Salve
Deus!
Meu
filho Jaguar:
Através
de suas Faixas Cármicas na longa jornada evolutiva, em qualquer situação em que
não estiverem juntos, haverá sempre uma imensa saudade que se reflete em cada
um dos dois, tornando suas existências incompletas. Podem amar e ter tudo no
Plano Material, mas fica uma sensação de insatisfação, de não estar completa a
felicidade, que só se realiza quando as duas Almas Gêmeas se reencontram. E
esse reencontro também só as realiza quando ambas estão livres de seus
compromissos cármicos, como veremos mais adiante na história que Tia Neiva nos
contou.
Não
temos como penetrar a Mente Divina e perscrutar os misteriosos desígnios do
Criador, mas, o mecanismo das ALMAS GÊMEAS é poderoso incentivo ao retorno às
origens, ao seio do que é completo, a garantia de que um dia os Espíritos
voltarão à Divindade.
E é
muito linda a jornada das Almas Gêmeas. Como progridem em missões separadas, na
maioria dos casos uma se dedica ao auxílio da outra. Vivem no amor completo e
incondicional. Quantas chegam ao último degrau de sua Evolução na Terra, mas,
como sua outra metade ainda está a caminho, pedem a graça de poder voltar e
ajudar suas Almas Gêmeas. E é um grande sacrifício este, pois este Planeta é
excessivamente pesado em suas Faixas Vibratórias e um Espírito sofre muito
em uma reencarnação dessas. Mas parte feliz, com esperança, com dedicação,
porque é uma missão de amor.
Para
se ter um exemplo do encontro das Almas Gêmeas e de seus compromissos, vamos
ver a história de um velho Jaguar e Rosa Maria, que Tia Neiva nos contou em uma
aula dominical.
Salve
Deus!
Certa
vez fui abordada por um Espírito calmo, tranquilo, muito bacana mesmo, desses
que você pode ler em sua mente, ver em seu rosto toda a dignidade, as coisas
boas que porta o homem sem frustração. Honesto, sem essa maneira de querer
enganar alguém.
Tive
a certeza de que era um daqueles Espíritos que, conforme a época que estou
passando, Amanto, Umahã ou mesmo Pai Seta Branca, me enviam para transmitir uma
história, uma mensagem.
Aquele
Espírito foi chegando e começou a falar tranqüilamente sobre sua vida.
-
Tia – falou – Eu sou aquele do sonho... Aquele sonho...
Lembrei-me
de que já o encontrara antes e me contara muita coisa. Perguntei:
-
Graças a Deus! Tem mais alguma coisa boa para dar continuidade?
-
Sim Tia, tenho. Tenho o princípio da história da minha vida, que vou lhe
contar. Eu era um homem perverso, um verdadeiro tirano. Sou um Jaguar! Vivi nas
planícies e estive por todas as partes da Terra. Só aprendi tirania e
violência. Não conhecia o Amor. Um dia reencarnei no Império como Senhor de
Engenho.
Sorri
lembrando-me de vocês meus filhos. Esses seus rostos, cada um revelando um Jaguar,
Senhor de Escravos, Senhor de Engenho...
-
Fui Senhor de Escravos – continuou – Mas era muito direito em meus negócios e
procurava aplicar a justiça a meu modo. Fui muito querido pelo Imperador,
chegando mesmo a merecer plena confiança dele. Constantemente estava no Palácio
– E então citou diversos nomes de políticos, senadores, homens importantes
naquela época, com os quais tinha estreitos laços de amizade.
- Eu
era um homem tão temido que quando chegava em minha Fazenda Tia,
uma das melhores da região, com uma bela mansão, os escravos ficavam temerosos
de mim. Faziam tudo com medo de mim, da punição que era certa se não agissem
conforme minha vontade. Minha família era a mais bonita que havia. Minha esposa
era linda e meus dois filhos, um casal, eram verdadeiros Príncipes. Enfim Tia,
parecia que eu não tinha mais nada para desejar na vida. Bastava que eu falasse
uma coisa e todos corriam para me atender. Eu fui esse homem Tia Neiva... Tinha
tudo, mas a verdade é que não tinha Amor por nada.
