso! Quando, pois, disserem: eis que estais no deserto! – não saiais. Eis que estais no interior da casa! – não lhe deis crédito. Pois, assim como o relâmpago que rompe no oriente fuzila até o ocidente, assim há de ser, também, na vinda do Filho do Homem. Onde houver carniça, aí se juntam as águias!
Logo depois da atribulação daqueles dias, escurecerá o Sol, e a Lua dará sua claridade; as estrelas cairão do céu, e serão abaladas as energias do firmamento. E então aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem. Lamentar-se-ão todos os filhos da Terra, e verão o Filho do Homem vindo, sobre as nuvens do céu, com grande poder e majestade. Enviará os seus anjos, ao som vibrante da trombeta, e ajuntarão os seus escolhidos dos quatro pontos cardeais, de uma extremidade do céu até a outra.
Aprendei isto por uma semelhança tirada da figueira: quando os seus ramos se vão enchendo de seiva e brotando folhas, sabeis que está próximo o verão. Do mesmo modo, quando presenciardes tudo isto, sabei que está à porta. Em verdade vos digo que não passará esta geração sem que tudo isto aconteça. O Céu e a Terra passarão, mas não hão de passar as minhas palavras. Aquele dia, porém, e aquela hora, ninguém os conhece, nem mesmo os anjos do Céu, mas, tão somente, o Pai!
Como foi nos tempos de Noé, assim há de ser quando vier o Filho do Homem. Nos dias que precederam o dilúvio, a gente comia e bebia, casava e dava em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca. E não atinaram, até que veio o dilúvio e os arrebatou a todos. Bem assim há de ser por ocasião do advento do Filho do Homem. De dois que se acharem no campo, um será admitido e o outro deixado de parte; de duas mulheres que estiverem moendo no moinho, uma será admitida e a outra deixada de parte. Alerta, pois! Porque não conhecereis o dia em que virá o vosso Senhor. Atendeis a isto: se o pai de família soubesse em que hora da noite havia de vir o ladrão, decerto vigiaria e não o deixaria penetrar em sua casa. Ficais, pois, alertas também vós, porque o Filho do Homem virá numa hora em que não O esperais” (Mateus, 24-2/44)
A pequena diferença na forma como essa profecia nos é relatada por Lucas e Marcos, a confirma em sua essência. Destaca-se, nela, a menção de um ciclo anterior, cujo símbolo foi a arca de Noé. A palavra “geração”, evidentemente, se referia ao sistema do ciclo atual, e assim por diante. Com um pouco de cautela no problema da semântica e das traduções, poderemos tirar, dessa advertência de Jesus, um quadro acurado da realidade atual.
Qual seria a intenção de Jesus ao traçar um quadro tão sombrio?
A resposta poderá ser encontrada por cada pessoa, na dependência da perspectiva como olha as coisas do mundo. Um fato se evidencia no Evangelho: “O meu Reino não é deste mundo!” O reino mencionado pelo Mestre Jesus, às vezes substituído pela palavra “céu”, se refere à tranqüilidade do espírito, à “paz verdadeira”, que pode ser obtida pelo ser humano qualquer que seja a situação que o cerque.
Sempre que a vibração do espírito predomina, a psique e o corpo se tornam secundários. Como conseqüência direta dessa afirmativa, qualquer ser humano pode ser feliz e tranqüilo, mesmo que o mundo esteja se desmoronando em torno.
Mas, para que isso possa ser obtido, é necessário que haja o método, o sistema, as setas indicativas do caminho. É por isso, talvez, que surge a expressão Sistema Crístico, pois sistema é um corpo de doutrinas cujas partes são todas dirigidas para o mesmo fim. Tem, portanto, o aspecto dinâmico que se adapta a cada etapa do fim a que se destina.
O Mediunismo é, apenas, um dos componentes do Sistema Crístico. Ele não invalida os aspectos anteriores, as religiões, as iniciações e as doutrinas. Apenas estabelece uma nova perspectiva, melhor adaptada ao quadro atual. O Homem de hoje não se satisfaz, apenas, com a forma. As religiões são excessivamente formais, estratificadas. O Mediunismo desce às essências, e pouco se preocupa com a forma. O que interessa nele é que o ser humano possa se encontrar, individualmente, e tenha um bom instrumental para equacionar sua vida, que é sempre única e inimitável.
Penetremos, seguros, no limiar do Terceiro Milênio!
 
- F I M -

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