-
Esse é o grande mal – Comentei – Quando não temos Amor no coração filho, a vida
se torna seca, difícil...
- É,
Tia, eu era honesto com minha família, com minha mulher, com meus negócios.
Mas, sentia no íntimo que alguma coisa me faltava. Um dia... – Ele parou de falar
e em seu olhar havia um brilho diferente, quando continuou com meiguice:
-
Tia, a senhora vive falando sobre as Almas Gêmeas. Pois um dia esbarrei com
minha Alma Gêmea. Interessante Tia, que nunca notara a presença daquela
escrava. Era uma jovem bem clara e naquele dia quando eu me dirigia ao portão
da casa, ela vinha com uma cesta de verduras e não me viu. Deu um encontrão em
mim e as verduras se espalharam pelo chão. Ela ficou em pânico... Abaixou-se
para catar as verduras chorando e implorando que não a castigasse. Queria até
mesmo beijar meus pés na sua aflição e humildade. Fiquei reparando nela e
alguma coisa despertou no meu íntimo. Senti que ela era diferente. Senti meu
coração se encher de alegria com a presença dela. Então, peguei sua mão e a ergui,
eu mesmo me abaixando e catando as verduras para recolocá-las na cesta. Ela
paralisada pelo medo, me olhava com os lindos olhos marejados de lágrimas.
Balbuciava desculpas e pedia que eu não a castigasse. Acabei de encher a cesta
e me levantei, encarando aquela linda moça. Trocamos um longo olhar e acho que
consegui transmitir a ela o que eu sentia, de tal forma que ela pareceu se
tranqüilizar, acabando por dar um tímido sorriso. Eu é que me desculpei por
minha falta de atenção, e fiquei parado vendo aquela figurinha tão querida,
sumir entre as plantas do jardim levando sua cesta.
Desse
momento em diante meus filhos, aquele Jaguar se transformou. Aquele encontro
com sua Alma Gêmea – de que ambos não tinham consciência por estarem encarnados
– despertou no coração dele o Amor. E o Amor transforma as pessoas. Enquanto
caminhava para casa ia pensando no que havia ocorrido. Sentiu profundo desprezo
pela fama que tinha ao lembrar a aflição de sua querida, o medo de ser
castigada por algo tão banal. Aquela maneira humilde de pedir desculpas...
Aquele olhar... Sim, decidiu que dali para frente não mais seria aquele tirano.
Em
casa, à noite, não conseguia dormir. Os dias se seguiram e ele ficou isolado
sem falar com ninguém, mal comendo, com o pensamento naquela escrava adorada,
cuja presença ele não havia percebido até aquele dia. Não entendia o que estava
acontecendo... Como podia não ter notado aquela meiga presença? Ansiava por
vê-la e ao mesmo tempo temia como pudesse reagir a um novo encontro.
Seu
comportamento preocupava a todos. Sua mulher achava mesmo que ele estava
enfeitiçado, tal era a mudança que se operava nele. E um dia receberam a visita
do Imperador.
A
azáfama da recepção quebrou a rotina da Fazenda e até o Jaguar, saiu um pouco
de seus pensamentos para receber o ilustre amigo. E na hora de servir o chá,
quem se apresentou com a bandeja foi a bela escrava. Quando ela se deparou com
o Jaguar começou a tremer tomada de emoção e desequilibrou a bandeja que caiu,
despejando tudo sobre a mesa. A Sinhazinha que havia com sua percepção sentido
a reação dos dois ao se olharem, ficou furiosa e chamou o Feitor para que
retirasse imediatamente aquela escrava dali e lhe aplicasse terrível castigo. O
Imperador que era muito galante e percebera a escrava encantadora, pediu que
nada fizessem com ela. Era um acidente e pronto. Já tinha passado, não devia a
moça ser castigada. Também o velho Jaguar interferiu, dizendo ao Feitor que não
era preciso levá-la.
Essa
reação mais raiva provocou na Sinhazinha, tomada pelo ciúme, já deduzindo que
aquela bela jovem tinha algo a ver com a modificação que se passara com o
marido. Ordenou ao Feitor que a levasse.
Logo
que o Feitor saiu com ela, empurrando-a com brutalidade, o Jaguar foi atrás e
mandou que ele a soltasse e que ela fosse para junto das outras escravas na
Senzala.
Era
a época dos Nagôs que trabalhavam muito com Espíritos e faziam trabalhos que os
outros diziam que eram feitiços. Por isso a Sinhazinha achou que finalmente
descobrira a causa de tão brusca alteração no comportamento do marido: Ele fora
enfeitiçado por aquela escrava. Começou a perseguir a moça e o Jaguar
percebendo tudo, procurou solucionar a questão. Arrumou um amigo de confiança e
pediu que ele fizesse uma compra forjada daquela escrava para que ela pudesse
escapar da Sinhazinha.
E
assim foi feito. Comprada a escrava, parecia que tudo voltaria ao normal na
Fazenda. O próprio Jaguar insistira para que ela fosse vendida, dizendo que já
não agüentava ver à sua frente aquela mulher que tanta vergonha os haviam feito
passar diante do Imperador...
Mas
o que não sabiam é que o Senhor da Fazenda arranjara um sítio solitário e
escondido onde a bela escrava foi se ocultar. E uma vez ali instalada, longe
das garras da Sinhazinha, aquelas duas Almas Gêmeas puderam construir um
pequeno mundo. Passaram a se encontrar e sempre que possível, o Sinhozinho
corria a ver a sua amada.
O
Amor das Almas Gêmeas é uma coisa sublime, muito lindo, pois nunca pode se
erguer sobre as ruínas dos outros. Para a plena realização torna-se necessário
que ambos estejam livres de compromissos. Mas o Sinhozinho tinha a família e,
então, era preciso que acontecesse um verdadeiro milagre – como eles mesmo
diziam – para que ele pudesse se libertar. A esposa, os filhos ainda pequenos,
representavam uma verdadeira barreira para a plena vida daquele Amor.
O
respeito da moça – que se chamava Rosa Maria – pelas responsabilidades do
Jaguar, mantinha a harmonia daquele romance sem criar sofrimentos.
O
tempo passou. Os filhos do Sinhozinho já mais crescidos foram estudar em Portugal. E naquele
mundo de encantamento das duas Almas Gêmeas, teve início o último reajuste pelo
qual deveriam passar para se libertarem totalmente. Lembrem-se meus filhos, que
só retornamos às origens quando nada mais nos resta a resgatar. Vejam o exemplo
de Aragana, que viu aquele cobrador a urrar de ódio, e submeteu-se a um
julgamento para libertá-lo, a fim de que pudesse tranqüilamente voltar à
origem.
Havia
uma conta do passado. E para resgatar essa dívida, Rosa Maria concebeu um filho
que seria aquele Espírito reencarnado para se reajustar com ambos. Mas, o fato
de ficar grávida envergonhou tanto Rosa Maria perante o Jaguar, que ela perdeu
o encanto pela vida. Achava que aquilo era uma falta de respeito para com seu
amado, gerando uma responsabilidade que ele não tinha condições de assumir.
É
que encarnados não se lembravam dos compromissos assumidos no espaço. Aquilo
tudo havia sido tramado com eles no espaço, sob os desígnios da Lei de Deus,
que lhes fornecia aquela oportunidade de resgatarem sua última dívida. Porque
as Almas Gêmeas só se realizam quando nada mais devem, quando não têm mais
qualquer obsessor e quando já atravessaram suas faixas cármicas positivas e
negativas e podem, assim, retornar juntas às origens. Porque é muito bonito
meus filhos, ver o trabalho das Almas Gêmeas. Uma ajudando a outra a evoluir e
a se libertar. Quantas já não precisavam mais retornar à Terra, mas como estão
mais evoluídas que a sua Alma Gêmea, reencarnam e sofrem para ajudar aquela a
subir o degrau. Sempre com dedicação, com Amor. Uma beleza...
Mas,
sem consciência de suas tramas no espaço, Rosa Maria sofreu com a situação, até
dar à luz uma bela criança. Um menino clarinho, louro, com lindos olhos azuis.
O nascimento do menino modificou a sintonia do casal. Rosa Maria passou a viver
mais feliz e ambos se dedicavam com grande Amor àquela criança. Aquele Amor ia
resgatando a dívida com aquele Espírito.
O
menino crescia e o Sinhozinho estava totalmente modificado. Pela realização de
seu Amor, pela sintonia com Rosa Maria, pelo tesouro que o menino representava
em suas vidas, ele se transformara em um homem bondoso e amável. Tão bom que
todos que o conheceram antes se admiravam. Havia mandado embora de sua Fazenda
o malvado Feitor, aquele homem feroz que castigava e surrava os escravos e,
tudo era administrado com Amor.
Isso
é que eu gosto de mostrar a vocês meus filhos. O Amor é uma força poderosa,
bendita, que não deixa que se possa fazer mal aos outros ou ferir alguém.
Quando se ama, mas se ama realmente, a gente ama todo mundo. É filhos, o mundo
inteiro a gente ama. Não sei quantos de vocês já puderam sentir isso, ter a
oportunidade de viver um Amor assim, um Amor de respeito, um Amor que a gente
respeita, que a gente sente realmente estar muito acima dessas baixezas... Duas
pessoas que sentem um Amor verdadeiro, sabem se entender à distância, se falam
no silêncio, se harmonizam a cada momento de suas vidas. Este é o Amor das
Almas Gêmeas!
Muitos
me falam que encontraram sua Alma Gêmea. Eu concordo, pois não quero causar
tristeza. Mas, o Amor das Almas Gêmeas transforma as pessoas. Elas ficam boas,
não pensam em fazer mal à sua família, não pensam em fazer mal aos outros, não
desrespeitam a família. A primeira coisa que fazem é passar a amar também os
outros, principalmente os filhos, mesmo que sejam fruto de ligações com outras
pessoas.
Acho
lindo o Amor das Almas Gêmeas no espaço. Têm a mesma paixão, a mesma vida como
temos aqui. Muitas tiveram filhos na Terra e os buscam para, reunidos, viverem juntos
em suas mansões do espaço. São tão felizes e se realizam tanto com seu Amor,
que buscam levar a felicidade aos outros. Com essa intenção, protegidos pela
vibração desse Amor tão puro, penetram naqueles pântanos sombrios, arrebatando
das trevas muitos Espíritos que por ali se debatem.
Vejam
o exemplo desse velho Jaguar: Era um tirano – e ele me mostrou muitas das
barbaridades que havia cometido – e temido por todos. Um dia – um simples olhar
modificou tudo. Pelo esclarecimento dos dois tudo se transformou, e ele se
tornou tão bom que até mesmo no Palácio do Imperador se comentava o milagre de
sua modificação.
A
felicidade do encontro das Almas Gêmeas aqui na Terra, reside no fato de não
terem compromisso com outras pessoas. Elas se encontram, se amam verdadeiramente,
mas não podem desfazer os laços cármicos, seus laços transcendentais. Apenas
porque se encontram, porque se amam, não podem abandonar seus lares.
E
isso é o que havia acontecido com aqueles dois: tinham vindo apenas para
resgatar aquela dívida, libertar aquele Espírito que estava encarnado como o
filho dos dois.
Mas
a Lei de Causa e Efeito sempre está em vigor. E um velho chamado Gregório, que muito
havia sofrido naquela Fazenda a mando do Sinhozinho, soube da existência
daquela criança e descobriu toda a situação. Impulsionado pelo desejo de
vingança correu a contar tudo para a Sinhazinha. Não poupou detalhes malvados e
aumentou muito as coisas, para fazer sofrer o mais que pudesse aquele que o
tinham castigado um dia.
Atenção
meus filhos! Temos visto muitos “Gregorinhos” e “Gregorinhas” por aí, sempre
contando novidades – maior parte mentiras! Espalhando o ódio e a desconfiança
entre esposa e marido, desfazendo lares, gerando desequilíbrios. Isso é muito
perigoso. Quantos ao chegarem no dia de prestar contas vão verificar que com
suas línguas, cortaram o carma de outras pessoas e não poderão pôr a culpa em
ninguém, senão em si próprios, no seu coração ainda em evolução...
A
Sinhazinha, enlouquecida pelo ódio e pelo ciúme por tudo que ouvira de
Gregório, tramou em segredo a destruição de Rosa Maria e do menino.
Aproveitando-se do ódio que o malvado Feitor nutria por ter sido despedido pelo
Sinhozinho, conseguiu induzi-lo a realizar seu plano. Um dia, quando o
Sinhozinho teve que ir ao Palácio ver o Imperador, o Feitor raptou Rosa Maria e
o filho, levou-os para um local ermo, e ali os executou ocultando os corpos.
Ninguém vira essa ação criminosa, de modo que quando o Sinhozinho voltou e foi
correndo ao seu ninho de Amor, não encontrou sua amada nem o filho, nem
qualquer orientação sobre o destino daqueles dois seres tão queridos. Também
pelas redondezas, ninguém sabia informar o que teria acontecido.
Desesperado,
continuou buscando-os por muito tempo, sem descobrir o que houvera. Mesmo
mergulhado na dor e na aflição, a bondade daquele Jaguar superou suas forças.
Continuou a ser bom e caridoso e testado por Deus, que quis saber até onde ia
sua paciência, superou todo o seu desespero e completou sua missão na Terra,
com aquela força bendita que o Amor lhe dera.
Sua
jornada ainda continuou muitos anos. Na solidão, chorava a ausência de sua
amada. Muitas noites quando mergulhava em seus pensamentos, vinha-lhe a certeza
de que sua esposa tinha muito o que ver com aquele desaparecimento misterioso.
Também não sentia ódio ou desejo de vingança. Lembrava-se de que Rosa Maria
sempre lhe dizia, que chegaria um dia em que morreriam e poderiam ficar juntos
para sempre, no céu. Mas, se ele fizesse alguma maldade, não seria possível o
encontro, pois Deus não permitiria que gente ruim entrasse no céu. Ele lembrava
dos olhos de Rosa Maria. Quando falava essas coisas, ficava brilhando como
estrelas, como se tivesse certeza do que falava, como se o amor deles só
pudesse atingir toda a plenitude depois que tivessem deixado essa vida. E
porque a amava, tinha confiança nela e achava que o único meio de tornar a
encontrá-la, seria manter-se acima do mal. Mas a dor da ausência de Rosa Maria
tornara-o triste, e a vida era quase mecânica. Seu coração sangrava de saudade.
Tornou-se Espiritualista. Continuou acompanhando sua esposa sem demonstrar sua
desconfiança, mas a vida já não tinha mais prazer. Só existia para ele a
lembrança daquele Amor.
Muitas
coisas enfrentou até o dia de sua morte. Contou diversas passagens, e me admirei
com a fibra daquele Jaguar. Era uma época terrível aquela. Muitos Espíritos
haviam encarnado na Terra na missão de Evangelizar. Alguns mesmo vinham
preparados para domar como se fossem animais, aqueles Espíritos de Imperadores,
Centuriões, vestindo roupagens de Pretos Velhos e Escravos. Aquele Jaguar havia
sido diferente. Morreu purificado pelo Amor, por suas boas ações, e sua câmara
mortuária foi perfumada pelos Pretos Velhos, a quem vivia pedindo perdão pelos
males causados outrora.
Pouco
antes de morrer, soube de toda a trama da esposa, o triste fim que tinham tido
seus amados. Mandou chamar Gregório e fez com que ele visse o punhal que
atravessou em seu coração. Mesmo assim, perdoou-lhe e ainda arranjou meios de
ajudar ao velho que tanto mal lhe causara.
Há
muitas passagens lindas nessa história. Houve até o caso de uma aparição de
Jesus ao sofrido Jaguar. Um dia contarei!
Quando
desencarnou, Rosa Maria veio recebê-lo. É muito grande a felicidade do
reencontro de duas Almas Gêmeas, preparado pelos Mentores. Pensavam que havia
chegado o momento de seguirem a linda caminhada para a origem. Mas, ainda não
era a hora. Havia permanecido aquele Espírito cobrador, do filho deles, que o
ciúme da Sinhazinha não deixara realizar a missão do reajuste.
Era
preciso reparar o destino daquela criança, que por culpa deles havia nascido em
tão tristes circunstâncias. Era responsabilidade do Jaguar, que devia ter
tomado as providências para evitar aquela gestação que o respeito impunha, pois
não haveria condições para criar um filho. Com isso, ele criara uma
responsabilidade a mais e teria que voltar à Terra para cumprir sua última
missão.
Após
o feliz encontro, Rosa Maria ficou triste sabendo que ainda teriam que esperar
a conclusão dessa missão para poderem ir para a origem. Preocupava-se com seu
amado, incerta sobre as condições dele para enfrentar mais essa prova. Ele fora
um tirano, mas o Amor mudara completamente seu Espírito por saber Amar. Mas
fora a presença de Rosa Maria que o havia despertado para o Amor. Agora ela não
viria à Terra, como agiria ele?
Tudo
foi preparado no espaço e quando chegou o momento, o Jaguar despediu-se de Rosa
Maria e, triste pela separação se encaminhou para o sono cultural.
Quando
o Espírito vai reencarnar, meus filhos, é uma tristeza maior do que a morte
aqui na Terra. Ele vai partir para uma missão da qual tem consciência, sabe da
responsabilidade e, corajosamente se entrega ao sono cultural, que vai apagar
de sua consciência toda a memória transcendental, preparando-o para ser colocado
no feto e nascer na Terra.
E o
velho Jaguar, o velho Senhor de escravos, parte em busca do seu filho, o lindo
menino louro de olhos azuis.
Mas
Deus não diz para você que será tudo “bonitinho” nem os Mentores resolvem que
será tudo fácil. Não! Ele por exemplo, iria voltar à Terra e desposar uma
mulher que seria aquele mesmo Espírito da Sinhazinha – mau a ponto de mandar
matar uma criança – e em meio a muitas provações e dificuldades, deveria salvar
seu filho, Espírito que até aquele instante não perdoara a ele nem a Rosa
Maria.
Na
Terra o início foi relativamente fácil. Casou-se (com aquela que havia sido a
Sinhazinha) e teve alguns filhos. Mas, esquecido dos planos do espaço pelo
efeito do sono cultural, não entendia o vazio que sentia. Faltava alguma coisa
que não identificava, para sua vida fazê-lo feliz, realizado. Perguntava a si
mesmo porque aquela paixão pelas pessoas, pelas coisas, aquela insatisfação
permanente. E o desespero começava a tomar conta de seus pensamentos, nas horas
em que estava sozinho.
Foi
quando nasceu um novo filho, um menino debilitado, com um aleijão na perna e
que mais tarde quando começou a falar tinha dificuldades em se expressar, um
pouco mais moreno do que os demais irmãos e, que o fez sentir algo estranho.
Quando pegava o menino no colo, sentia um arrepio, uma sensação que não
identificava, mas sabia ser de repulsão àquela criança. A mãe do menino também
demonstrava total intolerância e até mesmo desprezo pelo pequenino. Vendo essa
reação de ambos, o Jaguar superou tudo e passou a amar mais àquele filho do que
aos demais. Também a criança ficou num grande agarramento com o pai.
Em
seus sonhos o Jaguar se encontrava com uma moça muito bonita – Rosa Maria – que
lhe falava na força do Amor, e pedia que ele sempre tivesse esperança em seu
coração.
Sempre
protegendo a criança do ódio da mãe e do desprezo dos irmãos, o Jaguar
prosseguiu em sua missão. Ficou seriamente doente e o filho mais novo não se
separava dele. Ficava ali atento ao que fosse preciso, dando-lhe água, remédio,
preso pelos laços de uma profunda afeição.
Uma
noite profundamente enfraquecido, estado em que se fica mais próximo da
Espiritualidade, foi levado por aquela mulher de seus sonhos até uma casa onde
havia uma criança. Esta estava muito mal, já para morrer. Os pais ali perto
choravam a morte do filho, já não tendo mais nada a fazer. A criança com os
olhos fechados parecia estar sofrendo muito. O Espírito do Jaguar ficou preso
àquele quadro e se aproximou da criança que, abrindo os olhos percebeu a imagem
do Jaguar e exclamou: “Papai!”.
Os
pais se alvoroçaram, e o pai abraçou a criança certo de sua melhora, pois
ouvira o chamado. Mas o Espírito do Jaguar percebeu emocionado quem era a
criança, quando vira aqueles olhinhos azuis e sabia a quem ela chamara de pai.
Sim, aquele era o seu filho, a quem buscava para resgatar suas dívidas do
passado.
Mas,
teve que retornar ao corpo e sua memória apagou-se quase totalmente. Ficou uma
lembrança do menino, mas em sua fraqueza não sabia separar bem os fatos. Seu
estado piorou e começou a delirar, falando de um menino louro de olhos azuis
que era seu filho, que ele tinha que encontrar. Suas palavras não eram
entendidas pela mulher e pelos filhos, que achavam ser tudo fruto de sua
delicada situação de saúde.
Finalmente
o mal começou a ser debelado, e ele teve a fase de recuperação povoada pela
lembrança daquela criança. Irritado por não ser entendido pelos outros, criara
em sua cabeça a necessidade de encontrar aquele menino, que ele sabia existir
em algum lugar.
Já
recuperado começou a andar pela cidade. Assim fazia um exercício e atendia à
sua ânsia de descobrir a criança.
Andava
certa vez pela beira do cais, quando o choro de uma criança chegou até ele.
Curioso
aproximou-se de uma pobre casa de onde parecia vir aquele choro convulso. Um
vizinho estava por ali e ele perguntou o que fazia aquela criança chorar tanto.
- É
uma triste história – disse o vizinho – O pai desse menino trabalhava naquele
navio ali e saiu com a esposa para dar um passeio de barco. O barco virou e os
dois morreram. Restou o filho que está ai com esses parentes, mas, desde então
chora como se nada o pudesse fazer calar...
Bateu
à porta do casebre e uma pobre mulher o atendeu. Pediu para conhecer o pequeno
órfão e entrou. Pôde ver então aquele menino por quem tanto buscava, por quem
seu coração ansiava loucamente, chorando. Aquela linda criança loura com os
olhos azuis...
Emocionado,
pediu àquela gente que o deixasse levar o menino para cuidar dele. Foi atendido
prontamente, pois os parentes estavam loucos para se verem livres daquele choro
angustiado, e seria menos uma boca para alimentar.
Chegou
feliz à sua casa. No trajeto para lá a criança se calara e aconchegara-se a ele
como se estivesse acostumada com o seu colo. Sentindo-o em seus braços, o velho
Jaguar sentia que amava muito aquele pequeno Ser. Um amor muito maior do que o
que nutria por qualquer de seus filhos, até pelo mais novo.
Começou
uma nova fase de complicações. Os laços de amizade tão profundos entre o Jaguar
e aquela criança abandonada haviam despertado a inveja e o ciúme da família. A
hostilidade da esposa – que na outra encarnação mandara executar o menino – era
para com os dois. O tempo foi passando, e cada vez mais estreita era a amizade
entre o Jaguar e o menino.
Mas
o grau de maldade da esposa era tanto, um Espírito que não se abria para o
amor, e assim, não evoluía e esperava uma oportunidade para se vingar daquela
criança. E quando o esposo precisou ausentar-se um pouco mais demoradamente de
casa, pegou o menino e o colocou para fora de casa. A pobre criança já com sete
anos, não pode fazer nada senão afastar-se triste daquela casa, onde estava
alguém que lhe era muito caro.
Retornando
e não encontrando o menino, o Jaguar forçou a esposa a dizer o que havia feito.
Ela confessou que havia mandado embora aquele estranho e não permitiria que
voltasse.
Ele
saiu em busca do menino e teve um palpite que poderia encontrá-lo onde o fora
buscar – na beira do cais. Correu para lá e viu o garoto sentado, olhando o mar
com o queixo apoiado na mão, como se aguardasse alguém.
Alegre
pelo encontro chamou o menino. Este assustou-se com o chamado e levantou rápido
de onde estava, virando-se para ver seu querido benfeitor. Mas, agitando os
braços perdeu o equilíbrio e caiu do cais, naquele local cheio de pedras,
madeirame e ferros batidos pelas ondas do mar.
Desesperado,
o velho Jaguar correu e pulou na água. Diversas pessoas que estavam por ali
tentaram ajudar, mas o destino havia marcado aquele desenlace. Morreram ali,
pai e filho, tragados pelo mar.
Esse
é o destino do homem meus filhos! Muitas vezes temos uma tristeza muito grande
sem saber porquê. Muitas vezes o homem se casa e tem por obrigação honrar
aquele casamento, os filhos que dele nascem, mas em seu íntimo não está feliz.
Porém, existe uma responsabilidade maior: o destino cármico. Ninguém pode ser
feliz, feliz mesmo, se não terminar a sua missão, se não libertar seus
cobradores.
Imaginem
que aquele filho mais novo, moreno, do casal, era o Espírito do velho Gregório,
que apesar de seus defeitos físicos, amou muito aquele a quem tanto mal fizera
e por ele foi amado. Foi aquela mulher que tanto mal fizera que o recebeu no
ventre e, pela bênção de Deus o criou com cuidados, mas sem amor. Mas Gregório
conseguiu resgatar suas faltas, pelo amor daquele a quem tanto fizera sofrer.
E no
desenlace da história, quando o homem e o menino desencarnaram no mar, seus
Espíritos se reencontraram com Rosa Maria e juntos, felizes, foram para sua
origem.
E a
Sinhazinha que voltara agora como uma simples dona de casa, não evoluiu, não
aproveitou a chance que lhe foi dada, e nada fez de bom. Então, seu sofrimento
será grande. Deverá voltar várias vezes, para subir seus degraus na Evolução.
Mesmo
assim, ela foi objeto da ajuda dos Espíritos do Jaguar e de Rosa Maria, que entenderam
que tudo que ela havia cometido servira como degrau para a libertação deles,
através da Evolução. Na realidade, fora a Sinhazinha que preparara a subida
dessas Almas Gêmeas.
Por
isso, jamais devemos nos queixar de Deus. Ele nos dá tudo, nos proporciona os
meios para nossa libertação. O conhecimento, a consciência, é que nos
impulsionam no caminho certo. Ele nos dá força antes de chegarmos aqui e,
chegamos preparados para cumprir nossa missão. É errado só se desejar coisas
boas e reclamá-las de Deus. Pelo sofrimento, conseguimos nossa libertação,
nossa Evolução. Nem Deus, nem nossos Mentores, nos seguram para que possamos
subir os degraus de nossa jornada. Temos que caminhar por nós mesmos, com
nossas próprias pernas. Deus nos dá tudo...
Salve
Deus!
Com
carinho,
A Mãe em Cristo.
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